terça-feira, 30 de setembro de 2014

Manuela Patrocínio

Em 1957, Manuela Patrocínio começou a sua actividade como locutora de rádio, então ao serviço do SNI, participando também em folhetins radiofónicos. Concorreu a um lugar na Emissora Nacional como locutora e ficou. Que Quer Ouvir (discos pedidos), Correio dos Ouvintes e Clube dos Madrugadores (para emigrantes) foram programas em que se destacou.



No Correio dos Ouvintes de 6 de Dezembro de 1966, programa com música e mensagens para portugueses no mundo (referido como "dedicado aos que se encontram ausentes do lar"), Manuela Patrocínio falava nos nomes dos ouvintes. A Américo de Jesus Nunes pedia que lhe fizesse chegar uma fita gravada para ser transmitida no Natal, a Joaquim Vieira Fontes, a residir em Cabo Verde, dedicava uma música e enviava revistas, a Júlio da Silva Matos era portadora de mensagem de saudades da noiva dele e fez tocar a música Cantiga de Boa Gente, a César Joaquim Simões dava conta da saúde da tia dele e passava Carlos do Carmo. Muito mais gente foi receptora de mensagens, incluindo um alferes J. E. Marques Patrocínio, a quem a locutora tratou familiarmente por Zé (no bate-papo semanal) e mandou cumprimentos ao capitão Valente e ao alferes Fevereiro. Namorar pela rádio?

Hoje, já não há esta poesia nas ondas hertzianas, pois o telefone celular e o Facebook substituíram as mensagens unidireccionais da rádio. Mas, afinal, o serviço público continua, com a locutora-jornalista da Antena 1 Alice Vilaça a falar diariamente com Portugueses no Mundo, onde estes contam histórias do país de acolhimento, do emprego, dos sítios a visitar, da comida e das saudades. Só não há música nem mensagens de familiares nem um certo sentimento de inferioridade ou obrigação.

[imagens retiradas da revista Plateia, de 13 de Abril de 1971, e da página do sítio do Museu RTP, de 6 de Dezembro de 1966].

sábado, 27 de setembro de 2014

Dona Alice Mexe o Tacho

Hoje à tarde, na Biblioteca de São Lázaro, em Lisboa, foi lançado o livro Dona Alice Mexe o Tacho, contos, lengas-lengas e poesias de Ana Ventura, Emílio Miranda, Fátima Vivas, Maria Apolinário e Rui Carvalho, vencedores de concurso promovido pela editora Alfarroba. Foram ainda publicados mais dois textos, de Cláudia Neto e Magda Massano e de Frederico Leite, como menções honrosas do referido concurso.

Foi uma sessão muito concorrida, até pelo número de autores. Literatura com histórias mais adequadas a públicos infantis, o objectivo do volume foi encontrar sabores e cheiros, doces e salgados, apetitosos e quentes ou frios, que se encontram a partir de uma receita culinária. Esta é o começo de cada história e, depois, existe um enredo, uma memória ou uma efabulação, como cada autor explicou durante a sessão. No vídeo, ouvem-se vozes, em especial de crianças, numa melhor contextualização da apresentação.


Ensino de música litúrgica na Feira


(Recorte da Voz Portucalense, de 24 de Setembro de 2014)

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Serviço Público de Media

Hoje, ao final da tarde, Alberto da Ponte, presidente da administração da RTP (à direita na imagem), falou sobre o Serviço Público de Media: Oportunidades e Desafios, na Universidade Católica, conforme eu indicara aqui. Após enunciar quatro tendências globais que afectam o mundo dos media (globalização, fragmentação, digitalização e concentrações), fez uma abordagem ao contexto nacional.


Para Alberto da Ponte, o grande cenário que o país defronta passa por uma nova relação de forças entre criadores e agregadores de conteúdos e distribuidores. Após crítica ao processo de constituição da televisão digital terrestre, onde manifestou dúvidas quanto ao seu futuro, ele acentuou a actual concorrência entre distribuidores de cabo e alertou ainda para a necessidade de alienar parte da produção de conteúdos para especialistas (o que significa redução de parte da produção dentro da RTP).

A sua conferência, que durou cerca de vinte minutos, serviu para falar do que está a ser feito na RTP, no serviço público de televisão e rádio. Em primeiro lugar, identificou o plano estratégico (plano de desenvolvimento e redimensionamento), depois, referiu a próxima assinatura do novo contrato de concessão por 16 anos (até 2030), finalizando com o alinhamento com a EBU (European Broadcasting Union), dentro do programa 2020. Aqui, o posicionamento da RTP atende a cinco áreas de foco: serviço público mais relevante e credível em termos de fonte de informação, mais relevância para públicos jovens, acelerador de inovação e conhecimento, defensor do serviço público de media, transformação da cultura organizacional e da cultura de liderança dentro da RTP.

Destacou ainda a responsabilidade da televisão e rádio públicas em dimensões essenciais: confissões religiosas e actividades desportivas amadoras. Igualmente fez referência a um estudo de imagem da RTP, em que os consumidores de televisão e rádio pública reconhecem a sua qualidade de entretenimento (como os talk shows) e informação e a relação entre custo (taxa paga na factura da electricidade) e benefício. Resiliência, vontade de vencer e inteligência emocional foram as ideias finais da conferência do presidente da rádio e televisão pública.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Science Fiction Film and Television seeks submissions for a special issue on “Star Trek at 50.”

"Since its premiere on September 8, 1966, Gene Roddenberry’s Star Trek has become shorthand for liberal optimism about the future, even as the franchise’s later entries have moved towards increasingly dark depictions of aging (ST II-VII), war (DS9), lifeboat ethics (VOY), and post-9/11 securitization (ENT). This internal tension has now culminated in the rebooted “Abramsverse” depiction that — while nominally directed towards reinvigorating the franchise by returning it to its youthful origins— has seen the Spock’s home planet of Vulcan destroyed by terrorists (ST) and the Federation itself corrupted by a coup from its black-ops intelligence wing (STID). [...] Articles of 6,000-9,000 words should be formatted using MLA style and according to the submission guidelines available on our website. Submissions should be made via our online system at http://mc.manuscriptcentral.com:80/lup-sfftv".

António Feijó eleito presidente do Conselho Geral Independente da RTP

Vice-reitor da Universidade de Lisboa, nomeado pelo Governo, foi escolhido pelos restantes membros para presidir ao novo órgão de supervisão da RTP. Os membros deste órgão foram investidos formalmente em funções no dia 11 de Setembro. A administração da RTP tem um prazo de 30 dias para apresentar aquele órgão o novo plano estratégico para a empresa (notícia que retirei do Expresso online).

Será interessante ouvir Alberto da Ponte, presidente da RTP, falar amanhã às 18:00 na Universidade Católica Portuguesa, em sessão de abertura do mestrado e doutoramento de Ciências da Comunicação, com o tema "Serviço Público de Media: Oportunidades e Desafios".

