terça-feira, 31 de outubro de 2006

OS MINISTROS TAMBÉM MORREM

Após ler hoje, no Diário de Notícias e no Público, as (novas) afirmações da ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, sobre o destino traçado do Museu de Arte Popular, não posso deixar de manifestar a minha tristeza e profunda preocupação.

O que vai colocar no espaço do museu actual não será bem um museu mas plasmas, coisas imateriais que estão bem na internet e nas empresas de telecomunicações e media mas que não é preciso gastar dinheiro do erário público com elas.

Leio no Público (e também no Diário de Notícias) o que a ministra disse e fico espantado: "A vida dos museus não é eterna. Eles nascem, vivem e morrem. Não devemos estar presos a uma atitude conservadora".

TAMBÉM OS MINISTROS VIVEM E MORREM. Quando desaparecem ou são substituídos, uns são recordados pela boa obra feita, outros por medidas estranhas, obcecadas e, com toda a probabilidade, erradas. Penso isso da posição de Isabel Pires de Lima, quando fala em política cultural.

Observação: relembro o que a ministra dizia, no dia 24, ao Diário de Notícias: "Não faz sentido que aquele museu esteja hoje ali". Não é estranha a emissão de tão ziguezagueantes soundbites sobre o mesmo tema?

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

RECEPÇÃO DE TELENOVELAS

Na prestigiada colecção "Media e Jornalismo", dos Livros Horizonte e CIMJ, saíu o livro de Verónica Policarpo, Viver a telenovela. Um estudo sobre a recepção.

Tendo como estudo de caso a novela brasileira Terra Nostra, o texto agora publicado parte da tese de mestrado que Verónica Policarpo desenvolveu e defendeu na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra sobre a abordagem sociológica da recepção das telenovelas (p. 12). A investigadora é docente na Universidade Católica Portuguesa.

Trata-se de um trabalho muito bem elaborado, embora eu conheça a versão em forma de tese, que li na Biblioteca Nacional (e sobre o qual já escrevi aqui no blogue, no dia 13 de Dezembro de 2003) [a leitura do livro demora algum tempo após a aquisição do exemplar]. Então, disse sobre este trabalho: "Para a autora, a telenovela, produto ou formato de indústria cultural, possui uma narrativa dramatizada de situações imaginadas, estrutura seriada e marcas próprias em termos de duração e estrutura. Herdeira do folhetim literário e romântico do séc. XIX, a telenovela explora as emoções como rir ou chorar".

E retomo o que Verónica Policarpo indica no seu livro (p. 10): "Os motivos da escolha deste produto televisivo prendem-se, antes de mais, com a incontestável importância da telenovela brasileira no panorama de ofertas mediáticas em Portugal".

HISTÓRIA DO AZULEJO EM PORTUGAL

José Meco será o monitor do curso Breve história da azulejaria em Portugal, a começar no próximo dia 4 e prolongando-se nos três sábados seguintes.

Deste modo, no sábado que vem, José Meco falará dos pavimentos medievais ao período filipino, com utilização nacional dos azelejos de Sevilha, Valência e Talavera de la Reina. No dia 11, focará a azulejaria indo do século XVII à eclosão barroca, em que é evidente o contributo holandês. As duas primeiras sessões decorrerão entre as 15:00 e as 18:00.

Nas duas sessões seguintes, 18 e 25 de Novembro, a ocupar todo o dia, haverá visitas guiadas, além de se abordar a azulejaria do barroco ao século XIX e a azulejaria do século XX, aqui com relevo para os estilos Arte Nova, Arte Déco, Nacionalista e Moderna (segunda metade do século).

José Meco, historiador de arte, tem publicações específicas sobre a matéria a leccionar, nomeadamente Azulejaria portuguesa (1985) e O azulejo em Portugal (1989), assim como a realização de exposições em diferentes partes do mundo.

Para inscrição, enviar emails para
ana.miranda@cm-oeiras.pt. Custo do curso: €25.

domingo, 29 de outubro de 2006

CLUNY E A ABADIA

Grande abadia beneditina do ocidente, iniciada em 910 por Guilherme o piedoso, Cluny tornou-se a maior ordem monástica medieval do Ocidente, a que se ligaram mais de mil mosteiros. Alguns dos seus abades foram canonizados. Já no século XVI, as guerras religiosas seriam responsáveis pelo declínio da abadia. As nomeações de Richelieu e Mazarin - futuros homens poderosos da França política - não foram suficientes para uma reforma completa de Cluny, esforços comprometidos com a Revolução de 1789. Com esta, os monges foram dispersos (1971) e a abadia vendida (1798). Alguns edifícios foram desmantelados e a gigantesca igreja quase totalmente destruída. Em 1862, foi classificada como monumento nacional.

Cluny desempenhou um importante papel espiritual e económico enquanto capital monástica, promovendo a paz e a caridade. Situada na Borgonha - região que sempre foi sítio de passagem de gentes e mercadorias, no eixo dos rios Saône e Rhône, que se juntam em Lyon -, a igreja de Cluny recebeu o nome de maior ecclesia, obra-prima da arte românica clássica. Construída ao mesmo tempo que as de Toulouse e Santiago de Compostela, foi a de maior dimensão e imponência até à reconstrução da catedral de S. Pedro, no Vaticano, no século XVI.

A História de Portugal está ligada a este mosteiro: nobres vindos dali deram origem ao Condado Portucalense. O resto já é mais conhecido por nós.


















[imagens e vídeos recolhidos em Agosto do presente ano, durante deslocação e permanência em Taizé, França]

sábado, 28 de outubro de 2006

DOS ARTICULISTAS

Leio sempre o que José Pacheco Pereira (Público, quinta-feira) e Miguel Sousa Tavares (Expresso, sábado) escrevem, mesmo que nem sempre concorde com eles. O que ambos publicaram esta semana deixa-me preocupado.

O primeiro fala sobre perda de intimidade e privacidade através dos media. Pacheco Pereira comenta um artigo do Expresso, de 14 do corrente, sobre o casal Sócrates, isto é, sobre o primeiro-ministro e Fernanda Câncio, jornalista do Diário de Notícias, apresentada como namorada daquele, intervenientes num determinado assunto público e político.

O articulista, por achar que o casal Sócrates-Câncio procura a sua privacidade, entende que "essa exposição forçada e gratuita notoriamente incomoda". Neste caso, um jornal de referência seguiu o trilho das revistas cor-de-rosa, pois estas enveredaram há muito pelo caminho do desrespeito de direitos de privacidade. Nos últimos dias, a capa de uma revista especulava que o mesmo casal nem sequer se cumprimenta quando se encontra em actividades públicas, por destrinça entre público e privado.

