sexta-feira, 11 de março de 2005

Andrei Tarkovsky e Clint Eastwood

(Para a Cristina e para a Alexandra)

1) Não quis comparar ou misturar, porque não sou químico. Mas surgiu a oportunidade. Na tradição de: a) por um lado, e b) por outro lado. Talvez porque prossiga uma velha dialéctica. Paro para pensar: como devo fazer sofrer os alunos e quem me rodeia.

2) Os filmes que consumimos fazem parte da nossa biografia: eu vi Tarkovsky no Porto e Eastwood em Lisboa. Como se tivesse dividido a minha vida num antes e num depois. Os próprios nunca poderiam (poderão) saber; para as duas blogueiras acima referenciadas isso é do domínio do não essencial. Mas para mim é vital. O ar do Porto é húmido e as construções de granito são sólidas; em Lisboa o sol nunca se deixa enganar pelo nevoeiro matinal e as casas são pintadas e repintadas, parecendo frágeis. Isso marca a minha percepção dos filmes (apesar de os ver em salas fechadas, semelhantes em qualquer parte do mundo). A comparação vem por acréscimo.

3) O diálogo entre blogues é assimétrico, ou melhor, é assíncrono. Há uma vaivém, uma retoma permanente. Isso é uma riqueza: nós respondemos no lugar do outro blogue ou criamos um púlpito no nosso [eu não deixei o meu comentário no blogue da Cristina, porque a máquina não mo permitiu]. Será a dialéctica a tomar posse de novo no meu sítio?

Adenda colocada às 22:20: Carla Hilário de Almeida Quevedo, do blogue bomba inteligente, juntou-se à discussão Tarkovsky versus Eastwood. Ao seguir Kant, aguçou-me o apetite. Retiro dele: "Para distinguir se algo é belo ou não, referimos a representação, não pelo entendimento ao objecto com vista ao conhecimento, mas pela faculdade da imaginação (talvez ligada ao entendimento) ao sujeito e ao seu sentimento de prazer ou desprazer. O juízo de gosto não é, pois, nenhum juízo de conhecimento, por conseguinte não é lógico e sim estético, pelo qual se entende aquilo cujo fundamento de determinação não pode ser senão subjectivo". Immanuel Kant, Crítica da faculdade do juizo, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1990, p. 89. Os "argumentos que justifiquem escolhas tão díspares", como escreve C. H. A. Quevedo, são os que estão ao nosso alcance. Continuação de boa sorte na sua feliz página do Expresso.

3 comentários:

Charlotte disse...

Obrigada!

Anónimo disse...

Também não consegui deixar um comentário no Last Tapes (e aqui apenas hoje o consigo). Ambos os cineastas filmam "com as tripas" mesmo que os filmes e os próprios realizadores sejam muito diferentes.
Aquilo que nos leva a gostar de uns filmes /realizadores e a preterir outros varia muito, mas para mim está quase sempre ligado às emoções que nos despertam, à forma como "falam" connosco. Nunca tive problemas em gostar de Bach e Ramones ao mesmo tempo, assim como em gostar de Tarkovsky e Eastwood ou Kubrik e George Lucas.

Mas uma coisa fundamental é não ter vergonha do que se gosta, nem de o declarar aos outros.

Mário
retorta.net

Rogério Santos disse...

Obrigado pelos comentários.