terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Maria Leonor Magro

O semanário Ponto não chegou a durar dois anos (1980-1981). Um dos seus jornalistas era Baptista Bastos, com boas entrevistas. Uma delas foi a Maria Leonor Magro, locutora famosa na sua época (edição de 19 de fevereiro de 1981).

Na entrevista, apresenta-se como mulher que luta com problemas de solidão e sem esperança. Então, tinha 58 anos de idade e 36 anos de profissão, um filho de 31 anos e divorciada de Pedro Moutinho, outro locutor famoso na época. Na altura da entrevista era diretora de programas do canal 1 da RDP. Em 1978, ganhava 9934$00, em 1981 atingia 24 mil escudos líquidos como diretora. Ela nascera em Lisboa, no bairro da Estrela, e vivia na Calçada das Necessidades - aqui misturando simbolismo com ironia.

Sagaz, o jornalista perguntou-lhe o que sentira com o 25 de abril de 1974, ao que ela respondeu ter podido ser uma coisa boa. E tinha a certeza de não ser saneada na onda de despedimentos de então, porque tinha ficha na PIDE. Ela nunca recebera uma condecoração nem fizera reportagem de eventos em Angola ou Açores, por exemplo. Costumava dizer que era socialista ativa, cristã e independente.

Foi perguntada a sua opinião sobre alguns locutores. De Pedro Moutinho considerava uma voz única mas ter perdido a atualidade, porque a rádio deixara de precisar de vozes pomposas, de Artur Agostinho entendia que superava a sua fraca voz radiofónica pelo grande profissionalismo e de D. João da Câmara apelidou-o de grande senhor mas sem continuadores, por ter um estilo único e próprio.

Da rádio pública, esperava dela como estação e não como apeadeiro. Dos desfiles de moda e de beleza, apoiava se houvesse possibilidades de intercâmbio das suas representantes mas não mostras de carne e de formas.




segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

A Festa, uma banda desenhada

Julgo ter sido em 1988 que Henrique Leorne fez as vinhetas da banda desenhada A Festa, a partir de um texto meu. Descobri nos meus papéis esta colaboração - na altura, trabalhávamos na indústria das telecomunicações - e resolvi reproduzi-las aqui, numa homenagem ao autor dos desenhos. A Festa era um concurso do melhor mascarado no Carnaval - e que até envolve a televisão.

Realce: a importância do telefone na comunicação humana. O objetivo era fazer uma impressão tipo livro de banda desenhada. Mas nunca foi publicado nem sequer mostrado a alguém. Creio que nem o autor dos desenhos ficou com uma cópia.

A realização da festa é comunicada a muita gente de profissões diferentes: empregada de escritório, basquetebolista, professora do ensino secundário, mecânico. Todos recebem bem a notícia e vão preparar as suas roupas e máscaras. O telefone é sempre fixo. De notar o telefone que liga ao futebolista, com um longo cabo desde a ficha, algo que não era habitual nas instalações telefónicas de então mas que se viam em filmes americanos, quando as conversas eram longas (e românticas).

Numa imagem, Henrique Leorne propôs-me mudar o texto. Onde eu tinha escrito bebidas como vinho e cerveja, ele optou por bebidas não alcoólicas (ver o meu texto no final da mensagem). Era um tempo em que se discutia publicamente a questão, do mesmo modo que o tabaco. Ainda me lembro de ver locutores-jornalistas na televisão apresentarem o telejornal enquanto fumavam. Hoje, é impossível.

Noutra vinheta, observa-se o movimento urbano (transportes públicos e particulares, transporte de bens) e indicação da discoteca da festa. Em fundo, que eu apreciei muito quando Henrique Leorne me mostrou o conjunto dos desenhos, uma cidade de prédios elevados e muitas luzes, a indiciar uma pujante vida urbana. Curiosa, porque datada num tempo, a vinheta do cliente ir à loja de computadores reservar uma mesa para a festa. Hoje, far-se-ia online (em linha). Na mesa ao fundo, um empregado da loja escreve num papel; hoje, usaria um tablet ou telemóvel inteligente.
Já agora, nem um só telemóvel ao dispor dos utentes do metro ou autocarro. O desenhador não podia prever a explosão de aparelhos de comunicação móvel. A primeira empresa em Portugal, a TMN surgiu em 1991 e os primeiros telemóveis eram muito grandes (implantavam-se nas malas dos automóveis) e muito caros.

Mais para a frente da história, uma das imagens tem anacronismos. Se a empresa de telefones pretendia que o consumo (ligações telefónicas) fosse fluído, a ideia aqui é a do "entupimento" (linhas todas ocupadas). A imagem da central manual com telefonistas quase tinha desaparecido com a implantação de centrais digitais. O desenho da telefonista, de perfil, retoma uma imagem de Henrique Leorne feito noutra ocasião da sua colaboração.

Quando o cliente comenta ir para a festa, a telefonista, ainda vista de perfil, lamenta não poder ir. As horas do seu turno de trabalho coincidiam com as da festa. Na vinheta seguinte, onde se recupera o enquadramento de desenho anterior da banda desenhada, vê-se uma carrinha com panos publicitários a anunciar a festa. Ao fundo, no passeio, de forma estilizada, tipos de figuras: o punk (de cabelos eriçados), o janota (de chapéu alto) e a senhora da sociedade (com estola).

Como comentário final, houve sempre uma ligação (ou tentação) das telecomunicações aos media. A televisão é cobiçada pelas telecomunicações em termos de conteúdos e transporte de mensagens. A PT teve no seu portfólio de empresas jornais e uma rádio. Nos anos mais recentes, procurou comprar um canal de televisão generalista.




















Observação: faz hoje 15 anos que comecei a escrever nas redes sociais (caso da Blogger.com).