Mas nem só as revistas, também a televisão faz o mesmo, até em causa própria, como ontem à noite a SIC transmitia uma reportagem sobre Luciana Abreu. A intérprete de Floribella queixava-se que as revistas têm escrito um conjunto de mentiras sobre si, para vender mais. Nas duas últimas semanas, falou-se de uma doença que a perseguia, da paixão real pelo actor que interpreta o papel de galã na série e contracena consigo, do alto salário auferido e da aquisição de uma casa para si por um preço elevado. Claro que, ao mesmo tempo em que a jovem actriz falava desse desrespeito pela vida privada, a televisão mostrava pormenores da novela, com Floribella a beijar o galã.

A ficção e a realidade transmutam-se, nas revistas como na televisão. Mas também na internet, como tem sido anunciado esta semana, a propósito de um pretenso plágio efectuado por Miguel Sousa Tavares no seu muito vendido romance Equador (mais de 250 mil exemplares). A dúvida começou num blogue anónimo e os jornais serviram-se desta pista para confrontar o jornalista escritor.

Lendo atentamente Miguel Sousa Tavares, e tomando como verdadeira a sua defesa, há que repensar o fenómeno da blogosfera. Um blogger [uso aqui o vocábulo inglês, para não contaminar a palavra que emprego habitualmente] anónimo não oferece credibilidade, excepto - repito e destaco a palavra excepto - se actuar como fonte anónima e não ter outra forma senão esconder-se no anonimato para denunciar um escândalo ou situação pouco clara, por temer represálias de terceiros.

Claro que o desespero ou a indignação de Sousa Tavares leva-o a escrever algo menos consentâneo com o que publica. Para ele, o universo dos blogues "é o paraíso do discurso impune, da cobardia mais desenvergonhada, da desforra dos medíocres". Há não muito tempo, o mesmo autor falara dos escritores, universo a que pertence, como tendo igualmente problemas estruturais: mordomias exageradas, deslocações a todo o mundo para debitar as mesmas ideias, exibição de poder em hierarquias bastante rígidas. Por esta descrição não poderemos generalizar e desprezar o mundo dos escritores. Ou dos jornalistas. Ou dos blogues.

AGENDAS CULTURAIS

Agora que já se sabe que Guimarães vai ser a capital europeia da cultura em 2012 - e começarão a ganhar corpo planos, prazos, obras e programas culturais -, vale a pena olhar para a actual agenda cultural daquela cidade que, nos últimos anos, soube remodelar o seu agradável património histórico e cultural.

Assim, e embora o mês de Outubro esteja na recta final para eu poder destacar um ou outro programa, olho o índice e vejo-o distribuído pelas seguintes secções: exposições, cinema, vários, centro cultural Vila Flor, bibliotecas, cidade desportiva, cibercentro (com y na agenda), visitas, informações e farmácias de serviço. Das exposições permanentes, refiro as de José de Guimarães (pintor) e de fanzines e outras revistas. Já no cibercentro, há sempre cursos de iniciação à informática, úteis para todos. E, depois, os espaços culturais e museológicos, de que realço, pela actividade permanente e renovada, o museu Alberto Sampaio.

Certamente que, com a promoção de Guimarães enquanto cidade europeia da cultura, haverá muita coisa a alterar e a implementar. Exemplos: ir além da mera descrição de acontecimentos culturais, com elaboração de roteiros e informação histórica, uso de recursos universitários e de outra índole em conferências e outros eventos, para além de espectáculos cosmopolitas que tragam muitos visitantes à cidade. Vamos lá ver...

Quanto à cidade vizinha, e de certo modo rival - o que é uma coisa salutar, ao invés do que se diz por regra -, Braga, a agenda cultural do mês que agora se conclui dá destaque ao Theatro Circo, após profunda remodelação. Pensado por volta de 1906 e inaugurado em 1915, com uma peça de teatro (A rainha das rosas, com Palmira Bastos no papel principal), foi depois espaço ocupado pelo circo e pelo cinema (Aventuras de Catalina foi o primeiro filme a passar naquele espaço). Do teatro ao cinema mudo e sonoro, da acção beneficiente à divulgação artística, e até à passagem de nomes grandes da canção (Juliette Greco, Sérgio Godinho, Carlos do Carmo e Madredeus) e da música, da ópera e do bailado, os anos mais recentes seriam de decadência, obrigando a alterações no seu estatuto comercial e accionista. A Câmara de Braga adquiriu a quase totalidade do capital do Theatro Circo, enquanto uma companhia residente de teatro alimentava o espaço com programação própria.

Agora, para além da sala grande com capacidade para 1014 lugares, há um auditório experimental com 240 lugares sentados, um café-concerto, uma unidade de restauração e um espaço museológico, a que se associam uma livraria temática e um bar, e uma sala de ensaios (70 lugares).

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

OS TRABALHOS E OS DIAS

4º ENCONTRO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE BLOGUES

O primeiro foi em Braga (Universidade do Minho), em 2003. Seguiram-se os encontros da Covilhã (Universidade da Beira Interior), em 2005, e do Porto (Universidade do Porto), há duas semanas. Neste encontro mais recente, o olhar foi dirigido para a Universidade Católica Portuguesa, aqui em Lisboa, para cuidar da organização do próximo.

Se no primeiro encontro, debruçamo-nos na possível substituição da imprensa pelos blogues, o encontro da Serra da Estrela veio estabilizar a relação complementar entre a actividade clássica e a nova, enquanto emergiam as aplicações educacionais. A participação dos blogues na formação foi ampliada no encontro do Porto, como aqui realcei. No Porto, houve também espaço para a formação, para além dos habituais painéis. José Luis Orihuela, da Universidade de Navarra (Pamplona), realizou um memorável workshop, onde todos aprendemos muito. O blogue é uma ferramenta promissora para além do simples escrever um post. Além da identidade "jornalística" dos blogues, há um grande espaço da blogosfera dedicado à cultura, às artes, às subculturas, à política, à religião. E, depois, colocam-se questões mais recentes, das tecnológicas (videoblogues e podcasting) às deontológicas e éticas (direitos de autor, blogues anónimos versus actos de difamação).

Já sei que a Direcção da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (Lisboa) apoia a realização do encontro no seu campus, lá para finais do Outono de 2007. Agora, tem de se começar a pôr mãos à obra. O blogueiro cá de casa irá dando conta das novidades e da estrutura.

O FIM DAS CAPITAIS DA CULTURA


Segundo os media de hoje, a ministra da Cultura disse que o programa de capitais da cultura vai acabar. Para Isabel Pires de Lima, as capitais da cultura "funcionaram apenas como um programa de animação cultural, mas não influenciaram o consumo cultural em termos de formação e alargamento de públicos, e demonstraram que, com este modelo, as cidades não se renovam com a cultura" (citação extraída do jornal Público).

