segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

GLICÍNIA QUARTIN

Foi uma cerimónia muito bonita a deste fim-de-tarde na Culturgest, em homenagem a Glicínia Quartin. Estavam lá muitos amigos e admiradores daquela senhora de oitenta anos, figura impar dos palcos, do cinema e da cultura nacional.

Gostei do que disse Jorge Silva Melo no palco do auditório pequeno, e também de Jorge Sampaio. Educadamente, o presidente da República rasgou o seu discurso, guardando os papéis no bolso do casaco, e falou de improviso (o actor aludira a um quadro que o inspirara mais Glícinia, quadro agora pertença de Sampaio, o que levou o presidente a dar mais detalhes).

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Lêem-se, no pequeno desdobrável (de que reproduzo aqui três das suas quatro faces), alguns aspectos da vida da actriz, que quis ir para Letras, passou por Agronomia mas acabou em Biologia, embora toda a sua vida fosse o teatro: "A sua família, o anarco-sindicalismo, a Escola-Oficina nº 1, as leituras em casa dos pais, as prisões, o Mud juvenil, os teatros experimentais".

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Conversas com Glicínia, o documentário assinado por Jorge Silva Melo - exibido no auditório grande, pois a assistência esgotara há muito o outro espaço -, é uma amostra "esquinuda", segundo o realizador e homem do teatro Artistas Unidos, da vida e das vivências de Glicínia Quartin, filha do jornalista Pinto Quartin.

Onde passam memórias da infância (Vila Souza, à Graça), o encontro com o teatro (Amélia Rey Colaço, Palmira Bastos, Maria Barroso e, muito mais tarde, Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo, da Cornucópia, a sua casa nestes últimos 30 anos), com a política (como Mário Soares), com a pintura (os surrealistas e o cadavre-exquis na parede da sua casa), a passagem pelos cafés (o Chave d'Ouro), a sua estada em Itália (e o conhecimento com Fellini), com o cinema (como o Dom Roberto, de Ernesto de Sousa, e com Raul Solnado no principal papel masculino).

Aos 80 anos, aquela mulher - que, na juventude, não gostava muito da sua boca grande - aparece no documentário com muita energia e uma enorme memória dos sítios e das pessoas que passaram ao longo da sua vida. Foi, repito, uma cerimónia inesquecível. As ovações, na altura da atribuição de uma condecoração pelo presidente Sampaio e no final do filme, foram mais que merecidas.

1 comentário:

V.M. disse...

Ser amigo de Glicínia Quartin é realmente uma sorte. Há cerca de 30 anos que a tenho. É uma pessoa extraordinária, Admiro-a muito como actriz e como mulher.
As " Conversas com Glícínia" são umas conversas a não perder. É assim falar com ela ao telefone ou em casa. Ficamos sem dar pelo tempo e sentimo-nos bem. Que bom poder ler e ouvir e falar dos amigos