sábado, 31 de maio de 2014

Ficção histórica televisiva

A História na Ficção Televisiva Portuguesa é um livro coordenado por Catarina Duff Burnay agora publicado e com capítulos assinados pela responsável da obra e por José Miguel Sardica, Eduardo Cintra Torres, Rogério Santos, Carlos Capucho e Pedro Lopes, todos docentes da Universidade Católica Portuguesa.

Como aborda a introdução, assinada por Catarina Duff Burnay e José Miguel Sardica, "a ficção televisiva sempre se constituiu como um produto âncora na definição das grelhas de programação. Histórias inspiradas na realidade e na memória são produzidas pelos canais públicos e privados de maneira continuada, arrastando audiências de forma transversal" (p. 13).

Os autores dos capítulos debruçaram-se cada um sobre uma série ou telefilme de ficção histórica. Assim, Eduardo Cintra Torres escreve sobre A Raia dos Medos (RTP1, 2000), Rogério Santos sobre A Vida Privada de Salazar (SIC, 2009), Carlos Capucho sobre Até Amanhã Camaradas (SIC, 2005) e Pedro Lopes sobre Conta-me Como Foi (RTP, 2007-2011). Um dos capítulos fundamentais deste novo livro é intitulado Os Temas da Ficção Histórica Audiovisual em Portugal (1909-2013), assinado por Catarina Duff Burnay e Eduardo Cintra Torres. Aqui, os dois autores escrevem: "pretendemos comparar a produção da memória histórica ficcional no audiovisual desde 1909, procurando continuidades e contrastes nos temas trabalhados pelo meio de massas audiovisual dominante em cada período" (p. 29), incluindo cinema, teleteatro e ficção dramática televisiva nos canais generalistas.

O trabalho agora publicado, que resulta de uma investigação desenvolvida nos últimos anos e com apresentação em congressos nacionais e internacionais, será lançado no próximo sábado, dia 7, pelas 17:00, no pavilhão da Universidade Católica Editora, na feira do livro de Lisboa.

Catarina Duff Burnay é responsável da licenciatura de Comunicação Social e Cultural da Universidade Católica Portuguesa, dirigente da Faculdade de Ciências Humanas daquela universidade e coordenadora da equipa portuguesa do Observatório Iberoamericano da Ficção Televisiva (OBITEL). O outro membro que assina a introdução, José Miguel Sardica, é o director da mesma Faculdade de Ciências Humanas.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

A rádio em Arnheim

Rudolf Arnheim publicou o livro  Radio no mesmo ano em que Walter Benjamin divulgou o texto A Obra de Arte na Era da Reprodutibilidade Técnica - 1936. Ambos judeus, ambos malditos. Arnheim preparara o livro desde finais da década de 1920, interessado na emergência dos novos media (rádio, primeiro, televisão, depois). O gramofone, o telefone, o cinema sonoro e a expansão da imprensa corriam a par da reprodução (fotografia e cinema, tecnologias e meios de expressão trabalhados por Benjamin, que escrevia sobre a perda da aura ou do sentido único da obra pela reprodução que alargava o conhecimento e tornava democrático o acesso às obras). O magnetofone (o gravador de som) estava também a aparecer. Foi igualmente um tempo muito duro, com as ditaduras e o fascismo e o nazismo, que conduziram a um grande desastre na Europa.

Arnheim (1904-2007) começara a sua actividade profissional como jornalista e cronista em jornais e revistas, caso do jornal satírico Stachelschwein e de Weltbühne, este um meio ligado à esquerda política e interdito logo em 1933. Arnheim estudara história da arte e escreveu uma tese sobre psicologia da arte dentro da perspectiva da Gestalt. Aliás, a área mais conhecida dele foi essa. Lembro o livro Arte e Percepção Visual, texto que me deu muito trabalho a ler e trabalhar há mais de vinte anos. Em 1932, Arnheim escrevia O Filme Enquanto Arte, onde abordou a imagem fílmica. Os seus trabalhos sobre a rádio seguiram muito o raciocínio teórico aplicado ao cinema. No ano seguinte, devido à ascensão de Hitler ao poder, ele abandonou a Alemanha e instalou-se em Roma, onde o editor Ulrico Hoepli lhe encomendou uma enciclopédia do cinema, tarefa não completada devido às leis raciais de Mussolini. Mas foi em Itália que Arnheim escreveu em inglês Radio (1936), com a tradução italiana em 1937 (La Radio Cerca la sua Forma) e alemã apenas em 1979. Arnheim, após uma passagem pela Inglaterra, foi viver e trabalhar para os Estados Unidos, onde ensinou na Universidade no Exílio na New York School for Social Research e em universidades como Harvard e Michigan.

