quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

OPPIA

OPPIA significa Oporto Picture Academy, fica na rua Barão de S. Cosme, 228, no Porto, e abriu ontem com uma exposição de fotografias pinhole, Sol à Sombra, o sonho de Cristiano Pereira, e Os Retratos dos Poetas das Quintas de Leitura, de Patrícia Vieira Campos. Eu fora alertado por texto publicado no jornal Público do dia 28 deste mês, e fiquei a conhecer o projeto que associa fotografias pinhole [ou estenopeica], fotografias à la minute e películas super8, tudo formatos analógicos. Na cave, há espaço para formação, revelação de filmes e uma pequena biblioteca temática. Cristiano Pereira já fez um festival internacional de cinema de super8, no Porto, e passou em diversas universidades europeias com mostras dessas películas.



terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Museu Municipal de Penafiel de novo

No final de fevereiro deste ano, descobri o museu municipal de Penafiel. Voltei lá, tal a paixão. Agora, com uma exposição temporária de talheres produzidos na região de Guimarães.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Boas Festas


[presépio da Associação Pró-Infância Santo António de Lisboa (APISAL), em exposição de presépios na Biblioteca de S. Lázaro, Lisboa]

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A história da rádio segundo Álvaro de Andrade (5)


No texto de 1 de setembro de 1970, Álvaro Andrade recordava nas páginas do Diário Popular a primeira estação de rádio a emitir com regularidade em Portugal, CT1AA. Na minha investigação, a estação emitiu entre 1924 e 1937. CT1AA pertencia a Abílio Nunes dos Santos, da família proprietária dos Armazéns do Chiado e vinha de experiências de fonia e radiofonia quando decidiu evoluir para a radiodifusão. Os Armazéns do Chiado chegaram a ter um secção de discos, que, certamente, eram publicitados pela estação. A programação era essencialmente de música clássica - ou séria, como se dizia então.

No texto publicado no Diário Popular, identificam-se os nomes dos locutores (ou speakers, como eram então nomeados): Adriano Lopes Vieira e Mário Garrido Pinheiro. O dono de CT1AA deixou de emitir, primeiro em ondas médias e depois em ondas curtas quando a Emissora Nacional, a estação pública, começou a emitir. Nunes dos Santos voltou às suas experiências de fonia e radiofonia, mais económicas e sem preocupações organizativas, solicitando anualmente autorização para essas atividades.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Évora

Big bands, jazz bands, pequena orquestra onde os sopros tinham importância mas o piano estava lá atrás, como grande instrumento. Como seria o café Arcada, na praça do Giraldo, desde 14 de fevereiro de 1942, quando abriu? Socorro-me do sítio Viver Évora (texto de José Frota): "«considerado um dos melhores do País, com mais de 100 mesas, possuindo frigorífico e outras inovações modernas», foi tida como um acontecimento social de grande impacto no quotidiano citadino. Iniciativa conjunta de António Justino Mexia da Costa Praça, Basílio da Costa Oliveira, Celestino Costa e António Borges Barreto, quatro dos maiores comerciantes eborenses, o estabelecimento foi inaugurado com um «jantar à americana (para famílias)», sendo obrigatório o uso de «trajo de passeio». As inscrições para o repasto efectuaram-se no próprio café ou através do telefone 357, permitindo a selecção dos clientes, que no final brindaram com champanhe e ouviram actuar a Orquestra de Jazz Luz e Vida em «alguns números do seu seleccionado reportório», como salientava o relato do Notícias d’Évora".

Continuo a ler no sítio: "Nos primeiros tempos o Arcada foi frequentado pela burguesia local, pequenos grupos de intelectuais, gente do reviralho, profissionais liberais e estudantes liceais. Os latifundiários e os agricultores frequentavam o Café Camões, à Porta Nova. Mas com a perda de centralidade desta zona e o acrescido ganho de importância da Praça do Giraldo, estes passaram a tomar de assalto o Arcada às terças-feiras, dia do mercado semanal. Em plena Praça e no interior do Café se discutiam e apalavravam negócios, tendo ali chegado a funcionar uma informal bolsa de gado. No seu romance Aparição, o escritor Vergílio Ferreira relata bem o ambiente do Café Arcada quando nele entrou pela primeira vez em 1946, colocando a sua visão na boca do protagonista Alberto Soares. «... acabámos por marcar o encontro para o dia seguinte no Arcada sem que o Moura se lembrasse de que era uma terça-feira, ou seja dia de mercado»".