Estatísticas da Cultura – 2012

O Instituto Nacional de Estatística já revelou estes dados em Dezembro de 2013, mas só agora olhei atentamente para eles. Assim, apesar de muito atrasados (dois anos é já muito tempo), reflecti um pouco sobre eles.

Em termos de emprego nas actividades culturais e criativas, em 2012, segundo os dados do Inquérito ao Emprego, "a população empregada nas actividades culturais e criativas era de 78,6 mil pessoas. Destas, 53,1% são homens; 62,1% têm entre 25 e 44 anos e mais de um terço têm como nível de escolaridade completo o ensino Superior (37,8%)". Já quanto a profissões culturais e criativas, no mesmo ano, evidenciavam-se as de "Trabalhadores qualificados do fabrico de instrumentos de precisão, joalheiros, artesãos e similares (30,4%), Arquitectos, urbanistas, agrimensores e designers (20,8%), artistas criativos e das artes do espectáculo e Autores, jornalistas e linguistas representavam, respectivamente, 12,7% e 7,3% no total das profissões culturais e criativas". Com dados de 2011, o número de empresas com actividade principal nas áreas culturais e criativas era de 53064, destacando-se as classificadas nas actividades das artes do espectáculo (27,9%), actividades de arquitectura” (16,4%), comércio a retalho de jornais, revistas e artigos de papelaria, em estabelecimentos especializados (11,4%) e criação artística e literária (10,1%).

Dos 345 Museus considerados para fins estatísticos registaram-se 10,1 milhões de visitantes. Destes, 39,1% entraram gratuitamente, 31,9% eram estrangeiros, 15,3% eram visitantes inseridos em grupos escolares e 7,8% visitaram as exposições temporárias dos museus considerados. De acordo com o estudo das Estatísticas da Cultura 2012, "Por tipo de museu, os mais visitados foram os Museus de Arte (29,6%) seguidos dos Museus de História (23,8%), Museus Especializados (14,4%) e os Museus Mistos e Pluridisciplinares (9,8%). Tomando como referência o número médio anual de visitantes por museu (29 mil pessoas), verificou-se que os Museus de História foram os que registaram o número médio anual mais elevado, 61 mil visitantes, seguidos dos Museus do Território com 47 mil visitantes. Os Museus de Etnografia e de Antropologia e os Outros Museus foram os que apresentaram menor número médio anual de visitantes, cerca de 5 mil e 9 mil, respectivamente". Das artes plásticas, o estudo fez um levantamento de 803 espaços considerados Galerias de Arte e Outros Espaços de Exposições Temporárias. Em 2012, "realizaram-se 5854 exposições temporárias, das quais 55,7% foram exposições individuais. Na região Norte continuou a realizar-se o maior número de exposições (30,4%), seguida das regiões Lisboa (27,6%) e Centro (22,4%). Do total de obras expostas (234 563) destacaram-se as de Pintura (21,1%), Fotografia (15,1%), Decoração/artesanato e as de Coleccionação, ambas com 7,5%, e as classificadas em Documental (7,2%)".


Das publicações periódicas, em 2012 as "1399 publicações periódicas consideradas registaram 25 398 edições anuais, 518 milhões de exemplares de tiragem total, e 395,2 milhões de exemplares de circulação total, dos quais foram vendidos 276,5 milhões de exemplares. Face ao ano anterior, os materiais impressos registaram quebras acentuadas na circulação total (-32,9%), tiragem total (-28,1%), número de exemplares vendidos (-12,3%), número de publicações (-7,5%) e de edições (-7%)".

No tocante a número de recintos de cinema, com informação vinda do ICA - Instituto do Cinema, Audiovisual (de acordo com o projecto de informatização das bilheteiras), em 2012, havia 160, correspondendo a 551 ecrãs e 107822 lugares. Nos recintos referidos foram exibidos 877 filmes (291 em estreia), com 635051 sessões de cinema e um total de 13,8 milhões de espectadores. Registaram-se 74 milhões de euros de receitas de bilheteira. Face a 2011, realizaram-se menos 36 mil sessões (-5,3%) e verificou-se uma diminuição de 12% nos/as espectadores e de 7,4% nas receitas de bilheteira.

Para os espectáculos ao vivo, em 2012 realizaram-se 27566 sessões, com um total de 8,7 milhões de espectadores. Desses, 3,5 milhões pagaram bilhete, gerando receitas no valor de 65,6 milhões de euros". Face a 2011, os valores registados representariam acréscimos nas sessões promovidas (6,6%) em espectadores (2,9%) e receitas de bilheteira (17,7%). As modalidades de espectáculo ao vivo com maior número de espectadores foram: concertos de música rock/pop (1,7 milhões), teatro (1,5 milhões) e música popular e tradicional portuguesa (1 milhão) seguidos do outro estilo de música (857,9 mil) e das mistas/variedades (801,3 mil). As modalidades de espetáculo com menor número de espectadores foram: ópera (50,1 mil), recitais de coros (91,8 mil) e jazz/blues (94,7 mil). Segundo o estudo, "em termos de preço médio do bilhete de ingresso, a modalidade de espectáculo ao vivo concertos de música rock/pop foi a que registou o preço médio mais elevado (35,2 euros), seguida do circo (19,5 euros) e da dança clássica (16,2 euros). As modalidades em que se praticou o preço médio mais baixo foram o folclore (6,2 euros) e os recitais de coros (6,8 euros)".

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

GMCS

GMCS tem sido a sigla para Gabinete para os Meios de Comunicação Social. Foi anunciado agora que este serviço central da administração do Estado, com competências relacionadas com apoios aos media, vai desaparecer no fim do ano. Estava a funcionar desde 1 de Junho de 2007, quando substituiu o Instituto de Comunicação Social. Para justificar esta extinção, o Governo indica que as actividades do Gabinete encontram-se já repartidas por outros serviços públicos. Das competências que o GMCS possuía, recordo o apoio à edição de livros sobre a comunicação social.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Pílades

Hoje, de manhã, estava a olhar distraidamente televisão, quando vi que, no programa da manhã da TVI, Manuel Luís Goucha entrevistava Jerónimo de Sousa, secretário-geral do Partido Comunista Português. O tema era o homem para além do político. A primeira coisa que reparei foi na maquilhagem de Jerónimo de Sousa, necessária para quem vai à televisão mas nunca usada quando se vê o militante comunista numa sessão na rua ou no parlamento. Depois, vi projectar fotografias dele no serviço militar, a família com mulher e filhas, ele a falar de uma visita a uma fábrica depois de 1974, em que lhe chamaram doutor e engenheiro, a explicar a sua visão do comunismo diferente dos regimes realizados na China, na Rússia ou em Cuba.

