quarta-feira, 9 de março de 2022

Bernardino Pires

Texto da editora In-Libris, assinado por Paulo Gaspar Ferreira:

A In-Libris apresenta, agora, esta exposição que tornará pública a obra de Bernardino Pires (1901-1977). Falamos aqui de um notável fotógrafo quase desconhecido e autor de um magnífico retrato da Cidade do Porto dos anos 50 / 60 do século XX.
Este acervo, na sua quase totalidade inédito ou minimamente divulgado, compõe-se de imagens de pendor marcadamente neorrealista que revelam a cidade social, urbana e etnográfica através de um olhar inusitado com recurso a enquadramentos e luminosidades de grande invulgaridade na sua época.
Pretendem os herdeiros do fotógrafo e a editora In-Libris divulgar e fomentar o estudo deste espólio composto por mais de 10 000 matrizes fotográficas a cores e a preto e branco de suporte negativo e diapositivo em formatos de 6x6, 6x9 e 35 mm. Justifica este propósito o facto de a obra do fotógrafo nunca ter sido muito divulgada, tendo entrado num limbo de esquecimento até aos dias de hoje. A excelência do seu trabalho, a notável criatividade e o arrojo com que abordava as imagens que compunha, exigem a sua publicação. Elas servem não só uma importante perspectiva documental mas, acima de tudo, revelam uma inovadora postura estética principalmente se atendermos à época em que as imagens foram captadas
É, sem dúvida, a Cidade do Porto o palco que Bernardino Pires escolhe para o desenvolvimento do seu trabalho. O rio douro, as pontes, os comboios, o trabalho, as crianças e os velhos, a cidade noturna, são o alvo que os olhos do fotógrafo procuram. Trata com especial curiosidade a Zona Histórica da cidade classificada como Património Mundial pela Unesco.
O processo de edição de imagem, muito utilizado na época, passava pela manipulação dos próprios negativos, muitas vezes com recurso a marcações indeléveis riscando para reenquadrar, pintando para mascarar ou colando elementos sobrepostos na própria matriz. A manutenção destes elementos é opção do editor, no sentido de partilhar também o caminho criativo que as imagens seguiram após o momento da captação.
O facto de o trabalho de Bernardino Pires ser, hoje, quase completamente ignorado tanto publicamente como pelos diversos estudiosos da história e da estética fotográfica portuguesa exige a sua publicação. Nesse sentido torna-se, por razões de conservação e segurança, urgente a sua digitalização com o objetivo de criar um banco de imagens digital que permita a sua manipulação e estudo.


Pretende-se com este processo, disponibilizar este acervo para futuras edições de livros e projetos de investigação oriundos de diversas áreas como a história da fotografia portuguesa, a sociologia, a antropologia, a etnografia ou a história urbana da cidade do Porto.
A qualidade artística e documental do acervo Bernardino Pires justifica, por si só, a responsabilidade de o divulgar. Dispõe-se a In-Libris, no seguimento de outras iniciativas editoriais na área da publicação de fotografia portuguesa, dar corpo a este projeto assumindo o papel de editora de mais um tesouro escondido.
Num país onde a matéria de índole cultural revela cada vez mais dificuldade em ganhar espaço junto da sensibilidade dos atores do palco da comunicação social, torna-se importante sua a cumplicidade no âmbito da divulgação deste evento.






sábado, 5 de março de 2022

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Vivian Meier

Fotógrafa americana (1926-2009),foi especialista de fotografia de rua. Ignorada até depois da sua morte, ela foi ama de crianças durante mais de 40 anos e fotógrafa compulsiva em especial nos seus dias de folga.

    

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Da importância da fotografia

"Muitas das pessoas nas fotografias são-me desconhecidas, mas é interessante mostrá-las, pelo valor histórico de tudo que elas refletem: indivíduos inseridos num cenário (mesmo que seja o do estúdio fotográfico), roupas, joias, atitudes, gostos, modas e posturas" (Chakè Matossian Collection – Brussels (2021). "Photographs from the Chamlian and Garabedian families (Geyve), and portraits of other Armenians photographed before the Genocide" (https://www.houshamadyan.org/en/oda/europe/matossian-collection-be.html, acedido em 10 de fevereiro de 2022). Estudo financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian. 

Chakè Matossian foi minha professora no mestrado de comunicação social na Universidade Nova de Lisboa, uma das mais eruditas do curso. Dos seus livros: Espace Public et Représentations (La Part de l’Œil, 1996); Saturne et le Sphinx (Proudhon, Courbet et l’Art Justicier) (Droz, 2002); Des Admirables Secrets de l’Ararat – Vinci, Dürer, Michel-Ange sur les Traces d’Er et Noé (La Part de l’Œil, 2009); “Et Je ne Portai plus d’Autre Habit” – Rousseau l’Arménien (Droz, 2014).

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

António Cardoso, professor, pintor e museólogo

Não me lembro como conheci António Cardoso (1932-2021). Talvez na cooperativa Árvore, talvez num curso livre de património e arqueologia industrial ministrado por Jorge Custódio, talvez num colóquio sobre Amadeu de Souza-Cardoso, ele que era de Amarante e viria a ser diretor do museu com o nome do pintor. Ou numa magnífica exposição sobre o mesmo pintor modernista na galeria de arte que o "Jornal de Notícias" mantinha no rés do chão do seu edifício. Sei que ele estava a acabar História quando eu entrei na Faculdade de Letras.  

Na nota biográfica que consultei, ele foi fortemente marcado pelos professores José António Ferreira de Almeida e Carlos Alberto Ferreira de Almeida na licenciatura, docentes que também recordo. Em 1992, defendeu na Faculdade de Letras da Universidade do Porto as provas de doutoramento com o tema "O Arquiteto José Marques da Silva e a Arquitetura no Norte do País na primeira metade do século XX". Sem qualquer nível de hierarquização, refiro o edifício dos Grandes Armazéns Nascimento (depois Palladium), Teatro Nacional S. João, Liceu Rodrigues de Freitas, Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular e estação de São Bento (imagens retiradas da internet). A sua tese de doutoramento levou à doação do legado de Marques da Silva à Universidade do Porto, de que resultou a criação da Fundação Instituto Arquiteto José Marques da Silva. A par das aulas de História de Arte, António Cardoso dirigiu seminários de Património/Restauro, Escultura e Arquitetura do século XX no mestrado de História de Arte do Departamento de Ciências e Técnicas do Património (https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=antigos%20estudantes%20ilustres%20-%20ant%c3%b3nio%20cardoso).

Igualmente pintor, falávamos com alguma frequência. Sobre as universidades e a pintura. Um dia, ele fez-nos uma significativa visita guiada ao museu de Amarante. Não foi meu professor, mas eu teria orgulho em ser seu aluno.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Mezzo e os outros canais

 Nos últimos dias, o canal Mezzo passou o bailado "Alice no País das Maravilhas", com a bailarina inglesa Lauren Cuthbertson (imagem do seu Instragam). O programa lembrou-me obras dos pintores Amedeo Modigliani (Dedie Hayden, 1918), Edgar Degas (Bailarina com Leque, 1879) e Toulouse Lautrec (Divan Japonais, 1893). Também nestes dias vi no mesmo canal a ópera de Shostakovitch, "Lady Macbeth de Mtsensk" (1934), com a soprano Katerina lvovna Ismaiova, obra que marcaria o distanciamento do regime estalinista, acusando o compositor de formalismo. Dois bálsamos para o espírito.

Num outro canal, estava um boçal candidato a deputado a ridicularizar e chamar mentirosos aos seus adversários políticos.