No momento em que uma cidade era nomeada capital da cultura, havia um fluxo financeiro que permitia programadores e criadores realizarem trabalhos. Mas cessado esse período, o fluxo de dinheiro reduzia-se. Além de que as cidades nomeadas podiam não ter massa crítica - isto é, públicos de cultura. A capital da cultura funcionava como um momento de excelência, a que se poderia seguir um vazio. Ou a própria gestão dos dinheiros canalizados para a capital da cultura não seria a mais correcta.

Coimbra 2003 e Faro 2005 não terão, assim, sido boas experiências. Na rádio, eu ouvira dizer que o programa acabava por uma questão política. Como a notícia não adiantava mais nada, fiquei sem perceber que questão era. Contudo, e pela leitura dos trabalhos do Observatório das Actividades Culturais, a formação e alargamento de públicos funciona para além das actividades das capitais da cultura.

No estudo sobre o Porto 2001 capital europeia da cultura [distinto da presente questão, que envolve cidades nacionais de cultura], o Observatório de Actividades Culturais descrevia a existência de 30,3% de públicos habituais (cultivados e especializados), ficando o restante (69,7%) distribuido por públicos não regulares (retraídos, displicentes, recatados e liminares). Não havendo aquilo a que Idalina Conde chama de estratégias de captação em iniciativas específicas e de modo continuado, alguns públicos, como os displicentes (que têm potencial de consumo cultural mas podem optar por outros consumos), não são conquistados, pelo que não há formação e alargamento de públicos.

Possivelmente, a criação e manutenção de públicos passa por outras estratégias, que não as meramente políticas e económicas. O Observatório de Actividades Culturais, ao estudar os públicos do festival internacional de teatro de Almada encontrou uma razão para o sucesso: a continuidade anual. Isto explicava a existência de um público antigo e regular e de outro recente mas já conquistado.

Pode acontecer a presença de outras variáveis. Por exemplo, após o Porto 2001, seguiu-se uma política cultural desastrosa na cidade, que ainda permanece [o episódio do Rivoli foi, a meu ver, mal interpretado pelos agentes culturais que ali se barricaram, pelo que excluo da minha interpretação]. Os públicos potenciais para seduzir e conquistar em definitivo, após a festa da capital europeia da cultura, terão desaparecido. O que ilustra a necessidade de haver outras competências para além da de política governamental central. Há equipamentos culturais, mas os agentes culturais privados também devem ter uma palavra a dizer sobre isto. Ao Estado não compete criar mas apoiar mediante cadernos de encargos previamente definidos e com objectivos traçados.

Certamente que, no Reino Unido, quando se fala em indústrias criativas e na sua importância para a soma do PIB, não se está a pensar em capitais da cultura ou financiamentos directos do Estado, mas em iniciativas privadas, criação individual ou de grupo, em espectáculos permanentes, com públicos, em indústrias culturais como o cinema ou a televisão ou a indústria discográfica. É a nossa pescadinha de rabo na boca.

JOÃO MÁRIO GRILO E O CINEMA

Editado na mesma ocasião de O cinema da não ilusão, aqui já tratado [ver dia 24], O homem imaginado de João Mário Grilo é um livro mais sério, político (p. 10) e académico.

Aliás, o título O homem imaginado vem do texto inicial, apresentado como prova de agregação do autor na Universidade Nova de Lisboa. Retiro os subtítulos: 1) nascimento de um espectador, 2) da justificação teórica do cinema e dos modos de o cultivar, 3) a percepção cinematográfica, 4) historicidade do cinema, 5) a filmologia, ciência cognitiva do cinema (pp. 11-42).

Em João Mário Grilo há uma paixão visível pelo cinema, na relação deste com o mundo e a matéria (mau-grado a fragilidade da película, existe a possibilidade de registar mas não manipular como o vídeo) (p. 73) e na distinção cinema-filme, feita ao longo do livro, que alberga um lugar destacado a autores como Pasolini, Deleuze e Godard.

Saliento o capítulo dedicado a Eisenstein e ao advento do sonoro (pp. 87-107), da passagem daquele cineasta pelos Estados Unidos e pela incapacidade de adaptação ao cinema de An American tragedy, crítica que João Mário Grilo justifica quando escreve o capítulo "O cinema não filma livros" (pp. 108-112). Também a nouvelle vague (pp. 113-123) é tema de outro pequeno ensaio, a que se juntam mais, publicados em revistas e em catálogos de retrospectivas.

Quero ainda realçar o abecedário (pp. 43-58), onde curtas definições situam o autor: arte dos cineastas, escola portuguesa (anos Gulbenkian, lei do cinema de 1971) e cinematografia da não ilusão (que busca no título de outro livro seu), composição, horário, indústria, montagem, televisão. Da indústria, João Mário Grilo fala da obsessão deprimente das políticas culturais europeias por Hollywood; da televisão, menciona o campo de concentração instalado em casa.

UMA CASA PORTUGUESA

Do que mais gostei de ouvir nas Jornadas Unicer, ontem, foi Catarina Portas e a sua Uma Casa Portuguesa. Primeiro com um canal de distribuição electrónico, mas também com lojas físicas, ela e a sua sócia recuperam marcas e produtos antigos, revalorizando-os devido ao valor e qualidade de manufactura intrínsecos. Assim, como cada objecto conta uma história, ele pode traduzir uma credibilidade e um valor patrimonial.

Do livrinho Uma casa portuguesa (7,4x10,3 cm), em português e inglês, retiro duas páginas sobre a pasta medicinal Couto e os sabonetes Ach. Brito. Durante muitos anos, foram estes os sabonetes que lavaram a minha família.

CHINA PREPARA-SE PARA IMPLANTAR UM STANDARD PARA A TELEVISÃO MÓVEL

A China é o país mais populoso do mundo e um dos que tem mais crescido do ponto de vista económico e tecnológico. Assim, não é de admirar, como informa o blogue Media Network Weblog, da próxima implementação de um standard para a televisão móvel.

Assim, a administração estatal chinesa para Rádio, Cinema e Televisão (SARFT) aprovou um standard para a indústria audiovisual multimedia móvel, a implementar formalmente no próximo mês. Segundo a SARFT, o standard aprovado baseia-se numa tecnologia de multi-serviços interactivos terrestres e de satélite, o qual aglutinará diversos serviços de informação e programação das empresas de terminais móveis e portáteis. O standard de televisão móvel será uma oportunidade de ouro para a China, pois assistir-se-á à integração das redes de telefone, televisão por cabo e de computador, o que significa a fusão das três redes, tudo dentro da ideia de mercado global.


Em Portugal, anda-se há um ano a discutir a OPA de uma empresa de telecomunicações. Será que estamos preparados para o mercado global?

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

NOTÍCIAS DE PORTUGAL SEGUNDO O EL PAIS

Mão amiga fez-me chegar um texto de opinião anteontem (dia 24) publicado no jornal madrileno El Pais, intitulado Notícias de Portugal e assinado por Andrés de Blas Guerrero, professor da Universidad Nacionla de Educación a Distancia (Espanha).

