domingo, 30 de novembro de 2014

Fátima Mendonça no Centro de Arte Manuel de Brito

Fátima Mendonça (1964) estudou Pintura na Escola Superior de Belas-Artes (Lisboa). Algumas exposições individuais: Auto-retratos com dedicação e afecto, da Fátima (Galeria 111, Lisboa, 2007) e Assim... Assim... para gostares mais de mim (Culturgest, Lisboa, 2005) e Centro de Arte Manuel de Brito (Algés, 2014). Exposições colectivas: À Volta do Papel - 100 Artistas (Centro de Arte Manuel de Brito, Algés, 2008) e Arte Contemporânea - Novas Aquisições (Culturgest, Lisboa, 2002). A sua obra está representada em colecções públicas e privadas: Fundação de Serralves (Porto) e Colecção da Caixa Geral de Depósitos (Lisboa). Agora, apresenta no Centro de Arte Manuel de Brito obras de 1988 a 2010, marcantes do seu percurso artístico. Redes e sacos, vermelhos e azuis, pássaros, bolos de chocolate e morangos, mensagens escritas para o Rui, sobreposições, saias rodadas, a relação da menina com a religião e os sonhos, medos e pesadelos são alguns dos tópicos na pintura colorida e dinâmica de Fátima Mendonça. Ler mais sobre a exposição aqui.


Fátima Mendonça, Auto-retrato (Sossega), 2007.

Nova Caledónia

Louise Michel (1830-1905) foi professora, poetisa, enfermeira, escritora e blanquista da França, reconhecendo-se anarquista durante a Comuna de Paris na qual foi uma das mais importantes communards. Michel foi ainda a primeira a adoptar a bandeira negra como símbolo dos ideais libertários. Após a Comuna e presa, a 8 de Agosto de 1873 ela é colocada no navio Virgini e deportada para a Nova Caledónia,  Quatro meses depois chega ao destino. A bordo, conhece os prisioneiros Henri Rochefort, figura polémica, e Nathalie Lemel, outra anarquista activa na Comuna. Ela permanece na Nova Caledónia durante sete anos, aproximando-se da população local, da etnia kanak. Cria a revista Petites Affiches de la Nouvelle-Calédonie e publica o livro Légendes et Chansons de Gestes Canaques. Ao contrário de outros communards deportados, ela toma parte ao lado dos kanaks na sua revolta de 1878. Posteriormente, afirmaria ter enviado ao líder da rebelião, Ataí, um pedaço de sua manta vermelha (toda a informação sobre Louise Michel a partir de Wikipedia).

Este é o tema da peça Nova, Caledónia, de André Guedes e Miguel Loureiro, com múltiplos excertos de materiais como textos de exílio, de revolução (Bakunine), poemas (Brecht), canções (La Cannaile), valsas (Heiter auch in ernster Zeiter) e árias (Summertime), excertos de peças de teatro, cartas, ensaios, bailados (A Sagração da Primavera). Actores e actrizes: Crista Alfaiate, Cristina Carvalhal, João de Brito e Miguel Loureiro.

No texto de apresentação, escrevem os autores que projectaram "um itinerário múltiplo sobre o fim dos projectos comunitários de pendor bélico e romântico que são as revoluções; sobre a influência do espaço geográfico na estrutura de uma ideia; a noção de paraíso terrestre ligada aos mares do Pacífico Sul". Aqui, o projecto social dos communards perdia qualquer importância.

A representação tem dois momentos distintos, o primeiro aproximando-se da história de Louise Michel e dos seus companheiros deportados, o contacto com a nova realidade social e geográfica, as tentativas de reconstituição de um ambiente cultural levado de Paris, condenado ao fracasso, pela existência de uma relação de subjugação a um poder colonial ainda que possivelmente difuso. Esta primeira parte é muita rica do ponto de vista cénico. O segundo momento, quase no final, é o do regresso do degredo e do assistir à derrocada do mundo cultural deixado após 1871. Ele é feérico, porque revê a Belle Époque e a barbárie da Primeira Guerra Mundial, as luzes, os gases, a morte e os estropiados, a estupefacção final da humanidade. Aqui, o papel dos actores é substituído pelos efeitos de multimédia, que, por vezes, nos remetem para a cultura do cinema e das artes visuais, como uma expressão sobre Lautrec.


sábado, 29 de novembro de 2014

Chostakovitch

Em Sinfonia n.º 11 (O Ano de 1905), Dmitri Chostakovitch quis recordar o massacre feito por tropas do czar russo sobre os populares que se manifestavam diante do palácio de São Petersburgo no ano de 1905. A História faz uma contínua relação desse acontecimento com a revolução de Outubro de 1917. Os sons do primeiro adágio voltam depois no segundo adágio, enquanto o último andamento repete algum material anterior. À calma da abertura, com o solo de corne inglês, sucede a violência no Tocsin (sino de alerta) [a partir de notas escritas por João Pedro Louro].

Sugestão de audição: Proms 2013.

Sinceridade e intimidade nos programas em directo da rádio e da televisão

A fenomenologia é um modo de pensar que pode aplicar-se a qualquer campo académico, funcionando como crítica a ideias tomadas como garantidas (p. 9). O projecto da fenomenologia é questionar o significado de "vida". Scannell parte de Martin Heidegger com grande desenvoltura, do mesmo modo que se apoia em Raymond Williams. Este último, na sua análise da "longa revolução" na Grã-Bretanha, observou os benefícios económicos e tecnológicos na classe trabalhadora, em termos de rendimentos, bens, cultura e lazer. Daí, se referir em capítulos sucessivos ao mundo, ao indivíduo e ao tempo para avaliar o impacto da rádio e da televisão.