Para além da porta giratória de acesso pela praça do Giraldo, fascina-me a enorme fotografia da orquestra. Que conhecimentos tinham aqueles músicos? Que temas principais tocavam? Dançava-se com a sua música? Formou-se um público fã? Quanto tempo durou aquela alegria?


sábado, 19 de dezembro de 2015

Os Xutos passaram aqui em casa

Ver e ouvir os Xutos e Pontapés aqui em casa dispensou aflições de arrumar carro ou andar em transportes cheios. No Campo Pequeno, em formato acústico, para um público fã: lenços, cachecóis, camisolas. A tribo dos Xutos é curiosa.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Star Wars

Escreve o Público: "O mais recente episódio de Star Wars está prestes a estrear – e as “marcas de moda e acessórios, de grande consumo ou de nicho, estão a sentir a força” da saga, escreve o jornal de referência na indústria da moda Business of Fashion. Há mochilas, peças de joalharia, canetas, mealheiros, canetas, chapéus, vernizes ou batoms".

Basta ver o grande número de anúncios que precedem a exibição do filme, incluindo relógios. Mas não vi publicidade aos sabres de luz e ao droide BB-8 (cerca de 150 dólares no mercado americano). Não me lembro de ver tanta publicidade, alguma dela associando o filme e a quadra natalícia. Um oportuno casamento de indústrias culturais (ou merchandising oportunista).

Audiências de rádio 2015

Os dados de audiências da rádio a meio deste mês, segundo a Marktest, dão a RFM e a Comercial com os valores mais altos. Por consequência, os grupos Renascença e Media Capital destacam-se. Registo ainda o aumento do share da Antena 1 e da TSF.


Os jornalistas vão desaparecer?

Leio agora no Diário de Notícias: "O número de profissionais com carteira desceu de 6839 para 5621 entre 2007 e 2014. Portugal perdeu 1218 jornalistas em sete anos, segundo dados da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ). O número profissionais ativos desceu de 6839 para 5621, entre 2007 e 2014, o equivalente a um declínio de 17,8%. Estes resultados devem-se ao "crescimento assustador do desemprego", de acordo com Rosária Rato, vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas e representante da CCPJ". O estudo pode ser consultado, na íntegra, na página do Observatório Europeu do Jornalismo.

Que poderei dizer aos meus alunos em abril do próximo ano quando começar a lecionar Estudos de Jornalismo?

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Nicolás Muller.Obras-Primas

Depois de Espanha e França, no âmbito do centenário do nascimento do fotógrafo húngaro Nicolás Muller, a exposição a inaugurar na próxima sexta-feira em Cascais pela Fundação D. Luís I integra a programação da Mostra Espanha 2015, organizada pelo Ministério da Educação, Cultura e Desporto de Espanha e pelo festival PhotoEspanha. A exposição, com curadoria de Chema Conesa e produzida pela Comunidade de Madrid, inclui cerca de 70 fotografias a preto e branco que fazem parte do espólio guardado pela filha de Nicolás, Ana Muller, hoje propriedade do Arquivo Regional da Comunidade de Madrid e, na exposição, organizadas cronologicamente entre 1935 e 1981. Nela, veem-se trabalhos iniciais na Hungria, em que denuncia a situação feudal dos camponeses, às reportagens, livros e retratos realizados em Espanha, onde veio a falecer. Antes de se fixar em Espanha, o fotógrafo passou por França, onde conheceu Brassaï e Robert Capa, e ainda por Portugal, onde permaneceu apenas uns meses e realizou um trabalho sobre a zona ribeirinha do Porto, uma das partes da exposição em Cascais (texto da entidade organizadora da exposição).