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

DAB+ na Noruega

Em The Local, a notícia de que, a 11 de janeiro de 2017, as estações de FM serão silenciadas na Noruega. O governo norueguês tomou esta decisão, embora muitos cidadãos do país estejam contra (dois terços). Depois de um século de emissões em sistema analógico, a versão avançada do Digital Audio Broadcasting (DAB+) vai tornar obsoletos quase oito milhões de recetores. A mudança far-se-á no sentido do norte para o sul do país. Apenas algumas estações locais transmitirão em FM até 2002. É, de longe, a maior revolução radiofónica, desde que a FM e a estereofonia ganharam espaço às emissões de ondas médias, numa atividade que tem um século de existência.

A notícia não indica razões políticas e económicas da decisão, impopular por um lado e contra o movimento ensaiado nos anos mais recentes. Por um lado, a passagem imediata para o DAB+ obriga a uma mudança nacional dos recetores, vantajosa para a indústria e para o Estado, que pode ganhar muito dinheiro ao concessionar as frequências agora disponíveis, mas onerosa para as estações e ouvintes, obrigados a comprar novos equipamentos. Por outro lado, após o Reino Unido ter tomado idêntica decisão, alguns outros países recuaram a transição para o digital. Em Portugal, há um silêncio quase total.

James Cridland, num texto publicado em 6 de março deste ano em media.info, escreveu sobre o interesse do Reino Unido passar do sistema DAB para o DAB+, embora sem data marcada, e chama a atenção para que a evolução do sistema não significa automaticamente melhor áudio ou fica mais económico para as estações. Mas reconhece que é a escolha mais adequada para a rádio digital.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O Pai

A interpretação de João Perry é soberba. Não posso dizer que é a melhor personagem por si interpretada, porque não conheço toda a sua carreira, mas esta está muito bem feita. O Pai é um homem entre 70 e 80 anos, velho e com Alzheimer. Nos diálogos com a filha (Ana Guiomar), percebem-se os momentos de perda de memória e de espaço. A encenação (João Lourenço) ajuda, apoiada na luz (Alberto Carvalho e João Lourenço); as duas criam dimensões dramáticas, de desespero, insegurança, mergulho no abismo, de alucinação e incompreensão dos outros face à realidade do sujeito. O vídeo (Luís Soares) mostra imagens de um menino e de um velho (Perry), numa espécie de retorno.

A filha quer ajudar o pai, mas o dia-a-dia torna-se difícil. O universo mental do pai afasta-se da realidade física. Ele vai esquecendo os locais, confunde relações, vê rostos diferentes. Com a enfermeira que cuida dele, estabelece uma relação de recusa, o que leva a filha a equacionar levá-lo para um lar. O motivo mais próximo é a perda do relógio, em que se acusa a enfermeira de roubo. Mas o relógio está apenas dentro do micro-ondas, local onde costuma guardar alguns dos seus bens. O pai - André - não quer sair da sua casa, quando já habita a da filha. Não se apercebeu da mudança embora percecione móveis diferentes ou ausentes.

Para ser mais realista, a encenação coloca duas atrizes no papel de filha e dois atores no papel de genro e altera a cenografia da casa onde ele está. Em jogo, um processo interno de relacionamento com os outros. A peça mostra a lenta desagregação do corpo do indivíduo. Ele fora engenheiro, agora, perante a nova enfermeira, indica ter sido artistas de variedades. E canta e seduz - mas o brilho do momento apaga-se e ele volta a confundir a realidade, como se fosse um luz a perder-se. Ao escrevê-la, Florian Zeller (1979) recorda a avó cuja demência começou quando ele tinha 15 anos. De uma peça de Ionesco tirou a ideia com que acaba a peça. O Pai, já muito enfraquecido, pede à filha que lhe cante uma cantiga de embalar.

Mesmo no final, quando já está num lar de velhos, ele pretende que a mãe o leve embora daquele sítio - a luz do palco vai-se reduzindo e o ator fica num ponto e numa centelha até desaparecer. O silêncio na sala ficou mais denso e a reação dos espectadores demorada até às palmas.

Do programa, refiro a leitura de dois textos. O primeiro, de Cícero, aponta quatro causas que indicam a infelicidade da velhice: o indivíduo aparta-se dos negócios, o corpo fica debilitado, decresce o número de prazeres a usufruir, está-se perto da morte. Como o indivíduo não é imortal, o que viveu muito tempo deve recordar o que fez honrada e corretamente. O segundo texto pertence a Atul Gawande. O avó dele, indiano, viveu até aos cem anos, admirado pelos mais novos, exercendo a sabedoria e o respeito devido aos mais velhos. Melhor, viveu integrado na família até morrer. Esta, numerosa, tinha sempre elementos que o podiam ajudar. O pai de Gawande foi viver e trabalhar para os Estados Unidos. Aqui, o velho já não vive na família, reduzida a células pequenas. O velho vai passar os últimos anos num lar e aí morrer, com algum conforto material mas sozinho. O Pai da peça de Florian Zeller já está nesta categoria.

Teatro Aberto, com João Perry, Ana Guiomar, Paulo Oom, Sara Cipriano, Patrícia André (Laura) e João Vicente (Pedro).

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

A audição da rádio no último trimestre de 2016


A disputa entre RFM e Comercial na liderança das audiências de rádio mantém-se no último trimestre, com ligeira vantagem para a estação do grupo Renascença. Assim, em Audiência Acumulada de Véspera, estão empatadas, com a Comercial a perder terreno quando comparada com o começo do trimestre. Já em share de Audiência e Reach semanal, a RFM lidera. Nos grupos, o grupo Renascença é o mais ouvido (dados da Marktest)..

