sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Call for Papers - 10th Anniversary Cyfrwng Conference. Creative industry: Bridging theory and practice

24th and 25th of July, 2014. Bangor, Wales, UK. 

Conference Theme: Over the past decade, Cyfrwng has worked to build bridges between the scholarly community and the creative industries in Wales. The aim of this conference is to examine the relationship between theoretical and practical approaches to the media, film, performance, writing, music and the creative industries more generally. Proposals are invited from both academics, practitioners and those who seek to combine both roles. Areas of interested may include, but are not limited to:
- The development of the creative industries in Wales and beyond
- Practice-led approaches to research and scholarship
- Production studies as an academic discipline
- The theory and practice of cultural work
- Media education and training
- Partnerships between industry and academia

Proposals which focus on Wales, the Celtic nations, minority and lesser-used languages and smaller nations will be prioritised when selecting participants. However, proposals that examine the conference themes from all nations and regions will be considered.

Cyfrwng is the Welsh association for media studies and associated disciplines. Formed at Bangor in 2004, Cyfrwng has spent the past decade working with academics and media professionals both in Wales and beyond.

Deadline for abstracts: 15 February 2014

Proposals for panels and individual papers can be submitted by email to dyfrig.jones@bangor.ac.uk.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Portugal e a Eurovisão. 50 anos de canções (1964-2014)

Portugal e a Eurovisão. 50 Anos de Canções (1964-2014) foi um pequeno livro de Jorge Mangorrinha lançado e apresentado na Sociedade Portuguesa de Autores, num projeto alargado à Hemeroteca Municipal, RTP e Universidade Lusófona. O livro foi o pretexto para juntar artistas que concorreram a festivais em representação de Portugal, como António Calvário, que esteve no primeiro festival em 1964, e Madalena Iglésias.
Para Mangorrinha, o trabalho foi feito sem preconceitos, onde se aborda um tema até agora arredado dos estudos universitários: a música ligeira e os seus cantores. Para ele, o festival é um grande acontecimento na música portuguesa, pelo número de pessoas reunidas na sua efectivação, pela promoção do país neste evento anual na Europa e pelas características das canções, pelo papel da televisão pública e pela necessidade de partenariado em edições próximas.
 
No livro, escreve o autor: "Naquele domingo, pouco depois das 22:30, o realizador Raul Ferrão mandou avançar uma câmara para Maria Helena Fialho Gouveia e Henrique Mendes, e estes iniciaram a apresentação do primeiro festival, que contou com 12 canções na final (das 127 submetidas) defendidas por António Calvário, Artur Garcia, Madalena Iglésias, Simone de Oliveira, Gina Maria e Guilherme Kjolner".
 
A música, foi dito neste encontro, representa 3% do PIB nacional, sendo comparada com a actividade do futebol, que representa 1,5%. Em nome dos artistas, António Calvário recordou a importância da orquestra ao vivo a acompanhar o cantor no festival da Eurovisão onde esteve e as perguntas dos jornalistas que lhes foram dirigidas sobre o regime de Salazar. Tozé Brito, que presidia à sessão, falou da dicotomia entre o envolvimento de compositores e artistas e o seu afastamento versus canais de televisão público e privados. Na época em que António Calvário ou Madalena Iglésias cantavam, havia um só canal e a preto e branco, hoje há múltiplas opções. A uma pergunta sobre a visibilidade dada pela RTP, um responsável desta empresa, José Poiares, lembrava exactamente a concorrência audiovisual como elemento de diluição do impacto do género televisivo.


A Hemeroteca Municipal colocou a partir de hoje muita informação sobre a matéria, e que pode ser consultada a partir desta ligação: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/festival/festivaldacancao.htm, de onde retiramos as páginas da publicação Rádio & Televisão, nº 395, de 28 de Março de 1964, pp. 6-7.

Censura discográfica (3)

"30.1.1974. Inconveniente adquirir ou transmitir José Barata Moura (Produção, Subúrbio, Vamos Brincar à Caridadezinha)".

No dia 23 de Janeiro de 1974, a censura da Emissora Nacional referira genericamente o disco. Agora especificava o nome das canções.

[anteriores edições em 9 e 23 de Janeiro; próxima edição a 1 de Fevereiro]

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Prémio PrimeiroOlhar

Podem concorrer ao Prémio PrimeirOlhar documentários produzidos entre Maio de 2013 e Março de 2014. O concurso está aberto a estudantes inscritos nas escolas de cinema e de audiovisuais de Portugal e da Galiza, em cursos na área da Comunicação e participantes em cursos de documentarismo promovidos por outras entidades. A inscrição é gratuita e com formalização até 28 de Março de 2014 em www.ao-norte.com.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Alice Cruz

Alice Cruz (1940-1994) nasceu na Póvoa de Varzim e foi com sete anos para Angola. Num liceu de Luanda, estudou até ao sexto ano, no ramo de Ciências, sonhando com o curso de medicina. Uma biografia dela dá-a a trabalhar na Rádio Ecclesia (emissora católica de Angola) aos quinze anos. Depois, em 1958, concorria como locutora de 1ª classe, ficando a trabalhar na emissora oficial de Angola. Programas em que se destacou foram: Chá das Seis e Meia, Mondscope e Nós e os Ouvintes. Apresentou programas de auditório (espetáculos de variedades).

Em 1963, estava a trabalhar na RTP mas só entrou nos seus quadros quatro anos depois. Quando a televisão pública decidiu emitir à hora de almoço, ela estreou e apresentou o programa. Em 1972, apresentou Domingo à Noite. Também nesse ano, foi a apresentadora do Festival RTP da Canção.

Fontes de informação: Flama, 21 de fevereiro de 1964 (de onde foi retirada a fotografia), e http://pt.wikipedia.org/wiki/Alice_Cruz.
 