Nicolas Muller expo 2013_006 NIV RET. Descarregando Sal. Porto, Portugal, 1939

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Benedict Anderson, Scholar Who Saw Nations as ‘Imagined,’ Dies at 79

Benedict Anderson, Scholar Who Saw Nations as ‘Imagined,’ Dies at 79 (http://www.nytimes.com/2015/12/15/world/asia/benedict-anderson-scholar-who-saw-nations-as-imagined-dies-at-79.html?_r=2), by Sewell Chan:

"Benedict Anderson, a scholar of Southeast Asia who transformed the study of nationalism by positing that nations were “imagined communities” that arose from the fateful interplay of capitalism and the printing press, died on Saturday night at a hotel in Batu, Indonesia. He was 79. The death was confirmed by his friend Tariq Ali, who had worked with him at the journal New Left Review and at the publishing house Verso Books. The cause appeared to be heart failure, Mr. Ali said. Dr. Anderson’s best-known book, “Imagined Communities: Reflections on the Origin and Spread of Nationalism,” first published in 1983, began with three paradoxes: Nationalism is a modern phenomenon, even though many people think of their nations as ancient and eternal; it is universal (everyone has a nation), even though each nation is supposedly utterly distinctive; and it is powerful (so much so that people will die for their countries), even though on close inspection it is hard to define. Dr. Anderson believed that liberal and Marxist theorists had neglected to appreciate the power of nationalism. “Unlike most other isms, nationalism has never produced its own grand thinkers: no Hobbeses, Tocquevilles, Marxes or Webers,” he wrote".

Elemento para uma história da rádio do império

Em 1968, programas da rádio portuguesa estendiam-se às então colónias africanas. Aqui, estão dois casos. Um deles é A Voz do Casa Pia, de Rádio Peninsular para Rádio Clube de Angola, Rádio Clube de Moçambique e Emissora Oficial da Guiné Portuguesa, atual Guiné Bissau. Foi nesse programa que Aurélio Carlos Moreira se estreou na rádio, há já 57 anos. Então, a Casa Pia recolhia crianças órfãs e abandonadas e dava-lhes formação missão; hoje, a sua missão é a promoção dos direitos e a proteção das crianças e dos jovens. Estes jovens tornados adultos espalharam-se pelo país e pelas então colónias em busca de oportunidades de trabalho e realização profissional. O programa era um elo de ligação dos jovens à casa acolhedora. Aurélio Carlos Moreira colabora atualmente com Rádio Sim (grupo Renascença). O outro programa pertencia a Fernando Curado Ribeiro, emitido em Rádio Clube Português e Rádio Clube do Huambo, então Nova Lisboa e hoje Huambo, em Angola, Leitura - Semanário Radiofónico de Divulgação Literária. Por volta de 1949-1950, Curado Ribeiro e a sua mulher Joana Campina tinham ido trabalhar para Angola; daí a antiga ligação a Angola. O programa Leitura teve duração de décadas com centenas de programas e um contacto intenso com autores, com entrevistas, leitura de textos e sonorização de cenas. Curado Ribeiro, além da rádio, foi um conhecido ator de cinema e teatro, tendo pertencido aos quadros do Teatro Nacional D. Maria II.

 



domingo, 13 de dezembro de 2015

Quando a rádio mandava na RTP

O Diário Popular, de 31 de março de 1968, publicava uma notícia sobre a assembleia-geral da RTP. Os corpos gerentes eram: a presidente da assembleia-geral o Posto Emissor de Radiodifusão do Funchal, o Conselho de Administração tinha elementos de Rádio Clube Português e Rádio Renascença e Manuel Bivar (diretor técnico da Emissora Nacional) e o Conselho Fiscal tinha elementos de Rádio Clube de Moçambique e dos Emissores do Norte Reunidos. Por Rádio Clube Português, estava Alberto Lima Basto, falecido pouco depois e substituído por Júlio Botelho Moniz.


