domingo, 23 de janeiro de 2005

OUTRA MENSAGEM SOBRE INDÚSTRIA FONOGRÁFICA

Nos jornais que tenho lido nas últimas semanas, há uma preocupação crescente quanto à indústria discográfica. Hoje, quero retomar o tema, já abordado anteontem e ontem - agora a partir do Le Monde. O título é significativo: O futuro incerto da música independente. Quem o assina é Stephan Bourdoiseau, presidente da Union des producteurs phonographiques français indépendants (UPFI) e presidente da Wagram Music. Como pano de fundo a quebra de 30% na venda de CDs nos últimos dois anos.

O texto abre assim: "Lutar pela diversidade cultural, longe de reflectir um recuo [repli], corresponde à afirmação dos nossos valores de tolerância e de permuta, da nossa identidade nacional e europeia, e da nossa capacidade de manter em França a criação e a sua difusão". E continua ao afirmar a necessidade dos artistas produzirem e os produtores apoiarem a criação musical (francesa, no texto). É que, escreve de seguida, "O dinamismo da indústria do disco tem assegurado, durante muito tempo, a renovação da produção local que sabe associar a qualidade, a popularidade e a diversidade".

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Em três parágrafos seguidos, Bourdoiseau escreve a palavra diversidade. O que, para ele, está em causa. A produção das etiquetas independentes constitui cerca de 80% dos catálogos existentes nas grandes superfícies que vendem discos, isto em França. As mesmas editoras independentes representam também 80% dos empregos e 30 a 40% do volume de negócios anuais do sector. Ora, explica, "a criação musical está ameaçada por dois factores opostos: a concentração dos meios de produção e de difusão e a democratização dos meios de transmissão e reprodução, que têm facilitado o desenvolvimento da pirataria".

Se Bourdoiseau realça a importância das tecnologias digitais na criação musical, as mesmas tecnologias permitem o registo gratuito, o que dificulta a venda de discos. Ele aponta, não sei se com alguma ingenuidade, para um tempo em que a internet seja não um lugar de pilhagem mas um veículo formidável para a transmissão de um património imenso e uma ferramenta de inovação para os músicos. Em que, com certeza, novas formas de exploração em linha (on-line) ajudem a divulgar e rentabilizar os produtos musicais.

Com as quebras de vendas, como explicitei acima, as multinacionais concentram-se [ver os meus posts dos dois últimos dias] e trabalham em economias de escala. Todo o modelo de negócio passa por uma profunda revisão em todos os escalões da cadeia de valor. Isto significa também um número menor de artistas a trabalharem para as etiquetas multinacionais. Já as produtoras independentes vêem-se a braços com novas dificuldades, com perda de autores, catálogos e diversidade [o texto que referi ontem tinha um tom menos dramático]. Bourdoiseau pede um abaixamento do IVA, capaz de amortizar parcialmente a crise, bem como apoios financeiros à criação artística e à digitalização dos catálogos independentes.

No último parágrafo, o presidente da Union des producteurs phonographiques français indépendants (UPFI) aponta a manifestação de vários países da União Europeia (Dinamarca, Alemanha, Espanha) em apoio de políticas de incentivos às indústrias culturais e à diversidade cultural.

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