 Conhecido como poeta militante, escrevo aqui sobre esse livrinho de recordações autobiográficas, manancial de referências a uma época que gosto de estudar - as décadas de 1920 e 1930 -, A memória das palavras ou o gosto de falar de mim, editado pela Portugália (li a edição de 1972). Nascido na rua das Musas, no Porto, em 1900, José Gomes Ferreira quatro anos depois transferiu-se, com a família, para Lisboa, onde passou praticamente todo o resto da sua vida.
Conhecido como poeta militante, escrevo aqui sobre esse livrinho de recordações autobiográficas, manancial de referências a uma época que gosto de estudar - as décadas de 1920 e 1930 -, A memória das palavras ou o gosto de falar de mim, editado pela Portugália (li a edição de 1972). Nascido na rua das Musas, no Porto, em 1900, José Gomes Ferreira quatro anos depois transferiu-se, com a família, para Lisboa, onde passou praticamente todo o resto da sua vida.Gomes Ferreira treinou-se como jornalista em Democracia (1920-1921): "A categoria dos redactores e colaboradores excedia a cotação habitual dos quadros jornalísticos do Partido Democrático; mas os resultados obtidos roçavam pela mediocridade, devido à má organização técnica do periódico em que as gralhas tornavam irreconhecível o mínimo trecho" (p. 114). Apesar disso, ele experimentou tudo: crónicas, reportagens, «sueltos», artigos de fundo, críticas teatrais, "pilhas e pilhas de linguados, muitos deles improvisados de madrugada, à triga-triga". Foi a época de se familiarizar com a boémia nocturna dos trabalhadores dos jornais, acrescenta.
Logo depois, colaborou com Os Filisteus, jornal-panfleto editado em 6 de Janeiro de 1921, com o custo de dez centavos. Dele, nasceu uma luta entre republicanos e elementos do Integralismo Lusitano, de António Sardinha, com desordens no café Martinho da Arcada na noite seguinte, e que envolveu as forças da Guarda Republicana e a intervenção do governador civil obrigando o encerramento do café (p. 258). Avisa: "Nunca fui seareiro [da Seara Nova], como sabem. Mas nesse dia qualquer de Outubro de 1921 vadiei todo a tarde pelas ruas de Lisboa, a cantar sozinho, de mãos nas algibeiras" [há aqui uma diferença entre Janeiro e Outubro, que este animador do blogue não consegue explicar].
Da poesia de gaveta às actividades publicitárias
Mas já era jornalista desde há muito - ou pelos menos o tinha augurado um seu professor do secundário, o padre Fiadeiro, quando Gomes Ferreira escreveu uma redacção sobre Alexandre Herculano: "Hás-de ser jornalista" (p. 33). No recuado período de 1917-1918, tornara-se director da revista Ressurreição (revista de arte e vida mental), ainda adolescente, com a suplementar obrigação de pagar contas e solicitar originais, motivo que, aliás, serviria de tema para os seus próprios exames liceais.
E, desde cedo, Gomes Ferreira decobrira-se também como poeta - conciliando o interesse íntimo (a poesia) com as necessidades de ganhar dinheiro ou servir de ponte para outras actividades (o jornalismo). Editou Lírios do monte em 1918, com capa de Stuart Carvalhais, e Longe, em 1921. Depois, durante a estadia na Noruega como consul, a poesia era um pretexto para continuar a escrever português (poesia para a gaveta, enquanto ia tocando ao piano com um amigo norueguês).
Daquele país frio, passou a colaborar com a revista Imagem, ligada ao cinema. Estava-se em 1925. No regresso, perdeu um pouco o rasto aos amigos poetas e passou a incluir-se num círculo diferente, devido às suas actividades na publicidade cinematográfica - ou subliteratura, literatura-prostituição e literatura-ganha-escudos, escondido em pseudónimos. Para além da Imagem, escreveu na Ilustração da Bertrand, no Girassol, sob nomes como Caçador de imagens e Álvaro Gomes.
Em O senhor doutor, para o qual fora convidado por António Lopes Ribeiro, assinava Avô do cachimbo. As histórias do João sem medo eram criadas num improviso semanal, o que obrigava Ofélia Marques a procurar saber a acção do episódio seguinte para ter tempo de desenhar a ilustração adequada (p. 200). Também escreveu a Arte da verdadeira elegância, tratado sobre corpos e vestidos femininos, estabelecendo para a Pompadour a distinção entre cinta e espartilho. E fez "filmecos" de reclamos a móveis e sapatos para José Rocha (do E.T.P.) (p. 171). Isto num momento de aproximação ao neo-realismo, na altura em que conheceu Mário Dionísio, em 1937, tinha este ainda 20 anos (p. 212).