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Jornalismo radiofónico

O e-book Jornalismo radiofónico, de João Paulo Meneses, com 129 páginas, editado pelo Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (Universidade do Minho, Braga), é a reescrita de Tudo o que se Passa na TSF, publicado em 2003, com a preocupação de desenvolver uma questão muito importante para ser esquecida: a comunicação radiofónica e o jornalismo são condicionados pelas características de receção do próprio meio. Desse modo, o autor desenvolveu o capítulo sobre ruído. Outras preocupações foram evitar repetições ou eventuais incoerências.
Retiro uma parcela do texto (p. 7), espécie de introdução ao que é rádio: "A rádio é, entre os diversos meios de difusão, aquele que mais influencia a mensagem, ou seja, que mais condiciona os conteúdos. Enquanto meio (isto é, veículo de transmissão de mensagens selecionadas), a rádio possui determinadas características; a televisão, o jornal ou a internet também, claro. Mas só na rádio se verifica uma verdadeira acumulação (poder, simultaneamente, ler o jornal e ouvir rádio, cozinhar e ouvir rádio, conduzir e ouvir rádio). A rádio que hoje conhecemos é a que se reposicionou quando surgiu a televisão: deixou a sala de
estar e a noite, passando para o carro (e cada vez mais para os smartphones) e para o dia. Ou seja, este consumo secundário é fortemente influenciador da capacidade e qualidade de receção do ouvinte. Ignorar isso, por parte de quem comunica na rádio – neste caso dos jornalistas – é o primeiro e derradeiro pecado".

João Paulo Meneses foi profissional da TSF, tem doutoramento em comunicação e trabalha atualmente na Escola Superior de Jornalismo (Porto). O seu hóbi preferido é criar bonsais, as pequenas árvores japonesas, participando em exposições em Vila do Conde, concelho onde reside.

Editora FLOP

A FLOP é uma editora de Adriana Oliveira, Carolina Lapa, Tamina Šop, Luís Nobre e Rui Manuel Amaral. A nova editora propõe-se publicar sem concessões altíssima literatura, o que torna claro o nome e certo o colapso financeiro.

O volume inaugural é a antologia de contos de Daniil Kharms (1905-1942) Três Horas Esquerdas, com tradução e apresentação de Júlio Henriques. Três Horas Esquerdas marcou a estreia da MARIONET em co-produção com o Teatro Académico de Gil Vicente, espectáculo que também foi a estreia em palcos portugueses do escritor russo. Autor de larga obra de escritos com estilo muito particular, grande parte da sua obra esteve proibida na Rússia estalinista e só na segunda metade do século XX os seus textos começaram a emergir. Consciente da importância da obra deste escritor na literatura mundial, a MARIONET quis contribuir para o seu conhecimento dentro das nossas fronteiras. O Três Horas Esquerdas tem por esqueleto 14 curtos textos agrupados num pequeno capítulo da Grande Enciclopédia da Estupidez Humana.

Todos os leitores que participarem na campanha de pré-compra serão co-editores da obra e o seu nome (ou o nome que indicarem) constará nessa lista.

Mais informações sobre o livro e a editora Flop aqui e aqui.

Atlas do setor de videojogos em Portugal

Do relatório Atlas do Setor dos Videojogos em Portugal (#1) (2016), coordenado por Pedro A. Santos (INESC-ID/Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa), Patrícia Romeiro (CEGOT/ Universidade do Porto) e Flávio Nunes (CEGOT/Universidade do Minho), retiro o seguinte: "Numa altura em que a indústria portuguesa de videojogos está a ganhar forma acreditamos ser muito importante a realização de estudos de caracterização que promovam o seu autoconhecimento. Este é o primeiro de um desses estudos promovido pela Sociedade Portuguesa de Ciências de Videojogos (SPCV). O estudo mostra o resultado de pesquisa e consulta direta a várias empresas e criadores, apresentando uma caracterização socioeconómica do setor, ilustrando a sua dinâmica e distribuição, e incluindo algumas das preocupações comuns".

Logo à frente: "Este projeto representa a primeira tentativa de mapeamento e caracterização do setor dos Videojogos à escala nacional, recorrendo a uma metodologia diversificada que foi desenhada à medida e atendendo às particularidades desta atividade económica. Esta análise pretende ser um instrumento de apoio à decisão e ação, no contexto do desenvolvimento de estratégias individuais e coletivas para o desenvolvimento do setor dos Videojogos em Portugal".

Do enquadramento, o texto diz: "O setor dos Videojogos é atualmente um dos setores com maior desenvolvimento a nível mundial e com um maior potencial de crescimento. Em 2015 as vendas atingiram entre 61 e 91.5 mil milhões de dólares, um crescimento de 8% face a 2014 e que se prevê continuar. Em vários países, o setor dos Videojogos é uma fonte importante de receitas, ultrapassando muitas vezes outras indústrias criativas ou de entretimento, como sejam a indústria musical ou a do cinema. É o caso do Reino Unido, Suécia e Finlândia, onde o setor dos Videojogos contribui com mais de mil milhões de Euros anuais para o produto interno de cada um destes três países. O impacto deste setor não se limita a efeitos económicos mas também socioculturais. Jogar videojogos há muito que deixou de ser uma atividade secundária e passou a fazer parte do estilo de vida de uma grande parte da população europeia, americana e asiática. Em Portugal podemos associar a evolução do setor dos Videojogos a três fases distintas. A primeira, nos anos 80 do século XX, está associada ao início da difusão dos computadores, tendo sido liderada por jovens amadores, universitários ou pré-universitários, que se dedicavam afincadamente ao desenvolvimento de jogos (com grandes doses de ́paixão’ e ‘resistência’), alguns deles conseguindo mesmo a sua comercialização internacionalmente. A segunda fase iniciou-se em meados dos anos 90 do século XX e esteve associada ao aparecimento da Internet. Esta veio dar um forte impulso à criação de videojogos em Portugal, ao facilitar o acesso a conhecimento técnico relacionado com esta atividade (ex. através de fóruns e tutoriais online). Mais recentemente inicia-se uma terceira fase associada à empresarialização do setor, com o surgimento de empresas dedicadas a esta atividade. Reconhecendo o seu potencial de crescimento, bem como as necessidades de formação específica, assiste-se a uma aposta do Ensino Superior nesta área, com a criação de oferta formativa especializada que procura integrar as componentes criativa e tecnológica. Na atualidade, o crescimento e dinamismo do setor em Portugal começa a ter repercussões ao nível da notoriedade desta atividade na sociedade. Se até recentemente era muito pouco frequente encontrar peças informativas (reportagens, notícias, ...) sobre videojogos de origem portuguesa e sobre os atores envolvidos neste processo produtivo, hoje a realidade é já distinta e deteta-se um maior interesse e reconhecimento das conquistas alcançadas. Esta tendência ajuda a que esta atividade deixe de estar tão conotada com o lazer e diversão, alimentada pelo voluntarismo e amadorismo de alguns, para se assumir como um setor em evidente processo de profissionalização, rentável e promissor, procurando acompanhar e beneficiar da tendência de evolução do mercado internacional para estes produtos e serviços digitais".