Dei comigo a reflectir como a política se faz hoje também nos programas populares de televisão, nos talk-shows. Surge uma faceta mais humana, contam-se histórias da vida pessoal, há momentos de quase confissão, ele calmo e sorridente, muito distinto do que se vê nos comícios de bandeiras e de palavras de ordem, a assistência bate palmas. E, sem reparar nisso, lembrei-me da peça actual da companhia de Luís Miguel Cintra, a Cornucópia, Pílades, de Pier Paolo Pasolini. O texto inaugural do catálogo da peça, assinado por Luís Miguel Cintra, fala do princípio da década de 1970, quando em Portugal militares e outras pessoas procuraram fazer a revolução, e dos anos prévios, a que chamou de resistência política. O actor e encenador evoca esse tempo e compara-o quarenta anos depois, dizendo que existe agora um sistema político chamado democracia que é uma mentira. Texto longo de seis páginas, Luís Miguel Cintra tem oportunidade de comparar o filme de Pasolini, Evangelho Segundo São Mateus, com a pintura de Fra Angelico, no que respeita a figuras idealizadas, raras e puras.

Luís Miguel Cintra confessa a sua devoção por Pasolini e, agora, por Fra Angelico, por causa das nuvens do fundo do palco da representação de Pílades. E o actor e encenador vibra com o cenário (Cristina Reis), uma caixa óptica, com uma porta a meio do fundo onde, por vezes, entra muita luz e a radiosa Atena (Rita Durão). Esta quis virar o curso à história de Argos, apoiando o liberal Orestes (Duarte Guimarães) contra o radical Pílades (Dinis Gomes), que viu o seu exército debandar para a cidade que conhecia um desenvolvimento económico e social espantoso. Electra (Sofia Marques), irmã de Orestes, que amara o rei seu pai, era agora fascista.

Pasolini misturou dois tempos, o clássico dos gregos (Ésquilo) e o da Itália pós II Guerra Mundial onde cresceu o consumismo. Atena e as suas Fúrias fizeram, na minha leitura, um bom trabalho de propaganda e convenceram os montanheses e alguns operários a descerem até Argos para observarem de perto como a cidade estava a prosperar. Cintra, para tornar mais complexa a peça, juntou-lhe excertos de duas peças menores de Pasolini (Um PeixinhoProjecto para um Espectáculo sobre o Espectáculo), que provoca dispersão mas, ao mesmo tempo, um encanto estético inesquecível. Ou quando o travesti (Isaac Graça) canta em play-back uma música italiana da época, Ma l'Amore no, cantado por Alida Valli, no final do muito mas muito longo primeiro acto. Alguns espectadores não resistiram e foram-se embora ao intervalo, numa sala longe de estar cheia.

De quando em vez, o coro, como na tragédia grega, aqui sempre colocado na parte de trás do palco, interpela os amigos rivais (Orestes e Pílades), enquanto as quatro principais personagens (Orestes, Pílades, Electra e Atena) percorrem o palco todo e descem nas escadas laterais, onde falam e, até, brigam, culminando com uma violação do radical sobre a fascista. Pasolini escreveu esta peça radical (e incompreendida, apesar de publicada na revista Nuovi Argomenti) em 1966, durante um mês em que esteve de cama por causa de uma úlcera. Nessa altura morria o dirigente do Partido Comunista Italiano, Palmiro Togliatti. Por isso, cruzei a ideia dos dois líderes comunistas, o italiano e o português.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Escócia

Já ontem à noite, se projectava a vitória do não à independência no referendo realizado na Escócia. Com isso, afastava-se o espectro da separação daquela nação dentro do Reino Unido. Os resultados divulgados na última hora, com 55,42% do não arrumam a questão, embora coloquem agora o tema do cumprimento das promessas da elite e governo ingleses.

Há quase duas semanas, quando uma sondagem dava pela primeira vez a previsão da vitória do sim pela independência, os políticos dos três principais partidos marcharam para Edimburgo, na tentativa de inverter a situação. Um assunto discutido há mais de dois anos entrava na agenda mediática e pública com nova ênfase. Algumas das instituições económicas mais fortes com sede na Escócia ameaçaram mudar para a Inglaterra, pressionando os votantes escoceses.

Duas notas. A primeira dá conta do falhanço das empresas de sondagens. Embora sem qualquer votação semelhante anterior, que servisse para comparar, os resultados expressam o modo errado como a análise ao comportamento eleitoral foi acompanhada. Li que várias sondagens foram feitas através da internet, sem salvaguardar elementos essenciais de caracterização dos entrevistados.

A segunda nota lembra o conceito de espiral do silêncio. Quando uma opinião se torna dominante nos media, os indivíduos que estão em desacordo com essa posição entram em silêncio, não querem ser ponto de rotura. À exuberância dos simpatizantes do sim pela independência, os adeptos do não procuraram ser discretos. Ou calaram-se mesmo. Ontem, de manhã à noite, os 85% do total de votantes pode, em plenitude, expressar a sua posição.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Áurea Sampaio

Áurea Sampaio, a primeira editora de política do jornal Público há 25 anos, regressa em Outubro ao jornal, agora como directora adjunta. Recentemente saíra da revista Visão e vem preencher o lugar vago de Miguel Gaspar.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Os candidatos a programa da TVI


Este é um título ilustrativo da condição do país. Conforme se lê no Diário de Notícias de hoje, inscreveram-se 105 mil indivíduos no programa da TVI. Na primeira fase de inscrição nas universidades, o número fora de 42 mil. Divertir durante três semanas no concurso, trabalhar e preparar-se para toda a vida - eis a visão da apresentadora do mesmo programa perante as duas situações.

Audiências de rádio - uma análise mais profunda de dados aqui colocados em 26 de Agosto de 2014

No final do mês passado, coloquei aqui alguns dados de audiências da rádio respeitantes a Junho de 2014. Um colega, muito ligado ao assunto, deu-me informações mais aprofundadas, que eu não podia fornecer por não ter acesso a esse detalhe.

Assim, os ouvintes mais jovens, dos 15 aos 24 anos, ouvem sobretudo a Comercial e a RFM. As rádios Cidade e a Mega Hits vêm logo a seguir mas com valores mais baixos, por não terem rede FM com cobertura nacional (embora sejam os projectos mais vocacionados para este grupo etário). Depois, os jovens adultos dos 25 aos 34 anos ouvem sobretudo a Comercial e a RFM. A Cidade e a Mega também têm audiências significativas, mas mais baixas que no grupo etário anterior.

Já os adultos dos 35 aos 44 anos ouvem sobretudo a RFM e a Comercial. Das restantes rádios, destacam-se ainda a TSF e a Renascença com 5,7% e 5,3%, respectivamente, enquanto outras rádios têm menos de 4%. Os adultos dos 45 aos 54 anos mantêm a preferência pela RFM e Comercial, a que se segue a Renascença. Enquanto os adultos dos 55 aos 64 anos preferem sobretudo a Renascença e a Antena 1, os adultos de mais de 64 anos ouvem a Antena 1 e a Renascença.