O que diz o texto? Fala de uma recente sondagem feita em Portugal sobre a possibilidade de união a Espanha, o que terá causado surpresa no país vizinho. Se, diz o texto, no século XIX, teria havido a ideia do iberismo, no século XX, tal projecto foi abandonado, apesar da longa amizade entre os ditadores Franco e Salazar. Agora, a sondagem veio reabilitar esse ideal, com Espanha a apresentar prestígio e capacidade. Transição pacífica para a democracia (constituição de 1978), integração na União Europeia e reformas económicas e sociais. Isto no momento em que sectores de opinião espanhóis têm a propensão para a secessão.

Claro, o artigo é de uma extrema atenção para com Portugal, "país irmão, encantador", que os cidadãos recordam de modo semelhante ao país Vasco francês, ele próprio uma putativa extensão de Espanha. Depreende-se, destas palavras, que o alvo final não é Portugal, mas sim as "secessões", leia-se: Catalunha, País Basco. O sonho da Grande Espanha esbarra exactamente na actual Espanha. Incompreensível? Paradoxal?

Embora não constitua a parte final do seu texto, Andrés de Blas Guerrero escreve que a opinião manifestada na sondagem dá um alento à sociedade espanhola como tendo viabilidade enquanto Estado e Nação. Conclusão minha: em Portugal, uma grande crise de auto-estima parece levar-nos para os braços de Espanha; em Espanha, o país ameaça implodir em vários países, como se fosse a Jugoslávia. Dá para entender?

O meu obrigado a Fernando Paulino, um amigo brasileiro muito cosmopolita. Até breve, no congresso do CIMJ, aqui em Lisboa.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

CONVERSAS UNICER


MARCA PORTUGUESA? COM CERTEZA!

Com este título apelativo, amanhã, das 15:00 às 18:00, no Museu Nacional de Arte Antiga, irá decorrer a segunda edição das Conversas Unicer. Numa organização da Unicer e da LMS, empresa de comunicação, as conversas terão como participantes Wally Olins, Catarina Portas, Carlos Coelho, Filipe de Botton. Ao blogueiro, compete o papel de moderador.

Wally Olins, actualmente presidente da Saffron Consultants, foi, enquanto presidente da Wolf Ollins, um dos responsáveis pela mudança de imagem da Portugal Telecom e do Metro (de Lisboa). Entre outros livros, escreveu Corporate identity (1994) e A Marca (2005), textos que já comentei aqui no blogue. Catarina Portas, para além de ligada à comunicação, desenvolveu um projecto (http://www.umacasaportuguesa.com), com venda de produtos portugueses, "antigos, genuínos e deliciosos". Carlos Coelho, especialista em gestão de marcas, tornou-se um nome conhecido como fundador e presidente da Brandia/NovoDesign, tendo publicado o livro Portugal genial. Filipe de Botton é vice-presidente da Logoplaste e administrador de várias empresas.

De referir que, no começo do próximo ano, a AEP (Associação Empresarial Portuguesa) vai lançar uma campanha Compro o que é nosso, destinada a mobilizar empresários, colaboradores e consumidores a produzir e preferir produtos e marcas nacionais.

A MORTE ANUNCIADA DO MUSEU DE ARTE POPULAR

Na edição de ontem do Diário de Notícias, Leonor Figueiredo escreveu sobre o presumível desaparecimento do Museu de Arte Popular, em Belém, mesmo ao lado do Padrão dos Descobrimentos e, do outro lado da linha ferroviária, do Centro Cultural de Belém. Em troca, a criação do Museu de Língua Portuguesa.

O blogueiro acha uma má troca. Pelas razões apontadas pela jornalista na sua peça. Primeiro, porque se trata de um espólio de 25 mil peças, algumas do século XIX e todas as outras do século XX, que estão num só lugar. A sua dispersão por vários pontos do país, como aponta a notícia, é uma má estratégia - para quem quer ver e para quem quer estudar.

Depois, porque se trata de um edifício construído, e o único que ainda existe, para a Exposição do Mundo Português de 1940. Ideia de António Ferro e inaugurado em 1948, foi projectado pelo arquitecto Jorge Segurado. Um dos elementos de maior impacto, as pinturas murais que representam as várias regiões do País, apesar da promessa de restauração, nada indica que fiquem sempre visíveis para o público. O espaço, a colecção, a memória da razão da sua edificação, ficarão esquecidos se o museu mudar de função. Embora sem poder estabelecer tal comparação, por exagerada, o desaparecimento do Museu de Arte Popular seria como se os talibãs voltassem a destruir as estátuas dos budas (Afeganistão).

Do espólio, há cestaria, bordados, cerâmica, alfaias agrícolas e instrumentos musicais - quase tudo materiais perecíveis no tempo. É certo que o museu assenta num espaço pouco propício à conservação, dada a humidade e enchentes plausíveis (da última vez que lá estive, e já vão muitos os anos que o museu está fechado, a água proveniente do rio, em maré cheia, impediu que levasse a visita até ao fim). Mas o problema manter-se-á, se não forem feitas obras adequadas, no futuro museu.

Por isso, eu subscrevi o abaixo-assinado
UM ACTO DE BARBÁRIE - ENCERRAMENTO DO MUSEU DE ARTE POPULAR e peço a todos os leitores do blogue o favor de fazerem o mesmo. Eu acredito na competência intelectual da ministra da Cultura e na sua capacidade de voltar atrás quanto à afirmação que aparece citada no Diário de Notícias de ontem: "Não faz sentido que aquele museu esteja hoje ali". É que, enquanto cidadão, eu penso o contrário - faz todo o sentido aquele museu estar ali!

Observação: dois anos atrás, o blogueiro tomou uma posição relativamente ao Museu da Rádio. Pelo que sei, a RTP não estará a tratar convenientemente o espólio no campo da rádio, pois é escasso o espaço a albergar esse espólio no novo edifício. Isto sem se saber para onde vai o espólio excedente. Se isso acontecer, será uma atitude incrível e leviana, num país de recursos sempre escassos - e que, neste campo, parece estar bem apetrechado.

JAHMMIN

Em Setembro de 2001, nasciam os Jahmmin, inspirados pelas sonoridades Soul, Afro-Beat, Reggae e Dub, num tributo a nomes como Ben Harper, Bob Marley, Michael Franti, Peter Tosh e outros intervenientes do universo Reggae e Jah Worldmusic.

Dia 27 de Outubro, pelas 23:30, na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul (Av. D. Carlos I, 61, 1º, Lisboa). Entrada livre.

