domingo, 31 de outubro de 2004

DOCLISBOA 2004

Apesar dos meus planos, não consegui ir regularmente ao DocLisboa 2004. Apenas ontem fui ver um documentário de Amos Gitais, chamado Wadi grand canyon.

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Inicialmente chamado Amos Weinraub, nasceu em Haifa, em Israel, a 11 de Outubro de 1950, dois anos após a independência de Israel. Tornou-se Amos Gitai no final da sua adolescência quando o seu pai (judeu, alemão e arquitecto na escola da Bauhaus) hebraizou o seu nome europeu de família. Após o serviço militar, Gitai seguiu os passos do seu pai e estudou arquitectura no Instituto Técnico de Haifa e, depois, na universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos, onde obteve o grau de doutoramento. Mas abandonaria a arquitectura para se dedicar ao cinema, trabalhando temas directamente relacionados com a situação do país, incluindo a política.

A razão mais profunda da sua passagem para o cinema teve a ver com um drama pessoal. Em 1973, na guerra do Yom Kippur, o helicóptero em que viajava, e que servia uma missão de resgate, caiu. O despenhamento provocou a morte das pessoas que estavam junto a ele, que escapou miraculosamente. Desde então, passou a filmar, usando uma câmara Super 8 que a mãe lhe dera no seu aniversário.

Com a duração de 90 minutos, e produzido no ano 2001 em França, o filme Wadi grand canyon é uma espécie de terceiro documentário sobre aquele vale perto de Haifa, prestes a ser destruído pelas promotoras imobiliárias. As pessoas e famílias filmadas por Amos Gitais estão já quase na margem da sociedade (pela doença, pela idade, pela cultura e pela origem árabe). Mas nota-se nelas uma dignidade humana, um reconfortante desenrolar de valores culturais e religiosos que nos fazem pensar quando todos estamos mergulhados numa cultura de lazer e facilidades.


(imagem retirada do sítio The Films of Amos Gitai).

No filme, um casal velho fala do tempo em que cristãos, árabes, drusos e judeus se davam bem, se apoiavam nas suas dificuldades e participavam nas suas festas. A intolerância das últimas décadas veio desmoronar todo esse difícil equilíbrio. Uma das personagens recorda mesmo que nem no tempo da ocupação turca e, depois, inglesa, houve separação destes princípios de fraternidade e de reconhecimento pela diferença dos outros. Os árabes da sua família, diz o outro elemento do casal, estão dispersos em países como a Jordânia, o Koweit, o Líbano e até os Estados Unidos.

Gitai esteve exilado em França durante uma década, voltando a Israel no início dos anos 1990, por convite da ministra da Cultura. O documentário A Casa (1980), no qual parte de uma propriedade para falar das relações entre árabes e judeus, antecede este Wadi. Gitai tem dificuldades em filmar em Israel por duas razões. A primeira porque o país tem poucos recursos (fazem-se cinco a sete filmes por ano), pelo que a maior parte dos seus filmes é em co-produção com países europeus, caso da França. A segunda deve-se aos temas polémicos, sujeitos à censura.

sábado, 30 de outubro de 2004

RDP

Recebi, na minha caixa de correio electrónico, uma mensagem de um blogue criado em 7 de Setembro, o SOS RDP, não assinado. O anonimato encobre sempre razões difíceis de descortinar: ou se trata da propagação de boatos ou é alguém que não quer mostrar a sua identidade própria, por receio de represálias.

O que lá se escreve tem muita gravidade - e eu não posso confirmar a sua veracidade ou não. Por exemplo, no post de hoje, compara shares entre a RDP - Antena 1 (4,6 em 2002 para 4,3 em 2004) e a TSF (3,5 em 2002 para 5,2 em 2004) - e atribui razões à passagem do património da RDP para avalizar as dívidas da RTP e à perda de credibilidade da RDP, capaz de abrir "caminho à PT (de que o Estado é accionista) para que uma TSF mais forte (e cada vez mais controlada pelo Governo) pudesse experimentar subidas de audiência". E, num post de 14 de Outubro, aponta para uma próxima saída de José Rodrigues dos Santos para os Estados Unidos, podendo Luís Marinho subir do lugar de responsável na informação da RDP para a da RTP. Além de comentários que envolvem Eduarda Maio e o programa Palmilha Dentada.

Haverá alguém que me possa esclarecer se estas informações são credíveis ou devo passar a ignorar o que me vem à caixa do correio?
CINEMA: DAS SALAS ÀS AUDIÊNCIAS

Ontem, no seu magnífico blogue colectivo Janela Indiscreta, Cristina M. Fernandes regozijava-se com a reabertura do cinema Passos Manuel e com a programação do cine-estúdio do Teatro do Campo Alegre, ambos no Porto. A um período de decadência, sucedem-se duas salas onde se podem ver muitas fitas não disponíveis nos multiplex de cinema espalhados nos centros comerciais. Curiosamente, o jornal Expresso de hoje dá bastante relevo à novidade. No seu texto, Valdemar Cruz salienta mais a qualidade de oferta que a quantidade. E ouve vários dos agentes culturais da cidade.

Mas há também memórias vivas que se mantêm fechadas: o cinema Batalha, por exemplo (primeira imagem). Na segunda metade da década de 1970, eu consumia um mínimo de três sessões naquele espaço: o filme do Cineclube do Porto, ao domingo de manhã, mais dois filmes na sala estúdio Bebé. Nunca mais atingi tal quantidade de fitas em média por fim-de-semana, para meu pesar.

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Mas não foi só o desaparecimento do cinema Batalha marca a minha memória. É também, aqui em Lisboa, o encerramento do cinema Mundial (segunda imagem), embora a minha relação de afecto esteja longe da que estabeleci com os cinemas Trindade e Batalha, no Porto, ou da que tenho com as salas do King, aqui ao pé de minha casa. Em 22 de Abril último, escrevia neste blogue: "Há umas semanas fui ver Goodbye Lenin, no Mundial, onde [...] estavam quatro espectadores". O desaparecimento do cinema da Lusomundo dar-se-ia por essa altura.

Na sua newsletter de 8 de Outubro último, o Obercom trazia uma notícia intitulada "Lotação de salas decresce em 2003", em que referia duas situações: 1) o número total de ecrãs de cinema no mundo diminuiu, 2) o número médio de lugares por sala decaiu nos últimos três anos. Porém, a estatística aplicada a Portugal dava conta de 224 lugares em média por sala em 2001, número que subia para 228 em 2002 e regressava a 224 em 2003. Agora o ICAM, segundo notícia do Expresso, destaca a perda de espectadores nas salas de cinema durante este ano. Uma das razões apontadas na peça assinada por César Avó é a do Euro 2004. Eu acrescentaria a expansão do cinema em casa, como tive oportunidade de referir recentemente, fazendo ecos de uma distribuidora de vídeo em colóquio recente realizado no Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz.

sexta-feira, 29 de outubro de 2004

EDIÇÃO, PUBLICAÇÃO E AUDIOVISUAIS

Na revista 1000 Maiores, editada hoje como suplemento do Diário de Notícias, um dos sectores analisados é o da edição, publicação e audiovisuais.

Com 16 empresas, o sector é um dos mais pequenos do estudo agora lançado. Os valores dizem respeito ao ano de 2003. Desse conjunto de empresas, só uma não tem sede no distrito de Lisboa (Porto Editora), o que ilustra a centralização destas actividades aqui junto ao rio Tejo.

A mais rica em volume de negócios é a TV Cabo, com €440,256 milhões. Em termos de despesas com pessoal, as mais altas são a RDP (39,9%) e a RTP (36,5%), sendo a Lusomundo - Audiovisuais a que tem menores encargos no conjunto das suas actividades (8,1%). Quanto a rentabilidade das vendas e despesas financeiras as empresas em piores condições são a Cabovisão (-49,96% e 28,3% respectivamente) e a RTP (-18,06% e 25,9% respectivamente). Aliás, mais ou menos recentemente, a RTP foi sujeita a uma transformação jurídica e financeira e a Cabovisão teve cisões, que incluiram anúncios nos jornais. A Cabovisão é também a empresa com maiores amortizações a vencer (43,4%).

Além do quadro de onde retirei estes dados, a edição hoje distribuida traz um outro conjunto de dados interessantes. Assim, a Sogapal (sociedade gráfica) teve o maior crescimento no conjunto destas empresas (26,7% numa média de 11,1%), a maior produtividade (euros por trabalhador) pertence à SIC (mais de €382 mil numa média de mais de €250 mil), os maiores capitais próprios de uma empresa estão na TVI e a maior exportação cabe à Porto Editora.
A CONSPIRAÇÃO DE BETTENCOURT RESENDES

A minha colega Cristina Ponte (da Universidade Nova de Lisboa) costuma dizer que as notícias se devem ler tendo em conta a página em que se inserem. Para ela, há uma espécie de contaminação entre as notícias escolhidas pelo editor. Eu, que num dado momento da minha vida profissional, fazia recortes das notícias para fazer chegar aos directores da empresa onde trabalhava (ainda não conhecia o termo clipping), não acreditava nessa condição de contágio das notícias. Porém, mais tarde, desenvolvi o conceito de campo de notícia, que fui buscar emprestado a Pierre Bourdieu (que lhe chamava campo jornalístico), e dotei de vida própria a ideia (não a posso desenvolver pois o texto ainda não foi publicado). Nessa altura, passei a compreender o que Cristina Ponte queria dizer.

Vem isto a propósito do Diário de Notícias, agora que Fernando Lima e a sua equipa deixaram de figurar no cabeçalho do jornal. Na mesma primeira página, a administração dá conta da nomeação, a título interino, do director José Manuel Barroso. Cortando com a ideia recente de editoriais não assinados, o recém-nomeado escreve: “noticiar o que tem de ser noticiado, de uma forma honesta, sem querer causar danos a ninguém, mas sem temer desafiar quem quer seja – em nome da verdade que deve ao leitor”.

Todo o resto do editorial é de ler com atenção. Parece-nos que ao jornal vai ser devolvida a sua faceta de diário de referência. Contudo, salto para a página 7, uma das mais interessantes páginas do jornal, a cortar e a guardar. Dos três colunistas, dois deles são exactamente os homens fortes do Diário de Notícias, os que as notícias destes dias atribuem a origem das transformações no jornal: Mário Bettencourt Resendes e Luís Delgado. O texto deste último vem na sequência de outros que tem publicado, onde aborda a situação nos Estados Unidos e as próximas eleições naquele país.

