terça-feira, 11 de janeiro de 2005

PROVEDORES DO LEITOR EM AUTO-RETRATO

Conforme anunciei neste blogue, decorreu hoje, ao fim da tarde e na Universidade Lusófona, o colóquio Provedores do leitor em auto-retrato, que contou com a presença de provedores antigos ou actuais como Joaquim Furtado e Joaquim Fidalgo (Público), José Carlos Abrantes (Diário de Notícias) e Manuel Pinto (Jornal de Notícias).

O momento também serviu para a apresentação do livro de Joaquim Fidalgo, Em nome do leitor. As colunas do provedor do Público, comentado por Fernando Correia.

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[na imagem, da esquerda para a direita: Mário Mesquita, director da colecção de livros, Fernando Correia, Joaquim Fidalgo e Isabel Garcia, editora da MinervaCoimbra]

Fernando Correia, professor da universidade organizadora e responsável da revista JJ - Jornalismo e Jornalistas, fez um muito interessante comentário à obra e aos provedores do leitor em si. Começou por situar o aparecimento destes "representantes" dos leitores em 1997 (Mário Mesquita no Diário de Notícias e Jorge Wemans no Público). Ainda em 1997, registou-se a ocorrência de outros factores importantes para o jornalismo português: surgiram duas instituições ligadas à investigação, o CIMJ e a SOPCOM, foram lançadas as colecções de livros de comunicação e jornalismo da MinervaCoimbra e da Editorial Notícias, fez-se o inquérito a jornalistas divulgado no congresso do ano seguinte.

Correia, que se referiu à guerra das audiências na televisão comercial e ao aparecimento e fortalecimento de grupos mediáticos nesse período, chamou a atenção para o facto de que a figura do provedor poderia ter sido encarada como simples estratagema dessas organizações jornalísticas, no sentido de apaziguar a discordância dos leitores. Contudo, o provedor tornar-se-ia, e ainda segundo Fernando Correia, o reflexo e agente do impacto dos media e impôs uma nova posição do olhar jornalístico.

Sobre Joaquim Fidalgo e o seu livro, o apresentador deste destacou quatro traços marcantes: 1) profundo conhecimento da sala de redacção (rotinas produtivas), 2) preocupações pedagógicas, 3) desassombro na crítica às cedências dos interesses jornalísticos devido a pressões comerciais, e 4) constante valorização do leitor.

Provedores do leitor em auto-retrato

O colóquio, que se prolongou por cerca de duas horas, foi um espaço de experiências que só em momentos como este se ouve e partilha. José Carlos Abrantes, por exemplo, falou dos seus oito meses que leva como provedor do Diário de Notícias, tendo já conhecido três directores, sabida como é a recente turbulência directiva naquele jornal centenário, ambiente nada propício para a relação do "representante" dos leitores com a organização jornalística. Já Joaquim Fidalgo destacou o papel do provedor como alguém que muda lentamente as mentalidades dos jornalistas (ele não usou estas palavras). Isto é, a pedagogia do provedor contribui para um melhor jornalismo (ou, pelo menos, para que não haja pior jornalismo, como explicou).

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[na imagem, da esquerda para a direita: Joaquim Furtado, Manuel Pinto, Maria José Matta, a moderadora do debate, José Carlos Abrantes e Joaquim Fidalgo]

Manuel Pinto, professor da Universidade do Minho - como Joaquim Fidalgo - e actual provedor do Jornal de Notícias (Porto), falou em silêncio do jornalismo, usando expressões metafóricas (aquilo que não acede à visibilidade, as zonas da noite, que não conquistam lugar), para esclarecer os jogos de interesses de fontes de informação (políticas, económicas, desportivas, de iniciativas ocasionais).

lusofona1.JPGJá Joaquim Furtado, que se despediu no passado domingo como provedor do leitor do Público, no seu comentário tomou uma perspectiva interrogativa: o provedor de um jornal será o mesmo se estiver noutro jornal? Isto é, ele partiu do princípio que se o provedor influencia o jornal, este influencia aquele. E concluiu afirmando que o provedor é alguém identificável a quem o leitor recorre.

Obviamente mais coisas foram ditas - e igualmente de interesse - mas a noite e a dimensão do texto levam-me a ficar por aqui.

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