Para mim, o mais interessante é o seu discurso sobre a conversa (e a arte da conversação), nomeadamente nos anos iniciais da rádio e da televisão, quando a maioria da emissão era em directo (p. 104). Scannell analisa o programa radiofónico The Brain Trusts e questões importantes como falar em público, emissões com e sem guião, planeamento dos temas a discutir e sua condução ao vivo, sinceridade ao microfone e ontologia da voz. Esta aproxima o locutor ou seu convidado face ao ouvinte, personalizando ou tornando íntima aquela voz no altifalante da telefonia no lar de cada um.

Quanto à televisão, o autor estabelece uma comparação entre o programa americano Person to Person e o inglês At Home. A competência do locutor que entrevista em directo é relevada por Scannell, que nos leva à arte da conversação como foi cultivada desde o século XVII, em especial em França (p. 135). O objectivo do salão de cultura, frequentado por mulheres aristocratas interessadas em manter um serão agradável [Scannell não cita Habermas mas Craveri, The Age of Conversation, em 2005, texto que eu não conheço]. Igual valor têm a conversazione italiana, onde se discutiam arte, literatura e ciências, e o convite a "profissionais" da conversa, como Oscar Wilde na Grã-Bretanha, onde se dava a ideia do prazer espontâneo da troca de ideias num espaço. A conversa incluía anedotas e piadas sobre a época e os costumes. A rádio e a televisão recuperaram essas formas mais antigas de comunicação interpessoal e de grupo, do mesmo modo que adaptaram o olhar da câmara. Se o locutor olha a câmara de modo frontal é o renovar do espírito de contacto com o espectador (p. 149).

Scannell debruça-se ainda sobre a formatação do "ao vivo" e do uso de múltiplas câmaras de televisão na cobertura desportiva, empregues por exemplo na mostração de golos (ou uma falta grave), e a narrativa da catástrofe. Mas essa leitura fica para outra ocasião.

Leitura: Paddy Scannell (2014). Television and the meaning of live. Cambridge e Malden, MA: Polity, 264 p. 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Rádio Ribatejo - apontamento sobre a estação de Santarém

Jaime Varela Santos foi o fundador da Rádio Ribatejo em 15 de Março de 1951. Quase vinte anos depois, a estação emitia onze horas diárias (9:00-20:00). Segundo um texto da revista semanal Flama (31 de Janeiro de 1969), o capitão, já na reforma, tinha como colaboradores os locutores Maria Isilda e Francisco Robalo, este também operador, Adelaide André Marques, operadora auxiliar, e Emília da Silva Marques, com funções de escritório. Nunes Forte, um dos mais conhecidos locutores à época, passara também pela estação. Varela Santos fora o criador da popular estação Rádio Graça, em Lisboa, depois propriedade de Américo Santos. Varela Santos também venderia a sua estação, integrada na Emissora Nacional na nacionalização das rádios em Dezembro de 1975.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Sobre a dança e o bailado

O livro Cartas Sobre a Dança e Sobre os Bailados, de Jean-Georges Noverre, com tradução, coordenação, prefácio e biografia de Vicente Trindade, vai ser lançado no dia 4 de Dezembro, pelas 18:30, na Sociedade Portuguesa de Autores (Av. Duque de Loulé, 31, Lisboa).

Feira de alfarrabistas

Entre outros, os alfarrabistas levarão livros antigos sobre literatura, história, poesia, etnografia, monografias, arqueologia, bibliofilia, primeiras edições e tiragens especiais. Na rua Dr. Elísio de Moura, 85, em Coimbra, no próximo fim-de-semana.

 

Ler melhora o desempenho visual

Bastam-me as primeiras frases do texto de Ana Gerschenfeld no jornal Público: "Quando aprendemos a ler, uma dada área do nosso córtex visual passa a dedicar-se ao reconhecimento da escrita. E esta reorganização funcional do cérebro acontece seja qual for a idade em que se faz a aprendizagem da leitura – e parece ser idêntica em todas as línguas". Um estudo, que comparava a actividade cerebral de analfabetos e pessoas com literacia, concluía "que a aprendizagem da leitura reorganiza literalmente o sistema visual humano".

A busca de consenso em Péguy

No prefácio a uma obra de Péguy, Tolentino de Mendonça escreve que aquele viveu a implodir consensos. Ele era demasiado socialista para os conservadores e demasiado idealista para os seus companheiros socialistas, demasiado republicano para os católicos e demasiado católico para todos os outros, demasiado amigo dos judeus e demasiado livre face aos poderosos. Licenciado em Letras e um dos defensores do caso Dreyfus, ingressou simultaneamente no Partido Socialista e nas Conferências de S. Vicente de Paulo. No começo do século XX, edita os Cahiers de la Quinzaine, de que seria redactor, administrador, topógrafo e revisor. Nascido em 1873, morreu em 5 de Setembro de 1914, na frente da batalha da I Guerra Mundial. A busca de consensos em Péguy cessaria, pois.

No caso presente, não me interessa a exegese para comentar a obra de Péguy, mas apenas acompanhar a leitura de poemas como ela foi feita esta semana por Luís Miguel Cintra [na fotografia com o padre José Tolentino de Mendonça]. Como se escreve na contracapa do livro, citando Paul Claudel, o essencial é a tomada de consciência em Péguy de se ter tornado cristão, que se aplica a Cintra. Da última vez que o vira foi no palco, a representar Pílades, a partir da obra de Pasolini. Agora, ele aparece a falar da fragilidade da condição humana e da iluminação da obra.

