quinta-feira, 14 de outubro de 2004

O INVERNO DO DESCONTENTAMENTO DO LE MONDE ACABA EM CRISE FINANCEIRA

Trata-se de um título cheio de conotações políticas o do texto editado hoje na newsletter do European Journalism Centre. Se o objecto desta mensagem é o jornal francês, fiquemo-nos agora pelo Inverno do descontentamento. Trata-se de frase retirada do início de uma peça de William Shakespeare, Ricardo III, e que se aplicou ao Inverno inglês de 1978-1979, quando cresceu o movimento grevista no Reino Unido. Nessa altura, o peso das greves levou a um voto de não confiança parlamentar ao primeiro-ministro trabalhista James Callaghan. As eleições gerais seguintes seriam ganhas pelo partido conservador de Margareth Thatcher.

Quanto ao Le Monde, à medida que se aproxima o seu 60º aniversário, a mudança de sede e de equipamentos está a ser acompanhada por uma grande crise financeira. A circulação está a baixar, a publicidade é escassa e o jornal anunciou a eliminação próxima de 100 postos de trabalho, como já dei conta neste blogue. Alguns deles pertencem à área de impressão mas há também jornalistas.

A newsletter do European Journalism Centre, que se serve de uma notícia do Guardian, indica que o problema de queda de circulação do Monde é uma questão que atravessa toda a imprensa de qualidade francesa. A explosão de jornais gratuitos – em especial dois novos títulos – e o surgimento de sítios de internet explicam as mudanças dramáticas nos jornais franceses. Para o Monde, este é o terceiro ano de perdas, atingindo já um total de €50 milhões. Se a circulação caiu 4% em 2003, estima-se que desça mais 3,5% este ano. E, apesar de se manter em primeiro lugar nas vendas (380 mil jornais por dia), o concorrente Le Figaro ameaça ultrapassar o Le Monde nos próximos meses.

No domingo, enquanto aqui comentava um texto do Le Monde desse dia, fazia mentalmente a comparação entre esse jornal e o El Pais. E fazia uma constatação: o jornal de Madrid respira saúde nos textos e nos colaboradores, com uma revista dominical de grande qualidade quer gráfica quer em termos de conteúdos; o jornal parisiense é muito mais modesto nesses aspectos.

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