Seeger

Peter Seeger tocava o banjo, um instrumento que eu acho curioso. De músicas criadas por ele, lembro-me de If I Had a Hammer e  Turn! Turn! Turn! (To Everything There is a Season). Leio agora a sua biografia no Expresso online. Na década de 1930, ele estudou sociologia em Harvard e tentou o jornalismo. Um dos seus professor ter-lhe-ia dito: "Não pensem que vocês podem mudar o mundo. A única coisa que podem fazer é estudá-lo". Na década de 1950, Seeger deixou de aparecer na televisão americana, no período da Caça às Bruxas, acusado de pertencer ao Partido Comunista. Nascido em 1919, esteve sempre ligado a movimentos de direitos cívicos, combate ao racismo e à pena capital, oposição à energia nuclear, protestos contra a guerra do Vietname e movimento Occupy Wall Street. Ele, que foi responsável pela recuperação da música folk americana e editou dezenas de álbuns, a solo e com diversas formações, morreu anteontem.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Fábrica de discos e programas de rádio

A Rádio Triunfo, editora discográfica do Porto, teve, num dado momento, como mostra a notícia, programas de rádio: Estrelas Fim-de-Semana (Clube Radiofónico de Portugal), Edição Especial (Rádio Peninsular) e Pátio das Canções (Rádio Renascença). Produção de Rolo Duarte e locução de Marques Vidal, Fernando d'Almeida, Matos Maia e Francisco Athayde (Flama, 25 de Dezembro de 1959). Alvorada era a marca mais conhecida da editora.

Director interino na Cinemateca

José Manuel Costa, subdirector da Cinemateca Portuguesa, foi nomeado director daquela instituição em regime de substituição, até conclusão do concurso para o preenchimento da vaga do cargo. Ele sucede a Maria João Seixas, que saiu da direcção da Cinemateca no final de 2013, por razões de reforma.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Um toque de pecado


"Um mineiro revoltado luta contra a corrupção dos líderes da sua aldeia. Um homem regressa a casa na véspera de ano novo e descobre as infinitas possibilidades de uma arma de fogo. Uma bela rececionista numa sauna é levada ao limite quando é assediada por um cliente rico. Um jovem trabalhador fabril salta de trabalho em trabalho à procura de uma vida melhor. Quatro pessoas, quatro províncias da China. Uma reflexão sobre a China contemporânea: um gigante económico que lentamente vai sendo minado pela violência" (da sinopse do filme China - Um Toque de Pecado, de Jia Zhangke, com Tao Zhao, Vivien Li, Wu Jiang e Zhang Jia-yi).

Mais do que isto, eu vi como a rápida transformação da China de país subdesenvolvido em país capitalista, embora sob a égide do Partido Comunista, transforma a vida de cada indivíduo. A pessoa pouco conta dentro das mudanças, originadas por forças contraditórias, sem grandes ideais e valores morais. Violência quase gratuita, desejos e realização de poder e afirmação, ganância, suborno e atropelos onde o homem não conta mais do que o animal, onde a justiça é praticada individualmente sem normas.

Há uma permanente mensagem simbólica, como a do homem que chicoteia o cavalo (uma força lenta e irracional face à máquina - a mota ou o automóvel) ou do pequeno macaco que está preso e permanece sobre os ombros do proprietário, equivalente à tareia do condutor da camioneta que se recusa a pagar a portagem a um grupo de bandidos. Ou do gado transportado numa outra camioneta e que a mulher que trabalha na sauna vê momentaneamente como inimigo. Outro elemento simbólico é o gesto do mineiro que observa a queda de uma outra camioneta que transportava tomate - ele brinca com um dos tomates enquanto assiste à presença de autoridades que confirmam o acidente. Este é uma perda, um pequeno acidente que nos transporta do mundo rural para o consumo urbano.

Com frequência, o realizador contrasta os prédios elevados da moderna cidade, ao fundo, com o ambiente rural, em decomposição, a que os personagens principais voltam para resolver os seus problemas: a rapariga que se prostitui no hotel de luxo que foi ver a sua filha pequena, o criminoso que volta rapidamente para os anos da mãe e regressa ao mundo do roubo e do assassínio, o rapaz que trabalha numa linha de montagem da fábrica e que fala com a mãe, algures numa aldeia distante.

O fogo de artifício e o teatro de rua são elementos culturais que ligam esse mundo aldeão e antigo em desmoronamento e o novo mundo de cenário moderno que é a cidade do comboio de alta velocidade e das luzes de néon. O mundo capitalista chinês é um mundo masculino e jovem - são os homens que tomam as grandes decisões: trabalham, roubam, constroem impérios económicos, usam as mulheres (prostituição, adultério) e as subjugam (como a mulher do ladrão que pede para ele, ao menos, comprar um telemóvel; o homem recusa porque sabe que seria facilmente detectado mesmo com movimentos numa imensa China).

De repente, lembrei-me como seria mais fácil contar a história do desenvolvimento do capitalismo europeu do século XVIII através deste filme. Mas no filme a evolução é muitíssimo mais rápida e as movimentações de massas rurais em busca de trabalho na cidade ainda mais violentas do que no tempo em que os media e os transportes não existiam ou eram lentos e movidos a energia humana ou animal. Aeroportos, linhas ferroviárias, auto-estradas, produção massificada de produtos industriais, automóveis de topo de gama - toda a mostra de bens do capitalismo actual estão ali presentes. Com as lágrimas, os insucessos e a desilusão de sempre.

Designer João Machado

O Expresso ("Revista") de ontem trazia um texto sobre a obra do designer João Machado, premiado no final do ano passado com os Graphis Award. Petinga em Azeite, cartaz para uma conserveira portuguesa, atraiu a atenção do catálogo de artes visuais de Nova Iorque, agora editado na sua edição de 2014.

Actualmente com 71 anos, licenciado pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, onde foi docente de design gráfico (1976-1982) mais para sustento do que vocação, João Machado já fez centenas de cartazes, muitos publicitários e muitos para instituições e eventos de causas globais. Antes, também se dedicara à ilustração de livros infantis de Ilse Losa.

