FÃS E CLAQUES DE FUTEBOL
Dois grupos de alunos decidiram estudar o fenómeno das claques de futebol como extensão da análise dos fãs: Ana Catarino Alfredo, Ana Rita Santos e Maria Ana Figueira (Os fãs: claque do Sporting Clube de Portugal) e Duarte Pinto Coelho, Margarida Carmelo Rosa e Ana Gouveia (As claques de futebol - um mundo inverso).
Um dos trabalhos fixou a seguinte metodologia: "A amostra compreenderá 90 indivíduos,sendo que os inquéritos realizar-se-ão a 30 membros de cada claque. No caso da Juve Leo, o jogo escolhido para a recolha de informação foi o Sporting-Belenenses; para o No Name Boys optou-se pelo Benfica-Nacional; no caso da Linha Amarela, a escolha recaiu sobre o Estoril-Beira Mar. [...] No que diz respeito à média de idades, ela situa-se na casa dos 20. [...] As classes sociais foram aferidas através de um indicador apenas: a escolaridade".
A base de inquéritos do outro trabalho foram 30, durante o encontro entre o Sporting e o Sporting de Braga, a 11 de Dezembro último. O grupo que estudou apenas a claque do Sporting tinha por objectivo principal perceber "porque é que as claques têm comportamentos violentos". Ana Catarino Alfredo, Ana Rita Santos e Maria Ana Figueira abordaram nos seus inquéritos quatro campos: dados pessoais dos membros, violência, consumo de bebidas e dedicação ao clube. Para efectuarem os inquéritos, as três alunas dividiram-se pelas bancadas e obtiveram as respostas durante o jogo e no intervalo.
O trabalho sobre a claque do Sporting concluiu haver, maioritariamente, elementos das classes C1, C2 e D entre os espectadores e fãs de futebol. O outro estudo, que analisou claques do Sporting, Benfica e Estoril concluiu de modo diverso: enquanto os assistentes do Benfica eram constituidos por classes mais baixas, os elementos do Sporting tinha um estatuto social mais elevado e a claque do Estoril tinha bastantes estudantes. Aqui, dado o número baixo de inquéritos, poderemos encontrar - com grande probabilidade -, os estereótipos que caracterizam a base de classe trabalhadora no Benfica e uma base de classe média no Sporting, o que está longe de ser provado.
Agressividade, consumo de bebidas ou estupefacientes e fanatismo
Os grupos fizeram perguntas objectivas sobre essas questões (eu chamara previamente a atenção para o cuidado a ter com a elaboração destas perguntas e sugeri, mesmo, a sua eliminação ou "amaciamento" dos termos usados).
Num dos trabalhos, 23 dos 30 inquiridos afirmaram ter consumido, durante os jogos, bebidas e substâncias "que alteraram o seu estado de espírito". Das 23, 70% disseram ter consumido bebidas alcoólicas, 27% estupefacientes e os restantes 3% calmantes ou ansiolíticos. Claro que se trata de um número muito pequeno de respostas - pelo que é um erro extrapolar para o universo dos frequentadores dos estádios -, embora as alunas reconhecessem ser este "um dos factores geradores de grande parte da violência física e verbal que se vive nas bancadas dos estádios de futebol".
À pergunta "alguma vez foi agredido fisicamente", 17 em 30 pessoas afirmaram nunca ter sido. Mas 18 em 30 pessoas admitiu ter agredido alguém, em resposta a uma agressão prévia (66%), por descontrolo de emoções (18%) e devido ao consumo de bebidas (6%).
Sobre o facto de os elementos das claques dos clubes se considerarem simples fãs ou extremistas - fanáticos - a resposta foi maioritariamente esta última. Os alunos escreveram: "Quanto à determinação de fanático, a maior parte dos membros destas claques aceita-a, ainda que tenha recorrido ao termo «ultra» como sinónimo. Sob esta designação encontra-se o adepto que apoia quase cegamente o clube em qualquer ocasião. [...] Os adeptos que se consideram fanáticos justificam-no unanimemente pelo apoio incondicional que dão à sua equipa". Inversamente, as claques das equipas adversárias são vistas como permanentemente inimigas, no sentido sociológico do "nós" contra "eles".
Estes trabalhos poderiam incluir outros elementos como a ligação aos media (no caso a transmissão de jogos pela televisão), pela formação da ideia de comunidade imaginária, no sentido de Benedict Anderson, e ao merchandising (venda de produtos do clube), num âmbito mais amplo da comunicação. Mas o retrato que traçaram deram luz a algumas das ideias que vemos ser formuladas de modo intuitivo.
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