O texto de Bettencourt Resendes é, contudo, muito mais interessante. A começar no título: “A grande conspiração”. Os meus olhos até cresceram, como se vê nas personagens dos filmes de desenhos animados. Glup, disse eu, imitando um desses bonecos no celulóide ou no digital. Ele, Resendes, ia falar sobre a situação dos últimos dias no jornal. Ia apresentar a sua perspectiva do convite a Clara Ferreira Alves para dirigir o jornal e porque é que Fernando Lima já não interessava à frente do mesmo matutino.

Mas não. Quando ele escreve sobre um acontecimento há uma dezena de anos, do já falecido Vítor da Cunha Rego e da sua propensão para a conspiração, fiquei contextualizado. Depois, fala numa marretada de Marcelo Rebelo de Sousa, na economia frágil e em outras coisas que já esqueci. Não, ele não falou do seu convite a Clara Ferreira Alves.

Pergunto: é possível um agente social – interveniente em facto de primordial importância para o jornal, que causou, entre muita outra perturbação, a nota da administração na primeira página do jornal de hoje – ignorar tudo e falar de outra coisa? Não é meter a cabeça na areia, ou assobiar para o ar, como se o que aconteceu nada tivesse a ver com ele?

Escrevo aqui, pois nada me adiantaria fazê-lo para o provedor do leitor, ao qual estão vedados comentários sobre os artigos dos colunistas. Bettencourt Resendes é simultaneamente jornalista, administrador e colunista. Por mera coincidência, o seu espaço no jornal chama-se Coluna sem nome. E a sua responsabilidade social também não tem nome?
FÓRUM DE DEBATE SOBRE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Algum tempo atrás, sugeri a criação de um fórum ou plataforma onde se pudessem debater temas relativos à comunicação social. A Andreia Pereira seguiu a sugestão, antecipou-se e lançou o Conversas Paralelas, um espaço para a reflexão sobre os meios de comunicação social.

Agora, basta aparecer lá e propor. Atenção: o projecto começou agora mesmo. Se virem o espaço vazio, não se perturbem; cadeiras, microfones, ecrãs e outros objectos materiais chegam mais logo à esfera virtual. O fundamental é que apareçam ideias para temas de debates. Elas são bem-vindas.
BZKMAG - UMA REVISTA ONLINE DEDICADA À FOTOGRAFIA

Aí está o número 1 do Inverno de 2004 da revista electrónica BZKmag. Pergunta-se no editorial: "O que leva um grupo de pessoas a editar uma revista online sobre fotografia"? Neste mesmo texto, e mais à frente, lê-se: "De uma forma simplista podemos dividir o panorama editorial das revistas de fotografia em três segmentos: (i) gallery-oriented, isto é, revistas que divulgam trabalhos que se podem classificar como vanguarda da fotografia (whatever it means...) e que normalmente estão associados a museus e galerias de arte contemporânea, (ii) passionated-oriented, ou seja, revistas que divulgam a fotografia de uma forma séria para aqueles que se interessam seriamente pelo assunto, mas que não se enquadram completamente na categoria i) e (iii) gadget-oriented, aquelas revistas dirigidas às massas, onde os meios são mais importantes que os resultados. BZKmag insere-se na categoria (ii)".

BZKMAG.JPGE continuam: "Assim, a linha editorial da BZKmag é muito simples: vamos divulgar fotografia que nos emociona. E reflectir sobre essas emoções. Isto resultará em números onde se misturam fotógrafos e trabalhos conhecidos com outros completamente enterrados no anonimato. Onde se abordam temas populares com reflexões mais informadas".

O presente número - e continuo a citar - "é dedicado ao Documentário em fotografia. Consideramos aqui o conceito de documentário de uma forma suficientemente lata para abordarmos o trabalho documental de fundo, o fotojornalismo ou a visão íntima e subjectiva de uma realidade".

A BZKmag é editada, coordenada e publicada pelo BZKgroup. Os seus membros são António Lucas Soares, António Vieira, Bruno Espadana, Luis Farrolas e Mário Filipe Pires, com agradecimentos a Jörg Colberg e Don Brice pela colaboração.

Desejo uma longa vida à BZKmag!

quinta-feira, 28 de outubro de 2004

TRANSFORMAÇÕES E TENDÊNCIAS DOS MEDIA EM PORTUGAL: O CASO DA IMPRENSA

Conforme escrevi ontem no blogue, Paulo Faustino, autor do livro A Imprensa em Portugal. Transformações e tendências, teve uma intervenção na minha aula de Públicos e Audiências, na Universidade Católica (e que eu agradeço publicamente).

Para ele, "entre os aspectos mais relevantes que caracterizam o ambiente envolvente e que podem influenciar a actividade das empresas jornalísticas", destacam-se os seguintes: antecedentes históricos, espaço geográfico, evolução da situação demográfica, conjuntura económica, configuração legal e sócio-política, transformações tecnológicas, nível educativo e cultural, estrutura da instituição familiar e estilo de vida. Por seu lado, os aspectos mais directamente relacionados com a microenvolvente compõem-se de clientes, fornecedores e distribuidores, intermediários e concorrentes.

As empresas jornalísticas em Portugal estão sob pressão do mercado, considera Faustino, e "um dos principais constrangimentos ao seu desenvolvimento está relacionado com as crescentes dificuldades na obtenção de receitas da publicidade e como estimular os hábitos de leitura por parte dos públicos mais jovens". Como práticas de gestão mais racionais, ele considera que as empresas jornalísticas em Portugal "vão ter de enfrentar maiores desafios no contexto de um mercado cada vez mais competitivo e segmentado", o que obrigará "as empresas jornalísticas a terem uma atitude cada vez mais racional nas práticas de gestão e organização empresarial".

Um dos dados que mais me impressionou na comunicação de Faustino é o modo da distribuição dos jornais pelo país. Segundo ele, os "jornais nacionais têm pouca penetração fora dos grandes centros urbanos de Lisboa e Porto. O distrito de Lisboa é responsável por 37% do consumo deste tipo de jornais e o Porto por cerca de 25%. Estes dois mercados absorvem cerca de 63% do consumo total". Isto dá conta da assimetria do consumo no nosso país, modo que não parece alterar-se rapidamente.

Em jeito de balanço e prospectiva, Paulo Faustino elencou os seguintes elementos: 1) globalização (nos últimos cinco anos mais de 50% das revistas lançadas são versões internacionais com adaptação local), 2) concentração (mais de 60% do investimento publicitário na imprensa está concentrado em três editoras de jornais e revistas [ele defende que a questão da concentração, que está na ordem do dia, deve ser procurada em quem tem o domínio do investimento publicitário]), 3) diversificação (as empresas de imprensa têm vindo reforçar a sua presença nos vários segmentos de imprensa), 4) especialização (entre 1995 e 2004, o número de publicações aumentou em mais de 50% a sua presença no mercado), 5) multimedia (a essência do negócio tende a ser a difusão da informação independentemente do suporte de distribuição), 6) rendibilidade (as empresas de imprensa são pressionadas pelos sócios e pelo mercado a apresentarem maiores níveis de rendibilidade), 7) concorrência (crescimento e aumento da diversidade da oferta dos meios e dos suportes de comunicação publicitária), 8) marketing (a ênfase dada às práticas de gestão e marketing constitui-se como um importante factor de competitividade), 9) gratuitidade (a circulação das publicações gratuitas cresceu de 1997 para 2004 em mais de 500%), 10) publicidade (com as audiências a estagnarem, o peso e dependência da publicidade é cada vez maior como fonte de receita das publicações).

quarta-feira, 27 de outubro de 2004

TEMA DA COMUNICAÇÃO DE PAULO FAUSTINO NA MINHA AULA DE AMANHÃ DE PÚBLICOS E AUDIÊNCIAS

Transformações e tendências dos media em Portugal: o caso da imprensa.

Paulo Faustino, doutorando em Comunicação Social pela Universidade Complutense de Madrid e ligado ao sector dos media há 17 anos (executivo e assessor de empresas), lançou recentemente o livro A Imprensa em Portugal. Transformações e tendências. Eu fiz um comentário ao seu livro em 25 de Setembro último, cuja capa pode ser vista aqui na coluna da direita.
O VÓRTICE DA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA

De repente, parece ter sido tudo posto em causa. Fernando Lima, director do Diário de Notícias há cerca de um ano, demite-se, após dias agitados no jornal. A notícia na página 52 e a nota da direcção na última página da edição de hoje - após o silêncio dos dias anteriores - dão conta dessa grande tensão. Marcelo Rebelo de Sousa, hoje na audição na AACS, disparou em vários sentidos. Eu fixei um deles, a onda de choque que irá atingir o director de programas e informação da TVI, não de modo directo mas de forma enviesada (estou com uma grande curiosidade em ver o noticiário das oito). A estação pública de televisão em "exame" realizado pelo Governo (depreendo isso pelas notícias lidas na última semana). Fernando Ulrich, do Banco BPI, entidade que detém 2,32% da PT, diz que ainda não apareceram propostas interessantes de compra do sector de media deste grupo.

Ou seja, um laborioso plano de equilíbrio entre vários agentes sociais (leia-se: grupos económicos dos media) - quer se goste ou não do peso que têm no conjunto dos media nacionais - está a ameaçar ruir. Ou a reconfigurar, o que também é interessante. Apesar das capas das últimas edições do Expresso, rodeadas de fontes anónimas - como tem chamado a atenção Manuel Pinto do blogue Jornalismo e Comunicação -, o grupo Impresa parece ser o único a escapar destas mudanças e atitudes em tempo vertiginoso. Sem falar na Cofina.
AUDIÊNCIAS E VIDA QUOTIDIANA

Pelo facto de existirem comunidades na internet isso não quer dizer que a natureza própria da internet seja a constituição de comunidades. Sabe-se que parte do interesse dos fóruns anónimos reside no desempenho de papéis e múltiplas identidades que eles permitem (Turkle, 1997). Os utilizadores dos computadores podem ver estes como dando liberdade, criatividade, fantasia e prazer, mas também participam na tecnologia e na “vida real” de múltiplos modos. Muitos intervêm em chats anónimos, são membros de outros grupos de email a que se juntam por questões profissionais ou de informação, ou salientam o facto da comunicação electrónica diária ser apenas um elemento nas suas vidas. Assim, as comunidades de internet e as comunidades reais desenvolvem-se em resposta a circunstâncias particulares e às necessidades de um conjunto particular de indivíduos.

Os fãs que se juntam a uma lista de discussão da internet constituem um conjunto particular de indivíduos que vêem um programa específico e usam a comunicação electrónica. Os fãs devotados desenvolvem um sentido de relação com os seus actores/actrizes. Bird refere que a relação entre actor e fã é, na idade da electrónica, bastante complexa e volátil.