Cante alentejano como património cultural da humanidade

Sobre o cante, as minhas recordações são gratas. Eu permaneci em Beja durante cinco meses no serviço militar. À noite, enquanto esperava o arranque do transporte da cidade para o quartel dentro da carrinha militar, os soldados iam chegando e juntavam-se aos que já cantavam. Ido de uma zona mais fria a norte do país, onde ainda se observavam vestígios físicos de folclore minhoto, este foi o meu primeiro contacto com a música alentejana. Era vivo embora com uma cadência sempre muito igual. A terra era o tema mais presente. Hoje, de manhã, na rádio, ouvi um especialista dizer que o cante de Serpa é diferente do de Moura ou de Castro Verde. Os meus ouvidos não permitiram nunca distinguir ritmos e entoações diferenciadas como indicou o especialista. Fico feliz por o cante ser já património cultural imaterial da humanidade. O Alentejo fica mais rico.

Apresentação do livro A Rádio em Portugal

Ontem, ao fim da tarde, na Sociedade Portuguesa de Autores, quando Adelino Gomes apresentou o meu livro Sempre no Ar, Sempre Consigo. A Rádio em Portugal, 1941-1968. Na mesa, além de mim e de Adelino Gomes, João David Nunes (em representação da SPA) e Fernando Mão de Ferro (editor da Colibri).




Agradeço a presença dos elementos da mesa e todos(as) que apareceram na sessão. Fotografia de Sérgio Cavaleiro e vídeo de Patrícia Cardoso.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Exposição Frenéticas

O Museu da Presidência da República inaugura no próximo dia 6 de Dezembro, no Palácio da Cidadela de Cascais, a exposição Frenéticas no Pós-Guerra, uma mostra de acessórios de moda no feminino. A exposição resulta de parceria com o Museu Nacional do Traje, a que se associaram alguns particulares. No total, estarão expostas mais de cem peças e documentos originais que ilustram a década de 1920 em Portugal. A exposição estará aberta ao público de 7 de Dezembro até 8 de Fevereiro de 2015, de quarta-feira a domingo, das 14:00 às 20:00, no Palácio da Cidadela de Cascais. 





















A velocidade e o frenesim do período, sobretudo nas zonas urbanas, anunciavam a emancipação da mulher, e os magazines femininos da época ditavam modelos importados das grandes cidades europeias que abalavam tabus da sociedade tradicional portuguesa. Na ânsia de viver frivolamente em liberdade, as mulheres saem, pela primeira vez, da esfera doméstica para aparecer em público, pisando firmemente terrenos que até então lhes eram interditos. Nas suas salomés coloridas, novos sapatos confortáveis e elegantes, mostrando o tornozelo e os joelhos, de vestidos curtos e de cintura descaída, maquilhadas e de cabelo curto à garçonne, experimentam a emoção de conduzir, praticar desporto, fumar e dançar ao som de uma jazz-band (texto e imagens da organização).

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Obrigado, Luís Caetano

Pelo seu programa A Ronda da Noite, ao apresentar agora mesmo o meu livro A Rádio em Portugal, 1941-1968 [primeira parte da entrevista em 24 de Novembro; segunda parte em 25 de Novembro]
Entre | Vistas é o sítio criado por Paula Perfeito. Numa das mensagens agora publicadas, ela escreve sobre a sua dissertação de mestrado, defendida em 2007: "A avaliar pela centralidade que o consumo hoje tem, podemos falar do centro comercial como difusor de modos culturais, não apenas na medida em que expõe, publicita e comercializa produtos e conteúdos culturais, mas também porque cria e alimenta uma cultura de comportamentos que se consubstancia na tendência para todos os seus visitantes apreciarem, comprarem e usarem o mesmo tipo de artigos. Estamos a falar do centro comercial enquanto factor da cultura de massas. Mas ao estar atento aos gostos e preferências dos consumidores, mesmo que esses gostos e preferências sejam já um reflexo da sua influência, o centro comercial também constitui um produto das tendências da cultura de massas".


Pinto Balsemão sai do Conselho Europeu de Editores

Francisco Pinto Balsemão (1937-) foi durante 15 anos o presidente do Conselho Europeu de Editores (EPC), cargo que abandona agora. Ele, que "transformou o EPC, adaptando-o aos novos desafios e respondendo às ameaças e oportunidades colocadas pela era digital", lembra que o "mercado único digital oferece enormes benefícios. É uma família de meios de comunicação social, culturas e línguas diferentes; esta diversidade enriquece a União Europeia. Exorto o novo chefe digital a considerar que não pode haver nenhuma abordagem tamanho único em relação a qualquer regulamentação dos meios de comunicação social; as nossas diferenças são os nossos pontos fortes e aquilo que proporciona valor à sociedade". Em comunicado da EPC, recorda-se que no mandato de Balsemão, houve "muitas questões de cariz regulamentar que afectam os meios de comunicação social, publicidade, privacidade de dados, comércio electrónico, jornalismo financeiro, auxílios estatais, serviços de comunicação audiovisual, harmonização do IVA, entre outras. Mas nenhuma tão crucial nesta época de revolução digital como a questão dos direitos de autor - a melhor maneira de incentivar os criadores de conteúdos a disponibilizarem os seus conteúdos online" (texto a partir de notícias publicadas na imprensa).

domingo, 23 de novembro de 2014

A rádio em Portugal

Ana Daniela Soares, no programa À Volta dos Livros (Antena 1), em 24 de Setembro, sobre o meu livro A Rádio em Portugal, 1941-1968.