 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Cidades - 11

"Uma cidade confronta no mesmo espaço épocas diferentes, oferecendo ao olhar uma história sedimentada dos gostos e das formas culturais. A cidade dá-se ao mesmo tempo a ver e a ler. O tempo narrado e o espaço habitado estão nela mais estreitamente associados do que no edifício isolado" [Paul Ricœur (2012). A Memória, a História, o Esquecimento. Campinas: Editora Unicamp, p. 159].

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

50 anos do Festival da Canção

No dia 30 de Janeiro às 18:30, realiza-se na Sociedade Portuguesa de Autores, à Avenida Duque de Loulé, 31, em Lisboa, uma sessão comemorativa dos 50 anos do Festival da Canção.

Censura discográfica (2)

"23.1.1974. Inconveniente a aquisição do disco de José Barata Moura".

O disco incluía "Vamos brincar à caridadezinha / Festa, canasta e boa comidinha / Vamos brincar à caridadezinha", "cantava José Barata Moura em tom de crítica àquele tipo de senhora que «passa a tarde descansada, mastigando a torrada, com muita pena do pobre, coitada!» O músico, que seria reitor da Universidade de Lisboa entre 1998 e 2006, devia estar cansado de ler notícias como a que o DN publicava no dia 18 de Dezembro de 1965 sobre uma «obra de amor e de bem-fazer»” (Diário de Notícias, 22 de Dezembro de 2007) [ver o vídeo aqui].
 

[anterior edição em 9 de Janeiro; próxima edição a 30 de Janeiro]

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Onde eu li Steinbeck

Leio no Diário de Notícias de hoje que a antiga biblioteca situada na praça do Marquês de Pombal no Porto se vai transformar numa cafetaria. A antiga biblioteca está encerrada há treze anos, depois do concessionário Manuel Leitão se ter recusado a assinar uma escritura com a Câmara. Em adolescente, eu li John Steinbeck naquelas instalações. A praça era viva. Agora, muitos reformados jogam as cartas nas mesas e cadeiras disponíveis no jardim e arrastam a sua vida sem recordarem a antiga cultura do sítio. 

Livro de Patrícia Dias sobre a sociedade digital

Viver na Sociedade Digital é o livro de Patrícia Dias a ser lançado no próximo dia 30 de Janeiro, pelas 18:30, na Livraria Ferin, à rua Nova do Almada, 70-74, aqui em Lisboa. Uma edição da Principia. Docente na Universidade Católica Portuguesa, ela já publicou O Telemóvel e o Quotidiano (2008).


Sete milhões frequentam centros comerciais

"Os resultados de 2013 do estudo TGI da Marktest revelam que mais de sete milhões de residentes no Continente costumam ir a centros comerciais. Em 2013, o estudo TGI da Marktest contabiliza 7 273 mil indivíduos que dizem ir a centros comerciais (referência: foram nos últimos 12 meses), um número que representa 87,5% do universo composto pelos residentes no Continente com 15 e mais anos. Este hábito é comum a todos os grupos demográficos, sendo no entanto junto dos mais idosos, dos residentes na região Sul e dos indivíduos das classes mais baixas que encontramos percentagens mais baixas. Os dados do TGI indicam ainda que, entre os centros comerciais mais frequentados, Norte Shopping, Colombo e Vasco da Gama são os mais referidos. Os dados e análises apresentadas fazem parte do estudo TGI, propriedade intelectual da Kantar Media, e do qual a Marktest detém a licença de exploração em Portugal, é um estudo único que num mesmo momento recolhe informação para 17 grandes sectores de mercado, 280 categorias de produtos e serviços e mais de 3000 marcas proporcionando assim um conhecimento aprofundado sobre os portugueses e face aos seus consumos, marcas, hobbies, lifestyle e consumo de meios" (texto retirado de http://www.marktest.com/wap/a/n/id~1ca0.aspx).

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Simone de Oliveira

A cinta que acompanha o livro apresenta-o como "a vida apaixonante de uma mulher que nunca desiste". Simone de Oliveira nasceu em Lisboa em 1938 e canta cantigas (p. 15). Tem dois filhos e alguns netos, ganhou festivais da canção como o de 1969 (Desfolhada) [participação na Eurovisão] e foi rainha da rádio e partilhou da mesma turma do liceu Pedro Nunes com Francisco Pinto Balsemão (p. 21). Casou aos dezanove anos (p. 25). A ida para o Centro de Preparação de Artistas da Rádio foi para esquecer a mágoa da rápida separação. Se ela perdeu o casamento, o país ganhou uma cantora de música ligeira cujo sucesso se estendeu por toda a década de 1960 e se prolongou por muito mais tempo.

O maestro Mota Pereira dirigia aquele centro ligado à Emissora Nacional. Ele perguntou-lhe se ela sabia o que era um microfone, ela respondeu que não mas que conhecia o piano. Cantou um bolero em castelhano (p. 29). Ao fim de três meses estava a cantar na rádio e, depois, na televisão. Era o ano de 1957. Depois, no Porto, conheceu um "moço, lindo, maravilhoso", no Porto (p. 30). Rapidamente, cartas de Lisboa seguiram para o Porto, do Porto vieram para Lisboa. Dessa relação tumultuosa, nasceram os dois filhos da artista.

O episódio relevante seguinte no livro (que se lê muito depressa, como é a marca das biografias) é a da canção Desfolhada (1969). Então, havia uma longa mas nunca pacífica paixão com Henrique Mendes, um dos principais locutores da rádio e da televisão da época. Explica Simone que nesse dia as coisas entre os dois "estavam mal, muito complicadas" (p. 45). Henrique Mendes assistiu ao espectáculo na companhia de outra senhora. Simone de Oliveira, 29 anos, que nem tinha ainda decorado convenientemente a letra da canção, foi para o palco e cantou-a com toda a fúria, uma interpretação de raiva, nas suas palavras (p. 46). Antes ainda tinham ficado sucessos como Sol de Inverno (1965), Se Tu Queres Saber Quem Sou e Fúria de Viver.

