O anúncio pelo Governo da abertura do concurso da TDT (televisão digital terrestre) até final do primeiro trimestre deste ano fez publicar diversas páginas de jornais (nas imagens, e sucessivamente, parcelas das páginas do Diário de Notícias e Público (aquele em 4 de Janeiro, este em 4 e 5 de Janeiro; não analiso notícias veiculadas pelo Correio da Manhã e Expresso, entre outros).
Sem eu ser especialista em televisão ou em televisão digital, a partir da leitura das peças jornalísticas é possível fazer um balanço ainda impressionista do que vai acontecer:
1) a TDT é um tipo de tecnologia que permite digitalizar o sinal de transmissão, em substituição do sinal analógico, que cessará por volta de 2012. A mudança significa mais qualidade de definição da imagem e mais concentração em termos de frequências de sinal aberto (o que se recebe por antena), libertando frequências para outros fins. O concurso em Portugal, para além desta viragem tecnológica, tem a vantagem de abertura de um novo canal, permitindo ao concorrente ganhador negociar com emissores de televisão a transmissão por esta nova tecnologia,
2) a TDT tem como concorrente principal a televisão por cabo, mercado já maduro em que a Multimedia (antiga PT Multimedia) tem uma fatia dominante de mercado,
3) os actuais detentores de canais analógicos manifestam contrariedade. Isto porque a abertura de um quinto canal trará necessidade de repartir a publicidade existente. O mercado publicitário é da ordem de 760 milhões de euros, com a televisão a ter cerca de 60% do total. Mas cabo, jornais gratuitos e internet recolhem cada vez mais publicidade. Se a Impresa (SIC) está totalmente contra o modelo agora proposto, a Media Capital (TVI) tem uma posição mais maleável, pois quer explorar melhor a rede de transmissão que já possui,
4) ao invés, dois outros grupos de media estão interessados: a Controlinveste, de Joaquim Oliveira (Diário de Notícias, Jornal de Notícias, TSF, Sport TV), e a Cofina, de Paulo Fernandes (Correio da Manhã, Metro, Record). Isto porque a televisão funcionará como alavanca de crescimento num meio muito popular e em que a publicidade tem um peso elevado,
5) a administração do serviço público de televisão não se terá manifestado. Talvez porque inicia agora funções ou porque combinou a estratégia com a tutela. Curiosamente, Ponce Leão, da anterior administração, havia alertado para as dificuldades que o novo canal digital traria para a RTP, numa posição quase análoga à de Pinto Balsemão, da Impresa (infelizmente nos últimos dias e quando já sabia não fazer parte da nova administração, o que não me pareceu muito correcto),
6) um parceiro que nem todas as notícias referiram, a APIT (Associação de Produtores Independentes de Televisão), aplaudiu a criação de um novo canal, pois significa mais produção de conteúdos nacionais,
7) o controlo do concurso pertence à ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social), o que significa muito poder para esta entidade,
8) não ouvi ou li nada sobre reacções dos partidos da oposição. O anúncio da decisão partiu do Governo (reunião do Conselho de Ministros de quinta-feira),
9) também não ouvi reacções da PT Comunicações, dado que esta empresa já não tem no grupo o negócio da televisão por cabo. Igualmente tenho pena que o grupo Sonae (com o jornal Público e uma presença mais forte no mercado das telecomunicações) não tenha manifestado interesse. São, a meu ver, grupos tão interessantes como a Cofina ou a Controlinveste para entrarem no novo mercado,
10) a TDT é importante para a indústria de televisores, pois parte grande do parque doméstico terá de ser renovado.
Já é a segunda vez que o tenho de corrigir: o Metro não é da Cofina, é da Media Capital; a Cofina tem o Destak e o Meia Hora.
ResponderEliminarserá de realçar também que no modelo anteriormente definido pela anacom, previa-se a existencia de 3 canais nacionais + madeiras e açores, 9 regionais e 18 «locais» (potencialmente 1 por distrito.
ResponderEliminarquando o governo fala em «espaço de banda sobrante» para o 5º canal, estará a dizer que os canais regionais forma à via?
Concordo consigo, no referente à Sonae. È que sendo este grupo detentor do Clix, que é transmissor do sinal de televisão via internet, esperava que dissesse alguma coisa.... ou estará a preparar novidades? Ou não tem nada que ver?
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