OS BLOGUES SEGUNDO MÁRIO MESQUITA
Antes de partir para férias, Mário Mesquita deixou-nos um exemplar texto sobre os blogues (Público, 8 de Agosto, de que incluo aqui ao lado uma parcela da sua crónica, toda anotada por mim).
Para Mário Mesquita, jornalista e professor universitário, "as novas tecnologias possibilitaram o surgimento de um «jornalismo pessoal» ou «amador»". Isto tendo como base a acreditação de blogues para a convenção democrata realizada há pouco em Boston, MA, e a edição recente de textos de Pedro Mexia, escritos inicialmente em blogue. Na sua análise, Mesquita usa ainda o livro de Elisabete Barbosa e António Granado (Weblogs, diário de bordo), editado este ano. E, assim, conclui que o surgimento dos blogues informativos possibilitou o aparecimento do jornalismo amador, "atendendo à semelhança que ele revela com o trabalho jornalístico propriamente dito".
Mais à frente, elabora o seu núcleo fundamental de definição de jornalismo no ciberespaço, associado a blogue informativo [o cronista usa as palavras blog e blogger]. Para ele, o jornalismo no ciberespaço caracteriza-se por três tipos: 1) a informação jornalística em si, 2) a informação organizacional e institucional (comunicação empresarial), e 3) o jornalismo pessoal ou amador. Este último tipo é o da "produção parajornalística de cidadãos que desejam intervir no espaço público e, por vezes, recorrem a formas de expressão inspiradas nos géneros jornalísticos tradicionais".
A minha leitura dos blogues
Tenho uma grande admiração por Mário Mesquita. Ele é o director da colecção de livros sobre comunicação da MinervaCoimbra, onde foram publicados os meus livros A negociação entre fontes e jornalistas (1997), correspondente à minha tese de mestrado, e Jornalistas e fontes de informação. A sua relação na perspectiva da sociologia do jornalismo (2003), correspondente ao primeiro capítulo da minha tese de doutoramento. Mas não concordo totalmente com a leitura que faz dos blogues.
Um blogue está para além do jornalismo. É um caderno pessoal, um espaço de afirmação e selecção, para além dos pressupostos estéticos, dentro das opções proporcionadas pelo meio. Eu coloco o blogue no cruzamento da comunicação de massa com a comunicação interpessoal, onde as notícias se podem associar a rumores, desejos ou vontades. O blogue é ainda um espaço de auto-referência, com sobre-representação do(s) seu(s) autor(es), o que o torna parcial e subjectivo, e que é o contrário do que se pretende com o jornalismo. Além disso, nem sempre tem a pretensão da actualidade da informação que produz, funcionando numa dimensão atemporal.
O bloguista pode ter uma pretensão de enciclopedista, criando múltiplas entradas, sem procurar o lucro material, mas tão só a sua divulgação. Segue também o sentido proactivo dos novos grupos. Eu próprio já participei num almoço de bloguistas (não conhecia ninguém), já troquei livros, já fiz um inquérito, já desafiei à realização de uma tertúlia de poesia [esperemos que o Outono traga novidades], já polemizei com provedores dos leitores de jornais, formando uma comunidade alheia aos processos de recolha, selecção, interpretação e produção das notícias. A que acrescento uma liberdade de temas, espaço e periodicidade que o jornalista profissional não tem.
Claro que há pontes. O bloguista (ou blogueiro) fala de edição [acima do espaço de escrita das mensagens aparece duas vezes a palavra edit: posts, HTML - o que condiciona a linguagem do bloguista]. Também procura, com frequência, dar nota do insólito e do novo, valores-notícia do jornalismo. E, se no blogue, ainda não se fala de uma estrutura económica, com remunerações e carreiras - como no começo do jornalismo clássico -, nota-se uma tendência para a sua profissionalização. Pelo menos, há já empresas de jornalismo digital, o que representa um estádio para além do jornalismo forjado no século XIX.
[a escrita desta mensagem demorou aproximadamente 75 minutos]
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