Considera-se, desde que existe o reality show Big Brother (BB), que este espelha a televisão do real. Porém, já muito antes se tinha essa percepção. A televisão sempre lançou formatos artificiais: jogos, programas de notícias a partir de estúdios, sitcoms [comédias de situação], documentários. O que é a televisão do real?

Certamente que o arquétipo desta nova noção de televisão do real é o BB, onde um grupo de concorrentes, isolado numa casa vigiada por câmaras de televisão as 24 horas por dia, é encorajado a interagir de modo permanente. Todas as semanas, os concorrentes são chamados a classificar os seus colegas, enquanto a audiência vota com vista à saída de um deles. Parte do gozo do BB é a transformação de anónimos em estrelas não devido a um talento especial mas porque se tornam pessoas conhecidas, caso do nosso Zé Maria. Mais do que isso: a sorte dos concorrentes não está nas mãos deles mas na decisão das pessoas simples e anónimas, a audiência. Por isso, se diz que o BB é democrático, e o canal onde passa o programa é popular.
Cummings vai mais longe, quase a atingir o sarcasmo. Para ele, no preciso momento em que a participação nas eleições parlamentares parece estar em declínio – com o que isso representa para o espaço público –, milhares de pessoas participam nas votações telefónicas. A isto se chama o descer aos infernos por parte da televisão. À paleo-televisão, que queria entreter e instruir – sucede a neo-televisão – em que domina o menor denominador comum: sexo, celebridade e sensacionalismo voyeurístico.
Leitura: Dolan Cummings, Bernard Clark, Victoria Mapplebeck, Christopher Dunkley e Graham Barnfield (2002). Reality TV: how real is real? Londres: Hodder & Stoughton
[continua]
Sem comentários:
Enviar um comentário