sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

TESE DE MESTRADO DE GONÇALO PEREIRA

Com o título A Quercus nas notícias. Consolidação de uma fonte não oficial nas notícias de ambiente, a tese de mestrado de Gonçalo Pereira, editor-executivo da National Geographic-Portugal, defendida na Universidade Católica Portuguesa, teve a classificação de muito bom. A arguência esteve a cargo da Professora Cristina Ponte (Universidade Nova de Lisboa).

Trata-se de um trabalho na área da sociologia do jornalismo. Do resumo (abstract) retiro: "A consolidação noticiosa da Quercus, associação de conservação da natureza que actua maioritariamente na esfera do Ambiente, é um fenómeno recente que contraria modelos vigentes de acesso ao campo noticioso. As estratégias desta fonte não oficial, a utilização dos seus recursos na negociação com os meios de comunicação e com o poder político e a cientificidade atribuída aos seus relatórios e estudos são essenciais para compreender por que motivos a agência Lusa recorre a esta fonte com tanta frequência. Simultaneamente, as notícias de Ambiente geram dificuldades adicionais para os jornalistas destacados para a cobertura da acticidade noticiosa deste campo. Os procedimentos rituais de objectividade, na luta dos repórteres pela simplificação do conteúdo a apresentar aos seus leitores e pelo domínio de conceitos científicos de difícil explicação, geram adaptações. A análise destes mecanismos de objectividade associados à cobertura noticiosa do Ambiente constituem a última parte desta dissertação, que se insere numa ampla tradição de estudos sobre comunicação de massas e sociologia do jornalismo".

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Das linhas de investigação prosseguidas na investigação, Gonçalo Pereira destacou as seguintes: 1) crescimento de referências à Quercus, 2) progressiva requalificação da associação (de fonte marginal a fonte pericial), 3) adaptação da Quercus à crescente divulgação mediática: programa, agenda, formato, tempo de intervenção, estrutura interna, 4) rituais de objectividade no campo específico do ambiente.

Nas conclusões, extraio o seguinte: "Neste intervalo temporal de análise, foi notório o crescente recurso da agência noticiosa, não só às fontes da Quercus, como também aos relatórios, comunicados e pareceres emitidos pela direcção nacional, por um dos núcleos regionais ou pelo Centro de Informação de Resíduos" (p. 142).

De particular atenção o modo como a Quercus evoluiu ao longo do tempo (pp. 61-75). Fundada em Braga em 1984, alargou-se nos anos seguintes a outros locais do país, formando núcleos activos. Foi em 1985 que teve constituição notarial mas o nome definitivo (Quercus) só foi decidido em 1987. A matriz de trabalho era ainda a da conservação da natureza, caso das campanhas contra a eucaliptização. Em 1988, a Quercus inicia um novo rumo, com a primeira "acção dramática", ao ocupar o navio Reijin na praia da Madalena (V. N. de Gaia). Depois, veio a acção judicial contra o derrube de árvores que tinham a maior colónia de cegonhas do Ribatejo (1990). Seguir-se-iam muitas outras acções.

O trabalho, de 158 páginas (excluindo bibliografia e anexos), é composto por três partes e oito capítulos mais as conclusões. A investigação empírica consistiu na análise de conteúdo a 1208 notícias produzidas pela agência Lusa durante 17 anos sobre ambiente e Quercus (1987-2003) e entrevistas a quatro dos principais actores (ambientalistas da Quercus e jornalista da Lusa).

Observação: confesso que estava um pouco nervoso durante a prova do Gonçalo Pereira. Ele foi o meu primeiro aluno de mestrado a defender tese. Mas correu tudo bem!

4 comentários:

Manuel Pinto disse...

Parabens ao novo mestre e ao orientador. Ficamos à espera de poder conhecer o trabalho.

Anónimo disse...

"mas o nome definitivo (Quercus) só foi decidido em 1987"
Estranho... desde a primeira actividade, a sementeira de 12 mil bolotas de carvalho (Quercus) no Inverno de 84 no Gerês, por 7 pessoas (2 de Braga, 1 do Porto e 4 de Gondomar) o nome sempre foi Quercus... algo que na faculdade me valeu muitas bocas Quercus = quer cús

Gonçalo Pereira disse...

Obrigado pelas palavras amáveis e pelo amplo auxílio concedido ao longo de todo o processo, professor.
Um esclarecimento apenas para um dos leitores que comentou o "post". Segundo a obra "Quercus - Documentos e Informações Fundamentais sobre a Quercus" (1993, a associação começou por se chamar «Quercus-Grupo para a Recuperação da Flora e Fauna Autóctones» e só adoptou o nome actual «Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza» no III Encontro Nacional, realizado no Porto em 1987. Curiosamente, como menciona, a associação já existia em 1984, mas acabou por adoptar como data de fundação o 31/10/1995, dia em que foi assinada a escritura de constituição formal.

Rogério Santos disse...

O meu obrigado ao Manuel Pinto, ao Gonçalo Pereira e ao leitor que deixou esclarecimentos sobre o meu post.