Como conclusão, os ouvintes até aos 54 anos preferem claramente duas rádios musicais – Comercial e RFM, com audiências bastante acima das restantes. A Comercial é mais ouvida que a RFM entre os ouvintes até aos 34 anos e a RFM é mais ouvida que a Comercial entre os ouvintes com mais de 34 anos. Os ouvintes com mais de 54 anos preferem duas rádios generalistas – a Renascença e a Antena 1.


[todos os dados a partir da Marktest]

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Balanços de António Ferro




António Ferro esteve à frente do Secretariado de Propaganda Nacional e do Secretariado Nacional de Informação entre 1933 e 1949. No primeiro texto, Dez Anos de Política do Espírito (1943), Ferro faz o balanço do primeiro decénio da sua actividade. Exposições, prémios, apoios à literatura, artes plásticas, cinema e teatro fizeram parte desse período que chegou quase até ao final da II Guerra Mundial e coincidiu com a mudança de designação do organismo da propaganda do regime.

Os dois outros textos foram editados quando António Ferro cessava funções, onde fez outros balanços e confessa ter contribuído "para a criação de uma consciência cívica e política no povo português". As duas publicações seriam a compilação de conferências e discursos que fez no exercício no SPN/SNI nas artes plásticas, no teatro e no cinema.

Indústria cultural e criativa em Zhou YuJun

"Cultural creative industry is the inheritance and development of the cultural industry, mainly refers to those gaining momentum from the individual creativity, skill and talent in the enterprise, as well as those activities through the development of intellectual property rights creating the potential wealth and jobs. This paper first introduces the basic situation of Chinese culture industry, analyzes the reasons of cultural industry commercial imbalances, puts forward three suggestions: (1) the cultural positioning clear cultural and Creative Industrial Park, take the culture industry social benefits; (2) the creative industries and commercial real estate developers to combine; (3) strengthening government policy support. Only commercial cultural transference of interest, providing space and support for its development, to its unique cultural forces, nourish the growth of cultural industries" (Zhou YuJun).

domingo, 14 de setembro de 2014

Mercado de 31 de Janeiro (Saldanha)

O mercado 31 de Janeiro, ao Saldanha (Lisboa), foi remodelado. Pareceu-me mais bonito e animado. Algumas bancas (peixe) desceram do andar superior, juntando-se às outras bancas de produtos frescos e a lojas de artesanato. O andar liberto vai ser ocupado para outras actividades.

Os mercados públicos higienizados foram sendo construídos no começo da década de 1950, como o de Arroios. Era um tempo em que a cidade crescia em termos de população e não havia ainda as grandes cadeias de distribuição de bens alimentares. Com o tempo, com a diversidade de produtos e horários mais alargados e compatíveis com as novas necessidades da população que sai cedo de casa para o emprego e volta tarde, os mercados públicos perderam clientela. O mercado da Ribeira, mais antigo, está a reinventar-se. O mercado de Campo de Ourique é uma mistura interessante entre o mercado de produtos alimentares frescos e espaços de degustação.

Agora, o mercado de 31 de Janeiro segue nessa linha de adaptação. Ainda me lembro há 40 anos ele funcionar em espaço aberto, como seria em 1920 ou 1930. Nos últimos 20 anos, e até porque a pressão imobiliária foi forte, a zona foi urbanizada e o mercado ficou enquadrado no interior de um edifício. A concorrência das cadeias de distribuição e, repito, os horários desenquadrados da vida moderna, afastaram os clientes. Para quem sai às 18 ou 19:00 do emprego não serve um mercado que às 17:00 já não funciona.

Ontem, até havia espaço para a tecelagem artesanal.


sábado, 13 de setembro de 2014

Uma memória da Cornucópia

O Misantropo (ou O Atrabiliário Apaixonado), de Molière, seria o primeiro trabalho do teatro Cornucópia, empresa de teatro recentemente formada por Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo (final de 1972), ambos a concluir a licenciatura em Românicas (revista Rádio & Televisão, nº 880, de 22 de Setembro de 1973). Para além da Faculdade de Letras e da paixão pelo teatro, Cintra e Melo tinham estado a estudar em Londres, o primeiro em teatro e o segundo em cinema. Eles fundariam a revista Crítica com Eduarda Dionísio e uma colecção de teatro na Estampa/Seara Nova.

Do elenco da peça inicial da Cornucópia, faziam parte Luís Lima Barreto, Glicínia Quartin, Raquel Maria, Filipe La Féria, Orlando Costa e Carlos Fernando. O sítio onde ensaiavam era o Barracão, que pouco antes as autoridades consideravam sem condições para a arte da representação.

Sobre a peça, o jovem Luís Miguel Cintra diria: "É uma peça surpreendentemente abstracta e construída geometricamente. E com um conjunto de leis típicas de teatro em geral e do teatro de uma determinada época em particular. É um documento muito importante e essencial na História do Teatro".







A Casa de Ramallah

Pai, mãe filha viajam num suposto comboio interregional passando por Ramallah (capital da Palestina) e outros sítios bíblicos. Enquanto viajavam, a mulher comia, a filha lia e o homem falava. Da casinha que fora destruída pelos mísseis ou por um helicóptero ou uma bomba, que abrigava uma tenda; da apanha do tomate na planície onde conheceu a mulher; da organização que levara os seus quatro filhos e ia fazer agora da sua filha uma suicida. Depois, a mulher teceu a sua narrativa, coincidente com a do marido, mas através da lente feminina. Quando ela a conheceu, ela usava calças e cabelo ao ar, o que era contrário às regras rígidas já então existentes. Igualmente, lamentava a perda dos filhos mas acusava o homem de ter aderido à organização. E pedia ao marido para falar baixo pois podiam estar perto membros da polícia secreta israelita ou palestiniana. A rapariga fala da relação sexual a que foi obrigada pelo seu professor da escola corânica.

O texto do italiano António Tarantino é duro, até feio. Não há um só momento de esperança. Através da peça, não se vê uma solução para o problema da Palestina, uma terra cercada e onde cada cidadão vigia e é vigiado e com medo das denúncias. Se esta ocorre, a família sofre represálias sérias: morte, destruição da casa. A casa de Ramallah fora a promessa do homem quando ainda namorava, mas nunca se concretizou. Afinal, Ramallah é uma pequena cidade de casinhas brancas, onde não mudou nada, disse ele.

Tradução de Alessandra Balsamo, com António Simão, Andreia Bento e Nídia Roque, com luz de Pedro Domingos, cenografia e figurinos de Rita Lopes Alves, encenação de Jorge Silva Melo e produção executiva de João Chicó, pelos Artistas Unidos, na sala da rua da Escola Politécnica. Espero voltar muitas vezes aquela sala para ver a companhia de teatro criada em 1995 por Jorge Silva Melo (fotografia de Jorge Gonçalves, fornecida pela companhia).