Direcção e distância, o ouvido e a sua imagem do mundo, a reverberação, o elogio da cegueira [a rádio não permite ver, ou o audível por supressão do visível], a arte de falar e a sonoplastia são alguns dos tópicos tratados nos capítulos do livro. Arnheim acreditava que a televisão mataria a rádio, do mesmo modo que o cinema mudo fora extinto pelo sonoro. Para ele, a televisão resultaria do casamento do cinema com a rádio, sendo esta a rainha do ouvido, da palavra, da literatura e da música (p. 269). Interessante a perspectiva, com Arnheim a falar em tubos de raios catódicos mesmo no começo da televisão (antes da II Guerra Mundial) - a televisão acabaria com a diferença do teatro, transmitiria filmes e peças de teatro, seria púlpito de conferências e cenário de concerto (p. 262).

A voz, a montagem radiofónica, a ideia de Hörspiel (peça para ouvir, peça radiofónica) que ultrapassava o teatro radiofónico e se assumia como todo o trabalho da rádio. Ainda não havia o registo magnético e algumas das imagens gráficas do livro dão conta de um tempo em que a emissão radiofónica ainda sentia problemas, caso dos ruídos, mas em que a divulgação universal se fazia. Um exemplo: o Papa transmitia a partir de Rádio Vaticano para todas as nunciaturas do mundo através de ondas curtas (p. 225). Arnheim também dava uma importância muito grande às estações públicas e ao modo como ela podia formar os gostos da população, num sentido pedagógico e popular. Aí, não andava muito longe de Brecht.

Leitura: Rudolf Arnheim (2005). Radio. Lot: Van Dieren Éditeur

domingo, 25 de maio de 2014

Ié-Ié - memórias musicais dos anos 60

Daniel Bacelar, Claves e Ekos tomaram ontem conta do palco da Associação Desportiva e Cultural da Encarnação e Olivais, apresentados por Teresa Lage. Foi um fantástico retorno à música da década de 1960. Tudo devido ao lançamento do livro de Luís Pinheiro de Almeida, Biografia do Ié-Ié, que aqui já retratei, e ontem apresentado por Nuno Galopim, jornalista e realizador de programas de rádio na Radar.

Daniel Bacelar foi o primeiro músico português a gravar um disco de rock, então com 17 anos, com Fui Louco por Ti e Nunca (lado A; o lado B pertenceu aos Conchas). Na apresentação do livro, Nuno Galopim falou de memórias da alvorada da música pop rock portuguesa, vinda de finais da década de 1950. Para ele, esta corrente de música nasceu em Coimbra, de uma banda que não chegou a gravar, os Babies, de que fazia parte José Cid. O critério de entrada no livro de Luís Pinheiro de Almeida seria o das bandas que editaram discos. O livro, que começara por ser uma biografia dos Sheiks, acabou por se alargar no tempo - antes e depois.

Nuno Galopim chamou ainda a atenção de como a ditadura se soube aproveitar do entusiasmo da "rapaziada" em tocar guitarra. Enquanto fazia isto, "não se metia na política", como então se dizia. E lembrou o momento mítico da organização do concurso de rock pop organizado pelo Movimento Nacional Feminino entre 1965 e 1966 no Teatro Monumental e apoiado pelos media controlados pelo Estado. Não havia uma agenda política nos músicos, consciencializados logo depois, como um disco do Quarteto 1111 iria revelar.



sábado, 24 de maio de 2014

A Lancheira (2013)

Filme realizado por Ritesh Batra, com Irrfan Khan, Nimrat Kaur e Nawazuddin Siddiqui, tem duas histórias, a primeira delas antropológica, a dos dabbawalas de Mumbai [मुंबई], capital do estado indiano de Maharashtra, comunidade de mais de cinco mil entregadores de dabbas (lancheiras ou marmitas). Os dabbas entregam nos escritórios as refeições vindas das cozinhas das donas de casa e restaurantes, devolvidas ao fim do dia às respectivas casas. A entrega envolve diversos meios de transporte e a entrega é feita por analfabetos que usam um sistema de código de cores e símbolos para as entregar.

