domingo, 4 de setembro de 2005

ELEGIA À MINHA CIDADE

Este título bonito encabeça uma fotografia tipo de Nova Orleães, antes da tragédia que se abateu sobre aquela cidade norte-americana, e que The Observer chama à capa da sua revista de hoje. E, na página 2, a inevitável recordação de Louis Armstrong e dos seus All Stars, a banda mais magnética do jazz e do blues da América e da Louisiana e de Nova Orleães.

O que se viu na televisão e se leu nos jornais é de um dramaticismo inesquecível (na mesma semana em que centenas de pessoas morreram numa ponte de Bagdade, fugindo de um putativo bombista, mas que perdeu em imagens porque a acção acabou ali, ao passo que as águas da cidade americana continuam a alagar toda a região, e os media, em especial a televisão, precisam de imagens frescas). O mais incrível foi a desorganização no apoio à população daquela cidade - e que culminaram em pilhagens a que nos habituáramos a saber de famintos países africanos. Afinal, a América também é vulnerável e pede auxílio internacional. Como o orgulho americano deve estar ferido. Ou, então, a América são duas, a rica e a pobre. As imagens deram-nos conta desta segunda América.

Lê-se numa pequena peça do jornal britânico, assinada por Dave Gelly: "foi a música que tornou famosa Nova Orleães. Os historiadores argumentam agora se é o único sítio onde nasceu o jazz, mas de King Oliver a Wynton Marsalis a cidade deu, com certeza, nascimento a uma linhagem gloriosa de músicos. Eles deixaram a cidade à medida que evoluiram nas suas carreiras, mas muitos dos temas [que tocavam] evocavam uma espécie de paraíso perdido, onde a música coexistia com o ar húmido, a pobreza mais sufocante e a violência num doce e suado [moist] abraço". Os músicos de Nova Orleães tocavam sempre como se fossem irmãos, visível em obsessões de categorias e estilos.

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