Indústrias criativas no Reino Unido

As indústrias criativas do Reino Unido lançaram uma federação, num esforço de fortalecer o sector e melhorar o acesso e a diversidade dentro dos diversos subsectores. Assim, mais de 200 organizações de artes e empresas criativas comerciais aderiram à federação, incluindo a Warner Bros, a Aardman, a Tate, a Biblioteca Britânica, o Museu do Design, a companhia de Bailado Nacional Inglês, a Penguin, a Random House, a Burberry, o Royal College of Music e a National Film and Television School. A federação vai-se concentrar nas actividades comuns, com a elaboração de um relatório anual sobre o impacto das artes públicas e das indústrias criativas no país e no exterior (Screen Daily).

sábado, 22 de novembro de 2014

Futebol e televisão pública

O dia de hoje está pródigo em grandes notícias. Além da prisão do anterior primeiro-ministro, salta a informação que a administração da RTP pode cair por causa da compra dos direitos de transmissão dos jogos da Liga dos Campeões. Segundo o Expresso, fontes do mercado confirmaram ter a RTP proposto cerca de 18 milhões de euros pelo pacote global (transmissão de jogos e resumos). A TVI queixou-se de desregulação do mercado. O Conselho Geral Independente, que supervisiona o cumprimento do serviço público, vai avaliar o plano estratégico da RTP, onde se inclui a compra de direitos de futebol da Liga dos Campeões, nos próximos dias. Se chumbar, a administração pode sair.

A RTP vive numa espécie de fatalidade original. O serviço público é permanentemente vigiado pelos gastos e criticado pela perda de audiências. A mudança de empresa de medição de audiências (da Marktest para a GfK) representou uma queda de número de espectadores no serviço público. A GfK corrigiu algumas anomalias iniciais por sub-representação do público mais velho mas a linha de audiência da RTP nunca voltou a valores anteriores. A presente administração e o governo actual têm sido duros para com a própria empresa, fixando metas mas alterando premissas, ora dizendo que se privatiza ora criando a figura de um conselho que está acima da hierarquia da administração. Uma discussão de há dois anos, a TDT, desapareceu do espaço público, mas surgiram novas realidades como novos canais por cabo ligados a clubes desportivos, quebra substancial de investimento publicitário, televisão na internet e, sobretudo, migração de faixas etárias mais jovens para a internet.

O futebol - a par das novelas, dos concursos e dos programas de realidade (que a RTP não passa) - é um dos motores de subida de audiências dos canais generalistas. Foi o que a televisão pública almejou, mas embarcou nessa fatalidade original, como disse acima. O próprio anterior primeiro-ministro, comentador político ao domingo, em concorrência directa com outro comentador na TVI, não pode continuar no programa.

A RTP está, neste momento, com dois problemas fortes. O clima social na empresa, que parecia desanuviado face a meses atrás, pode entrar de novo em polvorosa.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Círculo das Letras

Vai abrir a Livraria Círculo das Letras à rua Voz do Operário, 62, em Lisboa, no dia 4 de Dezembro (5.ª feira), às 18:00. Com inauguração de Exposição de Arte do Rui A Pereira e apresentação do Filme de Pedro Sousa "Círculo das Letras" (o sonho e a vida da "Círculo 1").

Punk rock no teatro

A linguagem daqueles sete adolescentes do ano final do secundário é muito dura. As relações entre eles são violentas, um porque tem o nariz grande, outra porque é gorda, outra porque rejeita o amor de um dos rapazes, outro porque tem uma história pessoal e familiar de psicopata. A cena decorre na biblioteca da escola, onde uma aluna recentemente chegada é logo informada do ambiente e partilha-o. Diz a certa altura que já conheceu escolas bem piores, devido à profissão do pai (professor universitário) (fotografia de Jorge Gonçalves).

No final, um dos rapazes assassina três colegas. A aluna por quem ele se apaixonara desaparecera. Parecia a história de uma escola americana, por vezes acossada por tresloucados que matam todos os que encontram à sua frente. Na sequência final, na prisão ou no hospital, ele questiona o seu comportamento.

Punk Rock, de Simon Stephens, com tradução de Joana Frazão, e com Ana Luísa Amaral, António Simão, Íris Macedo, Isac Graça, João Pedro Mamede, Marc Xavier, Pedro Carraca, Pedro Gabriel Marques e Rita Cabaço. Cenografia e figurinos de Ângela Rocha, com a colaboração de Rita Lopes Alves Luz e Pedro Domingos, assistentes de encenação Marc Xavier e Isac Graça, produção executiva de João Chicó e encenação de Pedro Carraca. No teatro dos Artistas Unidos à rua da Politécnica, em Lisboa.

Lammily

Uma boneca com celulite, acne, estrias e as proporções da adolescente comum, com o nome de Lammily, agora à venda nos Estados Unidos, põe em causa o domínio exercido durante 55 anos pela boneca esguia e loura Barbie. Para o artista Nickolay Lamm, "muitas pessoas criticam a Barbie, mas não havia alternativa". Agora, ele espera que as meninas a tenham e a abracem, pois ela parece-se com uma pessoa qualquer. Se a Barbie fosse em tamanho real, ela mediria 36-18-33 e teria 1,75 metros de altura e peso de 50  quilos, 16 quilos abaixo do peso para uma mulher dessa altura. Em contraste, a Lammily baseia-se nas proporções de uma jovem de 19 anos, conforme os valores dos American Centers for Disease Control (texto de ontem do Guardian).