A história do filme é a de Saajan (Irrfan Khan), contabilista viúvo, que começa a receber a marmita de Ila (Nimrat Kaur), jovem mulher desprezada que procura reconquistar o marido através de pratos saborosos. Ela descobriu imediatamente a troca das lancheiras mas, em vez de reparar de imediato o erro dizendo ao marido ou ao dabba, estabeleceu um diálogo com o receptor da alimentação através de mensagens em bilhetes no fundo da marmita. Assim, começa uma troca de confissões até à marcação de um encontro. Aí, embora sem dialogarem directamente, Saajan compreende estar muito velho para avançar com o contacto. No próximo bilhete, ele escreve não poder acabar com os sonhos da jovem mulher mas dá conta dessa diferença de idade e de perspectivas de futuro, o que significa um corte definitivo nessa relação através de mensagens.

No filme, há uma calma imensa, um olhar intenso sobre os sentimentos humanos, a percepção de vidas vazias, cuja rotina acaba por destruir os ideais. Vidas que decorrem entre casa e o emprego, aqui com tarefas repetitivas, onde cada um procura ocupar o lugar do outro, no transporte público como no emprego. O filme não conclui, deixa pistas ao espectador.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Encyclopédie de la Parole

"É um concerto vocal", dizia um espectador a alguém com que se cruzou à saída. Concerto de vozes, pensei.  Desde 2007, a Encyclopédie de la Parole, dirigida por Joris Lacoste, vem recolhendo registos e repertório de fenómenos particulares da palavra, tais como cadência, compressões, melodias, repetições, timbres, saturações.

No espetáculo integrado no Alkantara Festival, a Encyclopédie de la Parole apresentou, entre outros, textos das reuniões dos Occupy Wall Street (2011), de filmes como ET (Steven Spielberg, 1982) e Taxi Driver (Martin Scorcese, 1973), excerto do álbum Home Invasion dos Ice-T (1993), conversas da audiência antes de um espectáculo registada por Joris Lacoste (2013), conversa entre duas crianças de dois anos registada por Stacy Doris (2008), excerto de uma conversa telefónica registada por Joris Lacoste (2012), excerto de conversa de amigos num jantar registado por Frédéric Danos (2013), excerto de um discurso de Obama (2008). A Suite nº 1: ABC são quarenta registos. O título quer dizer primeiro passo da composição vocal humana, o b-a-bá, o bláblá, o bruá, o vocabulário de base, o prazer da tradução e das entoações que fazemos dos sons das línguas que não entendemos, a actividade que as crianças fazem enquanto aprendem a língua, nunca mais acabando a repetição e entoação de um som, palavra ou conjunto pequeno de palavras.

Ver mais em Encyclopédie de la Parole.

[obrigado a Bruno Malveira]

A cultura no jornalismo contemporâneo

Está a decorrer hoje na Universidade Nova de Lisboa a apresentação de resultados do projecto O Lugar da Cultura no Jornalismo Contemporâneo. Do comunicado de imprensa promovido pela organização do evento, retiro a seguinte informação:

"Menos jornalismo cultural e menos cultura na primeira página. A crise financeira que afectou a economia europeia e norte-americana em 2008 explica algumas das mudanças no jornalismo e na cultura: menos investimento público no financiamento das actividades culturais, menos suplementos culturais e menos públicos e leitores. Mas a maioria das transformações registadas no âmbito do projecto de investigação A Cultura na Primeira Página – um estudo dos jornais portugueses na primeira década do século XXI (PTDC/CCI-COM/122309/2010), já estava em curso desde 2004: uma abordagem jornalística da cultura centrada em acontecimentos, como os festivais de cinema e música, as estreias de filmes e os lançamentos de livros. Longe da atenção dos media ficam a maioria dos restantes campos artísticos, como o teatro, a dança ou as artes plásticas. A cultura também não propicia muitas estórias de primeira página, mesmo numa década atravessada por uma intensa conflitualidade social e política em torno dos sucessivos cortes no financiamento das estruturas artísticas e actividades culturais. As manchetes com temas de cultura baixaram em todos os jornais analisados e quase nenhuma versou assuntos ligados à política cultural. Alguns jornais, como o semanário Expresso e a revista Visão, deixaram de publicar temas culturais na primeira página. Outros, como o Diário de Notícias, desinvestiram na visibilidade deste campo na primeira página. A única excepção é o Público, que continua a fazer da informação cultural uma forte marca de identidade editorial".

