domingo, 30 de maio de 2004

MEDIA DE PROXIMIDADE - II

Na sua tese de mestrado, Pedro Coelho (conhecido jornalista do canal televisivo SIC) escreve sobre media de proximidade, em especial a televisão. Próximo da definição de Carlos Camponez, que apresentei aqui ontem, os media de proximidade são aqueles que ligam uma comunidade humana de tamanho médio ou pequeno, com uma delimitação territorial e produzindo conteúdos relacionados com uma dada experiência quotidiana, um património linguístico, artístico e cultural, bem como uma memória histórica. Aos media de proximidade compete a denúncia dos problemas que afectam a comunidade e a promoção do debate e discussão com vista à sua solução.

Pedro Coelho fala das rádios locais e da televisão de proximidade. Abandonemos aquelas - espero retomá-la num dos próximos dias - e entremos na apreciação desta. A televisão de proximidade é colocada ao serviço da comunidade, "cúmplice do processo de desenvolvimento dessa comunidade" (p. 134) O autor dá exemplos de experiências de canais de televisão para condomínios, televisão universitária na Covilhã, televisão municipal de Évora e desdobramento das emissões da RTP em sete regiões, tudo já desaparecido.

Apesar de haver escassa informação, Pedro Coelho refere diversas experiências ocorridas na década de 80. Por exemplo, a TVAA, do Algarve (1980), as emissões que iam para o ar após o fecho dos programas da RTP, em 1983, em Évora, Espinho e Porto. Em 1984, no Porto, surgiu a TV Maravilha, chegando a ser captada durante alguns minutos. No ano seguinte, e ainda no Porto, a TVN (Televisão Regional do Norte) utilizou a frequência do canal 1 da RTP e na emissão participaram autoridades locais e eclesiásticas. Ainda em 1985, a partir da Cova da Piedade, e durante cinco meses, a Sul TV chegou a uma audiência de 20 mil telespectadores de Almada, Seixal e Barreiro. Mas houve também experiências a partir de Guimarães, Loures e Braga.

E Pedro Coelho destaca um homem - António Colaço, que já estivera por detrás do movimento das rádios locais, e hoje assessor de imprensa do partido Socialista. Associado a um movimento de cidadãos de Abrantes, colocou no ar a primeira emissão da TVA (Televisão de Abrantes). O tema central da primeira emissão foi a instalação polémica de uma central termoeléctrica na região (p. 154). O mesmo António Colaço apareceria ligado, em Abril de 1995, à TRP (Televisão Regional Portuguesa), a emitir a partir de um estúdio em Campo de Ourique, Lisboa. A emissão fôra anunciada quatro dias antes! O apresentador, de rosto semi-coberto, questionava a existência da liberdade de expressão audiovisual das regiões. No programa participariam ainda o actor Mário Viegas, o coronel Vasco Lourenço e o presidente da câmara de Constância, António Mendes.

Título da tese: A TV de proximidade e os novos desafios do espaço público (tese orientada por João Pissarra Esteves, professor da Universidade Nova de Lisboa, e escrita em 2003)

[este post deve ser lido em complemento e/ou associação ao que escrevi no passado dia 26]

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