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A comunidade online opera para uma audiência de fãs, sabendo que os outros fãs actuam como leitores nas especulações, observações e comentários (Hills, 2002: 177). As comunidades virtuais não funcionam do mesmo modo das comunidades locais. Por um lado, as comunidades virtuais são de “baixo risco”. Numa comunidade virtual, não somos forçados a lidar e interagir com pessoas que não gostamos. Apesar dos grupos virtuais trabalharem para manter a comunidade, qualquer indivíduo que perca interesse na comunidade sai dela e procura outra.

A comunicação de email depende da palavra escrita, faltando-lhe os sinais orais e visuais da comunicação face-a-face. Isto cria a possibilidade de construir uma ou mais personalidades completamente diferentes, como acontece nos MUD (Multi-User Dimensions). Uma utilizadora adolescente, por exemplo, estabeleceu relações com mulheres muito mais velhas que ela, o que é improvável acontecer na “vida real”, pois as pessoas criam distâncias baseadas na idade, aparência e modo de vestir. O resultado é que a comunicação de email permite às pessoas ultrapassarem distâncias inconscientes sobre raça e outros “marcadores” externos. Algumas barreiras que funcionam na vida real, e que impedem a comunicação, podem desaparecer na comunidade virtual.

Leitura principal: S. Elizabeth Bird (2003). The audience in everyday life. Living in a media world. Nova Iorque e Londres: Routledge
Leituras de apoio: Sherry Turkle (1997). A vida no ecrã. Lisboa: Relógio d’Água
Matt Hills (2002). Fan cultures. Londres e Nova Iorque: Routledge

terça-feira, 26 de outubro de 2004

SILÊNCIO PESADO

O Público de hoje dá conta da recusa de Clara Ferreira Alves para ocupar o lugar de directora do Diário de Notícias, a partir do comunicado ontem emitido por ela, e que eu já fiz aqui referência. E conta pormenores de envolvência do caso, em especial os dois últimos parágrafos. Para além das preocupações e/ou reflexões por mim feitas então, quero acrescentar outra, ao ler o Diário de Notícias, ele próprio no centro do turbilhão.

A edição de hoje deste jornal é omissa quanto à questão. O que levanta uma situação muito incómoda. É como se ela não existisse. Dito de um modo simplista: só é acontecimento o que é notícia. Para o Diário de Notícias, como não foi notícia significa que não existiu. Ou seja, está proibido de falar do sucedido. Parece haver um silêncio brutal na redacção; pelo menos, nenhum jornalista comentou o assunto nas suas páginas.

É confrangedora tal situação. O editorial, não assinado, fala de uma nova legislação do emprego e das crianças. Assunto importante, mas não aquele que o editorialista deveria escrever: da sua casa, dos problemas que a afectam, da sua posição perante esses problemas.

A direcção do jornal pode escudar-se no silêncio - eu chamo luto a esta situação -, dizendo que tal diz respeito a outra entidade, a administração. E que não comenta as decisões tomadas pelos proprietários. Mas sabendo nós como são fortes os vasos comunicantes entre direcção e administração, custa ver esse manto pesado de silêncio. Primeiro, porque no jornal trabalham grandes profissionais, que não podem expressar a sua opinião. Depois, porque os leitores sinceros do jornal querem conhecer a posição oficial sobre o caso. Isto sem falar dos accionistas, dos anunciantes, e até do vendedor do quiosque.

Paradoxo dos media: raramente um meio de comunicação se exprime quando se trata de falar dos assuntos internos. Precisamos de ler outros meios de comunicação para termos conhecimento adequado do que se passa.
IRÃO REINTRODUZ AS ONDAS CURTAS PARA A EUROPA E OS ESTADOS UNIDOS

Segundo o blogue http://medianetwork.blogspot.com/, em notícia de ontem, a Emissora da República Islâmica do Irão reintroduziu as ondas curtas orientadas para a Europa e para a América do Norte, na nova temporada de Inverno. Inglês, alemão, francês e italiano são as línguas faladas na programação. Mas há também informação em outras línguas no sítio da http://www.irib.ir/worldservice/.
BBC - UM CORTE DE SEIS MIL POSTOS DE TRABALHO?

Diz uma notícia editada hoje na newslewtter do European Journalism Centre, citando o jornal The Guardian, que 6000 empregos na BBC podem estar em perigo. Isto por causa da aprovação da nova carta da empresa inglesa. Se o director-geral fala em especulação, fontes sindicais apontam para um número elevado de milhares de postos de trabalho a serem suprimidos. Segundo o blogue http://medianetwork.blogspot.com/, as áreas mais afectadas serão a redacção e a produção, com o presidente Michael Grade a planear essas reduções no começo do próximo ano. Sabe-se que um porta-voz da BBC apontou um número (1000) de postos de trabalho a eliminar e que já houve conversações entre dirigentes da BBC e o sindicato Bectu.

O que virá a seguir?
ETNICIDADE NAS NOVELAS

Nos estudos dos media, tem sido hábito a focalização nas audiências e não nos processos de produção, escreve Irene Costera Meijer (2001). Ou seja: o modo como os produtores projectam as suas audiências afecta a selecção, codificação e estruturas das narrativas que criam.

O artigo de Irene Costera Meijer assenta em 34 entrevistas em profundidade com 32 profissionais. Ela conclui que a produção de narrativas televisivas é vista como um processo de negociação pelo qual emergem os significados dos textos numa forma cultural pública. A autora analisou as entrevistas em termos de vocabulários distintos: modelos de discurso, processos cognitivos e outros fenómenos carregados ideologicamente. Ela estudou quadros, procedimentos e regras, que justificam decisões específicas e acções num certo contexto.

Em 2000, as novelas produzidas na Holanda - um fenómeno ainda recente - tinham personagens negras e de religiões minoritárias no país. Comparando com a cultura de novelas em outros países, a holandesa é marcada pela austeridade, tendendo a estruturar-se em torno de “valores sociais”, uma cultura de seriedade, à volta do drama. Este é visto como possuindo elementos de comicidade, podendo ir até ao trágico-cómico, mas espera-se dele que trate os temas com seriedade. A ficção que não se conforme com esta definição de drama é entretenimento.

Curiosamente, no seu livro sobre telenovelas, Christine Geraghty (1991) [ver texto do blogue de 30 de Agosto último] considera que as novelas respondem à pressão social dos novos movimentos sociais e que, como resultado, as novelas são também parte do processo pelo qual surge e age a mudança social. Por seu lado, e seguindo o texto da professora de Amsterdão, Olga Madsen, a fundadora da novela holandesa, em 2000 responsável por toda a produção dramática da Endemol, explicava que a emergência de "linhas de estórias minoritárias" era uma questão de profissionalização.meijer.jpg

Irene Costera Meijer escreve ainda que a projecção que os produtores fazem das suas audiências afecta muito a selecção, codificação e estrutura das formas mediáticas criadas. Isto é, os actos de consumo das novelas são constrangidos pelos modos conceptualizados pelos produtores. Assim, descreve-se a produção como "um processo de negociação no qual os significados do texto emergem na sua forma cultural pública". Os produtores de cultura popular funcionam como intermediários culturais, envolvidos na produção, classificação e circulação de bens culturais.

A autora identifica vários repertórios: modelos de discurso, processos cognitivos e fenómenos ideológicos. Ela descreve oito repertórios distintos em torno de dois eixos: estilo e estética, política e moral. Os reportórios são: rejeição, diversidade (paleta), representação igual (à da sociedade), potencial dramático, género, credibilidade (a mais importante), disponibilidade, consciência social (responsabilidade). O repertório de paleta significa a existência de códigos culturais distintos, como cor da pele (preto, branco, cabelos louros e olhos azuis), funcionando como categorias estéticas.

Mimi_Ferrer2.jpgDada a sua duração no tempo, as novelas fornecem-nos material muito rico para monitorização da mudança cultural ou resistência à mudança cultural. Fixemo-nos na personagem desempenhada pela actriz Mimi Ferrer, a rapariga muçulmana Aisha Amal na novela holandesa Onderweg naar morgen (Heading Towards Tomorrow). Era mais importante a identidade muçulmana do que a sua caracterização. A obediência constituia um valor central na história - interessava fundamentalmente a sua educação, cultura e família.

Irene Costera Meijer é professora associada na Universidade de Amsterdão em estudos de media. Os seus interesses de investigação incluem estudos de género, etnicidade e media, o significado da publicidade, o jornalismo popular e cultura popular na cidadania contemporânea.

Leitura: Irene Costera Meijer (2001). “The colour of soap opera. An analysis of professional speech on the representation of ethnicity”. Cultural Studies, vol. 4(2) 207-230

segunda-feira, 25 de outubro de 2004

CLARA FERREIRA ALVES E O DIÁRIO DE NOTÍCIAS

Segundo o Diário Digital de hoje, Clara Ferreira Alves, através de comunicado, declarou ter "recusado um convite para assumir o cargo de directora do Diário de Notícias". Tal vem acabar o folhetim dos últimos dias que indiciava tal convite.

A meu ver, todos os intervenientes saem mal do caso. Primeiro, Clara Ferreira Alves, por ter alimentado a história durante dias e, cito, "não acreditar que a Lusomundo Media e a Global Notícias estivessem dispostas a reunir as condições necessárias para voltar a fazer do Diário de Notícias um diário de referência, isenção e aceitação pública". Isto não se deve dizer, se se foi convidada. O silêncio - ou uma curta declaração - seria bem melhor.

Depois, os novos dirigentes da Global Notícias (Mário Bettencourt Resendes) e da Lusomundo Media (Luís Delgado). A sua estratégia global falhou. Terceiro, a credibilidade do jornal. A jornalista indigitada diz mesmo: «Creio que o Diário de Notícias perde mais do que eu perco com esta decisão». Eu partilho essa convicção.

Se o jornal estava a perder leitores, isto não ajuda nada. Pelo contrário. Ou reforça a posição de Fernando Lima. Parece que só falta retomar a peregrina ideia de levar a sede do jornal para fora da avenida da Liberdade.
AS 1001 MANEIRAS DE FAZER HUMOR

Este é o título do artigo de João Miguel Tavares, no Diário de Notícias de hoje. Embora recomende a sua leitura, não gosto tanto da sua apreciação sobre Luís Afonso, o animador de serviço do jornal Público. Escreve-se: "Afonso é um desenhador muito limitado, mas o seu traço é funcional q.b. para suportar o apuro das suas ideias humorísticas". Claro que se reconhecem à distância os "bonecos" daquele alentejano de ar tranquilo, mas a posição das personagens de Afonso e o que elas dizem, em especial o barman, são do melhor que tenho lido.