[fotografia: Enrique Bustamante na sua comunicação; vídeo: Carla Baptista na apresentação de resultados]

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Biografia do ié-ié

Escrito por Luís Pinheiro de Almeida, saiu recentemente o livro Biografia do Ié-Ié. Trata-se de um dicionário de entradas (bandas, programas de rádio, empresários, concursos) de um período vibrante (1964-1967), revisitado por um grande especialista.

Das bandas ou grupos, como então se dizia, Luís Pinheiro de Almeida dá o destaque principal no livro. De entre eles, porque me impressionaram na época, recordo Conjunto Mistério/Quarteto 1111 (pp. 127-130), Quarteto 1111 (pp. 252-258) e censura aos seus trabalhos (pp. 254-255, 274), Sheiks (pp. 269-286), Quinteto Académico, Pop Five Music Incorporated. Foi esta última banda qu fez a música que servia de indicativo ao programa de rádio Página 1. Há também espaço para as versões (p. 129) - as canções de êxito internacional tinham tradução (adaptação) de letra para português e cantor(a) nacional.

Popologia, uma conferência sobre cultura pop (Março de 1968) é analisada pelo autor (pp. 245-246). Ele apresenta também três programas essenciais da rádio portuguesa daquele período: Em Órbita, 23.ª Hora e Página 1. Ouvir os discos na rádio era uma forma habitual (p. 240), pois na época eram elevados os preços dos discos e em especial dos gira-discos. Os discos, até aí gravados numa pista, passaram a sê-lo em quatro pistas (p. 241) e mais. Com os estúdios da Valentim de Carvalho, a possibilidade aumentava para 16 pistas (p. 260). Em 1973, surgia o primeiro disco a usar o sintetizador Moog (p. 257). O livro destaca um empresário, Arlindo Conde (p. 66), e um concurso de ié-ié no Monumental em 1965 (pp. 93-117).

Para Luís Pinheiro de Almeida, o serviço militar obrigatório em África foi a morte do movimento musical ié-ié. Por exemplo, os Sheiks, que poderiam ter uma vida artística internacional, acabaram com a ida de alguns elementos para esse serviço militar (p. 233).

O livro será apresentado no próximo sábado, dia 24 de Maio, pelas 17:00, no Cine-Teatro da Encarnação, Lisboa. Enciclopédia da Música Ligeira Portuguesa (1998), escrita em parceria com João Pinheiro de Almeida (obra esgotada) e Beatles em Portugal (2012, 2ª edição), escrito com Teresa Lage, são duas das mais importantes obras do autor.

Leitura: Luís Pinheiro de Almeida (2014). Biografia do Ié-Ié. Lisboa: Documenta, 327 páginas, 23 euros

terça-feira, 20 de maio de 2014

Radio Ad

Radio Ad ou Anúncio de Rádio é o spot que está a ser usado para promover as eleições europeias desta semana. Ouço-o na Antena 1 e na rádio londrina Jazz FM, onde estou agora ligado através da internet. É um spot construído como se estivéssemos na década de 1950, a lembrar os anúncios cantados de então.

A rádio em 1970

Na edição de 27 de Junho de 1970, a revista semanal Rádio & Televisão publicava um longo texto sobre a rádio e os programas nocturnos. A televisão (RTP) alargara o seu horário para a hora do almoço, a Emissora Nacional e a Rádio Renascença tinham grelhas de programação em onda média de 24 horas diárias. Os programas nocturnos atraíam novos públicos.

 

domingo, 18 de maio de 2014

Vítor Pi

Ontem foi a inauguração do Museu de Artes de Sintra, no edifício do antigo Casino, junto ao Centro Cultural Olga Cadaval, herdando o espólio e a actividade da Galeria Municipal, constituído por colecções permanentes (Dórita Castel-Branco e Emílio de Paula Campose temporárias. Aqui, relevo a exposição de Vítor Pi, sob o tema Breu, patente até 18 de Junho (na primeira imagem, o pintor está junto ao seu painel na entrada nobre do edifício). Vítor Pi, além de pintor, é dinamizador na área do teatro [página do Facebook: Vítor Pi de Bustelo da Lage].


sábado, 17 de maio de 2014

A vida do homem da rádio Nunes Forte

Nunes Forte. Retrato de um Homem de Rádio, Espectáculo e TV, de Luciano Reis, foi hoje apresentado na livraria Bulhosa (Campo Grande).

