domingo, 3 de outubro de 2004

DAS MINHAS LEITURAS DE HOJE

Provavelmente não assinado por esquecimento, o Sunday Times de hoje traz um perfil sobre o músico Bob Dylan, agora que saiu uma sua muito aguardada autobiografia exactamente esta semana.

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Robert Allen Zimmerman nasceu em 24 de Maio de 1941, em Duluth, no estado do Minnesota, filho de um judeu, dono de um armazém de mobílias. Mais tarde, adoptou o seu nome artístico a partir do poeta Dylan Thomas. A origem das letras das canções de Dylan mantêm ainda uma certa aura de estranheza. Diz-se que A hard rain's a-gonna fall se inspirou na crise dos mísseis de Cuba, enquanto Blowin' in the wind se pode aplicar a qualquer tema sobre a liberdade.

Histórica é a sua aproximação a Joan Baez, em 1963. Baez, activista contra a guerra do Vietname, e Dylan eram vistos, pelos fãs, como namorados, mas rapidamente viram que eram pessoas totalmente diferentes. O afastamento foi natural. Também histórico é o seu gosto por automóveis e motas, com alguns acidentes enquanto jovem. Um deles, em 1966, levou-o ao afastamento do palco. Quando reapareceu, cantava com uma voz mais grave Lay Lady lay. Nessa altura, sentia-se satisfeito com a família (e cinco filhos).

No livro agora editado [lançamento previsto para 12 de Outubro], Dylan recusa a etiqueta de ter sido a "voz de uma geração". Mas um escritor, Andy Gill, autor de Classic Bob Dylan, 1962-9, anotara que, "desde Hendrix aos Beatles, de Clapton e Cohen... virtualmente toda a música de rock foi inspirada ou influenciada, em certa medida, pela ambição criativa de Dylan". Durante 40 anos, Dylan refugiou-se no mistério, conservando uma atitude de personagem messiânica constantemente em reinvenção e que enfurecia os seus fãs pois não tocava em palco as músicas gravadas. Reconhecido pelos movimentos dos direitos civis nos idos anos de 1960, visto como salvador pelos adolescentes de então, de Dylan também se escreveria ser órfão e ter viajado até Nova Iorque num comboio de mercadorias quando, na realidade, ele viera de carro com a família. A pergunta que se coloca é: até quando Dylan pode descontruir-se?

Em direcção ao lazer digital

É o título de uma entrevista dada por Kevin Frost, director-geral da Hewlett-Packard (HP) a Joseph M. Sarriegui, editada hoje no caderno de “Negócios” do El Pais. E o que diz o entrevistado? Aponta para a expansão, para além do negócio clássico da HP – computadores, impressoras e hardware –, do mercado do entretenimento digital. Assim, acompanhando a eclosão da fotografia digital, a HP desenvolve acções junto da cultura juvenil de massa, um segmento importante de consumidores. Mantém-se a associação com a MTV, com o patrocínio em Novembro da sua gala europeia em Roma, bem como a participação tecnológica na segunda parte do filme Shrek e da nova película de animação digital da Dreamworks, o Shark Tale. Agora, a multinacional apresenta o novo HP Media Center, onde confluem todas as tecnologias do entretenimento: cinema em casa, internet, fotografia digital e descarregamento de música.

Entretanto, não é por acaso que o mesmo caderno do jornal madrileno dedica mais duas páginas inteiras ao negócio das máquinas fotográficas digitais. Numa das páginas, apresenta-se o sector, nomeadamente em Espanha, onde já este ano se venderam mais de 2,1 milhões de máquinas digitais, mais 80% que em 2003. Nikon (14,7% do mercado), Canon (13,8%), Sony (13,2%), HP (9,2%), Olympus (7,9%), Kodak (5,8%) e Fujifilm (4,2%) são os grandes fabricantes envolvidos no negócio. Mas as máquinas digitais enfrentam um concorrente: os telemóveis com câmara fotográfica. Uma pergunta: com este boom do digital, o que fica para as máquinas analógicas? Não há uma resposta única, mas sabe-se que a empresa belga Agfa-Gevaert vendeu, há poucas semanas, a sua fábrica de película tradicional e o mercado da prata, empregue historicamente na emulsão das películas, está a ressentir-se, chegando a preços praticados até 1987.

Na outra página do El Pais, vem uma entrevista com Antonio Pérez, um espanhol que é o director de operações da Kodak encarregado de fazer a transição da empresa para a era digital. Curioso é saber o percurso de Pérez: ele trabalhou 25 anos na HP antes de entrar na Kodak o ano passado, ou seja, empregou-se para transformar a centenária empresa. Dividida em três sectores (consumo, impressão comercial e sanitário), é importante reter aqui algumas das linhas de actuação da Kodak, pela voz desse director: com as máquinas digitais, a Kodak é agora número dois nos Estados Unidos e número quatro a nível mundial. Diz ele: “Naturalmente, as margens das máquinas digitais não são altas, mas demonstramos que sabemos fazer desenhos digitais”. Conseguindo superar a ideia que a Kodak era apenas mundo analógico, os desafios são “a comercialização de produtos digitais e a cultura que necessitamos implantar dentro da empresa”. E Pérez conclui: “Aprendemos a trabalhar com outras empresas, como a IBM, Adobe, Microsoft, mas apenas nos dedicamos à parte da cadeia de valor em que somos os melhores”.

1 comentário:

  1. gostei bastante do post, queria apenas referir um pequeno erro na frase "atéquando pode o homem descontruir-se", o erro é obviamente, "descontruir-se" e até poderia passar despercebido, não fora a frase estar destacada do resto do texto com uma cor diferente...

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