O relatório conclui tratar-se de um setor emergente, mas dinâmico e em franco crescimento, predomínio de microempresas, videojogos made in Portugal para o mercado internacional, setor ainda dependente de capitais próprios, tecido produtivo misto: empresas versus criadores, redes de interação que valorizam territórios de proximidade. Como propostas de ação sugerem-se: 1) mapear para conhecer e atuar melhor, 2) game on, Portugal! apoiar para crescer e induzir inovação na economia, 3) impulsionar o modelo tripla-hélice (educação/ indústria / governo).

domingo, 18 de dezembro de 2016

Museu de Música Mecânica, de novo

No Museu de Música Mecânica (Pinhal Novo, Palmela), aprendi hoje que, antes da gravação de discos, houve gravação em cilindros. O equipamento era usado nomeadamente em escritórios em que as secretárias deixavam mensagens ao patrão sobre o expediente e restantes atividades comerciais da empresa. O que melhora a minha compreensão do registo sonoro. Na rádio, é dito que o registo inicial foi em disco. Será que as primeiras estações de rádio gravaram música em cilindros?

Na fotografia, uma das primeiras juke boxes, marca Regina, de seis cilindros (Estados Unidos, 1912). Colocada num sítio público, funcionava com uma moeda, com seis melodias cujos títulos se expunham na parte superior do aparelho.

No vídeo, o colecionador dr. Luís Cangueiro em três momentos da visita guiada: 1) fonógrafo de Edison, 2) Frank Sinatra numa canção de Natal, 3) canção Auld Lang Syne, melodia popular tradicional, conhecida em países ingleses e cantada para comemorar o começo do ano novo. Robert Burns em 1788 adaptou-a com um poema seu, conhecida como The Song that Nobody Knows, porque ninguém se lembra desse poema, que começa assim: Should auld acquaintance be forgot / and never brought to mind? / Should auld acquaintance be forgot/ and days of auld lang syne? / For auld lang syne, my dear, / for auld lang syne, / we'll take a cup of kindness yet, / for auld lang syne.

 

Atualização em 25 de janeiro de 2017: um leitor enviou-me a seguinte mensagem, que coloco aqui:

"Caro Professor Rogério Santos, descobri há pouco o seu blog, sobre o qual o felicito pela excelente compilação de artigos. No entanto, e sendo esta a minha área profissional, queria clarificar um pormenor no artigo "Museu da Música Mecânica, de novo" (https://industrias-culturais.hypotheses.org/27200).

"A hipótese que levanta sobre a possibilidade da gravação sonora em cilindro nas rádios carece clarificação. De facto, quando as rádios, nomeadamente em Portugal, iniciam a sua emissão sonora (exceptuando a rádio-telegrafia que não contém informação sonora), já a gravação em cilindros se encontrava em declínio. Adicionalmente, a gravação sonora em cilindro possui fraca qualidade de som, o seu suporte era extremamente frágil e o número de leituras era reduzido. Por esse motivo, no final dos anos de 1920, foi desenvolvida a gravação em "disco instantâneo" (também conhecidos por Laquers).

"A título de exemplo, cerca de 1912 a Colombia deixou de utilizar cilindros. O mesmo aconteceu por volta 1929 com Edison. Por fim, foi em 1925 que foi efectuada a transição da tecnologia de gravação em disco do domínio mecânico (conhecido por gravação acústica) para o domínio electromecânico (gravação eléctrica).

"Os melhores cumprimentos,

"Isaac Raimundo"

Museu da Rádio em Alcobaça


O "Espólio Coleção Madeira Neves – Casa das Máquinas Falantes" foi adquirido pela autarquia em maio de 2009 ao colecionador José Madeira Neves, antigo empregado da Emissora Nacional, já falecido. O ano passado foi negociado o espaço de colocação do Museu da Rádio de Alcobaça, no rés-do-chão e na cave dos antigos armazéns Vazão, na rua Araújo Guimarães (Alcobaça). A sua inauguração está projetada para maio de 2017.

