sexta-feira, 5 de novembro de 2004

RACHEL DE QUEIROZ E O RADIOAMADORISMO

Por achar muito bonito, retiro parte de um texto editado ontem no blogue A Minha Rádio, de António Silva, sobre a passagem do primeiro aniversário da morte de Rachel de Queiroz, escritora brasileiras que usou a rádio como tema da sua literatura. [Fotografia de Eduardo Simões]

Nascida em Fortaleza, em 1910, o seu primeiro livro sairá aos seus vinte anos, O quinze, marcador de uma nova fase da ficção brasileira, onde se fala dos problemas do homem, da terra do Nordeste e da seca. O segundo livro, João Miguel, seria publicado em 1932,e narra a história de um presidiário numa pequena cidade do interior. Já Caminho de Pedras (1937) e As três Marias (1939) descrevem situações sociais bem vincadas. A autora passa a dedicar-se à crónica militante, em jornais e revistas do Rio de Janeiro (caso de O Cruzeiro), e ao teatro. Rachel de Queiroz foi a primeira mulher a entrar na Academia.

António Silva, ontem no seu blogue, recorda este texto da autora sobre o radioamador (O Cruzeiro, de 21 de Junho de 1962): “Coruja... Bem, é o que sou. Não a propriamente dita, mas em linguagem de radioamador. Pois coruja é o radioamador ouvinte, o que não tem transmissor e liga o receptor em casa, para ficar ouvindo as conversas dos outros. Divertimento barato, aliás. Não precisa sequer ter-se um receptor de alta categoria: basta um pequeno transístor desses japoneses, de contrabando, acrescentado de uma antena de nove metros de fio de aço de pescador. O importante, além disso, é que o transístor tenha faixa de onda de 40 metros, que é por onde se manifestam os radioamadores da rede local. O mais é constância e paciência. E penetra-se, num mundo de que não suspeita o simples cidadão acostumado a escutar apenas as emissões comerciais de TV e broadcasting; pululando ao nosso redor, insuspeita, mas permanentemente activa, funciona em volta do mundo todo, uma imensa rede de estações de rádio, manipuladas por radioamadores que estabelecem pela Terra inteira uma cadeia de comunicações, muito mais eficiente que os serviços públicos, oficiais ou particulares. A boa vontade é o seu lema, a solidariedade humana a sua obrigação. Quem viu aquele filme francês “Se todos os Homens do Mundo” pode fazer uma ideia do fenómeno. E não se trata de conversa de fita de cinema, não; é assim mesmo daquele jeito que eles se comportam, da Noruega ao Congo, de Ver-o-Peso ao Vigário Geral”.

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