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Livro de rádio

 Lançamento de A Rádio em Portugal, 1941-1968, no próximo dia 26 de Novembro, pelas 18:30, na Sociedade Portuguesa de Autores, à Av. Duque de Loulé, 31, em Lisboa. Com apresentação de Adelino Gomes.


Encontros de cinema de Viana do Castelo


"Secção competitiva dos Encontros de Cinema de Viana com o objectivo de promover o documentarismo e premiar o melhor documentário realizado por alunos de escolas de cinema, de audiovisuais ou comunicação, e por participantes em cursos de documentarismo promovidos por outras entidades de Portugal, da Galiza, do Brasil e dos outros países de língua portuguesa" (informação da organização). Prémios a atribuir: 1) Prémio PrimeirOlhar no valor de 1.000 (mil) euros, 2) Prémio PrimeirOlhar/Cineclubes no valor de 1.000 (mil) euros (atribuído pela Federação Portuguesa de Cineclubes e Federación de Cineclubes de Galicia). Regulamento aqui: http://www.ao-norte.com/encontros/2015/primeirolhar.php.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Mapa interactivo da música tradicional portuguesa



"O trabalho de recolha de música tradicional portuguesa registada pelo etnomusicólogo Michel Giacometti está agora disponível online através de um mapa interactivo. A ferramenta permite «viajar» desde as aldeias de Trás-os-Montes ao mar de Portimão. São nove horas de vídeos, divididas em 62 fragmentos referenciados geograficamente ao local onde foram originalmente recolhidos" (texto a partir de Café Portugal).

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Salazar e a BBC - um livro de Nelson Ribeiro

Hoje, ao final da tarde, na livraria Almedina, ao Saldanha (Lisboa), foi lançado o livro de Nelson Ribeiro, Salazar e a BBC na Segunda Guerra Mundial: Informação e Propaganda. Na mesa, para além do autor e de Pedro Bernardo, editor da Almedina, o prof. Alberto Arons de Carvalho (ver parcela da sua apresentação no vídeo abaixo) e eu fizemos a apresentação.

Do meu contributo, destaco o seguinte:

"O centro da investigação é o período de meados da década de 1930 ao final da II Guerra Mundial, com ênfase para os noticiários transmitidos da BBC para Portugal. Iniciados em Junho de 1939 e tornados muito credíveis, a BBC emitiria um segundo boletim, à hora de almoço, em Setembro desse ano. A partir de 1942, passou a três transmissões diárias. Em 1944, o impacto da BBC tornou-se maior: o governo inglês pressionava Portugal a suspender as exportações de volfrâmio para a Alemanha. Durante o período da guerra, o noticiário da BBC mais ouvido foi o da noite. Parte significativa da audição era colectiva, em cafés e clubes. A guerra não chegava a Portugal de modo directo e violento, mas as repercussões económicas sentiam-se cada vez mais. A audição desses noticiários foi proibida pelo governo em finais de 1940, mas não se conseguiu eliminar a escuta em casas particulares. Ouvintes urbanos e dos meios rurais, a classe média e o proletariado, acompanhavam atentamente as notícias sobre a guerra. À audição fiel, juntava-se a recepção de cartas enviadas para a BBC. O pico de correspondência foi atingido em 1941-1942. As cartas expressavam a perspectiva dos ouvintes sobre os programas e as condições de recepção. Da documentação interna da BBC, sabe-se que a elite do Estado Novo não escrevia para aquela estação.

"Ao longo de seis anos de guerra, na secção portuguesa da BBC passaram diversos locutores. O mais conhecido foi Fernando Pessa, com linguagem simples, humor e ironia. Ele entrou para os serviços do Brasil e transferiu-se para os serviços de Portugal por substituição de locutor doente. Além dos noticiários, Fernando Pessa apresentou o programa de grande sucesso Calendário dos Ditadores e era visto como herói, por dizer aos portugueses o que eles não sabiam pela imprensa e rádio nacional. Paddy Scannell (Television and the Meaning of Life, 2014: 121), em capítulo dedicado à radio, escreve sobre reciprocidade na conversação entre locutor e ouvinte e sinceridade daquele para este. Pessa desenvolveu empatia e sinceridade conversacional com os ouvintes".




[fotografia de José Gabriel Andrade, vídeo de António Deus. Agradeço a ambos a colaboração]


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A ficção - da televisão para o YouTube

Na Universidade de Coimbra, foi defendida a tese de doutoramento de Fernanda Castilho Santana, com o título Teletube – Novo Passeio pelos Bosques da Ficção Televisiva. Na tese, Fernanda Castilho indica que as “narrativas de ficção, emitidas pelos canais de sinal aberto, figuram entre os programas televisivos de maior importância sociocultural, em virtude do inegável êxito conquistado entre os portugueses desde o final dos anos 70”.

Após enunciar várias fases na ficção televisiva, a autora enfatiza a difusão rápida da tecnologia informática no aparecimento de um novo cenário de produção e divulgação dos textos ficcionais. O surgimento de novos pontos de acesso aos conteúdos audiovisuais como o YouTube contribui para o declínio das audiências televisivas.

A adesão dos públicos a esta estratégia, denominada como narrativas transmedia (transmedia storytelling) confirma-se em especial nos mais jovens. Para a nova doutora, os “resultados indicam que apesar do YouTube constituir um espaço privilegiado para partilha de conteúdos de ficção, reside na dicotomia produção/receção divergências de caráter legal, tais como a violação dos direitos de autor”.

