Conforme anunciei neste blogue, decorreu hoje, ao fim da tarde e na Universidade Lusófona, o colóquio Provedores do leitor em auto-retrato, que contou com a presença de provedores antigos ou actuais como Joaquim Furtado e Joaquim Fidalgo (Público), José Carlos Abrantes (Diário de Notícias) e Manuel Pinto (Jornal de Notícias).
O momento também serviu para a apresentação do livro de Joaquim Fidalgo, Em nome do leitor. As colunas do provedor do Público, comentado por Fernando Correia.
[na imagem, da esquerda para a direita: Mário Mesquita, director da colecção de livros, Fernando Correia, Joaquim Fidalgo e Isabel Garcia, editora da MinervaCoimbra]
Fernando Correia, professor da universidade organizadora e responsável da revista JJ - Jornalismo e Jornalistas, fez um muito interessante comentário à obra e aos provedores do leitor em si. Começou por situar o aparecimento destes "representantes" dos leitores em 1997 (Mário Mesquita no Diário de Notícias e Jorge Wemans no Público). Ainda em 1997, registou-se a ocorrência de outros factores importantes para o jornalismo português: surgiram duas instituições ligadas à investigação, o CIMJ e a SOPCOM, foram lançadas as colecções de livros de comunicação e jornalismo da MinervaCoimbra e da Editorial Notícias, fez-se o inquérito a jornalistas divulgado no congresso do ano seguinte.
Correia, que se referiu à guerra das audiências na televisão comercial e ao aparecimento e fortalecimento de grupos mediáticos nesse período, chamou a atenção para o facto de que a figura do provedor poderia ter sido encarada como simples estratagema dessas organizações jornalísticas, no sentido de apaziguar a discordância dos leitores. Contudo, o provedor tornar-se-ia, e ainda segundo Fernando Correia, o reflexo e agente do impacto dos media e impôs uma nova posição do olhar jornalístico.
Sobre Joaquim Fidalgo e o seu livro, o apresentador deste destacou quatro traços marcantes: 1) profundo conhecimento da sala de redacção (rotinas produtivas), 2) preocupações pedagógicas, 3) desassombro na crítica às cedências dos interesses jornalísticos devido a pressões comerciais, e 4) constante valorização do leitor.
Provedores do leitor em auto-retrato
O colóquio, que se prolongou por cerca de duas horas, foi um espaço de experiências que só em momentos como este se ouve e partilha. José Carlos Abrantes, por exemplo, falou dos seus oito meses que leva como provedor do Diário de Notícias, tendo já conhecido três directores, sabida como é a recente turbulência directiva naquele jornal centenário, ambiente nada propício para a relação do "representante" dos leitores com a organização jornalística. Já Joaquim Fidalgo destacou o papel do provedor como alguém que muda lentamente as mentalidades dos jornalistas (ele não usou estas palavras). Isto é, a pedagogia do provedor contribui para um melhor jornalismo (ou, pelo menos, para que não haja pior jornalismo, como explicou).
[na imagem, da esquerda para a direita: Joaquim Furtado, Manuel Pinto, Maria José Matta, a moderadora do debate, José Carlos Abrantes e Joaquim Fidalgo]
Manuel Pinto, professor da Universidade do Minho - como Joaquim Fidalgo - e actual provedor do Jornal de Notícias (Porto), falou em silêncio do jornalismo, usando expressões metafóricas (aquilo que não acede à visibilidade, as zonas da noite, que não conquistam lugar), para esclarecer os jogos de interesses de fontes de informação (políticas, económicas, desportivas, de iniciativas ocasionais).
Obviamente mais coisas foram ditas - e igualmente de interesse - mas a noite e a dimensão do texto levam-me a ficar por aqui.
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