Dentro do programa dos 60 anos do Centro Nacional de Cultura (CNC), decorreu hoje uma sessão comemorativa da revista Raiz e Utopia. Tratou-se do começo da reflexão sobre a revista, agora sobre o manifesto que esteve na sua origem e o seu percurso, e que terá continuidade em 2005 com a edição das actas do encontro de hoje e de uma antologia de textos da revista, conforme disse Guilherme Oliveira Martins, presidente do CNC.
Tenho algures o número 1, mas comprei hoje o número duplo 9/10, dedicado ao tema Educação em Portugal.
Extraio dela uma pequena nota do antigo ministro da educação Veiga Simão numa mesa redonda: "na estrutura dos EUA as escolas profissionais não são como as nossas. A entrada do estudante após a conclusão do ensino secundário não se verifica imediatamente nas escolas superiores de Medicina. Para que se entre numa escola de Medicina nos EUA é necessário tirar primeiro o grau de bacharel. O numerus clausus aparece não na entrada após o 7º ano [antigo último ano do secundário], mas após o grau de bacharelato devidamente diversificado, o que dá origem depois a um leque de possíveis opções. É o chamado sistema de «dois estádios»". A pergunta que faço é: a discussão actual sobre os dois ciclos da formação universitária não tem ainda a ver com este dispositivo?
Quem falou hoje
Guy Coq, da revista Esprit, chamou a atenção para a feliz designação da revista Raiz e Utopia (R & U), que comparou à dicotomia entre água e fogo. Se a raiz permite à árvore alimentar-se da terra, ligando-se à origem, desde Thomas More (1478-1535) fala-se sobre a utopia. Coq fez um discurso recheado de referências históricas, filosóficas e culturais.
Já Carlos Medeiros, um dos fundadores da R & U, situou o começo da ideia da revista nos começos de 1975, quando o seu manifesto foi escrito. Eram três homens: ele, António José Saraiva (o pai do director do Expresso) e José Baptista. A visão deles era centrar a sociedade no homem, uma espécie de solução libertária nem ligada ao mercado nem ao Estado (convém lembrar que o regime político de então, ao avesso do regime fascista caido em Abril de 1974, aproximava-se da solução totalitária existente no leste Europeu).
O mesmo orador destacou três fases da revista: a primeira em que estavam os três envolvidos no projecto, a segunda em que saíu José Baptista e a terceira em que Carlos Medeiros apoiou Helena Vaz da Silva, uma das mais destacadas obreiras da R & U. Foi dela - ausente sempre presente - que o marido, Alberto Vaz da Silva, se referiu. Este orador destacou dois tempos da revista: um mais imediato e simples, outro mais duradouro e crítico. Aquele com intervenções: justiça, agricultura, movimentos estudantis, rádios livres, condição da mulher. Este mais inteligível hoje, com um cruzamento do diálogo da filosofia com as outras ciências sociais, debatendo-se política, ecologia, emigração, radicalismos, esoterismo - ou seja, uma encruzilhada de esperanças.
Não foi uma comunicação emocionada a de Alberto Vaz da Silva, mas quase. Afinal, todos nos gostámos muito da Helena Vaz da Silva, desaparecida em Agosto de 2002 - pelo seu sorriso aberto e bonito, pela sua energia nos projectos, pela sua permanente luta cívica.
Tenho algures o número 1, mas comprei hoje o número duplo 9/10, dedicado ao tema Educação em Portugal.
Extraio dela uma pequena nota do antigo ministro da educação Veiga Simão numa mesa redonda: "na estrutura dos EUA as escolas profissionais não são como as nossas. A entrada do estudante após a conclusão do ensino secundário não se verifica imediatamente nas escolas superiores de Medicina. Para que se entre numa escola de Medicina nos EUA é necessário tirar primeiro o grau de bacharel. O numerus clausus aparece não na entrada após o 7º ano [antigo último ano do secundário], mas após o grau de bacharelato devidamente diversificado, o que dá origem depois a um leque de possíveis opções. É o chamado sistema de «dois estádios»". A pergunta que faço é: a discussão actual sobre os dois ciclos da formação universitária não tem ainda a ver com este dispositivo?
Quem falou hoje
Guy Coq, da revista Esprit, chamou a atenção para a feliz designação da revista Raiz e Utopia (R & U), que comparou à dicotomia entre água e fogo. Se a raiz permite à árvore alimentar-se da terra, ligando-se à origem, desde Thomas More (1478-1535) fala-se sobre a utopia. Coq fez um discurso recheado de referências históricas, filosóficas e culturais.
Já Carlos Medeiros, um dos fundadores da R & U, situou o começo da ideia da revista nos começos de 1975, quando o seu manifesto foi escrito. Eram três homens: ele, António José Saraiva (o pai do director do Expresso) e José Baptista. A visão deles era centrar a sociedade no homem, uma espécie de solução libertária nem ligada ao mercado nem ao Estado (convém lembrar que o regime político de então, ao avesso do regime fascista caido em Abril de 1974, aproximava-se da solução totalitária existente no leste Europeu).
O mesmo orador destacou três fases da revista: a primeira em que estavam os três envolvidos no projecto, a segunda em que saíu José Baptista e a terceira em que Carlos Medeiros apoiou Helena Vaz da Silva, uma das mais destacadas obreiras da R & U. Foi dela - ausente sempre presente - que o marido, Alberto Vaz da Silva, se referiu. Este orador destacou dois tempos da revista: um mais imediato e simples, outro mais duradouro e crítico. Aquele com intervenções: justiça, agricultura, movimentos estudantis, rádios livres, condição da mulher. Este mais inteligível hoje, com um cruzamento do diálogo da filosofia com as outras ciências sociais, debatendo-se política, ecologia, emigração, radicalismos, esoterismo - ou seja, uma encruzilhada de esperanças.
Não foi uma comunicação emocionada a de Alberto Vaz da Silva, mas quase. Afinal, todos nos gostámos muito da Helena Vaz da Silva, desaparecida em Agosto de 2002 - pelo seu sorriso aberto e bonito, pela sua energia nos projectos, pela sua permanente luta cívica.
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