domingo, 13 de fevereiro de 2005

E SE DESLIGÁSSEMOS OS TELEVISORES DURANTE UM MÊS?



Esta é a proposta do Le Monde de hoje, a partir do trabalho do sociólogo e realizador de cinema Patrick Volson. Volson fizera uma experiência semelhante há vinte anos (1986, em Créteil, conjuntamente com Jean-Claude Raspiengeas, para a Antenne 2). Agora, para o canal Arte, conseguiu que dois matemáticos, um restaurador, um especialista em psicomotricidade, um conselheiro municipal, professores, o responsável do pessoal da embaixada inglesa, um casal de reformados [que possuía quatro televisores em casa!] e outros tenham aceite viver sem televisão em casa, entre 8 de Janeiro e 6 de Fevereiro.

Ora, em vinte anos - o lapso de tempo das experiências de Volson - muita coisa mudou na tele. Multiplicaram-se as cadeias de televisão, com o cabo e o satélite, surgiu o telecomando e o zapping, os mais jovens perderam lentamente o hábito de ler jornais retirando o essencial da informação a partir da televisão. Mas há um aumento de desconfiança face à tele e um sentimento de culpa perante a qualidade de programação. De todo o modo, privar-se da tele durante tanto tempo é uma aventura, lê-se no texto assinado por Macha Séry.

A ideia principal da nova experiência era saber como ocupar as três horas e 22 minutos que, em média, um francês gasta a consumir televisão. Em 1986, algumas das cobaias redescobriu o prazer de conversar, a ópera, a rádio. Agora, um dos participantes, professor de robótica, que confessaria a sua dependência da tele e do zapping, e designaria a sua filha como bulímica da tele, reconheceria a importância desta ruptura. Ele também redescobriu o prazer da rádio e o seu filho deu mais atenção ao gato. Uma outra criança já tinha tempo para os deveres escolares. Mas nem todos aguentam uma duração tão elevada de afastamento: já na experiência de 1986, uma quinquegenária, capitulou. Ela sentia-se orfã, precisava de recuperar as caras conhecidas que entram todos os dias em casa graças à tele.

Patrick Volson, apesar da sua formação em sociologia, não pretendeu fazer um inquérito com uma amostra significativa, mas acabaria por ter um retrato empírico da realidade. E argumentar a favor do que associações de telespectadores têm feito: movimentos anti-publicidade ou alertas para a programação infantil (por causa da violência). Isto é, reflectir sobre a televisão e chamar a atenção para o seu consumo exagerado e acrítico.

Outras notícias de interesse na edição do Le Monde



As duas páginas sobre Arthur Miller, anteontem desaparecido, e a notícia sobre uma revista mensal saída em Marrocos, a Police Magazine, em árabe e francês. A publicação mistura pontos de vista de comissários da polícia (alguns adeptos da linha dura quanto a direitos humanos) e jornalistas contestatários, numa ideia de conciliar a polícia com o cidadão, escreve Jean-Pierre Tuquoi no Le Monde. São cinquenta páginas de reportagens e crónicas. Uma das peças fala de um marroquino condenado à morte, acusado de crimes violentos e actos de pedofilia.

Pergunta: haverá tempo para uma publicação destas continuar nas bancas de jornais? Pelos vistos, toda a gente quer lá pôr publicidade - agentes concessionários de automóveis, companhias de seguros, empresas de informática -, o que parece assegurar uma manutenção tranquila. Se eu puder, estarei atento a este aggionarmiento jornalístico.

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