DOS JORNAIS
A ideia da Europa
É o título de um texto de George Steiner, acabado de publicar pelo Nexos Institute de Amsterdão, e que o escritor Mario Vargas Llosa sintetiza num artigo saído sexta-feira no DNA (suplemento do Diário de Notícias).
Para Steiner, a Europa é um continente repleto de cafés com pessoas e palavras, onde se escreve poesia, conspira e faz filosofia, de Madrid a Viena, de S. Petersburgo a Paris, de Roma e Praga a Lisboa. Os cafés são inseparáveis dos grandes empreendimentos culturais, artísticos e políticos do Ocidente (apesar, diz, de não haver tradição dos cafés na Europa anglo-saxónica. Habermas referiu os cafés de Londres no século XVIII como iniciadores do novo espaço público).
Uma segunda característica de Europa é a paisagem própria para caminhar, a geografia feita à medida dos pés. Não há desertos como no Sará ou selvas como na Amazónia ou planícies geladas como no Alasca. A terceira característica partilhada na Europa é a de pôr nomes de estadistas, cientistas, artistas e escritores às avenidas, ruas e praças. Na América, por exemplo, põem números, letras e, por vezes, nomes de árvores e plantas.
A quarta característica é a dos europeus serem descendentes, em simultâneo, de Atenas e Jerusalém, da razão e da fé. Finalmente, como quinta característica, segundo Steiner, a Europa sempre acreditou que, após um certo apogeu, sobreviverá a ruína e o seu fim. Valéry falara da "mortalidade das civilizações" e Spengler escrevera sobre a "decadência do Ocidente", ao passo que a teoria da filosofia de Hegel apontava um progresso que, ao chegar ao topo, conduziria ao nada. E Steiner recorda que, entre 1914 e 1945, de Madrid ao Volga e do Ártico à Sicília, terão morrido uns cem milhões de seres humanos, por obra de guerras, fomes, deportações, limpezas étnicas e bestialidades como Auschwitz e Gulag.
Ao sentir pessimista de Steiner, Llosa aponta um caminho positivo: a Europa dos 25 países da União é, hoje, um projecto internacionalista e democrático; o que começou por ser um mercado comum de aço e carvão tornou-se num grande conjunto de países que eliminam barreiras e se integram. E, no seu artigo, tem ainda tempo para se referir às minorias culturais. Nunca houve ou haverá maiorias de consumidores de produtos culturais genuinos: "a alta cultura foi sempre património de minorias muito pequenas. Estas minorias continuam a sê-lo nos nossos dias, mas graças ao desenvolvimento e à internacionalização, estas minorias cresceram de uma forma extraordinária".
Quem é o maior?
É a pergunta-título da página de hoje do provedor do leitor do Jornal de Notícias (Porto), Manuel Pinto, a propósito de recentes dados produzidos pela APCT (Associação Portuguesa de Controlo das Tiragens) (p. 25). O Jornal de Notícias recuperou a liderança de vendas, que perdera o ano passado para o Correio da Manhã. Os jornais de referência Público e Diário de Notícias diminuiram nas vendas, ao contrário do 24 Horas. E é aqui que se justifica a pergunta de Manuel Pinto. Segundo o Público, o 24 Horas não se tornou o terceiro diário mais vendido em Portugal (depois do Jornal de Notícias e do Correio da Manhã), mas o quarto jornal. O critério é simples: o Público viu segundo o prisma da circulação paga, relativamente aos jornais vendidos por assinatura e nas bancas; o Jornal de Notícias, sobre o 24 Horas, aludiu à circulação total, que inclui as ofertas. Conclui o provedor: "O modo como os media informam sobre si próprios e sobre os seus concorrentes é porventura pautado por mais enviesamentos do que a informação veiculada sobre a realidade externa".
A mim, disseram-me que o 24 Horas só não se aproxima do volume de vendas do Correio da Manhã por questões industriais. As máquinas que imprimem o jornal não têm capacidade para aumentar a produção.
O império das produtoras
É o título de um artigo hoje saído no El Pais. Com o nascimento das televisões privadas, autonómicas e locais em Espanha e o consequente aumento da procura de conteúdos, surgiu uma onda de novas produtoras independentes. O número de empresas subiu de 78 em 1997 para 151 em 2002, mas baixou para 134 no ano passado, devido à crise económica, que incentivou os canais de televisão à produção própria. Segundo dados do GECA (Gabinete de Estudios de Comunicación Audiovisual), aumentaram as horas de produção: de 8926 em 1997 para 16174 em 2002, passando o número de programas de 163 a 249.
Como noutros mercados, no audiovisual existe um elevado grau de concentração: as dez principais produtoras (9,6% do total) são responsáveis por 33% dos espaços e 69% do tempo de emissão. Destacam-se deste conjunto a Gestmusic-Endemol e a Globomedia (desta última saíu, em Abril deste ano, um livro editado pela Universidade de Navarra e intitulado La gestión de la creatividad en televisión, de Javier Bardají e Santiago Gómes Amigo). A Gestmusic é a criadora de um dos mais recentes fenómenos sociais e televisivos, a Operação Triunfo, que em Portugal também constituiu êxito. O programa atingiu em Espanha, em Fevreiro de 2002, um total de 12873000 espectadores (68% da quota de mercado). Outro dos êxitos da Gestmusic foram Crónicas marcianas (Tele 5). Quanto à Globomedia, ela é responsável por séries como Médico de família e, mais recentemente, Los Serranos. Outra produtora, Producciones 52, tem o seu produto mais famoso em Tómbola (canal 9).
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