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Conselho Geral Independente da RTP

Ontem, tomou posse o Conselho Geral Independente da RTP. A cerimónia pública deve acontecer até ao final do mês. Compõem o Conselho: António Feijó, vice-reitor da universidade de Lisboa, Ana Lourenço, docente em Direito e investigadora na área da regulação da Universidade Católica do Porto, ambos nomeados pelo governo, Simonetta Luz Afonso, gestora cultural e ex-presidente do Instituto Camões, e Manuel Pinto, professor catedrático em ciências da comunicação da Universidade do Minho, indicados pelo Conselho de Opinião da RTP. Os quatro elementos cooptaram Álvaro Dâmaso, ex-presidente da Anacom, e Diogo Lucena, antigo administrador da Gulbenkian (a partir de texto do Diário de Notícias).

Tatuagens

Texto publicado no Expresso online: "O Expresso teve acesso exclusivo a dezenas de peles humanas tatuadas, conservadas em formol, com imagens e datas que as remetem para os finais do século XIX e inícios do século XX".

Ulmann

"Liv Ullmann on Miss Julie, Donald Trump and why she hates the modern age. Ingmar Bergman’s muse talks about directing a version of Strindberg’s Miss Julie, terrorism and Twitter" (The Guardian).

Exposição Ritual II, rua de Miraflor, 159, Porto


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

5º Bairro das Artes


"Dedicado à arte contemporânea, o evento Bairro das Artes (que na 5ª edição compreenderá a zona do Príncipe Real até ao Bairro Alto) marca a cena cultural de Lisboa com a divulgação do trabalho de dezenas de artistas e espaços culturais da cidade. Em edições anteriores, o evento abrangeu uma oferta artística bastante eclética e contemporânea, onde visitante pôde assistir a inaugurações, visitas guiadas, lançamentos de livros, encontros com os artistas. Estiveram envolvidos, diversos espaços culturais, entre os quais galerias de arte, livrarias, espaços museológicos e institucionais, que se associaram a este evento para receber os inúmeros públicos que visitam a sétima colina, preservando a ideia de bairro aberto subjacente ao evento Bairro das Artes" (informação da organização).

Viver (Com) a Escrita

A iniciativa pretende colocar três autores em diálogo com o seu público, adequando os temas e a forma como o seu trabalho é apresentado à audiência em questão. João Morales coordena e modera as conversas.

No dia 20 de Setembro, às 16:00, com Gonçalo Cadilhe, na Biblioteca Manuel José do Tojal, em Santo André, para nos falar sobre as suas viagens. No dia 17 de Novembro, à tarde, com Inês Botelho, novamente na Biblioteca Manuel José do Tojal, em Santo André. Na sua companhia, alunos do concelho, para troca de impressões sobre o trabalho que tem vindo a desenvolver. No dia 21 de Novembro, de manhã, com Sílvia Alves na Biblioteca Manuel da Fonseca, em Santiago do Cacém, e alunos do 1º Ciclo, mostrando os seus livros e aprendendo com as leituras que eles lhes encontrarem. Organização: Câmara Municipal de Santiago do Cacém. Parceiros: Livraria A das Artes e Antena Miróbriga.

Jornadas Europeias do Património



"As Jornadas Europeias do Património 2014 decorrem este ano nos dias 26, 27 e 28 de Setembro subordinadas ao tema Património, sempre uma descoberta com cerca de 500 actividades que se desenvolvem em todo o Território Continental e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, distribuídas por 130 concelhos, com a participação de 310 entidades públicas e privadas, oferecendo um programa vasto e diversificado que engloba, 7 animações de rua, 53 oficinas pedagógicas/workshops, 2 concursos, 11 projeções de documentários/filmes, 47 encontros/conferências, 59 espectáculos artísticos, 34 exposições, 6 feiras/festivais, 5 jogos tradicionais, 4 lançamentos de publicações, 17 peddy/rally papers, 6 recriações e encenações históricas, 23 rotas patrimoniais/itinerários culturais, 2 sessões de leitura, 198 visitas guiadas/percursos orientados, e 27 outras actividades variadas" (ver o sítio das Jornadas).

Dentro das Jornadas, a Associação Portuguesa de Casas Museu promove a visita às Casas-Museu Medeiros e Almeida, Passos Canavarro, Patudos – Museu de Alpiarça, Bissaya Barreto, Fernando Namora, Egas Moniz, Abel Salazar e Fundação Eça de Queiroz.

Acesso à informação

O Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra - CEIS20, o Grupo de Investigação Europeísmo, Atlanticidade e Mundialização do CEIS20 e o Gabinete em Portugal do Parlamento Europeu convidam-no a participar na Acção de Formação para Jornalistas e Profissionais da Comunicação: Europa - Acesso à Informação, meios de comunicação a decorrer no dia 3 de Outubro de 2014, às 14h30, na Sala de Conferências do CEIS20 (Coimbra). Os interessados deverão inscrever-se até 30 de Setembro enviado um correio electrónico (nome completo, e-mail, contacto telefónico, nome da instituição ou do órgão de comunicação social) para debatereuropa@gmail.com.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Call for papers Web25

Special issue of New Media & Society on the Web’s first 25 years In August 2016 the World Wide Web can celebrate its 25th anniversary. Or can it?

No doubt that the World Wide Web — or simply: the Web — has played an important role in the communicative infrastructure of most societies since the beginning of the 1990s, but when did the Web actually start? And how has the Web developed? These are the two main areas of study that this special issue intends to investigate. The start of the Web As with any other new media form it is difficult to determine in a clear cut manner when it was invented. Was it the first time it was thought of? Or when it was made publicly or commercially accessible? Or? In the case of the Web its 25th anniversary was widely celebrated in March 2014, thus celebrating that Tim Berners-Lee circulated his "Information Management: A Proposal" in 1989. But one could also maintain that the Web only started when it was named "WorldWideWeb" (October 1990), when the first Web server and the first Web page were created (November 1990), or when the WWW software was made available on the net, posted on alt.hypertext (August 1991) (cf. http://www.w3.org/History.html). Or maybe the Web started years before, with Paul Otlet’s Mundaneum in the beginning of the 20th century, with Vannevar Bush’s ideas about the Memex in 1945, or with the invention of HyperCard in the late 1980s?

These questions all revolve around underlaying questions such as ”what is a start?” — ”when is something ’new’”? — ”and to what extent is it relevant to ask for clear cut dates”? This is one set of issues related to the history of the Web that this special issue of New Media & Society intends to explore and question. The historical development of the Web Despite the fact that it can be difficult — and interesting — to investigate the beginning of the Web, the Web was invented after all, and it has been with us for approximately 25 years now. What has it looked like, and how has it been used? Who and what has affected its development? These are some of the general questions regarding the history of the Web, but they can be narrowed and detailed in a number of ways, for instance by focusing on specific areas of society — politics, culture, news, business, etc. — on specific demographic groups, on different regions on the globe, on the technical infrastructure, or on software.

