domingo, 14 de agosto de 2016

A história da rádio segundo Álvaro de Andrade (8)

Na Emissora Nacional, começou a 24 de abril de 1937 o programa Meia Hora da Saudade. A sugestão partira de um ouvinte em Moçambique, no tempo em que Portugal tinha um imenso império colonial - a de pessoas que tinham familiares em África mas também na Madeira ou nos Açores poderem falar com esses familiares ou amigos deslocados. Era apenas meia hora por mês, mas tornou-se um programa muito popular. Ainda não havia estudos de audiências, mas a estação oficial (ou pública, como hoje se diz) recebeu muitas cartas de agradecimento.

No texto escrito por Álvaro de Andrade, homem do teatro e da rádio, o também jornalista, que escreveu até provecta idade (Diário Popular, 22 de setembro de 1970), conta várias histórias sobre o programa, a nível de receção do mesmo. Naquela altura, um aparelho de rádio era ouvido por várias pessoas, familiares e amigos, reunidos em círculo à volta dele, sem falar ou tossir sequer. Um ouvinte regulava os registos, isto, é os botões do complexo recetor, e todos se concentravam na luz do aparelho até ouvirem a voz do locutor pronunciar as 21 horas, o começo do programa. Notícias várias: a sobrinha que casou com um piloto, duas meninas a tocar piano para que o pai as ouvisse no interior africano.

Depois, a Emissora Nacional, embalada pelo sucesso do programa criado no tempo de Henrique Galvão como presidente da estação e que os sucessores António Ferro e seguintes mantiveram, abriu um programa orientado para os pescadores que estavam na frota da pesca do bacalhau (Hora da Saudade, e onde mães, filhas e amigos falavam nos estúdios da Emissora Nacional na rua de S. Marçal ou em estúdios improvisados em centros piscatórios do país), os emigrantes (em França e Montréal, Canadá) e, no começo da década de 1960, um programa para os soldados que faziam a guerra em África. Deste tempo, e com a apropriação televisiva, os soldados engasgavam-se e diziam "muitas propriedades" em vez de "muitas prosperidades", ideia que se associa ao Natal e ao Ano Novo, e "até ao meu regresso".



2 comentários:

  1. Excelente trabalho sobre a rádio, a que já nos habituou o nosso amigo Rogério Santos!
    Abraço

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  2. Recordações do que de bom se fez na rádio.
    A Emissora Nacional acompanhou-me durante muitos
    anos, e ainda hoje, considero a rádio o meio de
    comunicação que chega a todo o lado com maior rapidez.
    Obrigada pelo seu trabalho de divulgação neste blogue.

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