ARTES CRIATIVAS (III)
[conclusão dos posts publicados nos dias 4 e 7 de Fevereiro]
Andy C. Pratt (2004), na sua pesquisa, parte do texto Creative Industries Mapping Document 1998, em que o sucesso das indústrias culturais [aqui há a assunção do conceito indústrias culturais como equivalendo a indústrias criativas, ao invés de Hartley e do próprio Creative Industries Mapping Document 2001] se revelou uma surpresa para os decisores políticos e para os públicos (2004: 19). Primeiro, porque não havia dados sistematicamente recolhidos antes. Segundo, porque o sector cultural como um todo, e o seu elemento comercial em particular, é relativamente novo e tem crescido muito depressa.
Apesar de serem indústrias já há muito constituídas (cinema, televisão, publicidade), eram reconhecidas como um sector apoiado pelo Estado, ou vistas como periféricas face à economia "real" (excepto nos Estados Unidos). O elemento mais importante da promoção inglesa das suas indústrias culturais é o reconhecimento da dimensão económica da cultura. Isto contrasta muito com as tradicionais conceptualizações das políticas culturais quer como gestão do património quer como ideal humanista. Por estas razões, o Reino Unido tornou-se um modelo da nova política cultural, entre o dirigismo de França e o laissez-faire dos Estados Unidos.
Pratt explora o passo seguinte na agenda inglesa das indústrias culturais: regionalização [como especifiquei no post anterior]. O segundo Mapping Document (2001) dá conta deste passo, que se sucede à implantação de governos regionais e ao estabelecimento de uma base evidente para as indústrias criativas. Isto significa que o contributo das indústrias culturais na economia resultou em impactos directos, indirectos e ainda em análises múltiplas. Os modelos mais recentes das indústrias culturais procuram capturar toda a “cadeia de produção” [cadeia de valor], da conceptualização ao consumo. Esta perspectiva holística reconhece as indústrias culturais como se compondo de actividades de produção, distribuição e consumo. Na prática, a diferença fundamental entre os modelos ocupacional e de cadeia de produção é que este último inclui um conjunto de actividades de apoio que tornam possível o resultado das indústrias culturais.
O modelo do sistema de produção das indústrias culturais (CIPS no inglês) de Pratt (1997) é um exemplo do modelo de cadeia de produção que envolve o sistema de produção dentro dos bens culturais que são produzidos. Assim, o autor identifica quatro momentos no sistema de produção cultural: 1) origem do conteúdo, 2) inputs de entrada, 3) reprodução, 4) troca. Posteriormente, Pratt sugeriu mais dois momentos: 5) educação e crítica, e 6) arquivo.
Pratt considera que há um número significativo de pequenas empresas. As indústrias culturais são vistas tradicionalmente como indústrias que têm uma proporção elevada de empregados em situação ocasional, irregular ou de emprego por conta própria. Este modelo contrasta com a maioria das outras indústrias em que essa irregularidade é vista como marginal. O sector cultural tem tal modelo irregular como nuclear.
Sumariando, o quadro é o de um grande número de pessoas envolvidas numa indústria dominada por micro-empresas e com uma rotação muito elevada (em empresas e empregados). O mercado de trabalho tem uma grande proporção de empregados por própria conta (free lance e a contrato). As actividades culturais consideram-se como actividades agradáveis que trazem grandes salários. Por outro lado, dado o domínio do sector por pequenas empresas e freelancers, os vencimentos de trabalho a tempo inteiro no sector são 20% mais elevados que a média geral.
Uma questão relacionada com as dimensões micro-espaciais das actividades das indústrias culturais é a dos clusters (feixes de actividades inter-relacionadas). Salienta-se a propensão das empresas e do trabalho para funcionarem juntos em termos de características chave das indústrias culturais . A investigação acentua a existência e as características gerais de um número de clusters do sector cultural. Do mesmo modo, as indústrias culturais apoiam-se em teias ricas de relações baseadas na actividade comercial ou não. As actividades não relacionadas comercialmente podem ser as que não têm fins lucrativos e artísticos.
Leitura: Pratt, Andy C. (2004). “Mapping the cultural industries. Regionalization; the example of South East England”. In Dominic Power e Allen J. Scott (eds.) Cultural industries and the production of culture, pp. 19-32.
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