Para ver mais actividades, aceder ao sítio da
Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

O CINEMA EM JOÃO MÁRIO GRILO

João Mário Grilo, cineasta e docente da Universidade Nova de Lisboa, fez sair dois textos pela Livros Horizonte, O homem imaginado. Cinema, acção, pensamento e O cinema da não-ilusão. Histórias para o cinema português. Tendo, em grande parte, origem em textos já publicados ou trabalhos académicos defendidos até ao momento, e apesar da dispersão, os dois livros possuem uma notória unidade em termos de temas e perspectivas.


Já li o segundo dos livros acima indicados, estou a começar o primeiro. De O cinema da não-ilusão. Histórias para o cinema português, com prefácio de Manoel de Oliveira, o autor produz distintos núcleos de interesse, o mais importante, na minha leitura, intitulado "Gestos & fragmentos. Cronologia crítica do «cinema de guerra» português", a que se segue a primeira parte do livro, "Pequena história do cinema português".

"Gestos & fragmentos" tem origem no título homónimo do filme de Alberto Seixas Santos, um dos filmes que o docente e realizador mais evoca em termos de marca pessoal (o outro é o Acto da Primavera, de Manoel Oliveira). Gestos & fragmentos é um filme colocado na fronteira do documental e da ficção, melhor dizendo: um ensaio fílmico (pp. 92-93). João Mário Grilo parte da assunção que a guerra é um tópico estruturante da história do cinema (p. 50). Mas acaba por concluir que o cinema português, mesmo durante a sequela das guerras coloniais, não reflectiu isso. O cinema passou "ao lado dos diferentes cenários de guerra, concentrando antes a sua atenção nas paradas, nos discursos, nas celebrações e nos desfiles militares" (p. 55).

Isso aplica-se nomeadamente ao tempo de Salazar à frente do governo (de que emergem A Revolução de Maio, de António Lopes Ribeiro e António Ferro, e os conjuntos documentais ou actualidades). Já no pós-1974, João Mário Grilo defende o filme de Alberto Seixas Santos Acto dos feitos da Guiné, que o realizador filmara ainda como militar na recolha de imagens. E recupera Um adeus português, de João Botelho. Sempre com um olhar em Manoel Oliveira, agora em Non, ou a vã glória de mandar.

É de (e sobre) Manoel Oliveira que João Mário Grilo regressa ao longo do texto, do prefácio à entrevista com Oliveira e à confissão: "Vi pela primeira vez um filme de Manoel Oliveira em 1975. Era uma sessão pública, normal, numa estranha sala de província, instalada num salão de festas de um casino (Figueira da Foz, donde Grilo é oriundo) (p. 127). Foi uma espécie de acto fundador da ideia de fazer cinema em João Mário Grilo, que já realizou A estrangeira (1982), O processo do rei (1989), O fim do mundo (1993), Saramago: documentos (1994), Os olhos da Ásia (1996) [para o blogueiro, o seu melhor filme], Longe da vista (1998), 451 Forte (2000), A falha (2002) e Contacto (2004).

O autor destes dois novos livros confessa-se, de novo, noutro sítio: "cada filme coloca no final uma hipótese que outro filme desdobra numa tese, que há-de chegar a uma outra hipótese que será o motor de outro filme" (p. 146). Dito à minha maneira: um tema, uma obsessão, uma ideia, é recorrente na obra do realizador, com ele a procurar resolver um problema de um outro ângulo.

A primeira parte deste livro de 167 páginas (o outro livro tem 166 páginas, uma simetria perfeita) aborda a pequena história do cinema português (como o outro livro tem um abecedário para uso do cinema). Nesta curta história do cinema português, João Mário Grilo divide-a em quatro momentos, como se fosse uma análise estruturalista sopesando os diferentes agentes sociais no tempo: começos (1896-1930), cinema de actores (1930-1950), cinema de autores (1960-1990) e cinema de produtores (com interrogação), a partir de 1990. João Mário Grilo destaca as leis do cinema (1948) e, especialmente, a lei 7/71, a qual "introduz algumas soluções financeiras extremamente progressistas" (p. 24), pois o adicional de 15% pago nos bilhetes de ingresso nas salas de cinema revertia para a produção de novos filmes. Claro que, como o cinema americano era o mais visto e o que mais contribuia para esse adicional, os distribuidores propuseram-se eliminá-lo quando fosse mais conveniente.

João Mário Grilo dá ainda destaque aos anos Gulbenkian, coincidentes com a legislação de 1971, instituição que apoiou bastante o chamado cinema novo e muitos jovens realizadores.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

AS IDADES DA TELEVISÃO

No passado dia 22 de Setembro, eu comentava aqui a primeira parte de um texto de Eduardo Prado Coelho sobre as idades da televisão.

Ele destacou as duas primeiras idades: 1) paleo-televisão, ou tempo da televisão pública e da legitimidade pública, 2) neo-televisão, ou tempo da televisão por cabo e da fragmentação de públicos, 3) pós-televisão, que remetia para a edição posterior do suplemento do Público, "Mil Folhas" (que sairia a 29 de Setembro).

Ora, em que consiste a pós-televisão? Eduardo Prado Coelho, seguindo a trilha feita por Jean-Louis Missika em obra já publicada no presente ano, escreve que a pós-televisão "pertence a um tipo de comunidades em que as identidades de classe estão a desaparecer, e começa a surgir a identidade individual". Se, na neo-televisão, o indivíduo comum acedia ao ecrã, desde que tivesse vivido algo de extraordinário, na pós-televisão basta o indivíduo existir para justificar a sua presença na televisão.

Eduardo Prado Coelho reflecte sobre pequenos canais especializados, com uma audiência reduzida, num universo de cada vez mais canais que se hiperfragmentam, o que possibilita o espectador a ser programador do que vê. Género: "A televisão serve hoje sobretudo para que o espectador passivo se transforme num espectador activo que possa, no «plateau» ou na rua, tomar a palavra e reforçar a sua autonomia de indivíduo específico. Esbate-se assim a fronteira entre profissionais e amadores". Convergência tecnológica e revolução económica são outros conceitos operacionalizados pelo filósofo.

Apenas um reparo: Eduardo Prado Coelho é um autor com forte influência da cultura francesa, o que é legítimo e fica bem. Contudo, no universo linguístico português, há expressões que ganharam cidadania e diferem da origem francesa. Refiro-me à questão tecnológica - diz-se digital e não numérico (que vem de numérique, em francês). Não há câmaras numéricas mas câmaras digitais. E não sei o que é um "logicial" recarregável. Também dizemos - e Eduardo Prado Coelho também - computador e não ordenador. E ecrã e não écran. Devemos falar uma única língua quando falamos português.