sábado, 12 de dezembro de 2015

Sonia Delaunay na Gulbenkian

O painel mural que Sonia Delaunay fez para o pavilhão dos caminhos de ferro na Exposição Internacional de Paris em 1937 Étude pour Portugal tinha cerca de 18 metros de comprimento. Após a exposição três dos quatro painéis desapareceram. Por isso, causa espanto a sua reconstituição na presente exposição na Gulbenkian, O Círculo Delaunay (Sonia e Robert Delaunay), onde aparecem também obras de Amadeu Sousa-Cardoso, Eduardo Viana e José Almada Negreiros. Sonia e Robert Delaunay viveram em Portugal entre agosto de 1915 e dezembro de 1916.


Cores vivas, círculos rodeando as figuras - mulheres do Minho, cenas de trabalho no mercado, um carro de bois, elementos de azulejaria, parece-me que também uma pequena capela. A exposição tem ainda quadros representando mulheres que vendem laranjas, cantoras de flamenco. E L'Hommage au Donateur (1916), da coleção Centre Pompidou, Paris.




sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Controlo da informação audiovisual - 40 anos atrás

Entre 26 de novembro e 10 de dezembro de 1975, o Diário Popular não se publicou, acontecendo o mesmo a outros jornais. O golpe militar de 25 de novembro de 1975 controlaria os media. A 11 de dezembro de 1975, faz hoje 40 anos, o Diário Popular reconstituía política, militar e socialmente esses dias, incluindo a nacionalização dos media. O recorte abaixo retrata essa realidade.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A Quinta Avenida de Lisboa

Segundo o jornal Público, em texto editado hoje, "Dois quadros descobertos em 2009 originaram um livro sobre Lisboa quinhentista e a Rua Nova dos Mercadores. Naquela artéria confluíam produtos do império e gentes de todo o mundo, transformando a capital portuguesa numa cidade global". O sugestivo título do texto é A Quinta Avenida do Século XVI. Continuo a seguir o texto de Nicolau Ferreira: "No século XVI, a Rua Nova dos Mercadores era uma pequena babel. Nos seus edifícios, moravam italianos, flamengos, andaluzes, portugueses. Enquanto isso, naquela rua da Baixa de Lisboa, cristãos-novos, judeus estrangeiros, escravos vindos de 20 nações africanas, escravos árabes passeavam-se, muitos faziam trocas comerciais. É esta a realidade trazida à superfície no livro recentemente editado no Reino Unido The global city. On the streets of the renaissance Lisbon (A Cidade Global – Nas Ruas da Lisboa Renascentista), editado pelas historiadoras Annemarie Jordan Gschwend, do Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar, a trabalhar na Suíça, e Kate Lowe, da Universidade Queen Mary de Londres". A obra, continua a ler-se, teve como ponto de partida dois quadros descobertos numa mansão inglesa, em Oxfordshire, e que as autoras do livro dataram entre as décadas de 1570 e 1620.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Imprensa empresarial em discussão

João Moreira dos Santos, como já escrevi aqui, foi o curador da exposição ainda patente na Biblioteca Nacional. Hoje, no seminário organizado pela SOPCOM e pela APCE, ele foi um dos oradores, traçando a história da imprensa empresarial em Portugal em dois tópicos centrais: censura e politização. Deu exemplos de jornais de empresa do tempo do Estado Novo, que exibiam a indicação "visado pela censura", como outro meio de informação qualquer. O orador destacou três tipos de censura: de conteúdo (prévia), do editor (autorização estatal do lugar de editor) e diretor (autorização estatal do lugar de diretor). A censura seria centralizada no SNI em 1944. O segundo elemento apresentado por João Moreira dos Santos foi o da politização, no Estado Novo com o elogio público das figuras gradas do regime, com fotografias publicadas em jornais de empresa, e já nos primeiros anos da democracia com o apoio à revolução e tendo como editores comissões de trabalhadores ou outras estruturas de participação dos trabalhadores.


terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Um local de cultura serve sempre para a troca de ideias