A história seguinte ocorreria logo depois. Ela perdeu a voz, não podia cantar (p. 48). Um jornal do Porto explicou as razões porque ela perdera a voz: bebida, tabaco, noitadas. Ela aceitou ir a uma rádio defender-se das acusações. E acabou a ficar a trabalhar na Rádio Peninsular, uma das estações dos Emissores Associados de Lisboa, no programa 1-8-0 (programa que ganharia um prémio da Casa da Imprensa). Depois, continua a contar, ligou-se ao teatro. Em 1974, seria convidada a entrar na peça A Menina Alice e o Inspector, encenada por Varela Silva. Este, austero, repreendia-a: "Minha senhora, não quero pés à vedeta" (p. 61). Ela não se apercebera que, quando dava as notas mais agudas, levantava ligeiramente o calcanhar direito. Corrigida a imperfeição, veio a paixão. Esta duraria até à morte de Alberto Varela Silva.

Para além da sua luta contra o cancro, doença com que lutou já duas vezes e de que conta histórias comoventes no livro, e da sua participação nas décadas mais recentes em telenovelas, retenho mais duas histórias. A primeira é a da sua rivalidade com Madalena Iglésias, a outra cantora da rádio que era apresentada como habitual candidata a ganhar os festivais da canção e o prémio de rainha da rádio. Havia uma possível competição entre as duas mas elas eram amigas. Quando foi a festa dos cinquenta anos de carreira de Simone de Oliveira, a outrora rival dela veio vê-la e estar com ela (p. 49) [em baixo, página retirada da revista Flama, de 27 de Janeiro de 1967].

A outra história é o retomar do episódio da perda da voz. Simone de Oliveira não diz no seu livro, mas a razão da explicação dela na Rádio Peninsular esteve no contrato que a ligava ao seu agente artístico, José Marques Vidal, que evoquei há dias aqui. Este fez publicar um longo comunicado a dar a sua visão do problema, que seria o da quebra de contrato. No final do comunicado, o produtor e agente escreveu citando a artista: "Na agência Marques Vidal adquiri uma grande disciplina profissional de que me não tinha ainda apercebido a valer. Disciplina no aproveitamento metódico dos ensaios, na presença no palco, nas relações e na participação que me cabe nos horários estabelecidos. Tudo programado com a devida antecedência e eu só tenho de integrar-me na ideia de que faço parte da máquina que o Marques Vidal tem feito trabalhar com o seu reconhecido dinamismo, a sua visão e a sua experimentada capacidade de orientador" (Plateia, 2 de Setembro de 1969).

Leitura: Simone de Oliveira e Patrícia Reis (2013). Simone. Força de Viver. Lisboa: Matéria-Prima, 181 páginas


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

CFP: 'Communication for Empowerment: Citizens, Markets, Innovations'

Conference, due to take place in Lisbon from 12 to 15 November 2014, has chosen as its overarching theme, 'Communication for Empowerment: Citizens, Markets, Innovations'. The organisers call for proposals in all fields of communication and media studies, but particularly invite conceptual, empirical, and methodological proposals on inter- and transcultural communication phenomena and/or on comparative research. that link the general conference theme, as developed below, to the fields pertinent to each ECREA section.

Important Dates:

Launch of CfP: 1 December 2013
Deadline for abstracts: 28 February 2014
Notification of Acceptance: 30 April 2014
End of Early Bird Registration Fee: 31 August 2014
Deadline for Online Registration: 31 October 2014
(http://ecrea2014.ulusofona.pt/)

História oral

"Em Portugal, a História Oral ainda está no início, mas cada vez mais se recorre a entrevistas e testemunhos na primeira pessoa para documentar o passado recente, às vezes dando voz a quem nunca a teve — pelo menos oficialmente. Alegrias e riscos de fazer História quando ela ainda está viva" (Público, 17 de Janeiro de 2014). Mais à frente, o texto assinado por Raquel Ribeiro indica que, "apesar de diferentes abordagens, há um consenso sobre os riscos, as limitações, os desafios e as alternativas de um método que pode ser olhado com desconfiança, mas que se impõe cada vez mais como uma necessidade para investigadores que hoje fazem História". E refere a docente que ensina a única cadeira de História Oral do país no ISCTE: Luísa Tiago de Oliveira. É desta investigadora que eu retiro o seguinte texto intitulado A história oral em Portugal:

"a produção de conhecimento a partir de informações orais recolhidas em contextos de menor ou maior informalidade, de simples conversas a entrevistas gravadas, está presente mesmo naqueles estudiosos que não as citam ou quase não o fazem. Obviamente que os investigadores não se podiam desfazer de testemunhos que tivessem obtido. Porém, ao não os invocar ou fazendo-o pouco, nomeadamente no corpo do texto, dispensam a sua discussão e mesmo a consciencialização da importância do testemunho oral como meio de aproximação ao objecto de estudo. Ora esta postura não contribui para aquilo que Michael Pollak (1987) chama a “vigilância epistemológica”. Os anos 90 constituem um marco na emergência da história oral em Portugal. Todavia, anteriormente, já circulavam no país teses de autores como, por exemplo, Nancy Bermeo, Charles Downs ou Sánchez Cervelló, defendidas em contextos académicos estrangeiros, sobre a conjuntura revolucionária portuguesa, nomeadamente sobre as movimentações sociais e a transição política, teses estas que utilizavam e citavam fontes orais (Bermeo, 1986; Downs, 1989; Sánchez Cervelló, 1993). O seu contributo para a legitimação do testemunho oral deve ser realçado nessa década de 1980 em que, em Portugal, na historiografia, o Estado Novo apenas se começava a afirmar como objecto de estudo e o 25 de Abril ainda estava omisso. Houve “história oral sobre Portugal” antes de haver “história oral em Portugal”. Tal como a produção sobre a conjuntura revolucionária portuguesa, a história oral veio de fora e foi cultivada por quem aí estava institucionalmente enquadrado embora trabalhando sobre o terreno português".