"Só se protegem as artes mortas. As vivas toleram-se. E as demasiado vivas perseguem-se"
Gomes Ferreira travou muita proximidade com pintores, desenhadores, arquitectos: Ofélia e Bernardo Marques, que seriam os padrinhos do seu primeiro filho, Carlos Botelho, o suíço Fred Kradolfer, Maria e Francisco Keil do Amaral, Diogo de Macedo e Cottinelli Telmo. Deste, acompanhou a produção e montagem do filme A canção de Lisboa. Conheceu Bento de Jesus Caraça e reencontrou José Rodrigues Miguéis (p. 167). Mas também Carlos Queiroz, Olavo de Eça Leal, António Lopes Ribeiro, Leitão de Barros e Bernardo Marques, todos colaboradores da revista Imagem, inventada por Chianca Garcia nos bastidores do São Luís para defender o cinema sonoro da saudade dos admiradores do mudo.
José Gomes Ferreira e Bernardo Marques foram muito amigos, como se realçou atrás. Em 1931-1932, Gomes Ferreira encontrou Bernardo Marques nas páginas do Girassol. Depois, Gomes Ferreira era o chefe de redacção e Bernardo o orientador artístico da Ilustração, durante o período da direcção de António Ferro. Bernardo e Ferro também eram amigos íntimos entre si, apesar de clivagens políticas evidentes.
Bernardo, conta Gomes Ferreira, tinha personalidade dupla: havia um sonhador, que queria fazer uma revista de sátira e crítica social, e um prático, que trabalhou para o SPN (Secretariado de Propaganda Nacional, de Ferro), onde desenhava o turístico e o pitoresco regional. Ele conseguiu ultrapassar essa época do decorativo (p. 305) e tornar-se um nome de referência na pintura e ilustração portuguesa.
 
 Não sei se já escrevi neste espaço, mas só não guardo o suplemento do Diário de Notícias de sexta-feira porque a casa já não tem mais sítios para armazenar papel. Mas que dá muito gosto lê-lo sempre isso é verdade. Hoje o tema de capa - que eu amputei porque o scanner tem o tamanho do A4 - é E agora, Ricardo?. Refere-se a Ricardo Pais, o encenador do S. João (Porto), numa bela entrevista conduzida por Anabela Mota Ribeiro.
Não sei se já escrevi neste espaço, mas só não guardo o suplemento do Diário de Notícias de sexta-feira porque a casa já não tem mais sítios para armazenar papel. Mas que dá muito gosto lê-lo sempre isso é verdade. Hoje o tema de capa - que eu amputei porque o scanner tem o tamanho do A4 - é E agora, Ricardo?. Refere-se a Ricardo Pais, o encenador do S. João (Porto), numa bela entrevista conduzida por Anabela Mota Ribeiro. António Ferro procurava aplicar a sua política do espírito ao cinema, a estética do Estado Novo. Leitão de Barros, como cineasta, tivera um promissor começo.
António Ferro procurava aplicar a sua política do espírito ao cinema, a estética do Estado Novo. Leitão de Barros, como cineasta, tivera um promissor começo.
 
 Para o primeiro dos autores, Gustavo Cardoso - sobre quem eu escrevi recentemente, a propósito da sua tese de doutoramento -, a realização deste estudo deve-se a que a sociedade está em transição,
Para o primeiro dos autores, Gustavo Cardoso - sobre quem eu escrevi recentemente, a propósito da sua tese de doutoramento -, a realização deste estudo deve-se a que a sociedade está em transição,  No ano em que foi feito o estudo, 40% da população portuguesa era utilizadora da internet. 2/3 dos cibernautas tinham começado a navegar na net em 1998, o que dá conta da modernidade do fenómeno. Uma das autoras, Cristina Conceição, distingue dois factores no acesso: idade e escolaridade. Quanto mais jovens e escolarizados maior a propensão para a adesão à internet. Contudo, os mais velhos têm um consumo mais demorado de internet (fins práticos, profissionais e culturais), com os jovens a usarem mais ocasionalmente (lazer e conversação). No acesso à net, o contexto doméstico é o mais privilegiado.