A coleção tem mais de cinco mil objetos ligados à rádio (equipamentos técnicos de radiodifusão e de telecomunicações como rádios, microfones, telefones, caixas de música, fonógrafos, gravadores magnéticos, gramofones e grafonolas e discos) [imagem retirada de notícia de 27 de outubro de 2015 do Público].

sábado, 17 de dezembro de 2016

João Barradas Trio

Ouvir o trio de João Barradas foi um momento de grande calma e satisfação. Ao utilizar o acordeão normal ou o MIDI, com retirada de novas sonoridades que incluem timbres como o piano elétrico, ele trabalha universos inimagináveis (para mim). Daí o meu agrado enquanto ouvinte. Numa formação jazzística, o acordeão parece um ser estranho mas o músico confere autoridade e estado adulto. Das influências sofridas, ele recorda Astor Piazzola, a portuguesa Eugénia Lima e Richard Galliano (presença habitual nos canais de televisão Mezzo), mas também Wayne Shorter, Steve Coleman e outros. Ele junta - e quase não vê diferenças - música de jazz e música clássica ou erudita. Transcreve com frequência solos de pessoas tão diversas como Branford Marsalis ou Claude Debussy. Sobre o músico, retiro um comentário/crítica do blogue Untitled Vinyl: "jovem promessa que tem vindo a mudar a forma como jazz é engendrado". No concerto da Cultugest (Lisboa), foi acompanhado por André Rosinha (contrabaixo) e João Pereira (bateria).


No dia anterior, num outro cruzamento de instrumentos musicais, ouviu-se Mujer Klórica, duo formado pela cantora Alicia Carrasco e guitarrista Manuel Léon, a que se juntaram o trompete do norueguês Audun Waage, o percussionista Israel Katumba e a bailarina Vanesa Aibar. O flamenco clássico invadido pelos sons de trompete criam uma atmosfera rica e entusiasmante, a que os bailados conferem uma paisagem igualmente rica.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Exposições da Fundação D. Luís I (Cascais) para 2017



A Fundação D. Luís I apresentará em 2017 no Centro Cultural de Cascais três exposições de grande destaque: Herb Ritts, fotografia (8 de setembro de 2017 a 21 de janeiro de 2018), De Rubens a Van Dyck, pintura flamenga da coleção Gerstenmaier (7 de abril a 2 de julho) e Roque Gameiro: Uma Família e uma Época (13 de janeiro a 2 de abril). Por seu turno, o Museu da Cidade apresentará duas exposições em dois dos seus núcleos, o Pavilhão Preto e o Torreão Poente do Terreiro do Paço, ambas dedicadas à cidade de Lisboa, respetivamente A Lisboa que Teria Sido (26 de janeiro a 2 de junho) e Debaixo dos Nossos Pés – Pavimentos Históricos da Cidade de Lisboa (16 de março a 18 de junho).

Da informação recebida da entidade organizadora, retiro a nota respeitante à exposição De Rubens a Van Dyck – Pintura Flamenga da Coleção Gerstenmaier: "As notáveis características da pintura flamenga, como o uso de cores vivas e um especial tratamento da luz são dadas a conhecer ao público. Este é um momento único para apreciar como diferentes artistas desenvolveram diferentes técnicas num dos períodos mais florescentes da história da arte. As pinturas relacionadas com a fé cristã, os retratos, as naturezas mortas ou os temas mitológicos são representados na obra de grandes mestres flamengos como Rubens, figura central da pintura barroca, o seu discípulo Van Dyck, Brueghel, Van Thielen e Van Kessel, entre outros".




O fim do Teatro da Cornucópia

O Teatro da Cornucópia termina amanhã, 17 de dezembro. Com o encerramento, ficam 44 anos de história da companhia fundada por Jorge Silva Melo e Luís Miguel Cintra (escritura a 21 de novembro de 1972, conforme documento abaixo). Amanhã, um recital com poemas do francês Guillaume Apollinaire será lançado o segundo volume do livro Teatro da Cornucópia - Espetáculos de 2002 a 2016. Desde 1975, o teatro estava instalado no Bairro Alto.



quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Climas em representação

No começo da representação de Climas, não percebi ao que tinha ido (Teatro S. João, Porto). Parecia-me desconexo, cheio de contorcionismos e sem texto. À medida que o tempo foi passando comecei a degustar (não sei se o termo é correto aqui) e a encontrar coerência, deixando de pensar ser uma modernice - mais própria para uma sala experimental como tem sido o teatro de Carlos Alberto (Porto). A ausência de códigos específicos ou explícitos pode tornar uma experiência de palco agradável ou o inverso, perigo que corri. Por isso, a leitura dos textos do programa (catálogo) foram úteis para a compreensão do visto e ouvido no palco.

Primeiro, o espaço central dado à improvisação. André Braga e Cláudia Figueiredo levaram os materiais de partida e deixaram que o grupo constituído por Costanza Givone, Daniela Cruz, Gil Mac, Margarida Gonçalves, Paulo Mota, Ricardo Machado cocriassem e interpretassem dentro de uma estrutura de quatro capítulos: pântano irrespirável, febre seca, coração da terra e buraco negro. Os seis intérpretes (três mulheres e três homens) dançaram, cantaram, foram quase bailarinos, transfiguraram-se através dos gestos, do vestuário e das cores que pintaram nos corpos. Depois, às vezes, coreografias, outras vezes, jogos quase fabulosos de luz (Francisco Tavares Teles e João Abreu), deixando antever manchas e movimentos, quase a hipnotizar o espectador, muitas vezes com o apoio da música (sonoplastia de André Pires), marca definidora de ocupação de espaço, e do vídeo (Gonçalo Mota), num jogo de outro espaço de representação. Um elemento a acrescentar: o microfone desempenha um papel inovador, na minha perspetiva: ele não serve apenas para ampliar sons mas adquire um estatuto de confessionário, que os intérpretes procuram para mostrar estados de alma, e de papel próprio, emitindo sons apenas seus (no carrinho de jardineiro, por exemplo). Além de tudo, o uso da terra no palco extravasou para a sala toda. No ar, ficou um cheiro a terra de castanheiro e outras árvores, numa aproximação à realidade fora do palco e da plateia fechados e climatizados. Os corpos dos intérpretes rolam no chão, correm, abraçam-se e repudiam-se, na espécie de normalização na relação humano-natureza, mas com leituras simbólicas da separação dos dois.