Na biblioteca municipal de Soure pode ler-se mas também organizar uma boa conversa em torno das memórias da rádio. O sol entrava pela janela e permitiu recolher mais dados de um velho profissional com carreira em Angola. Obrigado a ele.


domingo, 6 de dezembro de 2015

sábado, 5 de dezembro de 2015

A história da rádio segundo Álvaro de Andrade (4)

Neste texto de Álvaro Andrade, editado no Diário Popular de 25 de agosto de 1970, o tema foi a locução radiofónica. Olavo d'Eça Leal era uma personalidade multifacetada: crítico de cinema, desenhador, pintor. E entrou para a Emissora Nacional como locutor mas também autor de múltiplos diálogos, que alimentou ao longo de décadas de profissão. Um dos textos iniciais dele foi A Voz da Rádio (depois título de livro e que eu aproveitei, numa espécie de homenagem, no título de livro que publiquei em 2005, mas com a frase no plural). Olavo diria que nem sempre o locutor era compreendido pelos ouvintes, às vezes engana-se (por exemplo, pronuncia mal as palavras), precisa de longo tempo para se formar numa escola de locutores, dada a profusão de conhecimentos a aprender, e tem um ordenado que apenas chegava para viver decentemente.

Álvaro Andrade, também funcionário da Emissora Nacional e chefe de redação em Rádio Semanal à época, desempenhou o papel de crítico do cronista. Não seria melhor ele pedir aumento de salário diretamente ao presidente da Emissora Nacional?



quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Nacionalização da rádio foi há 40 anos

Foi a 2 de dezembro de 1975 que o decreto-lei 674-C/75 determinou a nacionalização da rádio em Portugal, acabando com marcas como Rádio Clube Português e Emissores Associados de Lisboa.

O preâmbulo do decreto é muito estranho. Começava por referir as telecomunicações para chegar à rádio, indicando o uso, em condições de precária eficácia, de 34 das 121 frequências de onda média internacionalmente disponíveis. Mais à frente formulava que a quase totalidade dos países europeus concedia exploração da radiodifusão a uma única empresa, destacando países como a Alemanha Democrática, a Checoslováquia, a Hungria e a Rússia, países então com regimes de partido único, e esquecendo a Inglaterra e a Alemanha Federal. A somar à explicação preambular, o articulado apresentava razões de ordem técnica, económica e política.

Ora, a única razão plausível para o decreto-lei fora a última - a política. Isso lia-se mais à frente, de modo cristalino: "é manifesto que tem estado longe de exemplar o comportamento da generalidade das nossas estações emissoras. Apaixonadas e parciais, onde lhes cumpria que fossem serenas, objetivas e isentas, não raro panfletárias, têm chegado por vezes ao extremo limite dos convites à sedição. [...] O Conselho de Revolução e o Governo não poderiam continuar a assistir, sem uma adequada intervenção, à natureza verdadeiramente contrarrevolucionária de algumas das nossas estações emissoras, pese isso à bem intencionada generosidade de alguns dos seus agentes".



Pelo decreto-lei, eram nacionalizadas, à exceção de Rádio Renascença - por causa da Concordata com a Santa Sé - as estações Rádio Clube Português, Emissores Associados de Lisboa, Sociedade Portuguesa de Radiodifusão e Alfabeta. Nascia a Empresa Pública de Radiodifusão, que incluía a Emissora Nacional.

A nacionalização estava prevista desde meados de 1974. Depois, desde setembro de 1975 tornava-se evidente a falta de controlo político da informação, em especial após a tomada de assalto da embaixada de Espanha. Nos dias antes do golpe militar, era visível a perturbação e o aumento de tensão entre os que triunfaram e os que perderam nesse dia. A possibilidade de guerra civil aumentava, com sedes de partidos políticos assaltadas e grupos de revolucionários a guardarem as rádios. O emissor da Rádio Renascença explodira. A Emissora Nacional passou a emissão para o Porto, mas alguns trabalhadores ficaram na rua do Quelhas, a guardar não se sabe muito bem o quê. O móbil direto da nacionalização foi, assim, o golpe militar de 25 de novembro de 1975. Como resultado, só na Emissora Nacional, a purga atingiu cinquenta profissionais, alguns despedidos e outros suspensos.