O I Encontro HOPER - História Oral Portuguesa em Rede, realizado de 13 a 15 de Dezembro de 2012, visou "divulgar projectos relacionados com a história oral e discutir formas de consolidação da rede no âmbito nacional e internacional. Considerando que em Portugal, no panorama actual, o recurso à história oral/ testemunhos/ depoimentos/ entrevistas coloca um conjunto de questões e/ou dúvidas que abrangem tanto a fase de realização como também a conservação e divulgação, estamos a organizar uma rede que permita estabelecer contactos entre investigadores e outros interessados nas suas diferentes fases. Deseja-se que a História Oral Portuguesa Em Rede (HOPER) esteja aberta a todos os que estão envolvidos em projectos relacionados com recolha, utilização e arquivo de fontes orais" (http://calenda.org/232986).

Retiro de https://www.facebook.com/pages/Oral-history/113599445316745# a seguinte definição:

“A História Oral é o trabalho de pesquisa que faz uso de fontes orais, coletadas por meio de entrevistas gravadas, em diferentes modalidades. Ela passa a ser utilizada a partir dos anos 50 com a invenção e difusão do gravador a fita na Europa, América do Norte e América Central por historiadores, antropólogos, cientistas políticos, sociólogos, pedagogos, teóricos da literatura, psicólogos e outros profissionais que adquirem relatos orais como fontes para a compreensão do passado, ao lado de outros documentos, como fotografias e documentos escritos. O uso da história oral pode ser compreendido como uma metodologia, uma técnica e uma disciplina. [...]O trabalho da história oral no país consiste na gravação de entrevistas e na edição de depoimentos, tendo ou não aprofundamento teórico-metodológico. Também é comum o uso de entrevistas, associadas a fontes escritas, como aquisição de informações para a elaboração de teses e trabalhos de pesquisa, sem qualquer discussão sobre a natureza das fontes e seus problemas”.

A última vez que eu escrevi sobre a matéria foi aqui, em 17 de Maio de 2013. Nessa altura, eu referia o trabalho do antropólogo brasileiro Celso Castro. Um dia destes, porque a matéria me interessa, espero voltar a escrever sobre ela.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Irlandeses no Porto

W. [William] B. [Butler] Yeats (1865-1939), com Terra do Desejo, e Samuel Beckett (1906-1989), em À Espera de Godot, coincidiram no Porto, aquele no Mosteiro de São Bento da Vitória, com a companhia Comédias do Minho ASSéDIO, e este no Teatro Nacional de São João.

Yeats, muito traduzido mas nunca representado profissionalmente no nosso país, começou por ser mostrado nos concelhos de Monção, Melgaço, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira em 2013, visto por 1080 espectadores, em ambientes festivos de pequenas comunidades em salões de colectividades, descendo agora até ao Porto. Antes ainda da representação de Terra do Desejo, os actores recebem os espectadores e aconselham-lhes os melhores lugares e oferecem pão durante a representação.

A tradutora e responsável pela dramaturgia, Constança Carvalho Homem, depois da referência à questão da tradução, distingue duas partes na peça: primeiro, a ética do trabalho, da poupança e do respeito por hábitos antigos, apresentado em especial por Bridget Bruin (Rosa Quiroga), um papel de mulher do campo, já velha e que não acredita em fantasias. Em segundo lugar, essa ética conduz quase inevitavelmente a ideais, a crenças pagãs em individualidades leves e de sonho. O que se rejeita nas fantasias da mulher recém-casada Mary Bruin (Mónica Tavares) - da libertação fatal da vida do campo, constituído por somente trabalho, através da leitura de um livro que a leva para um mundo irreal de fadas - chega ao casal Maurteen (Valdemar Santos) e Bridget Bruin sob a forma de filha ou neta desejada, a quem se perdoam todas as extravagâncias ou simples desejos. A acumulação primitiva de uma vida de trabalho (cem hectares de terra, diz Maurteen) possibilita dar espaço a esse sonho da extravagância.

Mas a recém-chegada é afinal a fada que quer levar Mary consigo, quando Shawn Bruin (Luís Filipe Silva) constata a verdade: a morte da sua jovem mulher, que ele não compreendeu na totalidade e chora por isso. A outra figura, a do padre Hart (Rui Mendonça), revela a incapacidade de resolver as questões da fé quando a presença pagã é forte.

Uma sala pequena, bem aquecida e com espectadores atentos, numa noite de muita chuva. Gostei muito da personagem representada por Valdemar Santos. A música de Vasco Ferreira remeteu-nos bem para esse universo de fadas e de paganismo.

Enquanto Terra do Desejo nos remete para o mundo rural, antigo e adepto de costumes conservadores, À Espera de Godot fala-nos de um mundo de vagabundos ou palhaços ou sem beira nem eira, os afastados do mundo, que esperam por nada, que esgotam os seus dias em conversas, em velhas cumplicidades, mas não se afastam dessa decadência ou dessa dificuldade de voltar a um tempo de alegria ou de festa. Gogo e Didi vivem juntos há muito, acham que podem separar-se, mas sabem que precisam um do outro, da clarividência momentânea de um ou da ingenuidade de outro, sempre em défice com a memória. No sítio onde esperam Godot, uma personagem imaginária, que o rapazinho que aparece da sala faz uma efémera ligação, nada acontece. Isto é, entre as horas de tédio, onde conversam sobre tudo e sobre nada, passam Pozzo e o seu escravo Lucky, que alimentam a conversa dos dois vagabundos devido à extravagância ou violência que existe naquele par que atravessa o local. Saídos de cena, os dois voltam a falar sobre nada. Há um permanente vazio, uma mágoa enorme, que o tempo - que parece não existir - aparece marcado no cenário, com a areia caindo para o chão, como se fosse uma clépsidra do tempo.

