FÃS E CLUBES DE FÃS (I)
Os meus alunos escolheram cantores ou bandas conhecidas (até mesmo tradicionais) do público para estudarem o modo como os fãs os vêem. A análise que aqui fica incide sobre a realidade nacional, e não em termos de estrangeiros. Assim, dois grupos de estudantes escolheram uma banda (Xutos & Pontapés), outro a cantora Mafalda Veiga e um último analisou os fãs de Quim Barreiros.
Xutos & Pontapés - um caso de sucesso transgeracional foi o título dado ao seu texto pelo conjunto de alunos Hugo Pinheiro, José Pedro Luís e Tiago Figueira. A base empírica foram 20 inquéritos trabalhados por ocasião da comemoração dos 25 anos de carreira dos músicos, à entrada da porta do Pavilhão Atlântico, em Lisboa, onde decorreu o espectáculo (o texto dos alunos incluiu ainda uma entrevista a um dos membros da banda, o guitarrista Zé Pedro). Dos 20 inquiridos, apenas 9 se considerava fã, sendo que quatro já o eram há mais de 15 anos. A rádio fora o principal meio de contacto do fã com a banda (13 em 20),seguindo-se os amigos (4), concertos (2) e outros (1). Dos 17 discos contabilizados pela banda, havia um fã que os possuia todos, mas a maioria (sete) tinha de um a três discos, sendo o mais marcante o Circo de feras (com 6 respostas) e as músicas de maior agrado Não sou o único e A minha casinha (ambas com cinco respostas). A uma outra pergunta (o que mais gosta na banda), responderam: letras (10), concertos (8), atitude (7). Sobre o clube de fãs, dos vinte inquiridos apenas 6 conheciam e dois pertenciam.
A representatividade dos inquéritos
Um dos problemas presentes neste tipo de trabalho é o número de inquiridos (e a sua apurada caracterização). Tratando-se de trabalhos de uma cadeira semestral (Públicos e Audiências), não se tem muito tempo para amadurecimento de conceitos e implementação de uma pesquisa empírica aprofundada. Claro que os grupos de estudantes precisam de saber gerir convenientemente o tempo disponível.
Isto vem a propósito do trabalho do segundo grupo que se dedicou ao mesmo tema, Fãs Xutos & Pontapés, constituido pelas alunas Fátima Ferreira e Lígia Silveira. Elas inquiriram 36 pessoas - em igualdade em termos de género - que foram ao concerto da banda no pavilhão Atlântico, no dia 9 de Outubro, como acima já fizera referência. A base teórica foi a mesma (textos de Lawrence Grossberg e Joli Jensen, já destacados algumas vezes no blogue). Este segundo trabalho fez um esforço mais acentuado em termos de caracterização, chegando a resultados algo diferentes dos do primeiro grupo.
Em termos etários, as alunas entrevistaram 11 jovens abaixo dos 20 anos, 8 entre os 21 e 25 anos, 9 dos 26 aos 34 anos e 8 acima desta última idade. Escrevem Fátima Ferreira e Lígia Silveira: "Entrevistámos uma criança de nove anos (acompanhada pelos pais, sem estes serem grandes apreciadores), uma família «puxada» pelas filhas para assistirem ao concerto e pessoas mais velhas que não tiveram problemas em deixarem os cônjugues em casa para irem ao Pavilhão Atlântico". Se, inicialmente, elas pensaram ir encontrar pessoas residentes apenas na Grande Lisboa, concluiram que a assistência ao concerto provinha de diferentes pontos do país como Porto, Coimbra ou Bragança.
As duas alunas, ao inquirirem sobre o que é ser fã de uma banda, concluiram existir um pequeno número de fãs e outras pessoas soltas - isto é, com uma relação mais leve e descomprometida com os músicos. Aliás, quando se perguntou se a banda tinha exercido alguma influência na vida das pessoas, 21 em 36 disseram "nenhuma". Já os alunos Hugo Pinheiro, José Pedro Luís e Tiago Figueira procuraram saber se os Xutos & Pontapés tinham groupies, na entrevista conduzida a um dos músicos da banda, que respondeu: "Nos significados mais radicais da palavra (risos)? Bem... isso é normal, uma pessoa quer conhecer o ídolo e depois tentar-se aproximar poderá acontecer. Hoje em dia é mais difícil porque temos as nossas vidas e uns já são pais. Mas no início era normal acabarmos em casa lá de alguém e fazermos mais festas e after-hours com os fãs".
[continua]
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