A propósito quero destacar mais dois textos do mesmo jornal. O primeiro pertence a Miguel Gaspar, sobre o novo sítio do Diário de Notícias. Claro que há algum auto-elogio, mas que fica bem, pois a peça contém muita informação útil sobre o mesmo. E reconhece (como também o provedor do leitor, no mesmo jornal) implicitamente que o sítio do jornal era uma peça antiga a precisar de substituição.

O outro texto, que se adivinha na capa, é o de Leonor Figueiredo sobre a central de comunicação do Governo, mais a informação dada pelos correspondentes do jornal em Madrid, Paris e Londres. Eu já escrevera sobre o tema aqui no blogue e concordo no geral com o que é dito no artigo. Só lamento a citação atribuída a uma fonte da assessoria de Santana Lopes "que não se identifica". Já ontem fiz um comentário crítico a semelhante definição por parte de jornalistas do Público. Tal tipo de fontes tem de se evitar; as fontes precisam de ser identificadas, excepto se haja perigo de vida, lê-se nos manuais sobre fontes de informação.

Fala-se agora muito do contraditório. Mas aplicá-lo a uma fonte não identificada não resolve a questão do jornalista em ouvir duas fontes com posições diferentes, no mínimo, para garantir o padrão de objectividade tal como foi apresentado por Gaye Tuchman, num texto clássico dos anos de 1970.
UMA SOCIEDADE MCDONALDIZADA (baseada na alimentação McDonald's) - II

[continuação do texto de ontem]

Segundo George Ritzer (2004), o sucesso da McDonald's deve-se a que oferece aos clientes, trabalhadores e gestores eficiência, calculabilidade, previsibilidade e controlo. Estandardização e homogeneidade são outros elementos vitais para a McDonaldização – isto é, os negócios da McDonald's oferecem produtos e serviços de forma eficiente na medida em que existe, para os consumidores, uma escolha limitada. Rapidez, linha de montagem e códigos escritos de conduta dos vendedores da comida McDonald's situam-se na linha definida por Ritzer de McDonaldização.

O autor vai mais longe, ao afirmar que tais princípios foram também adoptados por serviços como os cuidados médicos, a banca, a educação e as indústrias culturais. Para Ritzer, a McDonaldização infiltrou a sociedade na medida em que as pessoas querem ter gratificação instantânea. Os brindes a quem come um hambúrguer, os descontos numa loja ou a atribuição de pontos para um prémio na aquisição de um serviço fazem parte da mesma estratégia. A Mcdonaldização é um processo vasto de globalização. O livro vê a cultura popular contemporânea a partir da proliferação de franchising de alimentação da McDonald's, bem como das lojas de centros comerciais e outras entidades comerciais.

A McDonald's criou um modelo universal de símbolos, com os seus arcos dourados a serem o frontispício de qualquer restaurante fast-food da marca, facilmente identificável em qualquer parte do mundo e envolvendo todas as gerações, em especial as mais novas. O próprio Ritzer escreve no livro que teriam sido os seus filhos a orientarem-no em termos de comportamento no interior de um dos restaurantes da cadeia alimentar.

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[restaurante da McDonald's na Avenida da República, em Lisboa]

Ora, admitindo que o modelo da McDonaldização se aplica às indústrias culturais, teríamos que todos os passos da cadeia de valor, indo da produção à distribuição e à recepção, se baseiam nos princípios da eficiência, previsibilidade, controlo e linha de montagem, tornando as obras (cinema, televisão, música) muito semelhantes entre si, com recurso sistemático a valores estéticos já garantidos pelo sucesso e a estereótipos de boas práticas.

Franchising e reencantamento

No sistema de franchising, ele maximizaria o controlo central e a uniformidade no sistema, permitindo que um franchisado não pudesse adquirir mais do que uma loja. Porém, as grandes criações de sucesso, como a sanduíche de peixe (Filet-o-Fish), o Egg McMuffin, os pequenos-almoços McDonalds e o Big Mac, vieram dos franchisados, o que conduziu a um equilíbrio entre controlo centralizado e independência dos franchisados.

Ritzer estende a sua análise da McDonaldização a outros espaços e meios de consumo, no livro Enchanting a disenchanting world: revolutionizing the means of consumption (2004). Entre eles, contam-se outros restaurantes fast-food, centros comerciais, cibercafés, Disney, cruzeiros de barcos. Todos eles são fenómenos pós-II guerra mundial, que revolucionaram o modo como consumimos através da racionalização das estruturas em que nós consumimos.

A McDonaldização, escreve, tende a levar-nos ao desencanto, à perda da magia e mistério. As estruturas desencantadas não conseguem atrair consumidores. Os novos meios de consumo têm sido reencantados, incorporando acções cada vez mais espectaculares que dão aos consumidores a sensação de euforia num mundo a que falta emoção. A modernidade (racionalização) e a pós-modernidade (reencantamento através dos processos pós-modernos de simulação e implosão) coexistem com os meios de consumo McDonaldizados.

Leituras: George Ritzer (2004). The McDonaldization of society. Thousand Oaks, CA, Londres e Nova Deli:Pine Forge. 309 páginas. Preço praticado pela Amazon.co.uk: €29,41.

idem (2004). Enchanting a disenchanting world: revolutionizing the means of consumption. Thousand Oaks, CA, Londres e Nova Deli:Pine Forge. 263 páginas.

domingo, 24 de outubro de 2004

REGULAÇÃO NA TELEVISÃO BRASILEIRA

Também no Brasil se discute presentemente a melhor adequação da programação aos horários de emissão. Segundo a Folha de São Paulo, do dia 18 deste mês e em texto assinado por Daniel Castro, Governo e Ministério Público Federal decidiram convidar os canais a participar na "elaboração do novo manual de classificação indicativa da programação". Tal representa um recuo por parte das entidades oficiais, pois ameaçavam levar as emissoras a tribunal se não cumprissem compromissos definidos previamente. Assim, "as redes nacionais poderão opinar nos critérios que definem se um filme, desenho animado ou novela é adequado, por exemplo, para as 19h ou 20h".

Está prevista a criação de uma comissão para a "Classificação Indicativa de Filmes, Programas Televisivos, Espectáculos Públicos e Jogos Eletrónicos", englobando representantes das cinco maiores redes (Globo, SBT, Record, Band e Rede TV) e dos ministérios da Cultura, Comunicações, Justiça e Educação, Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, além de ONGs, procuradores e juízes.

[dica de Daniela Bertocchi, do blogue brasileiro Intermezzo]
NOVO DIÁRIO GRATUITO EM ESPANHA

A Recolectos Grupo de Comunicación, S.A., colocou um anúncio na imprensa espanhola, onde pede profissionais de jornalismo para trabalharem num novo diário nacional de informação geral, de difusão gratuita, com uma tiragem de um milhão de exemplares, para as seguintes cidades: Vigo, Alicante e Málaga.

No anúncio, a Recolectos pretende redactores-chefe (licenciados em jornalismo, um elevado nível de inglês, domínio das ferramentas informáticas e experiência profissional de cinco anos como redactor-chefe), redactores séniores e júniores, fotógrafos, além de outros profissionais. As respostas devem ser endereçadas a rrhh@recolectos.es.

Qual será o impacto desta nova publicação no contexto espanhol? Será que haverá um forte impacto negativo na imprensa tradicional, a exemplo do que ocorre neste momento em França?
REGRAS DE AUTOREGULAÇÃO E FONTES ANÓNIMAS

Das 21 regras de autoregulação da cadeia televisiva espanhola Telecinco, a primeira diz: "Os programas e os seus apresentadores diferenciam entre opinião e informação, oferecendo a todo o momento informações verdadeiras e opiniões livres" (ler hoje no El Mundo, p. 60, versão em papel).

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A cruzada contra o telelixo em Espanha precisa de se estender a Portugal. Mas não só à televisão. É que também há lixo na imprensa - e mesmo na de qualidade. Se o 24 Horas fala da "paixão" do actor de filmes pornográficos por uma habitante da Quinta das Celebridades não podemos encolher simplesmente os ombros perante este jornalismo tablóide. Certamente aquilo não é notícia. Não é isso que se ensina na Universidade, nem os códigos deontológicos aconselham. Mas, quando se lê a página 12 do Público de hoje, fica a pensar-se na necessidade de uma medida profiláctica qualquer.

A propósito dos 100 dias do Governo, as jornalistas Helena Pereira e Eunice Lourenço não nomeiam uma só fonte de informação na peça por si assinadas. A base do seu trabalho assenta em tão só: "um responsável da coligação", "colaboradores do primeiro-ministro", "alguns sociais-democratas críticos de Santana", "um membro do gabinete do primeiro-ministro".

Retiro do Livro de Estilo do Público: "Formulações do tipo «o Governo está a pensar...» não são admissíveis nas páginas do PÚBLICO. «O gabinete do primeiro-ministro declarou...» é também uma expressão a evitar: só as pessoas podem fazer declarações" (Público, 1998: 69-70). Será que o livro que tenho em casa já foi substituido por uma nova edição? Admitem-se tantas fontes anónimas ou não identificadas na peça que ocupa quase uma página inteira? Trata-se de informação ou opinião?
NICOLE KIDMAN, DOIS MINUTOS DE CINEMA, SETE MILHÕES DE DÓLARES

É este o título da notícia do El Mundo de hoje, assinada por Borja Hermoso, sobre o anúncio ao perfume Chanel nº 5 e da estrela que lhe dá publicidade, Nicole Kidman.

Pergunta-se no artigo: "São cinema os dois minutos de magia visual rodados pelo director Baz Luhrman por encomenda dos reis mundiais do perfume? Ou é apenas um anúncio"? Pode ser encarado por um ou outro dos ângulos este novo anúncio, que pode ser visto em Dezembro, mesmo a tempo das compras de Natal, e que se chama Perto de casa. Luhrman e Kidman já se conheciam desde que aquele dirigiu a estrela em Moulin Rouge.

O Chanel nº 5 foi lançado por Coco Chanel em 1921 e ter-se-á tornado o maior negócio da história do entertainment. Famosa ficou a frase proferida por Marilyn Monroe para quem bastariam umas gotas da fragância para dormir.

A história do anúncio começou há cerca de um ano, quando Nicole Kidman foi contactada pelos directores da empresa de perfumes. Depois, seguiu-se a discussão do preço a pagar e os detalhes do vestuário usado pela actriz. Os responsáveis da Chanel pediram ao realizador um "conto de fadas moderno".



