INDÚSTRIA FONOGRÁFICA
No passado dia 7, o DN Música publicou uma entrevista com David Ferreira a propósito da situação actual do mercado discográfico. No El Pais de domingo passado, os presidentes da Sony-BMG para a Península Ibérica e Espanha falaram do mesmo tema.
O mote inicial era a recente fusão das duas empresas (Sony e BMG). Até há pouco tempo, o mercado mundial era dominado por cinco gigantes, agora reagrupados em três: Universal, EMI-Warner e Sony-BMG. A fusão destas últimas duas levou a que tenham uma quota de mercado de 25,6%, isto é, a segunda editora discográfica a nível mundial. Razões para as fusões: perda de vendas, pirataria, concorrência de vendas de toques (melodias populares) através dos telemóveis. O que contraria o boom de crescimento ocorrido nos anos 1980 e 1990, quando a popularização do CD permitiu a reedição de quase todos os catálogos das companhias discográficas.
Um dos presidentes da Sony-BMC, José Maria Câmara, com o mercado da península – o que significa também Portugal –, nesta entrevista a Fietta Jarque, salienta que o mercado discográfico enfrenta uma luta permanente contra o tempo. Diz ele: “Concorremos com o tempo, com as emoções e o dinheiro do consumidor”. É que o consumidor tem cada vez mais entretenimentos nos seus tempos livres: videojogos, películas e até os toques dos telemóveis.
Contudo, e ao contrário da entrevista dada por David Ferreira, não se nota um tão acentuado pessimismo nem um apelo quase dramático ao poder político. Primeiro, o reparo que fazem ao Governo é no sentido de não fazer um grande agravamento fiscal, mas num tom empresarial (um negócio é sempre um risco). Em seu lugar, aponta-se para a necessidade de mudar o modelo de negócio, passando pelas empresas discográficas, mas também pelos autores, artistas, gestores, advogados associados aos direitos de autor, accionistas, empregados. Em terceiro lugar, a indicação de que, apesar de haver uma concentração de empresas multinacionais, existe um número crescente de pequenas editoras com catálogos específicos. E os entrevistados precisam que há cada vez mais artistas vendendo em pequena escala.
Uma nota final, e que não deixa de ser paradoxal. As emoções podem rentabilizar-se. Explicando melhor: a Operação Triunfo no país vizinho vendeu sentimentalismo e emoções fáceis. Mas salvou, nos últimos anos, os valores de venda da música espanhola. É algo que a teoria das indústrias culturais demonstra: os bens são produzidos com uma lógica de mercado (economia), independentemente do seu valor estético e cultural intrínseco.E isso faz trabalhar toda a cadeia de valor na qual um qualquer bem das indústrias culturais se integra.
CDs com os jornais
Para além do Expresso e do Público, também a newsmagazine Sábado vai ter uma colecção de CDs com música clássica a acompanhar as edições semanais. Não devo dizer mal dos responsáveis de marketing das empresas jornalísticas, mas concluo que todos tiveram a mesma ideia: a de seduzir os leitores com produtos iguais. E, no caso do Público e da Sábado, começam por Beethoven: um a Nona, outra a Quinta sinfonia (esta acompanhada pela Sexta). Por que não começar com Béla Bártok ou Arnold Schönberg ou Dmitri Shostakovich? E por que não uma série de jazz? Ou com música brasileira? Ou australiana? Ou africana?
antes de mais... pela parte que me toca, enquanto music addict com poucos recursos para acompanhar neste momento o iva nacional, agradeço sinceramente o destaque que o prof. tem dado a estas questões "industriais" da música em portugal.
ResponderEliminare a venda de cds com os jornais... se as coisas não vão ao sítio depressa (e não acredito q vão), não me admirava que em pouco tempo os jornais passassem a vender mais discos que as fnacs... precisamos de concorrência.
Obrigado, blogueira de "A pensar morreu um burro". Ontem, o caderno de música do "Diário de Notícias" trouxe muitos dados interessantes sobre as editoras independentes de música em Portugal. Tenciono colocar alguma informação no meu blogue a partir desses textos.
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