Na rádio, Nunes Forte começou na Rádio Ribatejo, do capitão Jaime Varela Santos, que nunca usaria o microfone em proveito próprio e com um enorme respeito pelos ouvintes (p. 7), a escola como lhe chamaria (p. 39). Mas o radialista também recordaria nomes como António Manuel Couto Viana (onde integrou a companhia Gerifalto) e Odete de Saint-Maurice (programas infantis da Emissora Nacional). Nunes Forte seria um dos elementos da equipa base de Saint-Maurice (p. 121) e a quem pediu conselhos para os nomes dos seus filhos (p. 123). A rádio veio depois do teatro e da figuração em programas de televisão. Na Rádio Ribatejo, conheceu Maria Helena Varela Santos, depois locutora da RTP, António Sala, Jaime Fernandes e José Manuel Lourenço, entre outros.

Em 1968, Nunes Forte ficaria integrado no programa 1-8-0, de Rádio Peninsular, programa produzido por Paulo de Medeiros e Aurélio Carlos Moreira (pp. 70-71). Nesta estação, já com o nome de Alfabeta (resultara da fusão da Peninsular com Rádio Voz de Lisboa) chegou a coordenador geral (p. 100). Depois, esteve no Clube Radiofónico de Lisboa. Um dos seus programas foi Tudo Pode Acontecer (p. 107). O título do programa foi ainda usado para textos que publicou na revista Plateia, a partir de 1973 (p. 113). Nesse mesmo ano, avançaria com escritório e estúdio próprio para produções radiofónicas na rua Mãe d'Água (p. 121).

O resto do livro, como pediu o biografado na sessão de lançamento, não pode ser divulgado, a não ser que cada leitor o leia e descubra muitas histórias da vida do radialista, homem de televisão e do espectáculo.


Leitura: Luciano Reis (2014). Nunes Forte. Retrato de um Homem de Rádio, Espectáculo e TV. Lisboa: Fonte da Palavra, 335 páginas, 20 euros

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Lançamento do livro de Luís Pinheiro de Almeida

Biografia do Ié Ié, dia 24 de Maio, no Cine Teatro da Encarnação. Já lido, conto fazer aqui a minha leitura do livro muito em breve.


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Lá Fhéile Pádraig


Eu deixara o New York Transit Museum e apanhara a linha A em direcção à rua 163, um longo percurso. Era o dia de Saint Patrick (em irlandês: Lá Fhéile Pádraig), 17 de Março. Muitos jovens vestiam roupa ou adereços de cor verde. Na estação de Fulton, entrou um bando alegre, quase para o estridente. No meio, Carlitos (ou Carlos) mantinha conversas com várias colegas, até que uma delas se sentou ao meu lado. Foi quando Carlitos me perguntou há quantos anos eu vivia na cidade. Expliquei-lhe a minha história, contei que Portugal ficava no extremo da Europa, julgando um menor conhecimento da geografia. Surpreendeu-me ao falar das línguas latinas. Mais: ao falar de jogadores de futebol da Colômbia a jogar em equipas portuguesas, como Jackson Martínez e James Rodriguez (este já fora do mercado nacional). Quando ele e os seus colegas efusivos saíram, cumprimentamos-nos como velhos conhecidos. Não sei o comportamento dele na sua escola secundária mas considerei que ele tinha conhecimentos sofisticados quanto a futebol. Importante? Coisas da globalização?




quarta-feira, 14 de maio de 2014

Noite de Guerra no Museu do Prado

Noite de Guerra no Museu do Prado foi uma homenagem do poeta Rafael Alberti aos milicianos da República que resistiram no cerco a Madrid e morreram na Guerra Civil de Espanha (1936-1939). O tema de Alberti seria o transporte dos quadros do museu para a cave para prevenir a sua destruição. Recordaria o próprio autor: "Num entardecer de Novembro de 1936 fui ao Museu do Prado. [...] Conservava dos quadros, das obras-primas da nossa pintura, uma lembrança como que de tanque soalheiro, de água funda à plena luz, de espelho". Depois, coloca-se a ele e mais a sua companheira, María Teresa Léon, a dirigir a operação e a levar os quadros para fora de Madrid para um destino seguro.

Fundadores da revista El Mono Azul, os dois estiveram envolvidos nessa operação. A Legião Condor, enviada por Hitler para estar ao serviço de Franco, teve como alvos a destruir o museu e outros tesouros culturais da Espanha. Goya, El Greco, Rafael, Ticiano, Tintoretto e outros seriam assim salvaguardados. A trama de Alberti levou-o a lembrar outro momento dramático da história de Espanha, a de 1808, que Goya retratou, a da luta contra o invasor francês.

