quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Livro Heróis Anónimos (2)

Foi lançado ao final da tarde, na Casa da Imprensa, o livro de Wilton Fonseca e António Santos Gomes, Heróis Anónimos (2). Jornalismo de Agência. História da Lusitânia e da ANI (1944-1975).


Do livro, começo pelo fim (p. 238): "Os autores destes dois volumes dos Heróis foram trabalhadores das agências (António Santos Gomes esteve na ANI, na ANOP e na Lusa; Wilton Fonseca e Mário de Carvalho estiveram na ANOP, NP e Lusa). Testemunhas e atores na vida daquelas empresas, não pretenderam fazer uma história descomprometida ou isenta, mas nem por isso deixaram de fazer uma História, sobre a qual têm as suas posições, opiniões e indignações". Santos Gomes é filho de Barradas de Oliveira, um dos fundadores da ANI. O segundo volume tem prefácio de Pedro Feytor Pinto, último diretor dos Serviços de Informação e Turismo (SEIT), antes de abril de 1974, e que, nesse texto quatro páginas, escreve sobre os vencidos (e a necessidade de escrever História desta perspetiva sobre os anos crepusculares do Estado Novo, acrescento eu). Mas o volume II, saído em 2016 e sobre a ANOP e NP (1975-1976) - que ainda não li - traz prefácio de Jorge Lacão, com responsabilidades políticas a seguir a 1974 e com igual dimensão de texto.

Ainda na p. 238, mas em parágrafo anterior, os autores escreviam sobre as agências: "Cada uma à sua maneira, a Lusitânia e a ANI, por um lado, e a ANOP e a NP, por outro, deram a conhecer Portugal e o mundo a conhecer aos portugueses e ao mundo. Empresas muito diferentes, tiveram no entanto objetivos coincidentes, foram vítimas de problemas semelhantes e poderiam ter tido destinos mais risonhos, até mesmo do ponto de vista empresarial". Da leitura do livro, após esclarecimento da perspetiva social e ideológica dos autores, considero uma obra o mais imparcial e objetiva possível, com uma apresentação larga das questões políticas da época e seu contexto mais amplo da sociedade nacional e internacional.

A Lusitânia foi criada em 1944 e deixou de existir em 18 de novembro de 1974, tendo Luís Lupi falecido três anos depois, amargurado, revoltado e desiludido. A ANI surgiu em 1947 e desapareceu em 24 de setembro de 1977, com Dutra Faria a falecer três anos depois, Barradas de Oliveira em 1987 e Marques Gastão viveu mais algum tempo, também amargurados e desiludidos: "o sonho partilhado de criação de uma grande agência nacional havia terminado. A Lusitânia e a ANI foram criadas e dirigidas por visionários" (p. 238). Em Portugal, e ao longo da mesma época, a operar no país havia agências internacionais, a Telimprensa (distribuição de telefotos), a PPI (Publicidade, Publicações e Informação, do grupo Torralta e a distribuir apenas noticiário nacional) e a AEI (Agência Europeia de Informação, que cedia direitos de utilização de textos e imagens) (pp. 191-192).

O livro começa com a interrogação: a Lusitânia teria sido uma verdadeira agência de notícias? A Lusitânia nascera dentro da Sociedade de Propaganda de Portugal, que juntava esta característica às de turismo e jornalismo, além da sua indefinição em termos jurídicos, o que colocaria a ANI como primeira agência de notícias do país. Mas os autores reconhecem o estatuto pioneiro da Lusitânia (p. 14). Para a história agora publicada, os antigos jornalistas de agências procuraram toda a documentação possível. O arquivo da ANI seria destruído na quase totalidade em 1977 e a correspondência trocada com a SEIT é escassa. Os autores recolheriam o depoimento de pessoas que trabalharam nas duas agências, trabalho prolongado por muitos anos, e, por isso, muito louvável.

O livro tem 25 capítulos distribuídos por 240 páginas, editado pela Perfil Criativo, apresentando o nascimento das duas agências - a Lusitânia com uma tendência maior para dar noticiário das colónias africanas, a ANI para dar mais relevo ao noticiário internacional -, crescimento, qualidades e dificuldades, a tentativa de criar uma agência noticiosa nacional e a nem sempre compreensão do poder político, apesar de os seus dirigentes serem muito próximos do mesmo poder político e serem requisitados por jornalistas internacionais e estabelecerem protocolos com agências noticiosas internacionais.

[na imagem: recetor via rádio do serviço DPA, oferecido pela agência alemã ocidental, hoje pertença da Lusa. Estes aparelhos de rádio usavam-se para receber notícias, a par ou antes das ligações via telex, cuja informação provinha de países como a Alemanha e a Inglaterra]

[texto concluído em 19 de janeiro de 2017]




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