A produção deve muito à Circolando (mais a Culturgest e o CMA/Teatro Aveirense), que podia ter sido apenas um grupo de circo, como nos momentos iniciais da representação eu julguei, mas é uma peça de maturidade do grupo. De texto que recolhi sobre Climas, li "a Circolando ficcionou um território humano projetado num horizonte de mar, rio e céu". A peça levou a companhia a um palco convencional, fechado e climatizado, a cumprir o desígnio de Goethe (Diário das Nuvens) de "reintegrar o céu na paisagem humana". Li ainda que a peça "desafia o potencial performativo destes diálogos felizes entre poesia e climatologia".

A palavra, elemento primordial do teatro, fica aqui em plano muito secundário. O dizer é menos importante que o fazer ou agir. Não sei se é mau, mas fico com mais material para refletir. A performatividade, palavra já usada acima, torna-se multimedia, em que o teatro está para além das relações sociais das personagens. Aliás, em Climas, as personagens não existem mas apenas relatos de ações em dias identificados pela voz dos atores.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

The Museum Reader: what practices should 21st century Museums pursue, how and why? An International Conference

[informação da entidade promotora]

Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, Lisboa, 9 e 10 de março de 2017

A conferência internacional The Museum Reader, organizada pelo Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, tem por objectivo propor linhas temáticas e pontos notáveis para pensar, reflectir e debater novas realidades, práticas e condições de trabalho detectadas nos museus deste século XXI. Pretende-se analisar e sistematizar novos modos e paradigmas, tendências e diferentes práticas e formas de pensar o papel das instituições artísticas no contexto do actual panorama artístico.

Em foco estarão os seguintes temas:
• Os museus na passagem do século XX para o século XXI
• O museu e a concepção neoliberal de cultura
• As transformações paradigmáticas das instituições artísticas no contexto da actual ordem social, económica e política
• A crítica institucional enquanto investigação dos contornos e funcionamento das instituições de arte
• O museu como lugar de negociação e conflito
• O potencial das instituições e a nova esfera institucional: o novo Institucionalismo, a museologia radical, museologia crítica
• Crítica e experimentação nas instituições artísticas
• Práticas institucionais e não institucionais no museu
• Quais as exigências e desafios das práticas artísticas contemporâneas para os museus e instituições artísticas
• A futura identidade das instituições artísticas

Convidamos os interessados a enviar um resumo (não mais de 300 palavras), acompanhado de uma breve biografia (aprox. dois parágrafos) para os elementos do comité de organização, através do email themuseumreader2017@gmail.com até 13 de Janeiro de 2017. Os participantes serão notificados até ao fim de Janeiro e o programa da conferência será anunciado em meados de Fevereiro. As línguas da conferência são o inglês e o português. Uma selecção das comunicações apresentadas na conferência serão publicadas num número especial da revista Wrong Wrong (wrongwrong.net, ISSN 2183-5527). Para assuntos administrativos e questões práticas, por favor contactar Patrícia Melo (themuseumreader2017@gmail.com). Mais informações: http://themuseumreaderconference.weebly.com

sábado, 10 de dezembro de 2016

Videojogos valem quase 90 milhões de euros

Com chamada de capa na primeira página de economia do Expresso e duas páginas inteiras, os videojogos já valem 90 milhões de euros em Portugal (texto de Tiago Oliveira e ilustração de Helder Oliveira).


O texto começa praticamente com uma citação de Tiago Franco, da Fun Punch Games, designer e cofundador do estúdio português que vai ser o primeiro a colocar um jogo nacional na PS4 (Striker's Edge), disponível no começo de 2017 na loja online da Sony. Mais à frente, o texto aponta o futuro de um mercado em rápido crescimento e inovação: os mercados digitais ganham terreno aos físicos e o mobile é cada vez mais a plataforma omnipresente. O texto indica ainda a importância das parcerias, caso da estabelecida pela Sony Computer Entertainment com o Instituto Politécnico de Leiria a estimular os programadores nacionais. E o investimento psicológico necessário para se avançar em termos de jogos não a lançar mas a alcançar sucesso. O desafio final é compreender o que os consumidores querem e que as redes sociais servem de indicador.

A terceira edição da Lisboa Games Week reuniu 48 mil pessoas para o maior evento nacional dedicado aos videojogos, valor acima dos 40 mil na edição de 2015, e com mais de 150 marcas, destacando-se a Sony, Microsoft, Samsung e HP. Além deste evento, há a LX Party há dez anos, de dimensão mais pequena.Uma das notícias não esqueceu a opinião de alguns visitantes, com 16 ou 18 anos, que foram à Lisboa Games Week para ver e experimentar jogos que não podiam aceder de outro modo e tomar contacto com a programação.

O texto não podia deixar escapar uma referência à Nintendo e ao Pokemon Go, que ultrapassou os 500 milhões de descarregamentos em todo o mundo. E ainda outra referência à empresa Bica Studios, focada nos jogos mobile, com dois jogos: Smash Time e Slice In, a ambicionar chegar ao topo dos polos dos videojogos do mundo: Estados Unidos e China. Já os estúdios mais pequenos têm uma outra meta: apoiar jogos e aplicações para as plataformas digitais.

