JORNALISMO ONLINE
A aula de hoje contou com o jornalista José Vítor Malheiros, do PÚBLICONLINE.
O sítio do Público nasceu em 1994, apenas quatro anos após o lançamento do jornal. Começou como curiosidade, pois ainda não havia uma noção exacta das potencialidades e do tipo de negócio que a internet representava. Mas, no ano seguinte, já se via esta como um novo canal de disseminação e distribuição da informação, importante porque tratando-se de um bem imaterial o seu custo de reprodução era (quase) nulo. Em 1998, era criada a empresa PÚBLICO.pt, que se autonomizava face ao jornal em papel.
A etapa da visibilidade do Público on line começaria com a cobertura das eleições legislativas de Março de 1995. Ainda neste ano, a 22 de Setembro, iniciava-se a publicação diária do jornal na internet. O sítio passava a assumir-se como ferramenta de promoção da marca (marketing puro) e de criação de hábitos de leitura desta informação.
Modelo de negócio e novos produtos
O modelo de negócio de um jornal assenta em dois pés: venda do jornal e publicidade. Portanto, com a internet, para além do jornal em papel, ambicionava-se uma nova forma de captar e receitas sem custos adicionais. E também audiências, em termos cívicos e de reforço da marca.
Para Vítor Malheiros, um jornalista deve compreender a actividade empresarial - o seu trabalho engloba a oferta da informação e a transmissão da opinião, permitindo a formação de um comportamento cívico dos seus leitores. Contudo, não pode perder de vista o interesse do industrial dos media. Um jornalista, para produzir um texto, consome muito tempo na investigação (ler livros e relatórios, participar em conferências, fazer entrevistas). Se este esforço se esgota num só texto, há uma enorme massa de conhecimento que não é utilizado. Daí que uma das maneiras de aproveitamento do material recolhido seja o acesso comercial aos centros de documentação, que servem jornalistas e outras pessoas, como leitores e investigadores.
Um dos problemas sentidos pelos jornais dá pelo nome de 16-25, a faixa etária que consome muitos media em geral mas menos jornais. Houve, por isso, necessidade de criar novos produtos para cativar essa importante faixa de idades, com criação de: 1) serviço de notícias em tempo real, de acesso universal a uma base de dados, a Última Hora, e 2) agenda cultural nacional, o Guia de Lazer. Em especial neste segundo negócio, o objectivo é vender a informação a empresas, no sentido B2B (business to business), no estilo da oferta de serviços de uma agência de notícias.
As promessas da internet
Quando apareceu a internet, um dos elementos que provocou uma grande excitação foi o hipertexto, a possibilidade de interligação com outros textos. Dizia-se que haveria um corte radical com a forma anterior de escrever. Mas escrever em hipertexto é complicado, pois implica fazer links e levar o leitor a navegar por outros locais, perdendo a referência ou interesse inicial, enquanto a oralidade, por exemplo, continua sendo linear. Além de que levanta questões éticas de autoria.
A interactividade foi outro dos elementos da internet não totalmente cumpridos na profecia inicial de abundância e revolução. É que há questões de accountability (responsabilidade). José Vítor Malheiros recebe diariamente cerca de três mil mensagens. Admitindo que 2500 são ainda SPAM, apesar dos filtros, ele fica com 500 mensagens para responder. Se o fizesse não teria tempo para fazer mais nada.
Mas, na internet, cumpriu-se uma das suas promessas: a publicação. Hoje, quer os media, quer entidades privadas ou públicas, quer associações ou mesmo indivíduos isolados, podem editar. José Vítor Malheiros referiu o caso dos blogues, cuja publicação expedita funciona como uma outra fonte de informação, socialmente muito relevante. É aquilo a que ele chamou de interactividade de segundo grau. Embora isto crie novos problemas, pois, ao aumentar o caudal de informação, cresce o ruído e desaparece a função do gatekeeper. E estas publicações podem aproximar-se do grau zero da responsabilidade ética.
[mensagem concluida às 8:41 de 17 de Dezembro]
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