AULA DE MARGARIDA MARTINS
Hoje a minha aula de Públicos e Audiências teve uma convidada, Margarida Martins, que fez uma conferência sobre ética e informação. Jornalista da TVI e mestre em Comunicação e Indústrias Culturais pela Universidade Católica, ela falou da sua tese defendida há cerca de um ano. Este trabalho assentou numa análise empírica de 15 noticiários em horário nobre no canal onde trabalha, entre Setembro de 1999 e Junho de 2002.
No espaço de tempo observado, ela encontrou três períodos distintos: o primeiro, em 1999, ainda o noticiário principal da TVI tinha o nome Directo XXI, com pouco impacto em termos de audiências. A TVI estava em terceiro lugar a seguir à líder SIC e à RTP. Entre Setembro de 2000 e Setembro de 2001 a TVI ascende ao primeiro lugar a nível de audiências (ou disputa esse lugar com a SIC). O terceiro período, a seguir a 2001, é o da afirmação da liderança por parte do canal de Queluz.
Cada período teria uma programação distinta, partindo do critério de sanduiche (programa-informação-programa). Assim, a primeira fórmula de programas era série juvenil-noticiário (que tanto começava às 19:30 como às 21:00, isto é, fora do horário da concorrência)-série juvenil. A segunda fórmula (ou período) coincidiu com o Big Brother (extra)- noticiário já baptizado de Jornal Nacional-telenovela portuguesa. A terceira fórmula ou período é o que existe temporalmente já mais perto de nós: telenovela portuguesa-noticiário-telenovela portuguesa. A conquista da audiência da TVI apontou para a classe D, a mais popular e de menores recursos económicos, mas que compra também os bens dos supermercados e acede à aquisição de telemóveis ou brinquedos [em Portugal, há perto de 8,9 milhões de pessoas com poder aquisitivo, divididas em classe A (4,9%), B (10,5%), C1 (27,5%), C2 (29,8%) e D (27,3%)].
Claro que a programação - que o director de programas procura rentabilizar em termos de audiências, repercutidas em investimentos publicitários - representa uma pressão suplementar relativamente aos objectivos de ética e responsabilidade social. Isto é, o esforço do jornalista vai no sentido da procura da informação mais correcta, facilitando o debate e a discussão, fazendo um exercício deontológico permanente. Para Margarida Martins, a notícia não deve explorar a dor e o sofrimento das pessoas; o jornalista tem de saber os limites morais e de cidadania para impedir a proliferação da tabloidização da informação (casos pessoais, crime, fait-divers).
Margarida Martins, que começara por citar João Paulo II ("Todos os media da cultura popular [...] podem construir ou destruir, elevar ou degradar"), distingue vários elementos que servem para construir a notícia: excesso, falha, inversão, anormal. Exactamente o oposto do que ela defende. E mostrou alguns exemplos pedagógicos. Recordo a ênfase que colocou nas notícias positivas, como as histórias recentes de uma criança açoriana que quer ser bailarino, as quais tiveram uma boa audiência. Dado que é profissional da TVI, em que os noticiários apontam com frequência para o caso pessoal e o fait-divers, imagino a luta quotidiana para fazer respeitar a sua ética e moral.
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