[Imagem retirada do filme Dogville e incluida no sítio Yahoo!Movies]

A seguir com atenção a disputa entre duas estrelas de cinema: Nicole Kidman, 37 anos, rosto da Chanel, e Charlize Theron, 29 anos, rosto da Christian Dior. Um combate de glamour, como lhe chama o El Mundo.

Uma sociedade mcdonaldizada (baseada na alimentação McDonald's) - I

Sobre o filme Supersize me (Trinta dias de fast-food)

mcdonalds1.JPGMorgan Spurlock é realizador e actor principal de Supersize me e conta-nos a sua saga de cliente habitual da comida McDonald's durante trinta dias. Acompanhado por três médicos, que analisaram a sua saúde ao longo daquele período, a conclusão da fita é que comer fast-food faz mal ao organismo. Durante a ingestão dos Big Mac e outras comidas da cadeia de restaurantes dos "arcos dourados", o autor/actor engordou cerca de 12 quilos e aumentou em muito os seus níveis de colesterol.

mcdonalds2.JPGO filme é para maior de seis anos, está classificado como documentário e comédia e duração de 100 minutos e foi o vencedor, na modalidade de realizador, do Sundance Film Festival 2004. Recentemente exibido no IndieLisboa, o filme procura explicar as causas do aumento de peso da maioria dos americanos, atribuindo-as à sedentarização e à comida fast-food, área liderada de longe pela McDonald's, nos Estados Unidos como em todo o mundo.

Da história da McDonald's

Atribui-se a Ray Kroc, o criador do império McDonald's, como tendo desenvolvido os seus princípios racionais (Ritzer, 2004). Contudo, as características da McDonald's foram criadas pelos irmãos Mac e Dic Donalds, que abriram o primeiro restaurante em Pasadena, Califórnia, em 1937. Eles basearam o restaurante nos princípios da grande velocidade, com volumes elevados e baixos preços. Para evitar o caos em situação de grande procura de clientes, ofereciam um menu muito reduzido. Em vez de serviço personalizado e técnicas tradicionais de cozinha, os irmãos McDonald's usaram os processos de linha de montagem para fazer comida. Em vez de cozinheiros experimentados, os irmãos permitiam-lhes apenas preparar a comida em tarefas simples e repetitivas que se aprendem rapidamente. Desenvolveram regulamentos que dizem o que os trabalhadores devem fazer e o que devem dizer.

Kroc não inventou os princípios da McDonald's nem a ideia do franchise, mas desenvolveu ambas. Quando ele visitou a McDonald's em 1954, tinha um simples restaurante de hambúrgueres junto à estrada, em San Bernardino, Califórnia. Ao tornar-se agente franchisado da McDonald's, Kroc seguiu os produtos e técnicas específicas dos dois irmãos, combinou-os com os princípios de outros franchises (serviço de alimentação e outros), burocracias, gestão científica e linha de montagem. Desde logo, a McDonald's impôs um menu limitado, reduzido a dez itens.

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[restaurante da avenida de Roma, em Lisboa]

De parceiro do negócio, acabaria por comprar toda a cadeia de lojas, em 1961, por 2,7 milhões de dólares. Ainda em 1961, Kroc abre o primeiro centro de formação (a Universidade de Hambúrgueres, que oferece um “grau” em hamburguerologia).

Leitura: George Ritzer (2004). The McDonaldization of society. Thousand Oaks, CA, Londres e Nova Deli:Pine Forge. 309 páginas. Preço praticado pela Amazon.co.uk: €29,41.

[continua]

sábado, 23 de outubro de 2004

NOVOS BLOGUES

Saúdo dois recentes blogues, Bem Comum, de Joaquim Armindo Almeida (Maia), e Ecosfera, de Gonçalo Pereira (Lisboa). Ao primeiro, une-me uma amizade começada em Angola e cimentada por servir de padrinho no meu casamento católico; ao segundo, liga-me uma excelente relação de investigação no campo do jornalismo. Agradeço a ambos por terem colocado o I.C. no topo dos seus blogues preferidos. Conquanto estes dois blogues trabalhem em áreas diferentes da minha e eu possa não concordar com as suas linhas editoriais, desejo uma longa vida a ambos. O seu contributo torna a blogosfera portuguesa mais rica.


AGENDA LX DE OUTUBRO

agenda.JPGJá vira anunciada nos mupis e numa crónica de Eduardo Prado Coelho, mas ainda não tinha um exemplar da Agenda de espectáculos e eventos de Lisboa para este mês. Trata-se de uma edição bem graficamente e com muita informação útil.

Um dos destaques é o filme de João Canijo, Noite escura, estreado anteontem. Outro é a peça de António Patrício, O Fim, em representação no Centro Cultural Franciscano, ao Largo da Luz. E há fotografias bonitas de bancos de jardins, toda a agenda cultural e, claro, uma lista de restaurantes na cidade, a não perder. Com 45 mil exemplares, distribuidos gratuitamente em espaços de cultura e lazer, a edição pertence à Câmara Municipal de Lisboa, sendo José de Monterroso Teixeira o director e Paula Teixeira a coordenadora da redacção da revista.

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FESTIVAL DE BANDA DESENHADA NA AMADORA

Abriu ontem e vai até ao dia 7 de Novembro, na estação de metro da Falagueira (Amadora), o 15º Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (FIBDA).

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O núcleo central do Festival é constituido por 100 bandas desenhadas do séc. XX, sendo as dez mais - resultado da escolha de um júri de especialistas - pertencentes a Tintim (de Georges Remi, ou Hergé), Batman (de Bill Finger e Bob Kane), Corto Maltese (de Hugo Pratt), Astérix (de René Goscinny e Albert Uderzo), Little Nemo (de Winsor McCay), Maus (Art Spiegelman), Blueberry (de Jean Giraud, ou Moebius, e Jean Michel Charlier), The Spirit (de Will Eisner), Peanuts (de Charles Schulz) e Krazy Kat (de George Harriman). Mas outras bandas estão presentes, como Calvin & Hobbes, Pato Donald, Homem Aranha e Dick Tracy. [segui os textos de Carlos Pessoa, no Público de 13 do corrente, e de César Avó, no caderno "Actual" do Expresso de hoje]

André Carrilho tem uma exposição individual. Há ainda pranchas de jovens desenhadores, onde se podem observar histórias de vidas suburbanas (presas às dificuldades de emprego e de deslocação, com o comboio e a IC19 a figurarem nesses quadrinhos). Naturalmente, há espaços de venda de bandas desenhadas representados pelas várias editoras e distribuidores de banda desenhada portuguesa e estrangeira, incluindo mangas.

O Festival é quase exclusivamente financiado pela Câmara Municipal da Amadora, com uma verba de €175 mil.

sexta-feira, 22 de outubro de 2004

CANAL EM ESPANHOL E FRANCÊS A PARTIR DA CHINA

Segundo o blogue http://medianetwork.blogspot.com, a cadeia televisiva chinesa do Estado (CCTV, Televisão Central da China) vai lançar um canal via satélite a funcionar 24 horas por dia e destinado a audiências das línguas espanhola e francesa, o CCTV-E & F. Informa o mesmo Media Network Weblog que este é já o terceiro canal por satélite da cadeia estatal de televisão chinesa. Os outros são o CCTV-4 para públicos de língua mandarim e o CCTV-9 para públicos de língua inglesa. Os programas debruçar-se-ão sobre a cultura, artes e entretenimento chineses.

Tal iniciativa prova que os chineses estão a abrir-se cada vez mais ao mundo e se preparam para recolher mais benefícios dessa abertura.
SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO, MEDIDAS OU INTENÇÕES GOVERNAMENTAIS E LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Apesar de eu não ter escrito sobre o tema, manifesto a minha anuência à linha editorial seguida pelo blogue Jornalismo e Comunicação, no referente aos receios de concentração de propriedade dos media e controlo político da comunicação social.
EL PAIS

Como anunciei neste espaço, não recebi na totalidade o jornal El Pais de segunda-feira passada. Era o dia da 10.000 edição e o jornal editou um suplemento especial sobre esse marco. Fiz uma reclamação no próprio dia, e a resposta chegou ontem. Diz ela:

"Lamentamos informarle que la distribución del ejemplar que Vd. reclama estaba prevista solamente en territorio español, de acuerdo con la decisión de nuestra Dirección. Referente al CD gratuito, que también alude, sentimos comunicarle que por razones de derechos de autor tenemos prohibido su reparto fuera de España".

Eu paguei €1,30 pelo jornal - por todo o jornal. A decisão do jornal, ditada certamente por boas razões comerciais, esqueceu-se que existem leitores fora de Espanha, que acompanham o que se passa no país e que lêem o jornal atentamente. Sei, por experiência própria, que os consumidores perdem as batalhas com as empresas, apesar destas nos tratarem por clientes e dizerem que nós somos os mais importantes para as empresas. Esta batalha por um suplemento será difícil de vencer; contudo, enviarei cartas para o director do jornal e para o provedor do leitor - em papel. Sinto-me indignado, não por ser estrangeiro de um país ao pé de outro de maior dimensão, mas pela desconsideração ao cliente.

Curiosa também a resposta do responsável de distribuição do jornal. Na reclamação que eu fiz, aludi a uma linha de produtos que acompanham o jornal, uma edição de CDs de música clássica, por acaso uma boa escolha editorial. O primeiro CD era distribuido gratuitamente com o jornal. Claro que não chegou a Lisboa. A razão percebi-a agora. Não será possível colocar na edição, ao lado do custo do jornal em Portugal, escrever que há partes do jornal ou produtos que o acompanham que não chegam a Portugal? Evitavam que eu desconfiasse do meu vendedor de jornais!
METODOLOGIAS DE INVESTIGAÇÃO NOS MEDIA



Para David Gauntlett e Anette Hill (TV living, original de 1999, agora reimpresso digitalmente), a metodologia usada no seu trabalho teve como origem longínqua um projecto do BFI (British Film Institute), um inquérito a cerca de 22 mil pessoas em 1 de Novembro de 1988, as quais relataram a sua experiência televisiva desse dia. O mesmo BFI apoiou uma investigação longitudinal entre 1991 e 1996, recolhendo três diários anuais de 509 respondentes iniciais (o número baixou para 427 no final do projecto). Os dados recolhidos nessa pesquisa serviram para o trabalho de Gauntlett e Hill, onde se pode verificar as alterações na vida pessoal de cada diarista (casamentos e divórcios, nascimento de crianças, desemprego, elementos da família saindo de casa, crianças que cresceram e se tornaram adolescentes). Tudo isso significaria alterações no tempo de visão da televisão, gostos e companhias com que se vê os programas. Os diários incluíam perguntas estandardizadas e perguntas abertas. Os diários permitiram, pois, situar a televisão no seu dia a dia: horários de programas e adaptação da vida dos espectadores, significado dos vários períodos de tempo do dia em termos de recepção, interacção à volta do televisor, actividades não relacionadas com a televisão.