In addition, the historical development of the Web not only calls for empirical studies, historiographical issues are also highly relevant to address, that is theoretical and methodological topics related to the writing of the histories of the Web. The historical development of the Web as well as historiographical questions related to the history of the Web constitute the second area of interest for this special issue of New Media & Society. Papers must address one of these two areas of study regarding the Web — or they may address both, and even focus on their interplay — as well as they must adopt a historical approach. With a view to sparking discussion, the point of departure of the special issue is that what should be celebrated is the date when the Web was made publicly availabe, that is August 1991 — but contributors are welcome to question this.

Literature - Banks, M.A. (2008). On the Way to the Web: The secret History of the Internet and its Founders. Berkeley: Apress. - Berners-Lee, T. (1999). Weaving the Web: The Past, Present and Future of the World Wide Web by its Inventor. London: Orion. - Brunton, F. (2013). Spam: A shadow History of the Internet. Cambridge, Mass.: MIT Press. - Brügger, N. (Ed.) (2010). Web History. New York: Peter Lang. - Burns, M. & Brügger, N. (Eds.) (2012). Histories of Public Service Broadcasters on the Web. New York: Peter Lang. - Carey, J. & Elton, M.C.J. (2010). When Media are New: Understanding the Dynamics of New Media Adoption and Use. Ann Arbor: The University of Michigan Press. - Gillies, J. & R. Cailliau. (2000). How the Web was Born: The Story of the World Wide Web. Oxford: Oxford University Press. - Gitelman, L. (2006). Always Already New: Media, History, and the Data of Culture. Cambridge, Mass.: MIT Press. - Park, D.W., Jankowski, N.W. & Jones, S. (2011). The long History of New Media: Technology, Historiography, and contextualizing Newness. New York: Peter Lang. - Poole, H.W. (Ed.) (2005). The Internet: A historical Encyclopedia. Santa Barbara, CA.

Possible topics may include, but are not limited to:
· Broad as well as specific histories of the development of the Web, focusing on, for instance, technology, graphic design, culture, politics, etc. 
· The history of sharing syndication, or viral spread
· The development of blogs and microblogs
· The history of one website, or types of websites
· Web elements transcending more websites, for instance the use of images, sound, or video on specific types of websites (news, social network sites, other)
· The Web’s interplay with traditional media (books, newspapers, film, radio, television)
· The big trends, developments of entire national Webs, or of the entire Web
· The history of spam, or of hacking
· The role of familar, but often unaknowledged Web features such as search engines, browsers, and plugins
· The use of the Web as a historical source, for instance archived Web
· The history of events on the Web, such as political elections, catastrophies, sports events, etc.
· What is ’new’? — intersections of ’old’ and ’new’ on the Web
· The gouvernance of the Web (on a global, regional, or national scale)
· Defining moments and events on the Web, regarding inventions as well as use
· Social networking sites
· The need for and use of digitally supported methods and digital analytical tools
· The history of the Web in the larger framework of cultural history

Please email a 700 word abstract proposal, along with a short author biography, no later than 15 November 2014 to nb@dac.au.dk. On the basis of these abstracts invitations to submit articles will be sent out no later than begin January 2015. Final selected articles will be due 1 June 2015 and will undergo peer review following the usual procedures of New Media & Society. Invitation to submit a full article does not therefore guarantee acceptance into the special issue. The special issue will be published in 2016. The special issue is edited by Niels Brügger, the Centre for Internet Studies, and NetLab, Aarhus University, Denmark, nb@dac.au.dk. This call for articles can be found in pdf format at http://imv.au.dk/~nb/Web25_call_nms.pdf. Please forward as appropriate to interested parties.

A televisão para Raymond Williams

O terceiro capítulo do livro de Raymond Williams, Television, tem o nome de "Formas de Televisão", o segundo mais extenso. Williams começa por notar que a televisão combina e desenvolve formas de comunicação anteriores - jornal, reunião pública, classe de aula, teatro, cinema, estádio desportivo, anúncios de publicidade. Um outro meio electrónico, a rádio, serviu ainda de modelo à televisão.

O autor, um dos fundadores do grupo dos Cultural Studies britânicos, viu a televisão como tendo uma dupla influência face a esses outros media: de um lado, combinação e desenvolvimento de formas anteriores, de outro lado, formas mistas e novas.

No primeiro conjunto, ele associou notícias, argumentação e discussão (vindos do sermão, da conferência, do discurso político, e de onde emergiu a representação da opinião informada), educação (seminários ou conferências com professores comunicativos que geram grandes audiências), drama ou teatro (em que no começo da década de 1950 houve um significativo corpo de novos programas, onde, além da qualidade, surgiram as soap operas, de grande popularidade), filmes, variedades (como o music-hall, que conjugou dança, canto, tipos de comédia, em que algum deste material era visto como de baixa cultura, através de sketches, burlesco, entretenimento), desporto, publicidade e programas sobre o passado (ou recuperando formas antigas, como concursos). No território das novas formas, Williams destacou drama-documentário, educação, discussão (entrevistas), documentários e sequências (séries).

Recupero o subcapítulo de Williams sobre notícias (pp. 40-45). Nos tempos iniciais, a rádio estava absolutamente dependente das agências noticiosas (e dos jornais). A apresentação de notícias na rádio era feita por locutores, com voz neutra mas de autoridade. Na II Guerra Mundial, apareceram repórteres e correspondentes de guerra. Williams edita quatro perspectivas na relação entre o jornal e o boletim noticioso na televisão, o primeiro dos quais designou de sequência. Esta era dada pela coluna. Depois, a partir da década de 1920, implantou-se o modelo do mosaico, que leva o leitor a percorrer a página até se fixar num espaço. Na rádio, o modelo manteve-se linear, embora com a II Guerra Mundial tenha principiado a prática dos títulos, depois usada na televisão. A repetição dos principais pontos no final do noticiário também se tornou comum.

A segunda perspectiva é a das prioridades. A apresentação linear organiza a prioridade de itens noticiosos, que despertam a atenção. Durante muito tempo, essa prioridade era dada à alta política e ao realce nos actos e palavras dos líderes políticos. Mas houve necessidade de alcançar um público mais popular e mais vasto. A terceira perspectiva é a da apresentação. Até à II Guerra Mundial, o locutor tinha uma voz anónima mas com autoridade. Na televisão, a identificação pessoal é inevitável. Na televisão americana, é relevante a auto-apresentação do locutor. A última característica é a da visualização. Em muitos tipos de reportagem, há uma diferença absoluta entre registo escrito ou falado e registo visual com comentário. Há cada vez mais material visual na apresentação.

