sábado, 4 de dezembro de 2004

PÚBLICOS DA CULTURA: TIPOLOGIAS E PRÁTICAS CULTURAIS - II

[continuação da mensagem de 30 de Novembro último]

Idalina Conde (1992: 156) define um continuum dos consumos habituais e regulares aos consumos de peças, exposições ou concertos únicos, em que os públicos podem alargar devido ao fenómeno dos amplos espaços culturais e a grandes concentrações (caso dos festivais e das bienais). Assim, há: 1) clientelas habituais, 2) públicos ganhos por estratégias de captação em iniciativas específicas, e 3) conjunto difuso de utentes/visitantes comandados pelo carisma ou capital simbólico da instituição.

No seu texto, Maria Lourdes Lima dos Santos (2004: 10), a partir da explanação de Gomes (2004) vai mais longe e distingue um conjunto alargado de categorias. Assim, os públicos de Almada separam-se por incondicionais, adeptos, flutuantes e estreantes, ao passo que os públicos do Porto 2001 se dividem em cultivados, liminares, especializados, retraídos, displicentes e recatados. Ela também elenca os públicos da ciência: envolvidos, consolidados, iniciados, autodidactas, indiferentes, benevolentes e retraídos.

Maria Lourdes Lima dos Santos reforça, assim, a ideia de que os públicos são polissémicos e mutáveis, integrados ou não em redes culturais.

A ideia de polissemia – ou obra aberta (em Umberto Eco) – já fora trabalhada por Idalina Conde (1992: 145), partindo de um triângulo de múltiplas percepções, 1) a do criador da obra, 2) a dos pares onde circula primeiro a obra, e 3) a dos públicos. A investigadora destaca o terceiro – os públicos da cultura, com o conhecimento dos perfis e o tipo de recepção, acima já referenciados por outros autores. Conde observa a distinção entre centralidade – insistência na relevância simbólica, económica, política e mediática da cultura – e transversalidade – no sentido da dimensão global dos valores (identidade, hábitos, práticas e estilos de vida). Fala ainda de consumos culturais localizados e culto dos prazeres, dissociando cultura de distinção (burguesa), de pretensão (pequeno burguesa) e de privação (popular) (Conde, 1992: 150).

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[imagens das livrarias Municipal, à avenida da República, e Imprensa Nacional - Casa da Moeda, ao Arco do Cego, ambas em Lisboa]

A mesma autora divide ainda os perfis sociológicos dos públicos da cultura em: 1) endo-domiciliar (servido pelo conjunto das indústrias culturais com a propriedade da reprodutibilidade) e exo-domiciliar (servido pelas artes do espectáculo ao vivo com a propriedade de raridade relativa). Finalmente, Idalina Conde fala numa tripla assunção de receptores dos produtos culturais: audiência, clientela, público. Isto tem a ver com uma graduação que vai desde a audiência da televisão ou de cinema às clientelas de ópera e teatro e ao público erudito ou elitista, associados a uma elevação sócio-cultural dos perfis sociais que procuram as práticas culturais.

Bibliografia

Conde, Idalina (coord.) (1992). Percepção estética e públicos da cultura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian
Lima dos Santos, Maria Lourdes (2004). "Apresentação". In Observatório de Actividades Culturais Públicos da cultura. Lisboa: OAC
Gomes, Rui Telmo (2004). "A distinção banalizada? Perfis sociais dos públicos da cultura". In Observatório de Actividades Culturais Públicos da cultura. Lisboa: OAC

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