O texto de Elizabeth Bird (The audience in everyday life, de 2003) mostra um estudo da autora sobre uma comunidade electrónica e a construção de fãs. A comunidade electrónica era a lista de discussão da série televisiva Dr. Quinn, Medicine Woman, emitida nos Estados Unidos entre 1992 e 1998. A heroína é uma médica, que trabalha por volta dos anos de 1870 numa cidade do interior americano, com os seus valores feministas de pioneira de uma actividade atribuída então aos homens. A lista electrónica retirou o nome da série, DQMW-L. Bird entrou na lista como participante mas mostrou logo o seu interesse académico: analisar a comunidade. Ela foi aceite, podendo fazer comentários como qualquer outro membro da lista. Toda a lista foi, aliás, convidada a ler os drafts do trabalho da investigadora e a fazer críticas. A lista existia desde 1994, tendo o número de membros baixado para 800 após o cancelamento da série, mas, em 2002, ainda mantinha algumas centenas de activistas. Bird descobriu rituais como a recepção aos novos membros, nomeadamente no começo de cada ano, em que havia uma espécie de reapresentação de cada elemento. E realçou a natureza mais literária que oral da lista de discussão, permitindo a reflexão (comunicação assíncrona), ao invés das comunicações de chats, em tempo real (comunicação síncrona).

O terceiro trabalho de metodologias pertence a Joke Hermes (Reading women’s magazines, editado em 1995). A autora parte de uma distinção das revistas femininas em três principais subgéneros – revistas tradicionalmente orientadas, feministas e de rumores. O trabalho empírico de Hermes consistiu em longas entrevistas com leitoras(es), totalizando 80, durando cada uma cerca de 1,5 horas, sob a forma de diálogos. O objectivo das entrevistas com mulheres e homens era reconstruir o modo como as revistas femininas adquiriam sentido. As entrevistas tornaram claro que não é fácil explicar o que torna legível a revista feminina. De particular relevo o capítulo 3, onde Joke Hermes faz o retrato de duas leitoras: a sua mãe e uma amiga, procurando saber o que há de comum e de diferente nas leituras das revistas femininas em duas gerações distintas.

quarta-feira, 20 de outubro de 2004

CINEMA NA TELEVISÃO, LUGARES DE CINEMA

Decorreu, hoje, conforme eu já anunciara neste blogue, um colóquio integrado no ciclo Falar televisão, organizado pelo CIMJ e animado, como sempre, por José Carlos Abrantes, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal de São Luiz.

Estiveram presentes, para além do moderador acima indicado, o realizador de cinema Fernando Lopes, o professor universitário Paulo Filipe Monteiro e a distribuidora Susana Barbosa.

Fernando Lopes, cineasta de longa memória e também homem da televisão, pois trabalhou na RTP desde os seus começos, destacou o seu percurso pessoal. Aí, referiu o período em que foi director do segundo canal e o acordo estabelecido entre a televisão pública e a secretaria de Estado da Cultura para produção de filmes portugueses. Essa oportunidade serviria para descobrir nomes como Pedro Costa e Teresa Vilaverde, entre outros nomes agora consagrados.

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O cineasta pontuou também a realidade de hoje, onde é possível constituir uma cinemateca imaginária (aproveitando o título de um livro de André Malraux, O museu imaginário), onde se aproveitam as potencialidades do vídeo e dos vários canais de televisão por cabo, dada a possibilidade de se criar uma cinemateca em casa. E apontou a actual tendência do mercado, que são as receitas obtidas com os DVD, o que aconteceu com os próprios filmes dele, embora o lucro não tenha ido parar aos seus bolsos.

O tema serviu para passagem à segunda interveniente do fim de tarde, Susana Barbosa, sócia da New Age, empresa de distribuição. O vídeo, hoje, tem um impacto maior nos negócios que o cinema, é mesmo o melhor negócio do entretenimento. Na intervenção do terceiro participante da sessão, Paulo Filipe Monteiro, essa ideia ficou mais clara: as três a quatro horas de prime time na televisão arrastam audiências que nenhum outro meio de comunicação consegue. Aliás, a comunicação do professor universitário teria alguns pontos de ironia, ao considerar, por exemplo, a frequência dos espectáculos do teatro aproximada ao dos jogos de hóquei em patins.

Para a representante da New Age, a vantagem do vídeo assume-se logo com o VHS (anos de 1980) e agora com o DVD e o conceito de cinema em casa. A sua empresa surgiu também da memória da televisão que foi buscar parte do imaginário do cinema, numa mistura de séries e de filmes de culto. A New Age aprendeu com a Lusomundo e a Castello Lopes e soube adaptar-se ao boom dos formatos e das tecnologias, combinando a nostalgia do meio e a necessidade de ganhar dinheiro com o negócio. Susana Barbosa considera mesmo que o cinema (o ecrã de cinema) perdeu definitivamente a batalha para o DVD. O crescimento das salas de cinema [e recordo aqui o meu espanto com a quantidade de salas abertas no outlet de Alcochete] e a quantidade de estreias de películas à quinta-feira – género de oito a dez fitas semanais – está fora da lógica comercial racional.

Para ela e para todos os gestores de conteúdos, como se definiu, a televisão e os suportes, entre os quais o vídeo, ocupam 70% da receita, deixando uma margem pequena ao cinema. Ou, na linguagem de novo irónica de Paulo Filipe Monteiro, o cinema serve de publicidade aos produtos que passarão na televisão e no vídeo. Por isso, os guionistas fazem, hoje, menos cenas nocturnas, pois sabem que estas não passam muiot bem na televisão. Aliás, a comunicação do professor e homem do teatro foi de uma grande qualidade, que o relativamente escasso público presente apreciou. Passeando-se pela memória do cinema, ele descreveu o cinema no começo da sua actividade, uma autêntica indústria de massas. Nos anos de 1940, e nos Estados Unidos, a frequência nos cinemas começou a baixar. Aí, apontou várias razões: o arranque da televisão, a perseguição política a argumentistas, a expansão da indústria automóvel que arrastou o fenómeno dos cinemas drive-in (ao ar livre) e modificou a actividade e o seu conceito.

Televisão, cinema dos pobres?

Paulo Filipe Monteiro ainda teve tempo para destacar a tentativa dos estúdios de cinema comprarem os canais de televisão, isto, claro, nos Estados Unidos. Porém, a sua proibição ditou a necessidade de reformular a estratégia dos estúdios, que investiram na passagem dos filmes clássicos para a televisão e na produção de séries para as cadeias de televisão. Em 1960, os estúdios de cinema faziam tantos investimentos em televisão como na sua actividade de origem. A televisão ganharia formatos próprios – directo, reality-show – mas perderia parte da linguagem do cinema, como os conceitos de campo e contra-campo e a montagem era substituída pelo fluxo de imagens sem necessidade de raccord.

Mas cinema e televisão reencontram-se, nem que seja por momentos. Ou, na linguagem feliz de Fernando Lopes, o cinema dos anos de 1940, em Portugal, destinado à pequena burguesia de Lisboa e Porto, dava sequência à televisão, o cinema dos pobres. E o telefilme é a continuação do cinema dos pobres.

[texto editado no dia 22, por volta das 8:30, devido ao servidor Blogger.com ter estado em baixo durante o serão de ontem]
A MODA DAS CALÇAS DE CINTURA DESCAÍDA

Retirei esta notícia do portal da Sapo. O valor-notícia associado a esta informação é o do insólito.

A história conta-se rapidamente: o director de uma escola secundária em Vitruvio Pollione, na Itália, pretende proibir os(as) alunos(as) de usarem calças de cintura descaída. Não será o primeiro responsável escolar a procurar impor regras de indumentária, mas, diz a notícia, “estas normas têm, normalmente, o efeito inverso”. Continua a notícia: “Durante uma visita de estudo, um jovem com estas calças tipo «saco» deixou-as cair. O director da escola, indignado, escreveu uma carta aos alunos a pedir compostura e acrescentou um comentário às calças das raparigas que também andam muito descaídas”.

Comentário encontrado na notícia: “Lidar com adolescentes não é fácil e não é para todos. Directores de outras escolas italianas desaconselham este tipo de confronto. A roupa que os jovens usam faz parte do crescimento e da identidade que procuram”. Comentário meu: há uma perspectiva a ter em conta e não encontrada na notícia, a da moda. As calças designadas por “saco” estão à venda em todas as lojas, estão na moda. Ora, quem as compra quer andar na moda. A sensibilização maior da questão deve ser orientada para as marcas e não para os jovens. É curioso que se verifica o seguinte, nomeadamente no vestuário das adolescentes e das jovens adultas: além das calças descaídas, a moda é de camisetas curtas, pelo que as jovens passam o tempo a puxar o tecido da camiseta para baixo e as calças para cima. Parece-me que não deve ser muito confortável.

Só vejo duas soluções. Ou impor uniformes e a assunção de códigos de conduta em termos de vestuário, ou esperar que a moda se vá embora.
PARABÉNS, PATRÍCIA CARDOSO SANTOS

Porto (freguesia de S. Nicolau), 20 de Outubro de 1979

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Fotografia tirada em Ermesinde, Valongo, num dia de neve durante o Inverno de 1983. Desenho feito na escola (1ª classe) em Ermesinde, Valongo, em Novembro de 1985.

terça-feira, 19 de outubro de 2004

AS MINHAS ESTATÍSTICAS

Segundo o Extremetracking.com, os blogues que mais acedem ao I. C. são: A Rádio em Portugal (6,2%), Jornalismo e Comunicação (4,15%), Causa Nossa (2,69%), Melga (2,22%), Blogouve-se (1,34%), Seta Despedida (0,64%) e Atrium (0,58%). Retirando o blogue Causa Nossa, que apontou o I. C. no dia em que coloquei a imagem da última revista Jornalismo e Jornalistas, tenho grandes afinidades ou conheço os autores dos outros blogues, o que prova que os blogues funcionam em rede. O meu obrigado aos blogueiros acima referidos.

