quarta-feira, 5 de janeiro de 2005

PRODUÇÃO CULTURAL E INDÚSTRIAS CULTURAIS

Desde meados dos anos 1980 que se fala da nova economia, por oposição à produção de massa. A nova economia é representada por actividades de alta tecnologia computorizadas e digitalizadas, produtos de consumo neo-artesanais e serviços, organizados em redes complexas de valor acrescentado. Também se fala em nova economia cultural (ou indústrias de produtos culturais).

Há dois movimentos. Um compõe-se de grupos de pequenos produtores, marcados por formas de produção neo-artesanais e especialização flexível [ver texto deste blogue editado em 29 de Dezembro último, numa leitura de Neil Coe e Jennifer Johns (2004). "Beyond production clusters", no livro de Dominic Power e Allen J. Scott (eds.) Cultural industries and the production of culture]. O que quer dizer: concentrados na feitura de categorias específicas de produtos (vestuário, filmes, jogos), mas com rápidas alterações nas especificações de design dos produtos.

Estes pequenos produtores giram em torno de um pequeno número de fortes instituições (capital económico, capital de prestígio), o segundo grupo, o qual tende a organizar-se em linhas de system houses. O termo significa exactamente a articulação entre empresas que encomendam e empresas subcontratadas e que fazem parcelas do produto, mas onde existem, ao longo da cadeia de valor, elevados valores de capital e/ou trabalho.

Os principais estúdios de Hollywood são exemplos clássicos de system houses. Outros casos do mesmo fenómeno são os grandes editores de revistas (mas não as empresas tipográficas), bem como produtores de jogos electrónicos, operadores de cadeias de televisão, ou mesmo costureiros. Os grandes produtores são de particular importância na economia cultural porque actuam com frequência como centros de redes de produção mais vasta incorporando empresas mais pequenas. Além disso, desempenham uma parcela crítica no financiamento e distribuição de muita da produção independente.

Se as grandes empresas são centrais para a economia cultural, há alguns aspectos do seu poder que estão sob ameaça. É o que está a acontecer nas indústrias da música e do cinema em que recentes avanços tecnológicos trazem novas possibilidades de desintermediação e distribuição.

Leitura: Dominic Power e Allen J. Scott (2004). “A prelude to cultural industries and the production of culture”. In In Dominic Power e Allen J. Scott (eds.) Cultural industries and the production of culture. Londres e Nova Iorque: Routledge

Observação: Dominic Power é professor associado em Geografia Económica na Universidade de Uppsala. Allen J. Scott, professor de Estudos Políticos e Geografia na Universidade de Califórnia, Los Angeles, lançou em Novembro último o livro On Hollywood: the place, the industry. Em 2003, Scott ganhou o prémio Vautrin Lud.

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