ALGUMAS NOTAS SOBRE O CONGRESSO DE JORNALISMO, CIÊNCIAS E SAÚDE
Decorreu no Porto, na Universidade Fernando Pessoa, o congresso Jornalismo, ciências e saúde (II congresso luso-brasileiro e IV congresso luso-galego de estudos jornalísticos), nos dias 17 e 18. Inscritos 400 participantes portugueses, brasileiros e galegos. O mentor da organização foi Jorge Pedro Sousa, professor daquela universidade.
Do que observei [por razões profissionais, só estive no primeiro dia do congresso], retirei algumas notas. A primeira para realçar a comunicação de Nelson Traquina, professor da Universidade Nova de Lisboa, que analisou as notícias sobre o VIH-sida na imprensa, nomeadamente no Diário de Notícias e no Correio da Manhã, ao longo de vinte anos (e que mereceu destaque no jornal Primeiro de Janeiro, no dia 18).
O autor partiria de três hipóteses: 1) orientação da notícia para o acontecimento ou para a problemática, 2) proximidade geográfica como possível determinação da secção e do peso da notícia, e 3) notícias orientadas para as fontes oficiais. Das suas conclusões, eu destacaria: 1) à medida que a sida se transformou num problema universal, as notícias nos jornais portugueses tornaram-se nacionais, 2) as notícias seriam dominadas por fontes oficiais biomédicas até ao começo da década de 1990, altura em que as ONGs se constituiriam como fontes alternativas, 3) as notícias contavam estórias médicas, devido ao peso das fontes biomédicas, 4) ao longo do tempo, foi crescendo de importância o género reportagem, 5) as notícias da sida têm uma periodização, indo da invisibilidade (poucas notícias) até uma época de pânico moral (receio do contágio) e acabando numa era de rotina. Eu tive o prazer de comentar o seu texto assim como o de outro conferencista, Pedro Alcântara Silva (ICS).
Das comunicações apresentadas no primeiro dia, destaco ainda duas, a de Fernando Correia (na quarta imagem do bloco de seis) e Carla Baptista, Memórias vivas do jornalismo português: um contributo para o estudo do período 1933-1974, e a de João Canavilhas, A saúde na blogosfera portuguesa.
A máquina de escrever na redacção dos jornais
Fernando Correia e Carla Baptista traçam três marcos decisivos na história da imprensa em Portugal: 1) 1869 (nascimento do Diário de Notícias), 1933 (lei constitucional do Estado Novo, com a criação do regime censório), e 1974 (liberdade de imprensa). Os dois autores encontram, contudo, uma diferenciação no bloco 1933-1974 - o período que estão a trabalhar -, realçando o período dos anos 1960 em diante. É que, conforme a perspectiva deles, a história do jornalismo não se pode separar da história social. Daí eles convocarem acontecimentos como as eleições de 1958 (a que concorreu Humberto Delgado), o começo da guerra colonial (1961), a luta anti-fascista, as crises estudantis de 1962 e 1969, a formação da ala liberal na Assembleia Nacional e a proposta de uma nova lei da imprensa, e a emigração (França, Suíça e Alemanha).
Em termos de história da imprensa e dos media, Fernando Correia e Carla Baptista assinalariam os seguintes momentos: 1) 1957 - nascimento da RTP e importância do jornalismo radiofónico, com notícias hora a hora, 2) vespertinos a desempenharem função de pilotagem nos projectos editoriais, com reuniões matinais, 3) 1973 - aparecimento do semanário Expresso, 4) componente tecnológica, com a vulgarização da máquina de escrever, do telex e do gravador de som [hoje, na era do computador, já nos havíamos esquecido destas tecnologias!], 5) consolidação das salas de redacção em secções, aumentando a juvenilização e uma maior qualificação académica dos repórteres.
Quanto à comunicação de João Canavilhas, ele analisa os blogues dedicados à saúde como enquadrados em três tipos de situação: 1) veículo entre profissionais, para troca de experiências, acesso à informação e comunicação permanente, 2) orientado para profissionais e utentes, com dados sobre medicina preventiva, campanhas de sensibilização e conselhos a doentes e familiares, e 3) blogues de saúde, como diários, sobre políticas de saúde, consultório, investigação e notícias, ensino e informação em geral. O autor, que está a fazer um trabalho notável na investigação deste novo meio de comunicação, recolheu informação de 23 blogueiros, possuidores de 20 blogues, os quais considera como novos mediadores (gatekeepers) e com especialização e personalização.
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