CENTROS COMERCIAIS, OUTRA VEZ
Ainda me recordo da movida que foi a abertura do centro comercial Brasília, na rotunda da Boavista, no Porto. Marcou um tempo novo de lojas, num espaço já densamente comercial. Há quantos anos foi isso? Já lhe perdi a conta.
A verdade é que começou um novo período de consumo. Lojas muito iluminadas, umas junto às outras [no Porto diz-se "à beira", em Lisboa diz-se "ao pé"], com um ambiente climatizado. A frequência de compradores ou simples mirones era elevada. Os jornais fizeram referência à "catedral de consumo". Depois, anos mais tarde, o espaço de lojas alargava-se, com chão mais nobre (passando da matéria plástica para pedra) e lojas mais modernas. O fluxo de visitantes ampliou-se, creio que se faziam excursões ao sítio para admirar e comprar. Até abriu um cinema, o Charlot. Vi lá algumas fitas, embora a sala não fosse a minha preferida.
Mais tarde, talvez há uns dez anos (ou mais, que a memória esbate o tempo), abriram novos centros comerciais na zona e entravam na rota do consumo os centros comerciais tipo GaiaShopping, onde as lojas eram predominantemente de marcas internacionais, fosse roupa, ténis ou equipamentos eléctricos.
O Brasília, de lojinhas familiares, com poucos produtos a rodarem as montras, entrou em declínio inexorável. Os críticos e racistas começariam a dizer: até já tem lojas de indianos! Mas estas acabam por ser úteis, vendendo acessórios para informática, computadores e telemóveis.O cinema fechou, como mostra a imagem em cima, muitas lojas estão vazias, o centro comercial parece um fantasma, até se ouve o eco dos sapatos passando no chão de plástico ou de pedra.
Quantos shoppings, outrora brilhantes, procurados por gente sempre apressada a comprar, estão degradados ou entram numa velhice triste? E, se estes entram em crise, também a actividade comercial fora do espaço fechado sofre. É que, apesar da concorrência, passava a haver uma complementaridade, pois o centro comercial funcionava como um pólo, uma âncora, como se diz agora.
Mas, no meio desse vazio, pode haver espaço para uma surpresa. E que contraria a regra dominante, embora não saiba por quanto tempo. Prometo voltar ao assunto.
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