No âmbito da receção, e ainda de acordo com a tese de doutoramento, assiste-se à formação de comunidades, caracterizadas pela integração dos membros de diferentes identidades e pela manifestação de conflitos dentro destes grupos. Para concluir, segundo a autora, os principais temas de debate nas conversas sobre ficção são a história, as personagens, a banda sonora e a partilha gratuita de conteúdos (elementos fornecidos por Fernanda Castilho Santana).

Fotografias de Minho e Douro de Emílio Biel em Almada

Até 29 de Novembro, está patente na Galeria Municipal de Arte de Almada a exposição Caminhos de Ferro e Prata: Linha do Douro e Minho – Fototípias de Emílio Biel – 1887. Para a organização do evento, a "Fotografia e os Caminhos de Ferro são os grandes meios resultantes do desenvolvimento científico, técnico e tecnológico da Revolução Industrial para a transformação do planeta e das sociedades humanas no séc. XIX. São contemporâneos e o seu desenvolvimento é perfeitamente paralelo". E acrescenta-se: com a exposição do "levantamento fotográfico de Emílio Biel, em que fototipias e albuminas de grande qualidade técnica e artística nos mostram o triunfo da vontade e do sacrifício dos homens na finalização do Caminho de Ferro do Douro, no ano de 1887", abre-se uma boa oportunidade para ver na região de Lisboa o património fotográfico da coleção da família Mascarenhas Galvão (texto a partir da newsletter webmail.tv).

domingo, 16 de novembro de 2014

Livros feitos à mão

Para a Bicho-do-Mato, há projectos que merecem ser conhecidos. Criada por José Alfaro em finais de 2009, aquela editora publicou um curto vídeo (4:58) sobre o trabalho de Marc Parchow e Conceição Candeias, A Handmade Book, que pode ser visto aqui. O vídeo foi realizado pelo próprio José Carlos Alfaro.

Madalena Oliveira

Madalena Oliveira, docente da Universidade do Minho, foi eleita presidente da secção de Rádio da ECREA, neste fim de semana de conferência internacional daquela associação europeia. Ela já era vice-presidente da secção.

sábado, 15 de novembro de 2014

Rigoletto

Rigoletto, ópera do compositor romântico italiano Giuseppe Verdi, com encenação de Giulio Ciabatti e direcção musical de José Ferreira Lobo, encheu a sala.


Conhecida pela ária La donna è mobile, a história anda à volta da conduta libertina do duque de Mântua, do seu bobo da corte e corcunda, Rigoletto, que protege as suas extravagâncias, e de Gilda, a filha escondida do bobo, que o duque acabaria por conquistar. O bobo pretende matar o duque mas quem acaba por ser assassinada é a jovem Gilda. Com Luís Rodrigues (Rigoletto), Cristiana Oliveira (Gilda) e San-Jung Lee (duque).

Paulo Faustino

Muito recentemente, Paulo Faustino foi indicado para presidente do Executive Board da IMMAA (International Media Management Academic Association, www.IMMAA.ORG ). A IMMAA, instituição com sede em Nova Iorque (Estados Unidos), acolhe investigadores, docentes e profissionais da gestão dos media de todo o mundo. Paulo Faustino tem-se destacado a nível nacional e internacional no âmbito da investigação nas áreas da economia, gestão e políticas públicas associadas aos media.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Sérgio Figueiredo

De acordo com os media, ontem foi decidido que Sérgio Figueiredo, de 48 anos, vai ser diretor de informação da TVI de todas as plataformas da estação (TVI, TVI 24 e digital), sucedendo a José Alberto Carvalho. O resto da direção mantem-se: Judite de Sousa, Maria José Nunes, Mário Moura e Luís Sobral. É um regresso ao jornalismo de Sérgio Figueiredo. Licenciado em economia, ele começou a carreira de jornalista em 1988, passando por órgãos de comunicação social (RTP, Expresso, Semanário Económico), foi diretor de jornais económicos (Jornal de Negócios, entre 2003 e 2007, e Diário Económico, até 2003. Mais recentemente esteve ligado à EDP, primeiro como administrador-delegado da Fundação EDP e depois como administrador da EDP Produção.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

domingo, 9 de novembro de 2014

AmadoraBD - 25 anos


O Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora foi criado em Novembro de 1990. na 25ª edição, a autora em destaque seria Joana Afonso, responsável pelo desenho d’O Baile, premiado como melhor álbum no prémio nacional de BD da Amadora em 2013.

Núcleos: 1) os grandes mercados: EUA e Japão, 2) a BD para além da BD: biografia, graphic novel, não-ficção, 3) novos suportes: BD no ecrã, 4) regresso às origens: tinta no papel, 5) editar e distribuir ao alcance de todos, 6) trabalho colectivo: a internet quebrando fronteiras, 7) o colosso franco-belga, 8) BD no Cinema. Comissariado por Sara Figueiredo Costa e Luís Salvado, retiro do texto deles no catálogo:

"Ao lado de modelos de produção e distribuição de banda desenhada com algumas décadas de consolidação, como os grandes mercados dos comics nos Estados Unidos da América, da mangá no Japão, ou do mercado franco-belga, outros modos de trabalhar foram ganhando espaço. A democratização dos modos de produção e impressão de livros e revistas preconizada pela impressão digital, pela vulgarização das ferramentas de paginação e pelos serviços de print-on-demand permitiu que mais gente acedesse ao trabalho de edição, sem necessidade de uma grande estrutura a apoiar o seu trabalho. Por outro lado, a enorme expansão da internet, quer como plataforma de divulgação, discussão e venda, quer como ferramenta de comunicação que coloca gente em contacto em qualquer parte do mundo, permitiu uma liberdade de contactos cujos resultados estão à vista em trabalhos colectivos, parcerias e redes de divulgação que podem chegar a qualquer parte do mundo"(ver aqui catálogo e programa).





sábado, 8 de novembro de 2014

R & J, a versão de Joana Linda da peça de Shakespeare

O mais recente trabalho de Joana Linda (Castro Correia) é a encenação de Romeu e Julieta, de Shakespeare, adaptação com um elenco inteiramente feminino e apresentado pela primeira vez no Festival Temps d’Images (no Clube Estefânia, rua Alexandre Braga, Lisboa), de 6 a 8 de Novembro, com a sala esgotada nos vários espectáculos.