OS PIONEIROS DA RÁDIO EM PORTUGAL (1924-1939). ALGUNS ELEMENTOS SOCIOLÓGICOS E HISTÓRICOS

Amanhã, pelas 18:00, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (auditório 1, à Avenida de Berna, Lisboa), irei falar sobre Os pioneiros da rádio em Portugal (1924-1939). Alguns elementos sociológicos e históricos. Parto do meu livro As vozes da rádio (1924-1939), editado o ano passado. Integrado no seminário Cultura de massas em Portugal no século XX, uma organização do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra e do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, a entrada é livre.


Dos tópicos a abordar, incluirei os seguintes:
• Do concerto ao vivo ao programa radiofónico de concerto, com intervalo (aliás, ainda observável na rádio de hoje - Antena 2).
• Preponderância inicial da técnica sobre a programação e a estética.
• Sucessão de categorias amadoras: telegrafia sem fios, telefonia, radiodifusão. Do lado da audição, a distinção entre senfilista e radiófilo.
• Características das rádios pioneiras: invenção de géneros e benchmarking nas outras emissoras.
• O avanço individual da radiofonia para a radiodifusão e o recuo para aquela, devido a questões organizativas e financeiras (que eu comparo com o actual fenómeno dos blogues).
• Associações.
• As rádios minhocas e as maiores: ligações empresariais e políticas. O papel de CT1AA (antes da Emissora Nacional, primeiro em ondas médias, depois em ondas curtas).
• A Política do Espírito de António Ferro e o ideal fascista de Homem Cristo – controlo da “parte falada” – na Emissora Nacional.
• Os programas infantis, sua repercussão e génese a partir de revistas. O comum e o distinto entre imprensa e rádio na passagem da ideia de um meio para o outro.

domingo, 22 de outubro de 2006

HOMENAGEM À FADISTA BERTA CARDOSO

Realizou-se ontem, no Museu do Fado, uma sessão de recordação da fadista Berta Cardoso (1911-1997), por ocasião do encerramento da exposição a si dedicada naquele museu, em actividade conjunta do Museu do Fado e da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado [ver meu texto sobre a exposição, datado de 31 de Julho; ver também o blogue fadocravo, alimentado por Ofélia Pereira].



Assim, à apresentação da vida da artista (por Nuno Lopes) e audição de um fado cantado por Berta Cardoso (dois vídeos acima), a mensagem dá conta de alguns temas do repertório de Berta Cardoso cantados por Ana Sofia Varela (cinco primeiros vídeos) e Elsa Laboreiro (restantes vídeos), acompanhadas por António Parreira (viola) e Ricardo Ribeiro (guitarra).




sábado, 21 de outubro de 2006

BLOGUES DE ALUNOS

Este ano lectivo resolvi tornar o blogue uma das ferramentas de trabalho dos meus alunos(as), contando para o portfólio de produção individual e de grupo. O conjunto de blogues criado pode ser visto aqui, com links para todos eles.

Hoje, selecciono dois deles, pois apresentam já algumas ideias desenvolvidas em sala de aula (e porque têm contadores instalados). São eles:
CD2 - Séries de Comédia e Cinema no mundo.

Espreitem e deixem comentários de incitamento.

SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE CENSURA


De 25 a 27 de Outubro, realiza-se o seminário A censura em cena: interdição e produção artístico-cultural. Trata-se de um projecto a partir do Arquivo Miroel Silveira, a decorrer na Escola de Comunicação e Artes (Universidade de São Paulo, Brasil). Entre outros, participam investigadores como Adriana Florent (Universidade de Paris 8), Isabel Férin (Universidade de Coimbra), Graça dos Santos (Universidade Paris X) e Boris Kossoy (ECA-USP). O Arquivo Miroel Silveira tem mais de seis mil processos de Censura Teatral do Departamento de Diversões Públicas do Estado de São Paulo, de 1927 a 1968.

Ana Cabrera, investigadora e dirigente do CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo), estará presente na quarta sessão A lógica da censura, no segundo dia de trabalhos, apresentando a comunicação Três cenários para a compreensão da censura em Portugal no Estado Novo. Ana Cabrera lançou a semana passada o livro Marcello Caetano: poder e imprensa, editado pelos Livros Horizonte.

À PROCURA DE VASCO SANTANA

Na Sociedade Portuguesa de Autores (Lisboa), vai decorrer, no dia 25 (18:30), na sala Carlos Paredes, uma palestra sobre Vasco Santana. Actor, autor, homem do teatro, do cinema e da rádio, Vasco Santana será evocado por Jorge Leitão Ramos, a propósito da exposição patente na Sociedade Portuguesa de Autores.

NÚMERO MAIS RECENTE DA REVISTA JORNALISMO & JORNALISTAS

Saiu, há pouco tempo, o número 27 da JJ - Jornalismo e Jornalistas, com destaque para a internet e o jornalismo e os prémios Gazeta (que eu já abordei aqui).

Dos textos publicados - e para além da memória da Casa da Imprensa, nos seus 100 anos, em texto assinado por Mário Branco (e sobre cujo livro, de que é co-autor, ainda não falei aqui com o pormenor que merece) -, destaco o de Cristina Ponte sobre pesquisa de jornalismo na Universidade de Cardiff (País de Gales, Reino Unido). Docente na Universidade Nova de Lisboa, Cristina Ponte esteve um semestre sabático em Cardiff, no JOMEC (Departamento de Jornalismo, Media e Estudos Culturais). O texto fala sobre essa sua experiência.

A autora, cujo trabalho científico tem apostado no emprego de metodologias (qualitativas mas também quantitativas), mostra uma pesquisa que foi feita no JOMEC sobre a cobertura da guerra do Iraque pelos media britânicos (embeded with ou in bed with, ironiza Cristina Ponte), com uma equipa constituída por três docentes daquele departamento para responder a uma solicitação da BBC, entidade financiadora.

Como grande conclusão do estudo, fica a ideia de uma campanha militar com relações públicas sofisticadas, em que a preocupação é menos a censura e mais a promoção de determinados tipos de cobertura noticiosa. O estudo aponta, assim, para a necessidade dos jornalistas compreenderem melhor o papel das relações públicas em situação de guerra.

ATÉ ONTEM ERA ASSIM!


Até ontem, a linha gráfica do blogue era a que se mostra na primeira imagem. Resultara de um esforço pessoal após os meses de arranque do blogue, mas já carecia, desde há algum tempo, de actualização. O esforço pessoal já não dava, pelo que se recorreu ao talento profissional de José Claro Nunes, arquitecto e animador do blogue Os dedos, o qual começou a trabalhar numa nova imagem do Indústrias Culturais. Aqui está ela, com três colunas, o que permite maior criatividade na colocação de mensagens duradouras. Espero que gostem e continuem a visitar o Indústrias.

O meu profundo agradecimento a José Nunes.

No frontispício, vê-se a imagem de Maria Arliette Rodrigues Moreira, pequena cantora da Rádio Peninsular, Lisboa (começos dos anos de 1930).