Poeta galardoado com o prémio nacional de literatura em 1925, Alberti mostrou no teatro a importância da pintura daquele museu emblemático. E diversas figuras representadas seriam retiradas de quadros desse museu, como o fuzilado, o decapitado, o toureiro, o anão, o maneta, o amolador, Adónis, Maja, Marte e Vénus. Numa estrutura de palco simples, com sacos à frente a fazer de defesa perante o agressor, os actores recuperam as histórias dos quadros e ligam-nas à resistência da cultura num momento dramático.

Depois de ver a peça, Brecht quis representá-la no Berliner Ensemble em 1956. Aconselhou uma introdução para contextualizar a acção da peça. Mas morreu antes de atingir esse objectivo, embora Noite de Guerra no Museu do Prado passasse doravante a incorporar esse prólogo. Mais tarde, Mário Barradas, enquanto frequentava a École Supérieure du Théâtre National de Strasbourg (1969-1972), participou num programa que incluía a peça de Alberti. Numa oficina em Portugal trabalhou a mesma peça. Um dos alunos era José Peixoto. Após a mudança de regime político em Portugal, Mário Barradas apresentou a peça nos Bonecreiros (1974). José Peixoto foi um dos actores. Agora, o mesmo José Peixoto faz dois papéis na peça e recorda o seu mestre Barradas.

O canto, a dança, a poesia, as máscaras, a luz e o vestuário tornam a peça num grande momento estético para recordar.

terça-feira, 13 de maio de 2014

As fontes de informação em tese de doutoramento

Ontem, na Universidade do Minho, Vasco Ribeiro (à esquerda, de pé, na primeira fotografia; o quarto a contar da esquerda na segunda fotografia) defendeu tese de doutoramento com o título O Spin Doctoring em Portugal: Estudo Sobre as Fontes Profissionais de Informação que Operam na Assembleia da República (fotografias de Luís António Santos).

 

Do que então disse, deixo aqui um resumo. O trabalho apresentado tem muita qualidade, está bem escrito e traz novidades para a investigação – que é o que se pretende num trabalho académico. Tem cinco capítulos, com informação muito útil e alargada no tempo, cobrindo as realidades americana e inglesa e, sempre que possível, portuguesa. Aprendi muito com os capítulos 2, 3 e 4. Constatei a quase inexistência de bibliografia sobre a realidade nacional em termos de assessoria de imprensa. Por outro lado, a leitura da tese levou a rever a minha posição que tinha quanto a um livro português, o de Joaquim Martins Lampreia. Alguns conceitos como interacção e negociação fazem já parte do património intelectual da área da sociologia do jornalismo.

Encontrei a tese da tese entre as páginas 268 e 294, quando traça a matriz de comportamento do spin doctor. Tem quatro pontos principais (grandes objectivos, pré-condições, principais tarefas do processo de spinning, principais técnicas e instrumentos). Às vezes, dá exemplos concretos, práticos, da aplicação dos conceitos, como faz no resto da obra, embora isso diminua a escrita conceptual. A meu ver, alguns tópicos, caso das fugas-plantadas, merecem mais análises. Sobre a metodologia, quando discute a dimensão da amostra (20 entrevistas), ela parece-me de boa dimensão. Pode dizer que há uma dúvida inicial, mas se entrevistou o universo não pode entrevistar mais ninguém. Melhor: obteve as respostas pretendidas. E, logo no começo da tese, refere as limitações da história oral. Sim, há limitações mas ela resolve alguns problemas, em especial quando não há outro tipo de documentos.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

José Saramago (1)

Vítor Norte faz o papel de chefe de redacção e Sofia Sá da Bandeira de secretária da redacção, em A Noite, peça escrita por José Saramago. A acção passa-se na noite de 24 de Abril de 1974, horas antes da mudança de regime político em Portugal.