A televisão do século XXI tem outros elementos não trabalhados ou previstos por Williams, como a emissão permanente de televisão 24 horas por dia, em que não há apenas um só programa num só canal mas dezenas e centenas de canais por cabo, em que o espectador vagueia por esses canais num fluxo contínuo de notícias, concursos, desporto, filmes e publicidade.

Leitura: Raymond Williams (1974/2008). Television: Technology and Cultural Form. Londres e Nova Iorque: Routledge, pp. 40-75

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Fotografias de Robério Braga

O fotógrafo brasileiro Robério Braga fez do Quénia, na África Oriental, o seu objecto de investigação. O resultado está patente na exposição de fotografia Luz Negra, vinda do Museu da Imagem e do Som em São Paulo para o Centro Cultural de Cascais. Tem vinte imagens, todas a preto e branco, que revelam aspectos quotidianos e culturais de três tribos do Quénia e Tanzânia: Maasai, Pokot e Samburu. Ao travar contacto com elas, entre 2011 e 2012, Robério Braga ficou impressionado com os seus costumes e crenças, verdadeiros símbolos de resistência na preservação de tradições ancestrais cheias de significados. Ele escreveu: "Os adornos feitos pelas mulheres da tribo Maasai, por exemplo, carregam um mundo rico em códigos sociais que se materializam em belas formas, cores e padrões. Antes feitos de sementes, fibras vegetais e couro de zebras, leões, gnus e outros animais selvagens, hoje empregam missangas plásticas, nylon e tecidos. Muda-se o significante, mas não o seu significado" (a partir do texto enviado pela organização da exposição).


Local e datas de funcionamento da exposição: Fundação D. Luís I (Centro Cultural de Cascais), de 6 de Setembro a 2 de Novembro de 2014.


Rádio Nova

Em Abril de 1972, a Casa da Imprensa atribuía o prémio anual da rádio a três programas ex-aquo: Página Um, Tempo Zip e Vértice (este para o período de Rui Pedro como realizador). O júri da Casa da Imprensa criticava o resto da programação, muito assente no triângulo "disco-anúncio-duas tretas". Os realizadores dos programas premiados salientariam o risco permanente no trabalho diário. Não dito explicitamente mas perceptível: censura.

No caso de Vértice, nos dois meses orientado por Rui Pedro, foi um programa que tentava "aproximar vários ramos de Literatura e Filosofia ao ouvinte com pensamento e Música popular e erudita". O programa pertencia à empresa Espaço 3P, que pretendia um programa exclusivamente musical. Já para Página Um, José Manuel Nunes diria querer um "programa virado aos problemas da sociedade portuguesa e também internacional, mas em menor escala", em termos de textos. No tocante à música estrangeira, divulgava singles de êxito internacional, para satisfazer os 79,4% de ouvintes jovens, ao passo que na música portuguesa estabelecia um critério rígido, não explícito no trabalho da revista Rádio & Televisão de 22 de Abril de 1972. Críticas: no Tempo Zip, a selecção musical chegara a ser feita pelo vendedor da etiqueta musical Zip, além de campanhas de publicidade encapotadas na forma de reportagem, O programa passaria entretanto das Organizações Zip para a Sassetti.

O texto da revista de onde tiro estas páginas não menciona o nome dos membros do júri do prémio da rádio da Casa da Imprensa. Mas o título do texto é marcante: Rádio Nova: rasgar horizontes. Percebia-se a tendência, em especial em programas de fim de tarde e noite. Além da censura, a rádio tinha a concorrência da televisão e precisava de se redefinir para atrair novos públicos. Foi aí que um grupo de jovens - jornalistas e radialistas - começaram a ocupar os períodos de produtores independentes tornados vagos, com especial incidência na Rádio Renascença.



domingo, 7 de setembro de 2014

Animação digital

O título da notícia do Expresso de ontem era apelativo: “Portugal no mapa da indústria de animação digital”. O conteúdo revela a realização de um evento mundial em Troia, a segunda edição do Torjan Horse was a Unicorn, terceiro evento de maior impacto mundial de entretenimento digital, segundo o CreativeBlog (a seguir ao Siggraph America, de Vancouver, e Siggraph Asia, de Shenzeng), com 500 participantes de 33 países e com 33 oradores internacionais a animarem conferências e workshops. Alguns dos nomes mais conhecidos são Syd Mead (Blade Runner), Sven Martin (Games of Thrones), Andy Jones (Avatar) e Rob Legato (Titanic, Hugo). Os organizadores do evento, André Luís e Inês Silva, conseguiram o entusiasmo de Scott Ross, ligado aos efeitos especiais dos filmes de George Lucas. Festival a decorrer entre 17 e 20 de Setembro.


A segunda parte do texto esclarece o título do artigo: as eventuais receitas do festival revertem para o desenvolvimento da indústria de entretenimento digital e atribuição de bolsas de estudo.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Teatro Estúdio de Lisboa (inícios de 1972)

Em Dezembro de 1964, Luzia Maria Martins e Helena Félix apresentavam o primeiro espectáculo do Teatro Estúdio de Lisboa, Joana de Lorena, de Maxwell Anderson, no teatro da feira popular de Lisboa. As duas, que se tinham conhecido em Londres, a primeira era funcionária da secção portuguesa da BBC, a segunda frequentava um curso naquela cidade, pensavam que o público português não conhecia peças fundamentais da dramaturgia mundial.

A companhia seguia uma linha ideológica marcada, o que despertava a atenção da censura. Na entrevista que concedeu à revista Rádio & Televisão, de 8 de Janeiro de 1972 (quatro imagens seguintes, peças assinadas por Regina Louro e Rui Paulo da Cruz), Luzia Maria Martins considerava que "tanto o texto como a encenação tentam exprimir uma posição, mas claro que ela tem de ser sempre apenas implícita. Não nos é permitido fazer um teatro em que possam exprimir totalmente as linhas que nos podem reger". Sobre a censura em si, Luzia Maria Martins entendia ser a censura sempre nefasta: "em qualquer situação deveríamos ter a liberdade de decidir por nós próprios". E acerca do repertório, ela respondeu que, apesar da proibição de certas peças, a censura nunca impôs peças".





Desde o começo da sua actividade, o Teatro Estúdio de Lisboa quis alargar-se a outros campos, incluindo um festival de poesia, uma biblioteca de teatro, uma galeria e um bar-restaurante. Sobre as finanças da companhia, Luzia Maria Martins e Helena Félix não receberiam qualquer ordenado nos primeiros cinco anos de actividade. Em 1972, ganhariam cinco mil escudos, o mesmo valor dos actores que entravam nas peças da companhia. Os valores remunerados eram baixos, levando os actores a procurar igualmente trabalho na rádio e na televisão.