De repente, olhamos para a vida, para a nossa vida e das outras pessoas, e sentimos este vazio, esta perda de energias, a falha de ambições ou de projectos. Esperar - eis a cartilha seguida por muita gente. Pessoas que vêem a televisão todos os dias e se deslumbram com as cores e os movimentos dos espectáculos que o ecrã mostra, seja a telenovela, o futebol ou o concurso. O texto de José A. (Augusto) Bragança de Miranda leva-nos para um universo mais intelectual e sociológico, para o pathos de 1900 e, depois, para a II Guerra Mundial e para a hecatombe (holocausto) sobre os judeus.

A sala estava cheia, o que é sempre uma alegria para quem vai ao teatro. A noite era igualmente era de intensa chuva. A Irlanda verde e chuvosa cruzava-se, assim, em duas salas de teatro do Porto. Mas, infelizmente, as peças não eram representadas por companhias do Porto. Uma ia do Alto Minho e a outra de Lisboa. Num outro teatro, o de Sá da Bandeira, outra companhia de Lisboa representava Isto é que me Dói.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Obrigado!

Exciting news! My content is among the TOP 1% of most viewed on SlideShare in 2013.


A SlideShare agradece-me e eu agradeço à SlideShare e a quem lê o que eu escrevo. Os meus leitores procedem maioritariamente de Portugal, Brasil e Estados Unidos. A SlideShare presta-me outras informações, que eu entendo como recomendações: a minha média de slides por apresentação é de 10,4 quando a média da Slideshare é de 14,4 e o número médio de palavras por slide é de 142,3 quando a média da SlideShare é de 10. No meu topo, está um texto que eu publiquei em 1989, sobre telecomunicações, e que já foi visto 304K +3K vezes e descarregado não sei quantas vezes. Bom proveito!

Alguns dados curiosos do relatório geral da SlideShare de 2013: 1) palavras mais procuradas - marketing, social media, facebook; 2) uso crescente do telemóvel e aparelhos móveis - 9,1 - face a computadores de secretária - 8,1; 3) países com mais utilizadores - México, Brasil e Estados Unidos, 4) características - mais imagens, com maior dimensão, mais infografias, menos palavras por slide, menos slides por apresentação (de 21,1 em 2008 para 14,4 em 2013). Estes dados, certamente, representam novas tendências.

Queda nas idas ao cinema

As idas ao cinema em 2013 em Portugal atingiram 12,5 milhões de espectadores, uma nova quebra nesse consumo. Olhando para a série de estatísticas do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), em 2003 houve 18,7 milhões de espectadores de cinema nas salas de circuito comercial. Em 2012, desceria para 13,8 milhões de entradas e agora nova quebra. 2013 é o número mais baixo da última década (a partir de notícia do Público online).

Quais as razões? Menos qualidade de filmes? Preços mais elevados nos bilhetes aliados a um menor poder de compra? Transferência para os filmes da Zon e do cinema em casa em geral?

Arte e Poder

Recentemente, foi publicado o número 15 da revista Comunicação & Cultura, dedicado ao tema "Arte e Poder". Como ainda não tive tempo de ler a edição, fico-me pelo editorial, assinado por Jorge Vaz de Carvalho, o organizador do volume.

O articulista esclarece, logo de partida, que as artes, como práticas estéticas do pensamento humano, interagem com o dinamismo dos poderes individuais e institucionais (económicos, políticos e religiosos). Estes usaram as expressões artísticas como elemento da sua afirmação, mas reconheceram à arte, além da sua utilidade, um certo poder.

A revista é propriedade do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura. Jorge Vaz de Carvalho é docente da Universidade Católica Portuguesa, cantor lírico, autor (nomeadamente sobre Jorge Sena) e tradutor (assinou muito recentemente a tradução de Ulisses, de James Joyce, depois de ter traduzido Umberto Eco).

CAM e cultura portuguesa da década de 1980

Evento evocativo dos 30 anos do CAM | 18 Janeiro 2014 [Sábado] O colóquio visa revisitar a década de 1980, tendo como ponto de partida o ano de abertura do CAM. O ano de 1983 representou um momento rico e paradoxal na cultura portuguesa. Nele realizou-se a nostálgica "XVII Exposição de Arte, Ciência e Cultura do Conselho da Europa", enquanto na Sociedade Nacional de Belas-Artes, um grupo de criadores, liderados por Luis Serpa, lançava a irreverente exposição "Depois do Modernismo", no mesmo período em que a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) inaugurava um novo Centro de Arte Moderna (CAM). Vivia-se então um verdadeiro "curto-circuito” entre uma modernização tardia e uma aculturação pós-moderna, típica do Portugal pós-revolucionário. Se a esse paradoxo se juntar a notável acção de Madalena Azeredo Perdigão nos Encontros ACARTE, as grandes exposições como a "Diálogos", as apresentações do Living Theatre no Auditório e a experimentação feita dentro do CAM e nos jardins da FCG percebe-se a sua grande importância nesse Portugal, simultaneamente moderno e pós-moderno [adaptação do texto da organização].


domingo, 12 de janeiro de 2014

Tendências de consumo

No jornal em papel de hoje do Público, há um texto sobre novas tendências de lojas de centros comerciais que, em vez de contratos de fidelização de seis anos, alugam espaços por seis meses. Isso significa que há lojistas e marcas que chegam aos centros comerciais que antes não tinham possibilidades financeiras de aceder às grandes superfícies. A tendência de aluguer temporário, lê-se no artigo, não é nova e está associada às lojas pop up, usadas por marcas reconhecidas para surpreender o cliente e testar novos produtos. A tendência começou nos Estados Unidos há cerca de dez anos. Para um especialista citado, aproveitam-se instalações sem um grande investimento para actividades promocionais específicas. Uma loja num centro comercial tem um tráfego que pode chegar a 700 milhões de visitas por ano e o preço por metro quadrado das lojas de novas tendências a metade do valor das lojas convencionais.