Na época de Shakespeare, os papéis femininos eram representados por homens, do mesmo modo que as personagens de negros no teatro e no começo da rádio eram representadas por homens com a cara enfarruscada. Agora, Joana Linda deu às mulheres todo o poder da representação (ver http://www.tempsdimages-portugal.com/2014/programa/06_linda.html). Romeu e os primos são gentis, ágeis e emancipadas figuras femininas, o que torna o conflito entre as famílias Montecchio (Romeu) e Capuleto (Julieta) mais próxima da dança que a tragédia isabelina.

Um palco despido (tem apenas duas escadas de palco) e o fundo a funcionar com três ecrãs gigantes onde os pais de Julieta a consultam, além da aia, e o príncipe Escalo, responsável pela gestão de Verona, a cidade italiana onde decorrem os acontecimentos, tornam a peça em espectáculo multimédia. Tal obriga a uma gestão meticulosa da acção e do tempo e a uma narrativa que se aproxima o trabalho dos filmes de ficção científica com diálogo entre a Terra e um local longínquo. Os figurinos, saídos da cultura da época e recuperados na mesma cultura cinematográfico, reincorporam a encenação de Joana Linda. Ao minimalismo do palco corresponde uma igual bem conseguida estilização de figurinos e figuras, casos da personagem de frei Lourenço, mistura de sábio católico e praticante de ioga, e da aia, que se torna a ligação entre os dois apaixonados levando uma mala transparente onde se vê um queque que serve de alimento durante as deslocações. Vejo também outra referência, a da pintura dos pré-rafaelitas, de papéis místicos e situações simbólicas. 

O uso do vídeo é fulcral, como disse atrás. Ele é um dos materiais mais empregues por Joana Linda na sua carreira ligada à arte (fotografia, moda, design, onde assinou cartazes de filmes como Rafa, de João Salaviza, e É o Amor, de João Canijo). Tendo estudado Ciências da Comunicação, ela sempre se interessou pela fotografia, cinema (actriz e realização) e, agora, encenação. Numa entrevista que deu a Sabrina D. Marques, em Maio de 2010 (http://www.ruadebaixo.com/joana-linda.html), disse: "Comecei por fazer uma exposição no castelo de S.Jorge, uma mostra internacional de fotografia, e nesse momento comecei a detectar um grande movimento na internet, situado no advento da fotografia digital, das máquinas digitais. Especialmente vindo de raparigas, que faziam auto-retratos. Reuni-me então com mais trinta raparigas e fizemos uma exposição no S. Jorge. Há pouco tempo, fiz uma exposição no Barreiro, no Outfest, e depois fiz uma exposição no Porto, no Maria Vai Com As Outras. De seguida, expus a propósito do lançamento de um livro de uma poetisa italiana que tinha uma fotografia minha na capa. Houve uma outra exposição, a título individual, no Teatro Taborda, e ainda uma outra, que comissariei com uma fotógrafa espanhola, a partir de um intercâmbio de artistas entre Lisboa e Córdova".


Elenco: Ágata Pinho, Anabela Moreira, Cláudia Efe, Caroline Dawson, Diana Nicolau, Filipa Matta, Katrin Kaasa, Maria João Pinho, Miriam Santos, Patrícia Andrade, Patrícia Couveiro, Paula Garcia, Priscilla Devesa, Sara Graça, Sofia Arriscado, Sónia Balacó, Sónia Baptista, Suspiria Franklyn, Tânia Alves, Teresa Coutinho e Vanda Cerejo. Adaptação e encenação de Joana Linda, assistência de encenação de Sara Graça, produção de Cedro Plátano e Joana Linda, produção executiva de Renata Sancho. Figurinos de Fernanda Pereira, cabelos de Ana Sousa Atelier e banda sonora original de João Alegria.


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Norberto Fernandes

Um dia, eu tinha acabado de escrever e apresentar um livro sobre a história de uma empresa de inovação nas telecomunicações e aguardava indicações para o passo seguinte da minha vida profissional. Dei nota do meu desconforto ao administrador presente. Ele já sabia e disse-me que o problema se resolveria rapidamente. Morreu ontem. Chamava-se Norberto Fernandes, foi vice-presidente do grupo Portugal Telecom e presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Telecomunicações (APDC) entre 2003 e 2006.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Caricaturas do final da monarquia em livro

Hoje, ao final da tarde na Universidade Nova de Lisboa, foi lançado o livro de Jorge Botelho Moniz, A Caminho da República. Imagens que mudaram a face da opinião pública portuguesa.

O livro deste jovem licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais, mestre em Direito e a fazer o doutoramento em Ciência Política trabalha a iconografia do período de ascensão do republicanismo em Portugal (1875-1908). Jornalismo, comemorações do tricentenário de Camões, anticlericalismo, bancarrota, ultimato, 31 de Janeiro de 1890, sistema eleitoral, adiantamentos à Coroa, João Franco e regicídio são os tópicos principais do livro. Nele, há recurso a muitas reproduções de peças gráficas humorísticas e caricaturas, retiradas nomeadamente das publicações A Corja, O António Maria, Ilustração Portuguesa e O Combate (as imagens abaixo pertencem às duas primeiras publicações).