O Teatro Estúdio de Lisboa funcionava no Teatro Vasco Santana, em Entrecampos, Lisboa (a área onde funcionava a feira popular está hoje toda desactivada). Em finais de 1971 e começos de 1972, a Câmara Municipal de Lisboa, proprietária do edifício, e o Teatro Estúdio de Lisboa negociavam um novo espaço para a companhia. Deduzo que, por causa desta questão, Luzia Maria Martins fosse entrevistada duas vezes nos três primeiros meses de 1972 pela revista Rádio & Televisão. A responsável da companhia reforçaria o seu sonho de possuir uma biblioteca, uma galeria, um bar-restaurante, como expressara na entrevista de 8 de Janeiro de 1972, ela que julgava que o teatro do futuro seria o centro de convívio das várias artes [performativas, como hoje se diz].

Então, o Teatro Estúdio de Lisboa estava a trabalhar numa peça sobre Antero de Quental. A responsável do teatro esperava poder convidar no futuro alguns dramaturgos portugueses dentro da sua linha programática. Objectivo principal: trabalhar nos domínios da participação e da comunicação. Além disso, queria que o teatro fosse frequentado por gente sem gravata, o que dá conta do ambiente ainda muito conservador, rigoroso e formal de quem ia assistir a um espectáculo performativo.




Em números sequenciais da revista Rádio & Televisão, iam-se revelando os novos rumos do teatro português. O Grupo dos 4, depois Teatro Aberto, os Bonecreiros e, algum tempo depois, a partir de uma cisão dentro deste grupo, A Comuna, criava-se a estrutura principal do teatro que surgia em Abril de 1974.

Sobre Luzia Maria Martins já escrevi aqui.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Da oralidade à escrita em Jack Goody


Em A Lógica da Escrita e a Organização da Sociedade, Jack Goody (Edições 70, 1987) considera a intersecção entre oral e escrito como tópico central na sua investigação. Outro objectivo foi ver os efeitos a longo prazo da escrita da sociedade. Muito do trabalho que Goody provém do seu, e de outros, trabalho na África ocidental. Goody deslocou-se muitas vezes ao Gana. Alguns conceitos que trabalhou seriam fronteira (p. 21), mudança (p. 22), obsolescência (p. 24), incorporação ou conversão (p. 26), universalismo e particularismo (p. 27) e especialização (sacerdotes e intelectuais, p. 32).

Nas sociedades religiosas compostas por homens eruditos, especialmente quando estes profissionais controlam, de alguma forma, o conhecimento proveniente do livro, pelo menos da Escritura religiosa, ocorre uma forma de especialização (p. 33). Claro que o clero, como corpo distinto, também aparece em sociedades orais sem escrita. Com a escrita, surge uma nova situação - o sacerdote tem acesso privilegiado a textos sagrados. Como mediador, ele possui uma ligação única com Deus. No princípio, era o livro, mas o sacerdote lê-o e explica-o. Daí, as religiões baseadas no livro serem frequentemente associadas a restrições nos usos e extensão da instrução. No caso extremo, os sacerdotes são a única categoria de pessoas capazes de ler, situação em diferentes etapas da história indiana, quando a instrução estava restrita aos brâmanes, e nos primeiros tempos da Europa medieval, a seguir ao declínio da instrução laica com a queda de Roma. Na Inglaterra, clericus acabou por se identificar com literatus e este com o conhecimento do latim, o que trouxe privilégios. Os especialistas da escrita adquirem o controlo inevitável de entrada e saída de um segmento de conhecimento (p. 34).

Goody, ao decifrar as influências da escrita na religião, fala de tendências (p. 194). O tema do livro é a influência de um modo de comunicação fundamental, a escrita, na organização social (p. 205). Com isto, Goody não pretendeu negar a relevância deste ou de outro meio de comunicação. Como influenciou a escrita a orientação política? (p. 107) As nações modernas estão muito dependentes da escrita para sistemas eleitorais, legislações, administração interna e relações externas.

O uso da escrita é-o também para o registo de mudanças de estatuto social no ciclo de vida – nascimento, casamento, morte (p. 60). A publicação toma muitas formas e aspectos nas culturas escritas, com mensagens inscritas na pedra. As narrativas da Mesopotâmia insistem no grau em que a economia e escrita estavam mutuamente dependentes (p. 67). A escrita era utilizada fundamentalmente para a condução dos assuntos económicos – e não tanto para a conservação do conhecimento pelos sacerdotes (como visto acima). Mas os livros eram também usados nas contas dos depósitos do templo (p. 68). Os registos incluem dádivas dos palácios reais e transacções a partir de casamentos, adopções e testemunhos. O templo recebia a sua dotação do palácio, que, por sua vez, arrecadava a receita, organizava a produção primária, participava no comércio (p. 81). Sobre a escrita e a economia em África, em observações feitas pelo próprio Goody, tome-se a simples questão do crédito (p. 103). Por exemplo, as mulheres ganesas forneciam comida a crédito a empregados de um recinto de transportes. Tinham um número restrito de tipos de transacções, devido ao esforço de memória em fixar os diferentes negócios, a menos que houvesse um livro de contabilidade. A vantagem da escrita funcionava também no domínio da prova e do acordo. A factura escrita fornece a oportunidade de examinar e verificar o conteúdo, o que garante autoridade (p. 104).

Goody dedicou atenção a duas situações, uma com e outra sem escrita – o Próximo Oriente da Antiguidade, onde apareceu a escrita, e a África ocidental contemporânea, onde o seu uso tem proliferado nos últimos 75 anos (p. 9). Ele olha os colegas antropólogos – habituados a analisar um contexto particular a partir do terreno e com atenção aos informadores – e os historiadores e arqueólogos – que reconstituem situações ao longo do tempo e estabelecem sequências cronológicas de desenvolvimento, o que o conduziu a uma terceira hipótese, que seguiu, a de pegar numa sequência (ou tópico) e seguir o seu trajecto variável no tempo e no espaço (p. 12). O autor estabelece a relevância de alguns elementos (mas não a teoria funcionalista, onde tudo influencia tudo, e a análise sociocultural). Na bibliografia, não há referências a Harold Innis, Marshall McLuhan, James Carey ou Walter Ong. Mas cita E.L.Eisenstein (The printing Press as na Agent of Change) sobre as implicações da imprensa e de Sherry Turkle sobre o efeito dos computadores no espírito humano. Goody e I.P.Watt publicaram em 1963 um artigo (The Consequences of Literacy) na revista Comparative Studies in Society and History. Neste artigo, exploram o significado do desenvolvimento e do movimento da alfabetização. Ao discutir a mudança, e os seus benefícios, da oralidade para a cultura escrita, Goody e Watt notam que “a natureza intrínseca da comunicação oral tem um efeito considerável sobre o conteúdo e a transmissão do repertório cultural” (p.2). A citação acaba por definir um contexto.

Leituras suplementares: Análise SocialHorizontes Antropológicos.