PRÉMIO DE TELEVISÃO DA APIT
Ontem, durante o seminário de televisão interactiva, promovido pela Ordem dos Engenheiros e pelo Obercom, Susana Gato, secretária-geral da APIT (Associação de Produtores Independentes de Televisão) anunciou o prémio anual de televisão para profissionais e programas, a partir de 2005. A associação vai indicar em breve o modo de selecção e atribuição dos prémios. A mesma responsável disse que a APIT conta já com o apoio do ministério da tutela e dos três operadores de televisão nacionais.
TELEVISÃO INTERACTIVA VERSUS JORNALISTAS
No ambiente de entusiasmo pelas tecnologias interactivas, ontem no seminário a que já fiz referência, ficou-se com a ideia que a televisão deixará de ser um meio que transmite a mensagem de uns para muitos e se transformará num meio de muitos para muitos. O que altera a filosofia de base do meio. Um membro da assistência alertava para o perigo de confusão. Ora, eu acho que a televisão interactiva não traz esta confusão. A mim parece-me que a mudança mais significativa aponta no sentido de troca de mensagens de muitos para muitos, mas controlada por um (o radiodifusor). No caso de concursos ou jogos, os ouvintes ou espectadores funcionam mediante meros estímulos - a (escassa) oferta existente. Não estamos na altura da teoria da agulha hipodérmica, que considerava que os receptores são passivos e aceitam toda a mensagem; mas continuamos na selecção do que se quer que o ouvinte e espectador pense.
Outra ideia que me ficou, e que não desenvolvi ontem, é o crescimento da importância do entretenimento no meio interactivo. Ou melhor: do infotainment, que combina informação e entretenimento. A televisão é já um mar de entretenimento, que rodeia a informação. E isso leva-me ao programa Clube de Jornalistas, transmitido no último domingo na 2:. Aí indicaram que a informação (os noticiários) devia ser retirada da mensuração da audiência, pois ela não transmite apelos ao consumo de produtos. O que quer dizer que a informação está mesmo isolada do entretenimento.
A ser assim, toda a mensagem sobre os jornalistas tem de ser repensada. A importância do jornalista produtor e analista da informação perde-se no conjunto dos programas de televisão. E mais ainda quando os jornais "colam" mercadorias diárias ao jornal. Agora estamos na fase das enciclopédias. Começou no Correio da Manhã, continua no Público e parece ir continuar no Diário de Notícias. Depois dos faqueiros, dos coleccionáveis, de toda uma gama de gadgets mais ou menos interessantes (mas que não passam de gadgets apêndices do jornal). Aos clássicos constrangimentos da actividade do jornalista - tempo, espaço, questões tecnológicas, pressões de fontes de informação e da direcção económica da empresa - junta-se outra dificuldade: a da desidentificação crescente entre o principal que se vende e os elementos que o acompanham. Cada vez parece mais evidente que o jornal é o menos importante.
Parece estranho. Nem a bipolarização proposta por Bourdieu, quando enuncia o seu conceito de campo jornalístico - pólo intelectual dos jornais a perder peso para o pólo comercial - explica esta transferência. À informação mais leve e sensacionalista dos tablóides sucede uma aposta em diversificar o que vem todos os dias no designado jornal de referência (estou a pensar mesmo no jornal Público). O DVD, o livro, a enciclopédia, o coleccionável têm um peso maior que o jornal, pois não são produtos perecíveis diariamente e embelezam a estante da biblioteca e videoteca lá de casa. O leitor nem tem trabalho de procurar o livro na livraria, pois este vem indicado pelo companheiro "jornal". Em que este faz imensa promoção (ia escrever propaganda), em páginas antes e depois do lançamento do produto cultural não perecível. Com recurso a mupies e outros meios de publicidade. Dois em um. Digestivo. Sem esforço.
Estranho? Não, estamos no mundo das indústrias culturais, em que as actividades se cruzam e inovam. Mas em que se perdem as referências e identidades, afinal o essencial da vida.
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