TELEVISÃO E CINEMA
Marcelo Rebelo de Sousa iniciou hoje a sua colaboração com a RTP1, em conversa com Ana Sousa Dias. O cenário é agradável sempre que a câmara está de frente, com os azuis das "estantes" e dos "retratos" (e mesmo a alcatifa vermelha). Já não gostei tanto da câmara que filma de lado e anda em panorâmica, pois os "vidros" dos "retratos" cortam a visibilidade do entrevistado. No começo, a entrevistadora estava nervosa: sinal do directo e da responsabilidade de iniciar uma nova rubrica. Parecia quase um adorno, como o eram os jornalistas da TVI. Mas depois foi recuperando e assemelhando-se a si mesma. Esperemos que na próxima semana, a conversa decorra com o equilíbrio e a calma a que ela habituou os telespectadores.
Em termos de conteúdo (ou guião de temas), partindo do cultural para o social e depois para a política, espaço entremeado com escolhas de figuras, parece-me um modelo agradável. E leve em termos de tempo. A meu ver, a televisão pública está de parabéns.
Mar adentro
Trata-se de um filme comovente, o dirigido por Alejandro Amenábar. Mas o tema - a eutanasia pedida por um tetraplégico, história verídica ocorrida em Espanha - é um dos mais complexos na actualidade. O próprio filme ziguezagueia entre a aprovação e a sua oposição. Eu sinto dificuldades em avaliar o assunto, dadas as variáveis. Mas retiro um grande ensinamento na presente prova de vontade de viver do Papa, que passa por um enorme sofrimento físico mas procura manter-se na sua função.
Adenda colocada às 8:40 do dia 28 de Fevereiro
Agora que Mar adentro ganhou o prémio de melhor filme estrangeiro na noite das estatuetas de Hollywood, mais umas breves palavras sobre o filme de Amenábar. Na trama, todas as mulheres parecem gostar de Ramón Sampedro: a advogada, sofrendo de doença degenerativa, Rosa, a antiga operária de fábrica de conservas, e Géne, a activista. Seria apenas gostar ou amar? No filme, há espaço para a questão linguística, caso de algumas frases ditas não em castelhano, mas em galego, quando Ramón e o seu irmão mais velho discutem sobre a vida e a morte. Impressionaram-me também as paisagens agrestes, graníticas, e o ar de vendaval quase permanente na costa galega. Santiago de Compostela, Pontevedra, os caminhos de Santiago para quem vem de leste para Santiago de Compostela e procura desvios da estrada e entra na ruralidade galega lembram-me um rápida incursão que fiz há três anos atrás - e que constituem traços dessa dureza mas simultaneamente respeito pela geografia e geologia. O granito e a ruralidade do filme fizeram-me ainda lembrar uma época da minha infância.
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