A apresentação do livro coube a Manuel Filipe Canaveira e Júlio Rodrigues da Silva. O primeiro salientou a importância da caricatura e do desenho gráfico como forma forte de comunicação visual com a população, ao passo que o segundo descreveu o processo de desenvolvimento do projecto que originou o livro: um seminário de doutoramento.


Para Jorge Botelho Moniz (na fotografia, o segundo a contar da direita), "o humor gráfico em Portugal surge não como uma opinião crítica construtiva e inteligente, mas como reacção violenta, até mesmo raivosa. É o grito do povo e não a opinião reflectida de um indivíduo. Nesta violência gráfica, o único objectivo era o ataque, unir os leitores contra o poder e identificar pela caricatura, pelo exagero, os responsáveis pelo estado do país" (p. 134). Jorge Botelho Moniz é bisneto de um outro Jorge Botelho Moniz, um dos fundadores do Rádio Clube Português, a principal estação de rádio comercial em Portugal antes de 1975.

 

Imagens retiradas respectivamente de A Corja (29 de Junho de 1898) e O António Maria (5 de Março de 1891), do arquivo digital da Hemeroteca Municipal de Lisboa.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Rádio em livro

Salazar e a BBC na II Guerra Mundial. Informação e Propaganda, de Nelson Ribeiro, livro da editora Almedina, vai ser lançado no próximo dia 18.

Ainda não sei mais pormenores, adiantando-os quando souber novos elementos. O certo é que Novembro vai ser um mês bom para lançamentos de livros sobre rádio.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Os meus dez segundos de glória

Ontem, no seu comentário político habitual na TVI, dentro da secção de livros, o professor Marcelo Rebelo de Sousa falou do meu livro A Rádio em Portugal 1941-1968 usando a palavra ternura. Muito obrigado!

Andy Wharol falava dos quinze minutos de fama em cada artista, glorificado num momento e esquecido no instante seguinte. No meu caso, foram talvez dez segundos. Fico vaidoso à mesma. E, a propósito, começo a divulgar que o livro vai ser lançado no dia 26 deste mês de Novembro, na Sociedade Portuguesa de Autores.

domingo, 2 de novembro de 2014

Melissa Oliveira

O concerto de Melissa Oliveira na Casa da Música (Porto) foi uma revelação para mim. Eu não conhecia o seu trabalho. De ascendência australiana e portuguesa, ela tem repartido a sua vida entre Portugal e Holanda. Obteve uma bolsa de estudo em Boston e gravou o disco de estreia In My Garden com Greg Osby e Jason Palmer como convidados especiais. Antes estudara jazz na ESMAE (Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo), o que justificaria o grande entusiasmo em torno dela durante e depois do concerto. Ela usa uma linha própria de loops, guitarra portuguesa, mesas giratórias e vídeos, que tornam a música uma arte total. Saber mais dela aqui.

sábado, 1 de novembro de 2014

Resnais

Amar, Beber e Cantar, último filme de Alain Resnais (1922-2014), conta a história de três casais e uma peça de teatro amador que dois deles interpretam, além de George, personagem que nunca aparece, mas das quais as mulheres têm fortes sentimentos afetivos e apaixonados. O filme, que combina o teatro filmado e o cinema (com alguns cenários a serem cortinas de teatro), anda todo em torno desse George. Ele fora amante de uma das atrizes, Kathrin (Sabine Azéma), casada com o médico Colin (Hyppolite Girardot), que ignorava por completa a paixão antiga dela. O outro casal é um homem de negócios Jack (Michel Vuillermoz) e Tamara (Caroline Silhol). Jack tinha uma amante que telefonava a qualquer hora e Tamara estava a sentir-se seduzida por George, com quem contracenava na peça de amadores. Todos sabiam que George estava a morrer, restando-lhe apenas algumas semanas de vida. Por isso, ele decide empreender uma última viagem e decide convidar as mulheres a acompanhá-las. Cada uma, de modo isolado, aceita por condições relacionadas com a sua vida conjugal. Mas George resolve também convidar a sua última mulher (Sandrine Kiberlain), muito mais jovem do que as outras duas, e que então vivia retirada no campo com um agricultor. As três disputam a pertença da viagem e empreendem a arrumação da casa de George, em estado calamitoso desde que ele vivia sozinho. O espectador nunca vê nem a personagem nem o interior da casa, mas nota a luta entre as mulheres e, simultaneamente, a sua cumplicidade. Os maridos de cada uma acabam por contar uns aos outros os seus sentimentos e procuram convencê-las a não viajarem com George. Este acabaria por ir passear com a filha adolescente de Tamara e Jack, o seu melhor amigo de sempre, que ficou furioso pela traição. Mas George acabara por morrer na viagem.

A metáfora do filme é o da busca da juventude nas pessoas que envelhecem. George seria o único a não envelhecer, porque tratara sempre a vida com um sorriso, nunca fora sério. As outras pessoas tinham-se enredado nas suas vidas, nas suas visões individualistas e mesquinhas. As cortinas do teatro revelam isso: a diferença entre bastidor e palco. As imperfeições e os tiques dos bastidores revelam-se mais dolorosos (e cómicos) no palco. O filme é uma representação de representação, onde os papéis se revelam em cada um desses níveis de espetáculo. Resnais faleceria quinze dias depois da sua estreia.