sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

Sobre Marshall McLuhan

[a partir de: Em Griffin, A first look at communication theory, McGraw-Hill, 1994, pp. 332-343]

McLuhan divide a história da humanidade em quatro períodos ou épocas - tribal, literária, impressa e electrónica. As invenções cruciais que mudaram a vida no planeta foram o alfabeto fonético, a imprensa e o telégrafo.

A teoria de McLuhan é determinista tecnológica. As invenções na tecnologia causam, invariavelmente, uma mudança cultural. Enquanto o determinismo económico de Marx argumentava que as mudanças nos modos de produção determinam o curso da história, McLuhan concluiria que as mudanças específicas nos modos de comunicação moldam a existência humana. Ele via as invenções na comunicação como fundamentais, ao considerar qualquer nova forma de inovação dos media como extensão de uma faculdade humana. O livro é uma extensão do olho, a roda uma extensão do pé, a roupa uma extensão da pele, o circuito electrónico uma extensão do sistema nervoso central. Os media, para McLuhan, são tudo o que amplifica ou intensifica um órgão, sentido ou função. Isto é, o canadiano considerou que a nossa vida se deve muito ao modo como processamos a informação. O alfabeto fonético, a imprensa e o telégrafo são pontos de viragem na história humana porque mudaram o modo como as pessoas pensam sobre si e sobre o mundo.

Um dos aforismos mais conhecidos de McLuhan é "o meio é a mensagem". Para ele, o conteúdo de uma mensagem não tem uma grande importância. O meio muda mais do que a soma das mensagens incluídas nesse meio. As mesmas palavras ditas num frente-a-frente, impressas em papel ou apresentadas na televisão fornecem três mensagens diferentes. Oral, escrito ou electrónico, o canal primário da comunicação molda o modo como entendemos o mundo. O meio dominante numa época domina as pessoas.

McLuhan, na sua perspectiva de determinismo tecnológico, concebe a história da humanidade a partir de uma perspectiva mediática. Para ele, a aldeia tribal era um espaço acústico. O ouvido era rei; ouvir era acreditar. Os primitivos tinham vidas mais ricas e complexas que os seus descendentes letrados, porque o ouvido não selecciona o estímulo mas a entoação das palavras, que é de origem mais emotiva e provoca a raiva, a alegria, o medo e a tristeza. O alfabeto fonético foi como uma bomba no mundo acústico, instalando a visão à frente da hierarquia dos sentidos. As pessoas que lêem trocam o ouvido pelo olho. Escritor e leitor de um texto estão separados deste mesmo texto [vivem num contexto separado]. O alfabeto fonético estabeleceu a linha de um princípio organizado de vida. Ao escrever, cada letra segue outra numa linha interligada e ordenada. A lógica é modelada numa progressão linear passo a passo. McLuhan conclui que a invenção do alfabeto promoveu a emergência súbita da matemática, ciência e filosofia na Grécia antiga.

Ora, se o alfabeto fonético tornou possível a dependência visual, a imprensa alargou-a. Na Galáxia Gutenberg, McLuhan escreveu que a repetitibilidade é uma das características mais importantes da tipografia móvel. Dado que a revolução da imprensa demonstrou a produção em massa de produtos idênticos, McLuhan viu nela a primeira revolução industrial. Ele viu outros efeitos laterais não intencionais na invenção de Gutenberg, caso do nacionalismo e do isolamento da leitura. McLuhan insistiu que os media electrónicos retribalizaram a raça humana. Todos nós somos membros de uma só aldeia global. Os media electrónicos conduzem-nos a conhecer o que se passa no mundo de modo instantâneo. Os cidadãos do mundo voltam ao espaço acústico.

Uma vez que a televisão se tornou o meio dominante na comunicação, McLuhan centrou-se na descrição da natureza fundamental e no poder revolucionário da televisão. Classifica os meios como quentes ou frios. Os meios quentes são canais de comunicação com alta definição e são dirigidos para um qualquer receptor. A imprensa é um meio quente e visual. Do mesmo modo são a fotografia e a imagem em movimento. Elas contêm muita informação, pelo que não exigem um grande esforço por parte do receptor. O texto de um livro é quente mas um cartoon é frio. Os media frios exigem uma participação elevada para preencher as lacunas de entendimento ou conhecimento. A rádio é um meio quente mas o telefone é frio, porque (o interlocutor) precisa de uma resposta. Os meios quentes tendem a ser muito visuais, lógicos e privados. Organizam-se para comunicar informação discreta. Os media frios tendem a ser aurais, intuitivos e de envolvimento emocional. Os media frios clarificam o contexto envolvente para que os participantes se insiram na história. Se se pensa habitualmente que a televisão é um meio visual, McLuhan classifica a televisão como um meio aural e táctil, muito frio. A televisão é fria porque exige participação e envolvimento. Pode-se estar a trabalhar enquanto se ouve rádio, mas não se pode fazer o mesmo quando se vê televisão.

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