O palco reproduz uma sala de redacção. Ao centro, atrás da secretária de redacção, o responsável executivo do jornal corrige provas, fala com o censor, repreende o jornalista da oposição (Paulo Pires), controla os ímpetos do jornalista da direita política (Samuel Alves), com vontade explícita de ocupar o seu lugar. O director (António Durães), no canto direito do palco, é favorável ao regime mas quer mudar alguma coisa, não se sabe bem o quê. É um director à antiga, que escreve de forma elíptica, como se o leitor entendesse aquela prosa gongórica. A secção de desporto é a mais activa - Benfica para aqui, Benfica para ali. O contínuo (Filipe Crawford), de canadianas, espera uma revolução. Não política, mas clubística, pois quer que regressem as vitórias ao seu clube. O jornalista da secção (Fábio Alves) está entre o poder e a contestação e protege a estagiária. Além do jornalista contestatário, há ainda uma estagiária (Joana Santos) e um chefe da tipografia (Pedro Lima) radicais e que estão a desequilibrar a imagem de jornal conservador.

O jornal estava pronto a sair mas o boato da existência de tropas na rua abanou convicções, fez regressar à redacção o director, mostrou o chefe de redacção prisioneiro entre o que pensava a secretária e o seu colega mais à direita política e o resto da redacção e tipografia. Saía a edição com uma notícia sobre a marcha militar ou não se editava, à espera de uma maior clarificação do que estava a acontecer?

Saramago, depois de ter feito jornais, escreveu sobre eles. A Noite foi a sua primeira obra dramática, inicialmente encenada em Maio de 1979 pelo Grupo de Teatro de Campolide com encenação de Joaquim Benite e direcção musical de Carlos Paredes.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

New York Transit Museum

Na baixa de Brooklin, perto da ponte com o mesmo nome, alberga composições do metro inicial de Nova Iorque. É um local para refazer a história dos transportes da cidade.


Lembrar um magazine de comunicação empresarial

De vez em quando, há memórias que se recuperam. É o caso de um magazine de comunicação empresarial, aqui na sua edição de Setembro de 1992, onde colaborei intensamente. A empresa TLP (Telefones de Lisboa e Porto) desapareceria em Junho de 1994, há 20 anos, para, com outras duas empresas, dar origem à actual PT. Na página 4 do magazine vinha a minha biografia e, na página 11, um texto sobre o telefone Bramão. Então, eu editara um livro sobre as telecomunicações portuguesas (que se pode ler a meio da coluna da direita do blogue).

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Falar, ver e fazer fotografia

22 de Maio, às 19:30. Centro de Arte Manuel de Brito, Palácio Anjos, em Algés. Nesta primeira sessão de um novo ciclo dedicado à fotografia, o fotógrafo Alexandre Almeida apresenta o seu trabalho e conversa com o público. Entrada livre.


Alexandre Almeida nasceu em Lisboa em 1969, tendo logo passado a viver em Algés. Estudou fotografia na Academia de Artes & Tecnologias e pós-produção de vídeo na Restart. De 1994 a 2004 trabalhou no Independente, onde editou os suplementos de cultura e lazer. Em 2001 foi convidado pela Câmara Municipal de Oeiras a realizar um trabalho documental sobre o fim dos bairros degradados no concelho, do que resultou um livro – De Partida. Tem publicado em jornais e revistas nacionais e estrangeiras, como L’Express, Libération, The Guardian, Courrier Internacional, Grande Reportagem, Up, Visão, Única e Pública. Paralelamente foi desenvolvendo actividade na área da formação, tendo sido coordenador e formador em duas masterclasses, para o Festival Entre Margens, e tem, igualmente, colaborado com o Instituto Português de Fotografia. Tem exposto em mostras individuais e colectivas, nomeadamente fazendo parte de diversos projectos da Kameraphoto, da qual é membro fundador. Destes destacam-se “State of Affairs” e “Um Diário da República”. E integra o grupo de fotógrafos representados pela Dear Sir - Agência de Fotografia de Autor. Já plantou uma árvore, editou um livro e tem duas filhas. Ver em www.kameraphoto.com e www.dearsir-agency.com.

Alkantara Festival

O Alkantara Festival 2014 decorre entre 13 de Maio e 8 de Junho em várias salas de espectáculo de Lisboa. O assessor de imprensa do festival, Bruno Malveira, destacou alguns pontos do programa, tais como Anne Teresa De Keermaeker e outros bailarinos, Encyclopédie de la Parole Joris Lacoste e Germinal de Halory Goerger & Antoine Defoort.