Marques Vidal em Photoshop

Rolo Duarte, pai do jornalista Pedro Rolo Duarte, ficou encantado com a casa de José Marques Vidal – os quadros originais e a coleção de libras de ouro – e o Cadillac de luxo que o trouxe de volta do repasto, conduzido por um dos motoristas do homem da rádio (Flama, 27 de Março de 1953). Marques Vidal era conhecido pelos seus carros desportivos, pelas louras espampantes que lhe faziam companhia habitual, pelo seu bigode que parece ter sido retocado pelo Photoshop – como me observava um colega – e pela sua programação radiofónica. E ainda por ter sido agente artístico de Simone de Oliveira, que muita celeuma provocou e que a biografia da cantora de 2013 refere sem identificar o nome – e que hei-de escrever aqui.

Funcionário num escritório da baixa de Lisboa (antes de se dedicar em exclusivo à rádio), Marques Vidal era em 1953 locutor do programa radiopublicitário O Comboio das Seis e Meia e tinha um programa semanal de uma hora, repartido por rubricas de 15 minutos: Do Céu Caiu uma Estrela, Figurino Musical, Entrevista da Semana e O Artista da Semana. Imagino que com muita publicidade à mistura, o que tornaria quase insuportável sintonizar a estação.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Maria Amélia Canossa, princesa da rádio em 1951

Em 1951, a revista Flama iniciava o seu concurso de rainhas da rádio. Nesse ano, ganhou Júlia Barroso. A cantora do Porto mais votada foi Maria Amélia Canossa. Correia de Brito escreveu sobre ela (Flama, 6 de Julho de 1951). Correia de Brito fora hoquista internacional do Académico e dirigia o Portuense Rádio Clube (fechado em 1954) e redator de O Comércio do Porto.


As bibliotecas

"Sobre Borges escreveu-se que a «erudição é uma forma moderna do fantástico» ou seja é uma forma de criação mesmo que não use, nem mereça esse nome. Por isso as bibliotecas, mesmo mortas, como são na maior parte todas as grandes bibliotecas, são uma construção humana ímpar (José Pacheco Pereira, "Um Mar de Papel", Público de hoje).

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

III Conference on Communication and Sports


Call for Papers
24 February 2014
Faculdade de Letras – University of Coimbra, Portugal

Sports and media is a very important research field in the Portuguese Group for Communication, Journalism and Public Space, working at the research institute of CEIS20 from University of Coimbra, in Portugal. In 24 February 2014 it’ll be organize the III Conference on Communication and Sports at the Faculdade de Letras of the University of Coimbra, in Portugal. The main subject will be «Football and Media».

Football becomes one of the most important subjects during the contemporary period. The goal of this conference is promote research about the relation(s) between football and media, in its different perspectives and dimensions, precisely in the year (2014) when Portugal commemorates the 10th year of Euro 2004 and when Brazil organized the Football World Cup.

General themes

Main subjects for abstracts:

. Construction of the popular and media football personage (players/coaches/managers);

. The concept of football player in the media;

. Women’s visions in the media;

. Social myths as structural football narratives;

. Economic logistics as promoters of new heroes in football;

. Football and the social (anti)model;

. The footballer as esthetical and photographic model;

. Media narratives for football players, coaches, referees, managers;

. Press, radio and television focus;

. New media and football;

. Media and football mega-events.

Rules for abstracts

No more than 500 words. Please include three key words related to the paper, a brief curriculum vitae, academic affiliation and contact information (including email and telephone). Papers can be presented in Portuguese, Spanish and English.

Proposals should be submitted to: comunicacao.desporto@gmail.com.
 
Agenda

27 January 2014: Closing deadline for proposals

Profissões escondidas da televisão

O volume mais recente VIEW, Journal of European Television History and Culture, é dedicado às profissões escondidas da televisão. No editorial, Andy O’Dwyer destaca a necessidade de arquivar as profissões escondidas mesmo aquelas que já desapareceram. Há sempre traços que ficam ou, olhando as profissões de hoje, tenta-se reconstituir como seria a actividade televisiva décadas atrás. Este trabalho envolve questões organizacionais, administrativas e técnicas, muitas das vezes uma parte invisível na formação histórica e no desenvolvimento da televisão.

Além do editorial, o volume divide-se em duas partes (descobertas e explorações) [a imagem da capa digital é de Alexandra Palace, em 1950, na BBC, e mostra Eunice Gayson e Jeanette Tregarthan na maquilhagem]. As ligações para os textos estão nas linhas a seguir:

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Censura discográfica (1)

Este ano, comemoram-se quarenta anos de democracia em Portugal. Entre 1926 e 1974, o país viveu sob uma ditadura, em que não havia liberdade de expressão. Um dos pontos mais negros do regime político do Estado Novo era a censura às obras de arte, incluindo a música.

A minha forma de me associar às comemorações dos quarenta anos de liberdade é identificar aqui os discos ou músicas proíbidas de tocar na Emissora Nacional, de Janeiro a Abril de 1974. Assim, ao longos dos dias ou das semanas até ao final de Abril, assinalarei quais as obras proibídas [próxima edição a 23 de Janeiro].

9.1.1974: Retirado ou inconveniente o disco ou faixa de Estúrdia dos Camponeses de Godinhaços, "A vida é assim mesmo".