Duas notas suplementares, a primeira das quais referida no Diário de Notícias, de 31 de outubro de 1975, em que trabalhadores do Ministério da Comunicação Social expressaram voto de desconfiança em Ferreira da Cunha, secretário de Estado da Informação. Um comunicado ligava-o à ditadura derrubada em 25 de abril de 1974, tendo colaborado diretamente com o CDI (Centro de Documentação Internacional), criado em 1966 pelo ministro da Educação e elaborado relatórios com informações fornecidas pela PIDE e pela Legião Portuguesa. O CDI tinha um ficheiro de estudantes universitários. Ferreira da Cunha era colaborador antigo de Costa Gomes, então presidente da República, desde o tempo em que este fora chefe de estado maior das Forças Armadas antes de 1974, o que pode limitar a pressuposição lançada em outubro de 1975.

Outra nota vinha igualmente no Diário de Notícias, de 9 de setembro de 1975, referindo um dissídio na Emissora Nacional no setor desportivo. Em comunicado, “consideram os trabalhadores dos Serviços Informativos e dos Estúdios da Emissora Nacional que o fenómeno desportivo implica um tratamento radiofónico (relatos, elaboração de programas, etc.) que só poderá resultar capaz, se feito por especialistas. A especialização que os signatários reivindicam é facilmente comprovada pela incapacidade dos «repórteres desportivos (?)» que no passado domingo asseguraram a Tarde Desportiva. Consideram, portanto, os subscritores que a função do repórter desportivo (relator) nada tem a ver com a função de locutor, pelo que os serviços desportivos que realizarem deverão ser justamente remunerados, já porque não fazem parte das suas obrigações como locutores, já porque o contrário seria exploração do seu trabalho”. Mais à frente: “Diz o Departamento de Informação (?) que não foi possível resolver doutro modo o conflito de trabalho e que optou pelo recurso a novos elementos, na sua grande parte pouco experimentados, pedindo depois compreensão dos ouvintes para as suas deficiências e acreditando na melhoria da qualidade”. O país estava muito estranho - e perigoso.

O preâmbulo do decreto-lei 674-C/75 estava errado, o que significa: assente em bases falsas. Ao indicar o uso de 34 das 121 frequências de onda média internacionalmente disponíveis. em condições precárias, ignorava a existência e aceitação, desde décadas, desse conjunto de estações. A União Europeia de Radiodifusão zelava bem pela distribuição das frequências em ondas médias, além de que o decreto ignorou totalmente a existência da frequência modulada, que estava a popularizar-se. Mau grado a menor qualidade de emissões das estações minhocas (caso dos Associados de Lisboa), a rádio foi marcada por forte censura durante o Estado Novo. Mas a rádio no geral soube inovar. Rádio Clube Português, por exemplo, foi a primeira estação portuguesa a emitir 24 horas diárias sem interrupção em 1963, pioneira face a vários países europeus como a Inglaterra. Goste-se ou não, a Emissora Nacional criou um estilo musical com o seu Centro de Preparação de Artistas da Rádio - o designado nacional-cançonetismo. A Rádio Renascença criou uma boa rede de emissores em FM que chegava a todo o país. A geração de programas como Em Órbita ou Página 1 e seus locutores e colaboradores não pode ser ignorada neste balanço.

A lei acabou com os excessos, como passar, numa mesma emissão do Programa da Manhã, oito vezes A Internacional [Fernando Serejo (2001). “Rádio – do marcelismo aos nossos dias (1968-1990)”. Observatório, 4: 65-95]. Mas criou uma empresa de radiodifusão excessiva: 2600 trabalhadores e património que incluía um cinema (Nimas), uma editora discográfica (Imavox) e uma exploração agrícola. Se juntar foi complicado, mais difícil foi desfazer, quando a Rádio Comercial se tornou privada pela reforma política de desnacionalização em 1993.