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

NOVELA JURA E DELIBERAÇÃO DA ERC

Ao ler a deliberação da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social), ontem tomada a propósito da análise das imagens promocionais da novela Jura emitidas pela SIC em Setembro, não posso ficar indiferente.

As auto-promoções da novela Jura totalizaram 12 dias e 421 inserções (p. 2), com especial incidência nos primeiros dias no período 10:00-23:00, e coincidiram com declarações de responsáveis de programação da SIC e consequente publicação de notícias acentuando a componente sexual da novela (p. 3). As auto-promoções atravessaram intervalos de programas de grande audiência como novelas e blocos informativos da SIC, incluindo SIC Kids e Floribella, esta considerada para públicos infanto-juvenis.

Para a ERC, as novelas de produção nacional, como Jura, constituem elementos estruturantes das grelhas de programas dos operadores privados da televisão, com investimentos, criatividade e novos actores (p. 7). Mas a ERC entende também que devem salvaguardar, para além da liberdade de informação, a protecção dos direitos dos cidadãos, em especial crianças, adolescentes e públicos vulneráveis. As imagens promocionais da série Jura, segundo a mesma deliberação, centram-se no sexo e apresentadas num contexto relacional de traição e mentira (p. 8), além da exploração comercial do sexo e do corpo.

Após apreciação visual e jurídica, a ERC conclui que a SIC violou de modo “flagrante, reiterada e grosseira” a lei da televisão (artigo 24), pelo que decidiu instaurar um procedimento contra-ordenacional contra o operador SIC.

Parece-me uma boa análise e conclusão da ERC.
LANÇAMENTO DA REVISTA TRAJECTOS

Ontem, ao fim da tarde, foi lançado o número duplo 8-9 da revista Trajectos, dirigida por José Rebelo, docente universitário do ISCTE, escola a que pertence a publicação. O tema de destaque é Debate: os media e a política. A televisão faz uma eleição?

No editorial, lê-se que o número, que insere "textos de jovens investigadores ao lado de outros assinados por professores universitários e por jornalistas de grande prestígio", propõe um debate à volta do tema "mediatização da política" a partir de artigo do professor francês Rémy Rieffel, que esteve em Portugal no mês de Maio deste ano, no âmbito de uma investigação sobre o perfil sociológico do jornalista português. Este estudo terá resultados publicitados em 2007.


Na sessão de ontem, para além do presidente do ISCTE e de responsável da editora da revista, a Fim de Século, intervieram José Rebelo, António Cluny (presidente do sindicato dos magistrados do Ministério Público) e os jornalistas Diana Andringa e Adelino Gomes [os vídeos em baixo seguem esta ordem].

Da revista, o blogueiro ainda não pode emitir opinião, dado que não teve tempo de ler qualquer artigo, embora aconselhe a sua aquisição e degustação, mas ficou com impressões do lançamento e debate que se seguiu. No conjunto, detectei uma visão desencantada quanto ao modo de olhar os media no presente momento. Algumas situações ilustram alguma frustração - desemprego no sector, agora mais visível com despedimentos de jornalistas no Público, perda de qualidade de programação televisiva -, mas a situação não é comparável com a situação política de há 32 anos (censura e consequente ausência de liberdade de expressão).

No debate, fez-se uma alusão ao tempo da censura dos media, em que as pessoas se distinguiam umas das outras pelo que liam, dada a variabilidade de gostos e tendências expressas nos jornais, enquanto os media de agora, os jornais em especial, são muito parecidos e não expressam opiniões políticas distintas (as intervenções que registei em vídeo mostram alguma coisa destas posições). Parece estar a estabelecer-se uma má nostalgia - foi a sensação com que saí da sala.


quinta-feira, 19 de outubro de 2006

CINE CLUBE DE VISEU

Realiza o Cine Clube de Viseu 10 propostas de sessões que abordam o tema, os autores e os filmes das vanguardas estéticas no cinema. Com 8 especialistas convidados, num curso a decorrer até 25 de Janeiro. Saber mais: 1) através do email geral@cineclubeviseu.pt, 2) pela página www.cineclubeviseu.pt.


MARIE ANTOINETTE

O que mais gostei foi ouvir a banda sonora, em que Sofia Coppolla, ao abordar a história da queda da monarquia francesa no final do século XVIII, mistura música clássica (Antonio Vivaldi) com os sons dos anos 1980 (new wave e electrónica), dos Siouxsie and the Banshees (Hong Kong Garden), The Cure (Plainsong, All cats are grey), The Strokes (What ever happened), Squarepusher (Tommib help Buss), Air (Il secondo giorno, instrumental), The Radio Dept. (Pulling our weight, Keen on boys) e Windsor, a exemplo do que oferecera em Lost in translation. Os planos dos bailes, em especial o das máscaras, são prodígios de cor e sons.

Depois, a atmosfera cénica artificial das regras de protocolo da corte, ridículas a olhos de hoje: a cena da noite de núpcias é um exemplo que mostra comicidade e tragédia por não haver intimidade a dois, mas acto público. É preciso dar um herdeiro ao trono e o rei pai deseja bom trabalho aos noivos. Os penteados lembraram-me logo os Simpsons, que, afinal, são bem mais clássicos e inventivos do que eu imaginara. Ou os penteados de personagens de algumas séries de ficção científica. Os rostos, de tão maquilhados, lembram as peças de teatro, onde as sombras realçam formas.

A realizadora, Sofia Coppolla, teve um imenso pudor em filmar a tomada de poder de 1789. Nem se discutem, francamente, as razões. Disso, há só ecos, que os planos da populaça junto a Versailles não desvirtuam. O final do filme bem poderia ter acabado cinco minutos antes, tal a fragilidade do argumento (1).

Tudo se passa como se a corte vivesse num mundo à parte, onde só havia lugar para caçadas, festas e bolos e champanhe. O rei é um ser sem carácter, que aceita rapidamente a opinião dos seus mais próximos politicamente falando, pois o pensamento dele está nas caçadas. A rainha é uma rapariguinha que procura divertir-se, enquanto lhe nascem três crianças, envolvida na intriga palaciana, uma coisa nada recomendável. Às escassas reformas protagonizadas pela rainha que viera da Áustria - bater palmas nos concertos reais - sucedem-se as gaffes políticas. Como comentário ao que se estava a passar em França, a falta de pão, respondia a leviana rapariguinha: comam bolos.

Claro, lê-se na ainda reduzida literatura nacional existente sobre o filme (só amanhã e sábado é que leremos os críticos de cinema nos jornais), que se trata de uma versão pop da trágica história da monarquia francesa, ainda ocupada em apoiar ou não a revolução americana, para fazer ver aos ingleses, e a estudar a aliança com a Áustria, entalada também pela invasão da Polónia pelos russos. De história também não trata o filme. Eric Rohmer, com a sua A Inglesa e o duque, esclareceu muito mais sobre o que se passou nesse período de grandes transformações sociais e políticas, embora do ponto de vista da classe social que perdeu o poder.