Alguns números saltam das peças do Expresso: 85 milhões de euros é quanto a indústria portuguesa deve gerar este ano, podendo chegar aos 125 milhões de euros em 2021, 2,1 mil milhões de pessoas consideram-se gamers (jogadores) em todo o mundo, 30,8% dos portugueses têm uma consola, número que sobe para 57,1% na faixa etária dos 15 aos 24 anos, 600 mil jogos vendidos em suporte físico, 35 mil milhões de euros que representam o mercado mobile e 36  mil milhões de euros o mercado online em Portugal.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Vinil ultrapassou pela primeira vez a música digital no Reino Unido

Assim começa o artigo de Joana Amaral Cardoso no Público que dá conta do regresso nostálgico do formato analógico do disco. O vinil, caso do álbum lançado em 1948, em tempos o formato dominante, escreve a jornalista, volta a estar presente de uma forma que a cassete, ela também sujeita de um ressurgimento setorial, inveja. Há muito pouco tempo, o descarregamento digital parecia ser o futuro sem qualquer outro formato por perto, o que torna a realidade mais complexa e quase estranha. Os dados da expansão do vinil são da Entertainment Retailers Association (ERA) britânica: gastaram-se 2,8 milhões de euros em discos de vinil e 2,4 milhões em formatos digitais. Desde 2008, o crescimento do vinil no mercado foi constante após o final do século XX e da quase extinção. Contudo, no geral, o vinil representa apenas 2% do mercado musical. Possivelmente, o crescimento do vinil esteja associado a vendas de Natal e aos locais de venda dos discos, que se alargam das lojas de discos a lojas de vestuário, de decoração e supermercados, mesmo que estes locais não tenham outros suportes disponíveis. E também a ideia de colecionar não é despicienda. No mesmo texto, há uma referência a sondagem da BBC no início de 2016, em que 48% dos inquiridos admitiam não pôr a tocar o disco em vinil que compravam e que 7% nem sequer eram proprietários de um gira-discos. Um lado positivo do ressurgimento do vinil é o impacto no bolso dos artistas, muito dependentes das atuações ao vivo para fazer dinheiro.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Obras de Manuela Castro Matos


Manuela Castro Matos (1964, Alcobaça), licenciada em direito, trabalha vidro fundido na área de decoração, atividade que assume em 2001 como opção de vida. Depois, seguiram-se exposições, encomendas e um prestígio crescente. Neste ano, a revista alemã Neues Glas publicou um artigo sobre as suas criações e esteve representada na muito recente exposição do Bornholm Art Museum na Dinamarca. Agora, pode ver-se no Centro Cultural de Cascais, com o título Rosáceas.

Hugo Ribeiro e a Valentim de Carvalho

Sigo de muito perto a notícia publicada no Diário de Notícias sobre Hugo Ribeiro (1925-2016), que começou a trabalhar na firma de discos Valentim de Carvalho na década de 1940, então no Chiado (Lisboa).

A partir de 1951, gravou a voz de Amália Rodrigues e a guitarra de Carlos Paredes – o que significa que ninguém soube registá-las tão bem, segundo o editor discográfico David Ferreira, que trabalhou com ele. Hugo Ribeiro viveu um “tempo em que grandes artistas torciam o nariz à ideia de gravar. Obrigou-se a dar-lhes o som verdadeiro”, disse o mesmo David Ferreira, que ainda contou que “em 1961, esperou que Alfredo Marceneiro acabasse a sua ronda pelas casas de fado para conseguir finalmente registar um LP do fadista que já tinha mais de 70 anos. E, mesmo assim, ou ele ou o [editor] Rui Valentim de Carvalho ainda tiveram de se lembrar dum expediente para Marceneiro, que ao chegar ao estúdio queria cancelar o projeto, gravar sem o «ambiente» das casas de fado: vendaram-lhe os olhos”.

Hugo Ribeiro gravou durante cerca de 40 anos, quase todos os grandes do seu tempo: Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, Hermínia Silva, Carlos Paredes, Max, Maria Teresa de Noronha, Lucília do Carmo, Carlos Ramos, Fernando Farinha, António dos Santos, Celeste Rodrigues, Fernanda Maria, João Ferreira-Rosa, Maria da Fé, Teresa Silva Carvalho, Vicente da Câmara, Tristão da Silva, Alberto Ribeiro, Milú, João Villaret, Trio Odemira, Eugénia Lima, Júlia Barroso, Maria Clara, Maria de Lourdes Resende, Maria de Fátima Bravo, Rui de Mascarenhas, António Calvário, Conjunto Académico João Paulo, Luiz Goes, Simone de Oliveira, Tony de Matos, Duo Ouro Negro, Thilo's Combo, José Afonso, Sheiks, Marco Paulo, Carlos do Carmo, Frei Hermano, José Cid, Paco Bandeira, António Mourão, Beatriz da Conceição, Jorge Palma, Rão Kyao, Opus Ensemble, Tantra, UHF, GNR, Trovante, Carlos Paião e Vitorino.

Após inauguração dos estúdios da Valentim de Carvalho, em 1963, Paço d’ Arcos, o técnico de som passou a ter outras condições de trabalho e o estúdio atraiu intérpretes estrangeiros como Cliff Richard, Joan Manuel Serrat ou Julio Iglesias. As últimas gravações de estúdio de Carlos Paredes foram também as últimas que fez (década de 1990).

sábado, 3 de dezembro de 2016

Terrorista elegante

A peça foi escrita por Mia Couto e José Eduardo Agualusa para os 45 anos de atividade da Comuna Teatro. Um homem, angolano, chamado Charles Poitier Bentinho (Miguel Sermão), foi apanhado a sair da Síria, onde teve contactos com o estado islâmico Isis. Chegado a Lisboa é preso e interrogado por polícias nacionais e uma americana - inspetor Laranjeira (Virgílio Castelo), agente Lara (Ana Lúcia Palminha) e agente Maggie (Rita Cruz).

Rapidamente, para o espectador, percebe-se que Charles Poitier Bentinho não é terrorista. Mas sim um homem que vive num universo onírico e não ocidental, uma espécie de feiticeiro que conversa com os pássaros e afasta os demónios de cada indivíduo, querendo resolver os seus problemas, além de um grande coração para as mulheres. Mas cada personagem tem um papel a desempenhar e os polícias têm que apresentar serviço e descobrir o que levou o feiticeiro africano a passar muito tempo na Síria. Ele seria levado pelos olhos do tamanho de um oceano de uma mulher e perseguiu-a até ao Oriente (ele não viu mais nada porque a mulher vestia uma burca).