 

terça-feira, 6 de maio de 2014

O imitador

Hoje, li a imprensa do começo da década de 1970. De repente, fiquei surpreendido. Já esquecera. Não se diziam as coisas mas percebia-se que o regime político estava com muitas dificuldades. A artista Io Apolloni a fazer streap-tease numa peça de teatro (a actriz diria que apenas tirara o casaco que cobria o seu corpo e as fotografias comprovam isso, apesar da crítica criticar essa postura), a cantora Suzy Paula a falar das suas mini-saias e dos seus maxi-casacos, o programa de televisão de João Martins Ensaio suspenso antes de começar, o intérprete Tony de Matos a criticar os baladeiros que "chegam aos palcos ou às câmaras e dizem que a música é deles, que a letra é deles, que a guitarra é deles [...] só as canções é que continuam a não prestar" (Rádio & Televisão, 7 de Março de 1970). Mas havia um imitador fantástico chamado Mena Matos: ele era um "dos que a falar se arrisca muito" (Rádio & Televisão, 14 de Fevereiro de 1970). Na Gulbenkian, em 1972, discutia-se a música ligeira e escrevia-se um abaixo-assinado. Diversos músicos e cantores que brilhariam na segunda metade da década estavam presentes, bem como locutores e outros profissionais dos media. Sentia-se no ar que alguma coisa se ia dissolver. Curiosamente, a melhor imitação de Mena Matos era a voz de Salazar. Dizia ele: "Ouço as vozes, procuro fixar os seus pontos característicos e ensaio meia dúzia de vezes. [...] existe certa dificuldade quando, num espectáculo, tenho de fazer sete ou oito imitações consecutivas, praticamente sem intervalo".

Precisam-se novos imitadores. Há muitas dificuldades, outra vez.

                                                                               


sábado, 3 de maio de 2014

Rui Mário Gonçalves

Rui Mário Gonçalves Rui Mário Gonçalves (1934-2014) foi um crítico de arte que eu sempre li com muita atenção, do mesmo modo que com as suas publicações.

Agora, à procura da sua biografia, descubro que tinha uma licenciatura em Ciências Físico-Químicas (Universidade de Lisboa), bem longe da actividade que o consagrou. Entre 1963 e 1966, ele estudou em Paris com com Pierre Francastel, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. José Augusto França, um outro homem dedicado à arte e à história de arte, também aprendeu com Francastel.

Rui Mário Gonçalves, enquanto dirigente associativo, ocupou-se da secção cultural da Associação da Faculdade de ciências, onde realizou exposições didácticas com reproduções e exposições com obras originais (por exemplo, Primeira Retrospectiva da Pintura Não-Figurativa Portuguesa, 1958) e promoveu conferências e colóquios com especialistas (José Júlio Andrade Santos, Mário Dionísio, José-Augusto França). Daí essa aproximação à arte que a licenciatura escondia. Rui Mário Gonçalves foi, desde 1967, professor do Curso de Formação Artística da Sociedade Nacional de Belas Artes. E também docente nas Escolas de Teatro e de Cinema do Conservatório Nacional, onde entrou em 1972.

Ele participou na investigação de educação pela arte, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian de que resultou a publicação de Primeiro Olhar (2003). Crítico de arte desde 1961 (Prémio Gulbenkian de Crítica de Arte, 1963) começou a publicar regularmente no Jornal de Letras e Artes. Colaborou em jornais (A Capital, Expresso, Diário de Notícias, Extra, Jornal de Letras, Artes e Ideias) e em revistas da especialidade (Arquitectura, Colóquio, Colóquio-Artes). Manteve dois programas quinzenais na RDP (Antena 2): As Cores e as Formas (1980-1989), A Dádiva das Formas (1995-2000). Colaborou em enciclopédias, dicionários e histórias da arte. Autor de Pintura e Escultura em Portugal, l940-1980 (1980), O Imaginário da Cidade de Lisboa (1985), Dez Anos de Artes Plásticas e Arquitectura, 1974-84 (em colaboração com Francisco da Silva Dias, 1985), O Fantástico na Arte Portuguesa Contemporânea (1986), Pioneiros da Modernidade (1986), De 1945 à Actualidade (1986), Cem Pintores Portugueses do Século XX (1986), Arte Portuguesa em 1992 (1992), Arte Portuguesa nos Anos 50 (1996), O Que Há de Português na Arte Moderna Portuguesa (1998), A Arte Portuguesa do Século XX (1998), Vontade de Mudança (2004), além de obras sobre pintores portugueses do século XX.

[informação totalmente retirada de http://www.centromariodionisio.org/biografia_rui_m_goncalves.php]