Em termos de palavras de acesso, as mais procuradas são as seguintes: indústrias (2,05%), culturais (1,66%), teoria (1,55%), ozone (1,05%) e signo (1%). A única designação que me espanta aparecer nos primeiros lugares é ozone, nome de uma banda musical romena sobre a qual escrevi um post (e de que não sou fã de modo nenhum). Para além das palavras chave mencionadas aparecem ainda bem colocadas as ligadas a semiótica, significado e Barthes, o que tem a ver com a perspectiva que tracei no meu anterior blogue Teorias da Comunicação, onde dei um enfoque grande a estas áreas das ciências humanas.
OS MEUS BLOGUES PREFERIDOS - II

[continuação da mensagem de 16 de Outubro]

Histórias de vida dos blogues

Para a autora de Nocturno com Gatos, uma migração para o sistema de blogues levou-a a eliminar “alguns poemas, por me parecerem demasiado intimistas, baralhei os restantes e acrescentei outros”. Professora do ensino secundário em Benedita, Soledade Santos tem sido desafiada a publicar em papel o que produz virtualmente. A ternura do blogue é o modo de reacção dos seus leitores, através de comentários, a que ela responde. Tal círculo de apresentação de poemas ou imagens lembra as cartas do séc. XVIII e o salão de Mme. d'Épinay. A carta era tida como informação para os jornais, mas também como correspondência culta e de cortesia familiar. No salão de Mme. d'Épinay, que celebrava a arte e a literatura, eram frequentes as primeiras audições musicais e leituras de poemas.

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O bloguista de A minha rádio tem uma história diferente: ao perder a visão há mais de 10 anos, António Silva teve de aprender Braille, dactilografia e mobilidade (usar a bengala), após o que arranjou emprego na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Aqui, forma e dá apoio informático a pessoas com deficiência. Após criar um portal para a deficiência, abriu, em 2002, o sítio A Minharadio e, em Novembro de 2003, o blogue. Conta que o ajudaram alguns amigos que viam e tinham alguma paciência: “como sou radioamador, a informática era de grande interesse para efectuar comunicações digitais, como o Packet Rádio, uma espécie de Internet em versão e velocidade reduzida e outros modos de comunicação”.

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Já Francisco Amaral, a partir de Coimbra, criou um programa radiofónico de culto, o Íntima Fracção, que animou a antena da TSF durante perto de 20 anos. O blogue Íntima Fracção “começou como extensão na net do programa de rádio com o mesmo nome. Neste momento, porque o programa não está no ar há meses, é mesmo a sua continuação on-line” [no seu último post, anuncia a retomada de emissões, agora na RUC - Rádio Universitária de Coimbra, para o final desta semana].

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Das várias definições de blogues que recolhi, uma aponta para o prazer (“não considero passatempo, porque tempo tenho eu a menos, e muitas vezes é do tempo do descanso que eu retiro tempo para o blogue”, Maria, arquitecta e bloguista do Puta de vida… ou nem tanto, com residência em Matosinhos). E, para o blogue colectivo Janela Indiscreta, cujos mentores vivem no Porto e em Lisboa, a actividade significa gostar “de demasiadas coisas, literatura e cinema entre elas” (Cristina Fernandes) e fazer “tudo pelo combate diário pela felicidade” (Tó Rebelo). Com estruturas informais, produtores de informação e dinamizadores de um novo público de cultura, os blogues explicam assim o seu sucesso recente, levando a pensar estar-se para além de uma simples moda.

segunda-feira, 18 de outubro de 2004

LAWRENCE GROSSBERG

Texto para análise na aula de amanhã de Públicos e Audiências: Lawrence Grossberg (1992/2003). "Is there a fan in the house?: the affective sensibility of fandom". In Lisa A. Lewis (ed.) The adoring aundience. Londres e Nova Iorque: Routledge

Grossberg (1992/2003: 52) explica que os fãs lutam pelo modo como um texto se liga às suas experiências de vida, e não tanto o que ele significa [fotografia retirada do sítio da Kansas State University]. Segundo ele, estuda-se o modo como um dado texto é usado, é interpretado, como funciona para as suas audiências. Estas (re)criam constantemente o seu ambiente cultural, são audiências activas, mas também estão conscientes do modo como são manipuladas pelas estruturas de poder e domínio. Além disso, a audiência da cultura popular não se concebe como entidade homogénea singular. As audiências e os textos estão continuamente a ser refeitos.

O fã, que se relaciona com o texto cultural, opera no domínio do afecto, do sentimento, da integração (versus discriminação). Diz Grossberg (2003: 58): os fãs dividem o mundo cultural entre Nós e Eles. O fã discrimina entre o seu raio de acção e o que está para além dele (Fiske, 2003: 34). Há uma distinção social entre a comunidade de fãs e o resto do mundo, fortemente marcado e identificado. Este mundo cultural dos fãs constrói momentos de identidade estáveis (Grossberg, 2001: 59). Mas a categoria de fã não existe do mesmo modo em todas as situações históricas. O fã é compreendido historicamente numa relação face à cultura.

Lawrence Grossberg é professor de Estudos de Comunicação na Universidade da Carolina do Norte (Chapel Hill) e catedrático da comissão executiva do programa universitário em Estudos Culturais. Ele é um dos investigadores principais dos estudos culturais americanos. Da sua bibliografia consta Dancing in Spite of Myself: Essays in Popular Culture (1997), Bringing It All Back Home: Essays in Cultural Studies (1997) e MediaMaking (1998). É co-editor de livros como Cultural Studies (1991), Sound and Vision (1993) e The Audience and its Landscapes (1996), assim como do jornal Cultural Studies.

Pode ler um texto de Grossberg no sítio Culture Machine.
EDIÇÃO DEZ MIL DO EL PAIS E TELELIXO

elpais3.JPGVem hoje na capa do jornal madrileno: suplemento especial do jornal nº 10000. Com 294 páginas sobre os 28 anos do jornal. Mas o exemplar que eu comprei não o traz. Já não é a primeira vez que suplementos ou produtos associados ao jornal (uma recente edição de um CD) não chegam a Portugal. Na última página do jornal vem indicado o preço para Portugal: €1,30 durante a semana, €2,30 ao domingo. Já fiz a reclamação por email para o jornal. Vamos ver a resposta.

Telelixo

Afinal, a Tele 5 aceitou o repto do Governo espanhol (depois da multa de semana e meia atrás e da entrevista de Zapatero de ontem ao El Pais). Escreve o El Pais que a Tele 5 resolveu impor 21 medidas internas para controlar o telelixo.
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As regras abrangem aspectos básicos como diferenciar notícia e rumor, favorecer o direito de resposta e preservar o anonimato dos menores, durante o horário de protecção infantil (6:00 às 22:00). O conselheiro delegado do canal televisivo, o italiano Paolo Vasile, considera que o código não implica uma mudança no modelo da televisão, dado que as regras não dizem respeito à linha editorial da cadeia de televisão mas a uma linha jurídica, apesar de reconhecer que "subiu a temperatura de alguns programas e cremos que é o momento de parar para reflectir". Intimidade, honra e imagem são alguns dos pontos que o canal estuda em termos de adequação à nova realidade. Em fundo, a deriva de programas como Big Brother e Aquí hay tomate levou o Governo a procurar controlar a situação quanto a conteúdos menos recomendáveis para crianças e adolescentes.
FOLHETINS

A sugestiva leitura do livro de Cristina Ponte (Leituras das notícias, 2004) iluminou o meu post de 13 de Outubro acerca de José Castelo Branco e A Quinta das Celebridades.

Ponte escreve sobre o folhetim e o jornalismo de interesse humano. Depois de situar o começo do folhetim na imprensa e a polémica que, por vezes, esse formato narrativo adquire no jornal (2004: 46-47), ela aponta a técnica do episódio (do folhetim), que "joga com múltiplas peripécias, rudes, inesperadas e comoventes, tudo devidamente seriado para que se mantenham a curiosidade e a expectativa". O folhetim surge como "ilustração do compromisso entre literatura e jornalismo", em que a sucessão de episódios cativa a atenção dos leitores. Do mesmo modo, continua a professora da Universidade Nova de Lisboa, o romance policial está próximo "enquanto narrativa de série e de suspense e na relativa estabilidade estrutural e desenho de personagens de onde emerge a figura de detective" (Ponte, 2004: 48).

A Quinta das Celebridades, como o fora o Big Brother, não é propriamente um reality-show mas uma narrativa. A produção do programa selecciona os conteúdos a emitir, extrai os momentos mais valiosos em termos de trama narrativa. Nas sínteses diárias ou semanais são colocados no ar os momentos mais apetitosos e não as cenas onde nada acontece. Isto é, a produção faz uma montagem do que se passa durante o dia, a partir da escolha das imagens recolhidas. O que nos parece espontâneo, com articulação entre os momentos, é fruto dessa escolha. Para não referir, os guiões previamente definidos.



[imagem retirada do sítio da TVI]

Uma narrativa é uma estória [grafia diferente de história, para dar a ideia de efémero], é uma ficção com ingredientes como atenção, suspense, movimento, drama. A Quinta das Celebridades gira à volta desta ficção.

Do mesmo modo, a revista dos assuntos televisivos (como as que eu apresentei) orienta-se para as estórias das personagens do ecrã. Por isso, constitui-se como continuidade ou intervém a montante (resumo dos capítulos das séries e telenovelas que decorrem durante a semana). E mostra a vida anterior das "celebridades" da Quinta. Aís se inseriu a longa reportagem de José Castelo Branco. É um folhetim mas em que não há continuidade na acção, mas fragmentação. Nesse aspecto, as revistas de televisão, conservadoras nos seus enquadramentos, são pós-modernas porque assentam nas categorias do efémero, do transitório ou do fragmentário.

Mas há todo um aparato a juzante do programa da TVI, como os contributos do ministro da Agricultura (que em reunião com açorianos entendeu falar sobre o programa, para haver sintonia, do tipo "se eu não estou dentro do grupo, se não partilho os mesmos gostos, o grupo não me aceita") ou do Primeiro-Ministro. O programa ultrapassa, deste modo, o quadro de referências iniciais e alarga-se ao país (político, neste caso). E as revistas aproveitam outros momentos de suspense e movimento, como o caso de uma antiga companheira de Castelo Branco ter dado uma entrevista sobre ele (como não a li não posso adiantar mais nada), construindo novas narrativas sobre as estórias seleccionadas e montadas pela produção do programa.