Conclusão: a magia de Lost in translation não a encontro aqui. O actor que faz de rei (Jason Scartzman) não me convence. Já Kirsten Dunst, mais o seu encantador dente canino do maxilar superior, enche a tela, mas está sozinha, excepto talvez os caniches que pululam na fútil sociedade decadente de Versailles, e parece longínqua por vezes.

De repente, à saída para a rua chuvosa, lembrei-me da orgulhosa América. Não estará este país, agora que Bush filho reconhece que o Iraque se está a assemelhar ao Vietname, a mergulhar na decadência, com Sofia Coppolla a imitar o pai, que também dá uma mãozinha a este filme, quando realizou Apocalipse now?

(1) o filme que eu vi, no King, "partiu-se", faltaria uma dezena ou mais de minutos; se acabasse ali, eu não poderia reclamar e pedir a devolução do bilhete, pois o final do filme poderia ser aquele. Devo dizer que é a segunda vez, nos últimos três filmes, que a máquina de projectar se avaria. E o conjunto das salas King é menos simpático que até há meses atrás. A livraria fechou, ficando um corredor de prateleiras vazias para quem vai para a cafetaria. O ar triste e abandonado das empregadas também não ajuda.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

APRESENTAÇÃO DE LIVRO DE MONIQUE SICARD

Decorreu ontem, ao fim da tarde, o lançamento do livro de Monique Sicard, A fábrica do olhar. Imagens de ciência e aparelhos de visão (século XV-XX), o primeiro volume de colecção nova das Edições 70.

Na sessão, organizada pela editora, pela livraria Almedina e por José Carlos Abrantes, director da nova colecção, estiveram presentes a autora, Paulo Filipe Monteiro (docente da Universidade Nova de Lisboa) e Vicente Jorge Silva (jornalista e cineasta).

Paulo Filipe Monteiro centrou-se no encantamento produzido pela leitura da obra e dos temas abordados nesta, de que destacou a importância da mudança da epistemologia das ciências, que hoje assume a ficção na sua narrativa. E relevou a análise feita pela autora sobre os aparelhos que, ao longo dos séculos, constroem o olhar, bem como a relação difícil dos intelectuais com a técnica, que não é cultura. Ora, diz Sicard, a imagem é simultaneamente técnica e cultura.

Já Vicente Jorge Silva preferiu fazer uma leitura directa de partes do livro e associá-las a outras leituras, visando sempre o olhar - do outro, do desconhecido, da invenção a partir do olhar.

O livro de Monique Sicard tem 23 capítulos divididos em três partes (gravura, fotografia e imagiologia). A autora é investigadora do CNRS (Centre National de Recherche Scientifique), foi colaboradora da revista Les Champs Médiologiques e realizou documentários para a televisão.

[legenda da fotografia seguinte: Paulo Filipe Monteiro, Monique Sicard, José Carlos Abrantes e Vicente Jorge Silva]





terça-feira, 17 de outubro de 2006

CULTURA DE MASSAS EM PORTUGAL NO SÉCULO XX

Vai começar no próximo dia 24 o II Seminário de Investigação (2006/2007) de Cultura de massas em Portugal no século XX, uma organização do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra e do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.

Segundo a organização, o "seminário vai procurar servir de espaço de reflexão teórica e definição metodológica em torno do estudo da cultura de massas, por um lado, bem como, por outro lado, de apresentação pública de um conjunto de estudos parcelares em torno dos mecanismos de massificação cultural que possam vir a abrir caminho ao desenvolvimento de uma História da Cultura de Massas em Portugal no século XX".

Como no ano lectivo passado, o local é a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (Av. de Berna, 26-C, Lisboa) e o horário é 18:00–20:00. A primeira sessão decorrerá no anfiteatro 1 do Bloco 1, a que se seguirão mais treze sessões, a um ritmo quinzenal (salvo nos períodos de férias lectivas na Faculdade), sempre às terças-feiras. No dia 5 de Junho, terá lugar sessão especial de encerramento com António Pedro Pita e Salwa El-Shawan Castelo-Branco.

Chamo a atenção para os temas e os convidados, bastando que clique no quadro para obter uma imagem ampliada. Reserve, na sua agenda, as datas dos seminários que mais lhe interessam. Entrada livre. Contactos suplementares: Tiago Baptista (trbaptista@gmail.com).

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

LIVRO DE MONIQUE SICARD INAUGURA NOVA COLECÇÃO DE LIVROS

Amanhã, dia 17, pelas 19:00, na livraria Almedina (Saldanha, Lisboa) vai ser lançado o livro A fábrica do olhar, de Monique Sicard.

Esta obra, considerada um dos cinquenta melhores ensaios e o melhor ensaio de ciência, em França, em 1998, ano em que foi editada pelas Éditions Odile Jacob, leva em Portugal o selo de uma nova colecção pertencente às Edições 70.

Num dos trechos do livro, a propósito do inventário Pierre Belon, lê-se:

Embora a quantidade dos textos impressos e das gravuras dê novo fôlego ao conhecimento científico, fixa paradoxalmente, por muitos anos, as lacunas da observação. O desenho, muito estruturado, do rinoceronte gravado sobre madeira por Albrecht Dürer em 1515 apresenta uma estranheza incontestável. As patas cobertas de escamas assemelham-se às de uma tartaruga. O animal que se diz capaz de vencer um elefante está munido – logicamente – de uma autêntica armadura. A gravura foi realizada sem que Dürer tivesse observado directamente o animal. No entanto, este já chegara sem novidade a Portugal, vindo das Índias. Mas foi logo a seguir enviado para Roma, pois o rei D. Manuel I de Portugal considerava-o presente digno de um papa. A viagem foi dramática. Ao navegar em direcção a Leão X, o navio, vítima de uma tempestade, afundou-se, levando consigo corpos e bens. O rinoceronte morreu afogado. Repescado, foi mais ou menos embalsamado. Apesar disso, Dürer não teve a oportunidade de o ver, nem vivo nem morto. Tomara conhecimento dele por intermédio de um esboço, que depois passou a desenho a pena antes de fazer uma gravura sobre madeira. A gravura teve um sucesso fulgurante. Produziram-se oito edições diferentes – sete das quais póstumas – a partir da madeira original. O Rinoceronte de Dürer foi copiado com as suas imperfeições, utilizado como referência até ao final do século XIX, quando os erros e as diferenças entre o desenho e o animal eram já perfeitamente conhecidos.

Pode ler mais sobre o livro no blogue
Mestiçagens, de José Carlos Abrantes, director da colecção.

[edição pré-datada da mensagem]

domingo, 15 de outubro de 2006