No ano em que foi feito o estudo, 40% da população portuguesa era utilizadora da internet. 2/3 dos cibernautas tinham começado a navegar na net em 1998, o que dá conta da modernidade do fenómeno. Uma das autoras, Cristina Conceição, distingue dois factores no acesso: idade e escolaridade. Quanto mais jovens e escolarizados maior a propensão para a adesão à internet. Contudo, os mais velhos têm um consumo mais demorado de internet (fins práticos, profissionais e culturais), com os jovens a usarem mais ocasionalmente (lazer e conversação). No acesso à net, o contexto doméstico é o mais privilegiado. 2º ENCONTRO DE BLOGUES
2º ENCONTRO DE BLOGUES No passado dia 22, quando analisei o último romance de Umberto Eco, A misteriosa chama da rainha Loana, chamara a atenção para o personagem-narrador da história, familiarmente conhecido como Yambo, mas com nome de baptismo de Giambattista Bodoni, igual ao de um tipógrafo italiano (1740-1813).
No passado dia 22, quando analisei o último romance de Umberto Eco, A misteriosa chama da rainha Loana, chamara a atenção para o personagem-narrador da história, familiarmente conhecido como Yambo, mas com nome de baptismo de Giambattista Bodoni, igual ao de um tipógrafo italiano (1740-1813).



 Gente que dói primeiro - o conflito basco por quem o vive é um livro de Vítor Pinto Basto, com o selo da
Gente que dói primeiro - o conflito basco por quem o vive é um livro de Vítor Pinto Basto, com o selo da  4º CONGRESSO DA SOPCOM
4º CONGRESSO DA SOPCOM Já suspeitava que a idade da inocência da blogosfera estava a chegar ao fim. A leitura do Diário Económico de sexta-feira última foi um sinal preciso, em texto de Hugo Pinheiro. Agora, a BusinessWeek, de 2 de Maio (hoje distribuida), confirma isso, ao dedicar o tema de capa à importância dos blogues nos negócios.
Já suspeitava que a idade da inocência da blogosfera estava a chegar ao fim. A leitura do Diário Económico de sexta-feira última foi um sinal preciso, em texto de Hugo Pinheiro. Agora, a BusinessWeek, de 2 de Maio (hoje distribuida), confirma isso, ao dedicar o tema de capa à importância dos blogues nos negócios.


 A história conta-nos o AVC de Arthur Gordon Pym (p. 14), perdão Giambattista Bodoni (nome de um célebre tipógrafo italiano, de que eu falarei num próximo post), ou melhor Yambo, e o seu lento acordar desse grave acidente.
A história conta-nos o AVC de Arthur Gordon Pym (p. 14), perdão Giambattista Bodoni (nome de um célebre tipógrafo italiano, de que eu falarei num próximo post), ou melhor Yambo, e o seu lento acordar desse grave acidente.


 A imprensa, a rádio, a televisão e o cinema são indústrias ultra-ligeiras, na perspectiva de Morin (1962: 30). Ligeiras porque usam ferramentas de produção, ultra-ligeiras pela mercadoria produzida: folha de papel, película cinematográfica, onda de rádio. No momento do consumo, a mercadoria torna-se não palpável, dado o consumo ser psíquico.
A imprensa, a rádio, a televisão e o cinema são indústrias ultra-ligeiras, na perspectiva de Morin (1962: 30). Ligeiras porque usam ferramentas de produção, ultra-ligeiras pela mercadoria produzida: folha de papel, película cinematográfica, onda de rádio. No momento do consumo, a mercadoria torna-se não palpável, dado o consumo ser psíquico.  Morin destaca também o papel do autor, que a indústria cultural usa na tripla qualidade de artista, intelectual e criador (1962: 41). O criador afirmava-se exactamente no começo da era industrial, e tende a confundir-se com produção. Daí o exemplo dado por Morin: em 1934, o King Features Syndicate encarregou o desenhador Alex Raymond de pôr em imagens as aventuras de um herói, Flash Gordon. Após a morte acidental de Raymond, sucederam-lhe Austin Briggs (1942-1949) e Marc Raboy e Dan Barry [
Morin destaca também o papel do autor, que a indústria cultural usa na tripla qualidade de artista, intelectual e criador (1962: 41). O criador afirmava-se exactamente no começo da era industrial, e tende a confundir-se com produção. Daí o exemplo dado por Morin: em 1934, o King Features Syndicate encarregou o desenhador Alex Raymond de pôr em imagens as aventuras de um herói, Flash Gordon. Após a morte acidental de Raymond, sucederam-lhe Austin Briggs (1942-1949) e Marc Raboy e Dan Barry [ Um estudioso descobre a tradução francesa de um manuscrito do séc. XIV. O autor é um monge beneditino alemão, Adso de Melk, que relata acontecimentos passados numa abadia italiana, onde se reuniriam teólogos do papa João XXII e do imperador Luís de Baviera (1327). Adso, então noviço ao serviço do franciscano Guilherme de Baskerville, antigo inquisidor e amigo de Guilherme de Occan e Marsílio de Pádua (religiosos intelectuais importantes na época), escreve sobre as mortes ocorridas antes, durante e depois do encontro de teólogos. Guilherme de Baskerville, que iria ser representante do lado dos franciscanos, é encarregado pelo abade (responsável da abadia) de investigar as mortes. Dotado como perscrutador de sinais, descobre o culpado nos labirintos da Biblioteca.