Há ainda uma outra vertente - a da meta-estrutura do folhetim. A revista de assuntos televisivos mostra as personagens fora e dentro do dispositivo televisivo, reflecte sobre este. Ou melhor, é um ajudante (fala sobre) e um apontador (indica para onde). Se quisermos, constitui-se como elemento complementar - ou até simbólico. Não foi por acaso que a última novela de grande sucesso da SIC (Celebridade) teve como pano de fundo o mundo das indústrias culturais (promoção da música de Pixinguinha). E a TVI quase que roubou o título - Quinta das Celebridades -, empregando dicotomias que simplificam qualquer narrativa, como a distinção entre urbano (José Castelo Branco e Cinha Jardim) e rural (o presidente da câmara de Marco de Canaveses).

domingo, 17 de outubro de 2004

ANTES DO ANOITECER

linklater.JPGA crítica cinematográfica destes dias já disse tudo sobre o filme do americano Richard Linklater, com Ethan Hawke (Jesse) e Julie Delphy (Celine) nos principais papéis.

O que posso acrescentar? Os longos planos, caso do diálogo após a saída da livraria onde Jesse apresentara um livro seu e viu Celine, por ruas estreitas, em planos americanos. A filmagem em tempo real, e que apenas ocupou três semanas em Paris. A alternância da condução do diálogo, apesar de uma maior intervenção de Celine. Os sítios conhecidos: o rio Sena, a catedral, os jardins. E o Le Café Pure, espaço onde um outro longo diálogo se estabelece, provavelmente um novo local de culto na cidade, a partir deste filme.

Antes do anoitecer é a continuação de um outro filme com os mesmos intervenientes, nove anos atrás, Antes do amanhecer. Nesse filme, Jesse e Celine conhecem-se numa viagem de comboio para Viena e em Viena. Não trocaram os números de telefone mas ficaram de se encontrar seis meses depois, o que não aconteceu. Filme de culto do independente Linklater, o novo filme traz uma nova dose de romantismo.

Vi, hoje ao fim da tarde, o filme na sala 1 do King, ali à avenida Frei Miguel Contreiras, em Lisboa.
OBRIGADO

Ao Orlando Braga, do blogue Letras Com Garfos III, a minha gratidão por ter colocado o I. C. na sua primeira divisão de blogues (com um v suplementar). Um abraço até ao Porto (cidade e clube).
LEITURAS DE JORNAIS

1) Jogo

game.JPGPara os fãs do futebol, agora em versão jogo de computador, nada melhor que o desafio Inglaterra-Portugal, a repetir o grande encontro ocorrido no Euro 2004, arbitrado pelo italiano Pierluigi Collina. Nele, vê-se David Beckham dirigir-se confiante para a marca de grande penalidade. O preço indicado no Sunday Times de hoje é de £39,99 (aproximadamente €58,2). O jogo Pro Evolution Soccer 4, destinado a todas as idades, está classificado com quatro estrelas, num máximo de cinco.

2) Capas musicais

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A da esquerda pertence ao suplemento "Culture" do Sunday Times de hoje e retrata a bailarina Darcey Bussel; a da direita é a capa do suplemento "Actual" do Expresso de ontem, com fotografia da cantora lírica americana Renée Fleming. Duas belíssimas e musicais capas!

3) Televisão e conteúdos

conteudos.JPGNo dia em que Zapatero atinge o meio ano de governação, o El Pais entrevista-o, ocupando cinco páginas.

Sobre televisão, conteúdos e programação das televisões privadas, responde Zapatero: "O Governo tem a firme determinação de que os horários de programação infantil têm que ser respeitados de modo escrupuloso nos seus conteúdos. Certamente é esta a principal queixa que o Governo recebe dos cidadãos. Dentro de 10 dias, a vice-presidente do Governo vai reunir-se com todas as televisões privadas para lhes pedir uma auto-regulação eficaz mas urgente. E se não [houver], desde logo, o Governo tomará medidas".

Zapatero entende haver prioridade na batalha dos conteúdos televisivos nos horários destinados às crianças: "creio que os efeitos das coisas que se estão a passar são muito preocupantes para a formação das crianças e dos adolescentes. A nossa primeira petição é que as televisões sejam inflexíveis, porque senão será o Governo".

4) Sem comentários

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Anúncio publicado hoje no jornal Público.

5) Tecnológicas

No dia 16 de Novembro, a Vodafone espera anunciar um apetitoso aumento nos dividendos a dar aos seus accionistas. Diz Paul Durman, do Sunday Times, que tal mostra que se está perante uma companhia mais madura. As acções da Vodafone cresceram (mais ou menos) das 120 libras para as 135 libras, entre Julho e Outubro. Outro desafio espera Arun Sarin, o presidente executivo vindo da Índia: o lançamento da 3G ou "terceira geração" de celulares, fornecendo imagens, entretenimento e notícias numa rede de alta velocidade. O investimento rondou os milhões de libras.

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[a festa portuguesa da Vodafone é já a 18 de Outubro]

O mesmo Paul Durman escreve sobre o iPod [aliás, também o Público de hoje dedica muito espaço à música download e ao iPod]. Diz o jornalista: "Os resultados do último trimestre mostraram que o iPod está a atingir um «ponto de charneira» que fará dele um produto genuíno do mercado de massas. E o Natal está mesmo à esquina". O sucesso do iPod deu confiança à Apple para prever um volume de vendas, neste trimestre, da ordem dos 2,9 mil milões de dólares. Dito de outro jeito: em 18 meses, a Apple deixou de ser uma empresa de 6 mil milhões de dólares anuais para chegar aos 12 mil milhões de dólares. A juntar à caixinha de música digital, a Apple tem outra flor no seu bouquet: o elegante computador portátil Powerbook. O maior problema da Apple é - ou será - a procura.

[observação: para evitar pensarem que estou a fazer publicidade, informo que não sou cliente da Vodafone nem uso computadores Apple, mas gosto de seguir as performances das empresas].

sábado, 16 de outubro de 2004

EL PAIS

elpais2.JPGPara quem morar no norte de Portugal e gostar da cidade galega A Coruña, há uma exposição de fotografia a não perder: a colecção de George Eastman House, de Nova Iorque. São 240 fotografias do fundo fotográfico daquela colecção (mais de 400 mil peças). Inclui obras de fotógrafos como Mathew Brady, Alvin Langdon Coburn, Robert Capa, Henri Cartier-Bresson. O texto do El Pais, de onde retiro esta informação, assinado por José Luis Estévez, faz-se acompanhar de uma foto de Judy Garland, de 1945, fotografada por Nicolas Muray.

A exposição decorre na Fundación Barrié de la Maza, no Cantón Grande, 9, naquela bela cidade marítima de Espanha, e pode ser vista até 2 de Janeiro de 2005.

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Ainda o mesmo jornal de Madrid traz, na capa do seu suplemento de viagens ("El Viajero"), uma fotografia do Bom Jesus de Braga, igreja neoclássica de Carlos Amarante (1742-1815), mas com um forte visual barroco. A imagem ilustra o destino eleito, esta semana, para um refúgio de férias, alargando-se, para além de Braga, às cidades de Porto e Viana do Castelo. Bom gosto o da jornalista Inés Eléxpuru!
OS MEUS BLOGUES PREFERIDOS - I

[texto saído originalmente na revista MediaXXI, nº 76 (Junho-Julho-Agosto). De novo, agradeço a todas(os) as(os) blogueiras(os) a amabilidade de responderem ao meu questionário. Este texto deve ser comparado com o trabalho de Joana Baptista, em Seminário de Investigação].

blogue17.jpgNos últimos tempos, tem-se escrito muito sobre blogues. Até os jornais veiculam informações por eles produzidas. O que são e para onde vão eis a razão deste artigo.

O movimento dos blogues começou em 1997, mas atingiu, entre nós, a notoriedade pública em 2003. Segundo o sítio Weblog.com.pt, existem já 1328 blogues nacionais. Para António Granado (PontoMedia), o blogue é uma “página com entradas datadas que aparecem pela ordem inversa em que foram escritas”. Já Elisabete Barbosa (Jornalismo Digital), defende que “o que distingue os blogues das restantes páginas é a motivação de quem o produz”. Os dois bloguistas escreveriam este ano um livro sobre o tema (Weblogs. Diário de bordo).

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Quanto aos académicos, eles fazem múltiplas apreciações: se, para José Luis Orihuela (Universidade de Navarra), a “blogosfera é um sistema complexo, auto-regulado, dinâmico e sensível à informação que produzem os meios tradicionais, em particular a referida a assuntos políticos e tecnológicos”, para Beth Saad (Universidade de S. Paulo) o blogue é um “espaço virtual de troca de experiências em torno de um determinado tema”, com “a manutenção da linha editorial das discussões e de uma acção contínua de fomento” das mensagens, enquanto Manuel Pinto (Universidade do Minho) defende os blogues pela “auto-edição acessível e barata”, mas teme que a sofisticação da ferramenta traga “uma nova forma de exclusão”.

blogue12.bmpPassado o pioneirismo, assiste-se à especialização de blogues (media, arte, cultura, política), com a existência de redes concêntricas (citações mútuas de blogues) ou excêntricas (bloguistas que intervêm nos comentários). Os blogues variam ainda segundo rankings (qualidade estética do blogue, informação nova), com os blogues de culto citados em primeiro lugar.

Inquérito

Em texto recente editado pelo MIT, Fernanda Viégas explica as razões do sucesso dos blogues: a maioria ostenta o nome do seu autor, que edita sem constrangimentos de espaço físico e cria uma audiência fiel (sistema de comentários). A autora, que baseou estes resultados na pesquisa on-line feita em Janeiro transacto, serviu de guia para um inquérito que elaborei. Apesar do meu inquérito não ter pretensões científicas, dado o pequeno número de blogues respondentes (19), ele não deixa de apontar tendências (ver Quadro).

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Para os respondentes, os blogues são passatempo, servem para comunicar de modo interactivo ou sob anonimato, fazem amigos e registam uma memória afectiva. Consideram ainda que a maioria dos blogues se dedicam a política e entretenimento. Uma das inquiridas acha que os “blogues masculinos são essencialmente políticos e de actualidade, enquanto os femininos se voltam mais para a literatura, entretenimento e reflexão”. Apesar do pequeno número de respostas, permito-me concluir que a maioria dos blogues pertence a uma população urbana já habituada a redes informais de electrónica.

Quadro (em percentagens). Número de respondentes=19

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[Nota: blogues respondentes – Arcabuz, Atrium, O céu sobre Lisboa, Íntima Fracção, Janela Indiscreta, Lua, Luminescências, Memória Virtual, A minha rádio, Nocturno com Gatos, Notícias de Ovar, Blogouve-se, Portugal Profundo, Puta de vida… ou nem tanto, A Rádio em Portugal, Seta Despedida, A Tasca da Cultura, Umblogsobrekleist, Vizinho].

[continua]