Gostei especialmente das palavras (falas) de Charles Poitier Bentinho, porque desmonta o mundo racional e lógico em que nos costumamos mover, o que é uma nota positiva para os escritores da peça. Além de divertido na sua inocência, deteta-se uma outra forma de pensar - uma lógica não cartesiana. O título do seu livro Minas e Armadilhas não é o que pensam os polícias mas apenas um manual de cortesia para com o sexo oposto. Convencido que a aparência no vestir é o primeiro passo para uma conquista ou solução, e após ouvir desabafos ou confidências dos polícias, ele muda de papel e passa de bandido a conselheiro, indicando-lhes os remédios para afastar os problemas.

No final, como cada personagem cumpre um papel, o de Charles Poitier Bentinho é o de ser expatriado para os Estados Unidos, para a prisão de Guantánamo. Contudo, ele exerce uma grande influência nos seus carcereiros, com os comportamentos dos polícias a mudarem: o inspetor passou a vestir-se no alfaiate de Bentinho e voltou a sair com Lara, ao passo que a americana Maggie ficou com uma imagem distinta (e humana) de África.

Charles Poitier Bentinho é um contador de histórias. Afinal, a atividade central do seu intérprete, Miguel Sermão. Por isso, o papel está tão bem construído. Versão cénica e encenação de João Mota.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Museu de Banda Desenhada em Beja

A existência da Bedeteca e do Festival Internacional de Banda Desenhada fazem de Beja um dos principais centros de difusores desta arte no nosso país. Ciente de um património rico, o município de Beja decidiu apostar na criação de um equipamento que confirme a vocação da cidade em tal domínio, onde se faça um percurso pela História da Banda Desenhada Portuguesa, de 1850 à atualidade, com obras originais e forte componente multimédia. Ao Museu de Banda Desenhada acrescentam-se valências como ateliês, espaços de trabalho e galerias de exposições temporárias. O equipamento, que acolherá a Bedeteca de Beja, integra a estratégia de promoção, dinamização e valorização económica do centro histórico de Beja, com o mesmo a ser instalado em edifício do município (informação e imagem da entidade promotora). A informação enviada não aponta uma data para a abertura do museu.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Teatro para seniores (e rádio)

Esta é uma parcela de texto do Diário de Notícias sobre a Companhia Maior, escrito por Maria João Caetano, onde se fala de rádio: "Às sextas-feiras à tarde, Maria Helena Falé senta-se ao microfone. E lê. Durante duas horas, lê um livro em voz alta com a sua voz bonita, a dicção perfeita, a entoação perfeita, como quem conta uma história. Maria Helena é voluntária da área de leitura especial da Biblioteca Nacional há quase 30 anos. O seu trabalho é gravar audiolivros para a população invisual e os doentes acamados. Também é voluntária na Rádio Renascença. «Faço locução no [podcast] Passo a Rezar. Não sou católica, mas gosto muito de fazer locução, é aquilo que mais gosto de fazer. E não me engano, gravo quase sempre à primeira», conta Helena, que antes de ser atriz teve uma vasta experiência não só na locução como no jornalismo, primeiro na rádio e depois na televisão. Talvez se lembrem dela dos programas de rádio 1-8-0 ou de Quando o Telefone Toca. Ou talvez saibam que foi ela que disse pela primeira «boa noite», em português, na televisão de Macau, na sua abertura em 1984. Nos últimos anos, já reformada, descobriu que podia usar tudo o que tinha aprendido na rádio e na televisão para fazer algo diferente - faz publicidade, narração de programas de TV, até representar pequenos papéis em séries e novelas como A Lenda da Garça, Todo o Tempo do Mundo, Depois do Adeus ou Bem-vindos a Beirais. Aos 70 anos, Maria Helena Falé continua a fazer toda a sua vida de saltos altos - «até corro, não me cansam nada» - e tem o espírito tão jovem quanto a sua voz. «Não tenho complexo nenhum com a idade, é sinal de que ainda cá ando», diz, divertida. Há três anos, entrou para a Companhia Maior e está encantada com a sua personagem em Sonho de Uma Noite de Verão, Hipólita, a rainha das amazonas. «Levo aquilo muito a sério e não é nada fácil. Mas diverte-me imenso»". [imagem retirada do sítio de internet de Helena Falé]

Venda de fotografias de autor

xS Print'S market é uma pequena venda semestral de fotografias de autor, incluindo provas de trabalho, séries limitadas e impressões únicas, com a particularidade das imagens comercializadas terem preços de venda a público acessíveis, entre os 10 e os 100 euros. Este mercado é uma excelente oportunidade de aquisição de pequenas obras artísticas, diretamente aos seus criadores, a auxiliar a viabilização de futuros projetos de cada um dos autores. Iniciativa criada no seio do projeto da EIF(E) - Escola Informal de Fotografia (do Espetáculo), que desde 2014 têm desenvolvido uma parceria com a Companhia Olga Roriz. Com a participação, nesta primeira edição, dos fotógrafos Arlindo Pinto, Magda e Domingos, Fernando Alves, Jose Zyberchema, Elisabeth Alvarez, Paula Arinto, Francisco Varela e Susana Paiva (informação da organização). Dia 3 de dezembro, das 15:00 às 20:00, no Palácio Pancas Palha, rua de Santa Apolónia, 12-16, Travessa do Recolhimento Lázaro Leitão, 1 (Lisboa). Ver mais aqui. O LabX Laboratório Experimental de Fotografia é um projeto de formação contínua, assente na pesquisa e experimentação fotográfica, coordenada pela fotógrafa Susana Paiva.