Um estudioso descobre a tradução francesa de um manuscrito do séc. XIV. O autor é um monge beneditino alemão, Adso de Melk, que relata acontecimentos passados numa abadia italiana, onde se reuniriam teólogos do papa João XXII e do imperador Luís de Baviera (1327). Adso, então noviço ao serviço do franciscano Guilherme de Baskerville, antigo inquisidor e amigo de Guilherme de Occan e Marsílio de Pádua (religiosos intelectuais importantes na época), escreve sobre as mortes ocorridas antes, durante e depois do encontro de teólogos. Guilherme de Baskerville, que iria ser representante do lado dos franciscanos, é encarregado pelo abade (responsável da abadia) de investigar as mortes. Dotado como perscrutador de sinais, descobre o culpado nos labirintos da Biblioteca. Há uma constante descrição da biblioteca e do seu labirinto, de uma grande imaginação no livro mas que perde quase todo o relevo no filme, como escrevi acima [imagem de Eco retirada do sítio
Há uma constante descrição da biblioteca e do seu labirinto, de uma grande imaginação no livro mas que perde quase todo o relevo no filme, como escrevi acima [imagem de Eco retirada do sítio 

 O trabalho de Alice Marques analisou 24 números em 2000 das revistas Cosmopolitan e Máxima, em que a autora procura ver a "situação empresarial das revistas, a permanência, na escola, na família e nos meios de comunicação social, de concepções do senso comum da feminilidade" (p. 11). Tese de mestrado defendida na Universidade Aberta em 2002, Alice Marques procura entender a "compreensão global das representações das mulheres como o corpo e da beleza idealizada como obsessão que corrói as suas mentes e lhes suga uma boa parte dos salários".
O trabalho de Alice Marques analisou 24 números em 2000 das revistas Cosmopolitan e Máxima, em que a autora procura ver a "situação empresarial das revistas, a permanência, na escola, na família e nos meios de comunicação social, de concepções do senso comum da feminilidade" (p. 11). Tese de mestrado defendida na Universidade Aberta em 2002, Alice Marques procura entender a "compreensão global das representações das mulheres como o corpo e da beleza idealizada como obsessão que corrói as suas mentes e lhes suga uma boa parte dos salários". 1) Sítio
1) Sítio  Se o punk se tornou uma marca na cena inglesa, por boas ou por más razões, o certo é que os anos seguintes foram de ressaca. Talvez ainda esteja na memória a música dos Joy Division, em torno da mitologia de Ian Curtis, que acabaria por se suicidar, ou mesmo dos Public Image Limited, cujo cantor, John Lydon, nunca ultrapassou a infâmia dos Sex Pistols. Reynolds faz a ponte para bandas mais recentes como Franz Ferdinand e Bloc Party, Interpol e Rapture.
Se o punk se tornou uma marca na cena inglesa, por boas ou por más razões, o certo é que os anos seguintes foram de ressaca. Talvez ainda esteja na memória a música dos Joy Division, em torno da mitologia de Ian Curtis, que acabaria por se suicidar, ou mesmo dos Public Image Limited, cujo cantor, John Lydon, nunca ultrapassou a infâmia dos Sex Pistols. Reynolds faz a ponte para bandas mais recentes como Franz Ferdinand e Bloc Party, Interpol e Rapture. CICLO DE CINEMA NA UNIVERSIDADE CATÓLICA
CICLO DE CINEMA NA UNIVERSIDADE CATÓLICA 1) Gentileza
1) Gentileza Igualmente na secção "Ler, ver, ouvir" do Diário de Notícias, a mesma jornalista faz referência ao sítio
Igualmente na secção "Ler, ver, ouvir" do Diário de Notícias, a mesma jornalista faz referência ao sítio 