 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Caricaturistas em 1966

Tenho andado à procura do nome de um caricaturista que trabalhou na Flama durante a década de 1950 e começos da década seguinte. Não encontrei pistas até aparecerem estes dois textos na revista em números seguidos (12 de Agosto e 9 de Setembro de 1966), assinados por Aniceto Carmona, um dos "novíssimos" artistas. Nestes aparecem duas gerações de caricaturistas ou desenhadores humoristas, a mais antiga e a mais nova. Todos aparecem nas fotografias de caneta sobre a prancheta assente numa mesa de trabalho, muitos ainda vestindo gravata e atentos ao seu trabalho. Figuras do tempo, personagens inventadas pelos caricaturistas e cenas de acontecimentos são os três tópicos que elenco a partir dos trabalhos expostos. Fico informado de condições de trabalho, remunerações e jornais ou revistas por onde se estende a actividade destes criativos. Por vezes, este trabalho é de tempos livres pois os artistas têm profissões distintas.

Mas continuo sem conhecer o nome do colaborador da publicação, pelo que tenho de investigar mais [subsídio para um melhor conhecimento da revista Flama: http://www.clubedejornalistas.pt/uploads/jj31/jj31_54.pdf].

 

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Como se fazia um disco em 1965

"Possuir uma discoteca é desejo de muitos", lia-se na revista Flama, de 4 de Junho de 1965. Ir a uma loja, ouvir e comprar um disco começava a ser uma rotina. Nessa altura, a revista publicitava carreiras e discos dos Beatles, de Rita Pavone e do Conjunto Académico João Paulo e escrevia sobre o ié-ié.

Daí o interesse em explicar como se fazia um disco. A revista não diz qual a empresa discográfica mas ela podia ser a Valentim de Carvalho, a Rádio Triunfo ou a Arnaldo Trindade. As multinacionais começavam também a instalar fábricas de produção de discos, como a Philips. Após a gravação das canções do artista em fita magnética, desta retiravam-se os sons para um disco de acetato. Depois, numa operação de galvanoplastia, com uma camada metálica, nascia o disco pai ou matriz. A seguir, ao disco abria-se um furo ao centro e aparava-se e polia-se a superfície. Cada matriz tinha, em média, capacidade para fornecer a cópia e prensar um milhar de provas (os discos). Água a 160 º, água fria e massa de resina com cloreto de vinil eram elementos da confecção do disco, a que se juntavam as etiquetas (nome do artista, título da canção - se fosse um disco de 45 rotações por minuto). No processo, cada disco demorava cerca de 15 segundos a ser produzido. A etapa seguinte da cadeia de valor desta indústria cultural era a colocação do disco na loja e a promoção nos programas de rádio.

O texto usa duas vezes a palavra electrónico, mas todo o processo me parece apenas mecânico e químico, ainda bem distante da produção electrónica como hoje concebemos. Na produção de um exemplar quantos empregados e competências eram usadas? E como se ouvia o disco?




sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Um novo jornal digital em perspectiva

Segundo li no Expresso online, prepara-se o lançamento no final do semestre da edição de um jornal diário digital com o nome de Observador, dirigido pelo jornalista David Dinis, até agora editor de política do semanário Sol. Por detrás do projecto, está um conjunto de investidores, casos de António Carrapatoso, Alexandre Relvas, João Talone, António Pinto Leite, Filipe de Botton e Luís Amaral. Na mesma notícia, adianta-se o envolvimento do antigo director do Público, José Manuel Fernandes, como publisher, do historiador Rui Ramos como coordenador do Conselho Editorial e de Diogo Queiroz de Andrade como director criativo.

Recordo outra publicação com o nome de Observador, revista semanal editada entre 1970 e 1974 e dirigida por Artur Anselmo. Nessa altura, a publicação estava identificada com Marcelo Caetano. E, agora, qual a identificação política?

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Queda nas vendas de jornais

Entre janeiro e outubro de 2013, as vendas dos principais títulos da imprensa generalista continuaram a baixar (Expresso, de onde retiro a informação e segundo dados da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação). O Correio da Manhã tem uma venda média de 115 mil de exemplares por edição, seguindo-se o Expresso, com 94 mil. Depois, vêm o  Jornal de Notícias, com uma média de vendas de 66 mil exemplares, o Público com uma média de 28 mil jornais diários, o Diário de Notícias com uma média diária de 21 mil jornais por edição e  i com 5 mil jornais por dia.

Obitel

For free download, the last two books OBITEL BRAZIL, Network of Researchers in Television Fiction, are available: Estratégias de Transmidiação na Ficção Televisiva Brasileira (Transmedia Strategies in Brazilian Television Fiction) (Ed. Sulina / GU, 2013) and Ficção Televisiva Trasmidiática no Brasil (Transmedia Television Fiction in Brazil) (Ed. Sulina / GU, 2011). See more at: http://obitelbrasil.blogspot.com.br/2013/12/download-de-livros.html.

História do Rádio Clube Português (compactada)

Em 2012, fiz uma recolha da história do Rádio Clube Português, até perto da II Guerra Mundial, através dos textos publicados na revista Antena (1965-1968). Quando escrevi As Vozes da Rádio, 1924-1939 (2005), não tinha conhecimento desta revista. A sua leitura facilitaria a compreensão da história dos primeiros anos daquela estação da família de Botelho Moniz.

Agora, juntei todos esses fragmentos e acrescentei mais algumas histórias da rádio portuguesa.



Atualização feita a 27 de julho de 2016: a explosão que abalou Rádio Clube Português em 20 de janeiro de 1937 foi executada pelo grupo anarquista de Emídio Santana, como ele contaria em livros seus (Emídio Santana, 1976, História de um Atentado. Mem Martins: Publicações Forum, p. 25; Emídio Santana, s/d, Memórias de um Militante Anarco-Sindicalista, p. 253). O dia foi pródigo em explosões: consulado de Espanha, fábricas militares de Barcarena e Chelas, Vacuum Oil (depois Mobil). A oposição ao apoio a Franco na guerra civil espanhola fora a causa do movimento de Santana.