Não se podia dizer que se jogava xadrez com os representantes da polícia política, mas conheciam-se os seus nomes e as pequenas moradias em que viviam, já não me lembro se com ou sem família, pelo que muitas vezes me cruzei com eles. Por vezes, os militares milicianos, jovens e atrevidos, falavam em política e discordavam da guerra colonial. Houve muitas conversas políticas durante esses longos meses (bem mais interessantes do que as que eu ouvira quando estivera no quartel em Paço d’Arcos e, à noite, alguns de nós jogavam cartas e falavam dos livros que liam, como os de José Cardoso Pires). A reacção dos membros da PIDE naquele canto perdido de Angola era pedir (quase cortezmente) para os militares se calarem. Eles sabiam o desprezo que os militares lhes dedicavam, além de se sentirem em desvantagem numérica dado o número irrisório de agentes e das suas armas (espingardas) serem bem menos poderosas do que as do exército.
Numa zona em que a UNITA era maioritária e estava quase ao serviço dos militares portugueses
e em que a facção Daniel Chipenda do MPLA conseguiu um ou outro êxito (o 1º de Maio de 1972 foi devastador para a nossa companhia, com a morte de sete companheiros), que acções a PIDE levou a efeito? E que relatórios escreveu sobre cada militar?[imagem de 1972 já aqui publicada em 16 de Dezembro de 2005]
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