sábado, 2 de abril de 2005

A LUTA DAS CERVEJEIRAS ESTÁ ACESA

À Nova Sagres Zero % (sem álcool) respondeu a Super Bock Twin (também sem álcool). Se a primeira mostra a barriga de um jogador da selecção nacional de futebol (a cervejeira é patrocinadora desta) - com o slogan Mantenha-se em forma. Beba uma cerveja - , a marca de Leça do Bailio convidou duas actrizes da novela Senhora do Destino - com o slogan No dia 6, com qual das duas é que vai jantar?

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A da esquerda, Carolina Dieckman (no papel de Isabel Tedesco), e a da direita, Carol Castro (no papel de Angélica), fazem parte da novela de sucesso da SIC, e que recentemente foi notícia por ter acabado no Brasil, com o casamento de Maria do Carmo (Suzana Vieira) com Giovanni Improtta (José Wilker).

Assim, no Público de 13 de Março escrevia-se sobre "um dos maiores sucessos do género na história da televisão brasileira", com uma "audiência média de 60 por cento e share de oitenta e três por cento no último capítulo, exibido na sexta-feira, e desfecho que seguiu à risca as técnicas consagradas do folhetim". Em Portugal, a Senhora do Destino seria, no dia 30 de Março, segundo a newsletter da
Meios & Publicidade, "o programa mais visto pelos telespectadores portugueses, com uma audiência média de 17,9% e um share de 45,2%" (A quinta das celebridades II, da TVI, ficaria em segundo lugar com uma audiência média de 14,8% e um share de 34,6%). O final da história para Portugal será "exibida exactamente como foi por aqui, com o mesmo final, inclusive o casamento de Do Carmo", conforme o sítio da Globo.

Da telenovela, uma forma de arte, à publicidade alma gémea

Carlos Chaparro, professor de jornalismo citado no Observatório da Imprensa, analisou a novela e a que lhe sucedeu (gentileza de Daniela Bertocchi, do projecto Mediascópio da Universidade do Minho, que me arranjou uma cópia). Escreve Chaparro: "Senhora do Destino sai do ar, para dar lugar a América. E o negócio continua. Porque telenovela é uma forma de ganhar dinheiro, muito dinheiro, com a manipulação de gostos, ideias, sonhos e vontades, em escala de multidões. Mas essa é apenas uma forma de olhar as coisas, um lado da verdade. Outra forma será a de perceber que o produto cultural telenovela também é arte, e se constitui importante meio de instigação à discussão pública, em torno de temas, costumes e factos ligados à realidade e aos valores da sociedade".

Escreve mais à frente, Chaparro: "Entretanto, a saga da nordestina Maria do Carmo Ferreira da Silva continuará a render dinheiro à Globo, agora no mercado internacional. Para correr mundo, a obra ganhará reedições cuidadosas, que a deixarão mais enxuta, sem merchandising. E sem os excessos de alongamento que o marketing impõe a autores, directores e actores, quando o sucesso no mercado interno aumenta o potencial publicitário". E quase conclui: "Como produto cultural e artístico, a telenovela agrega o trabalho criativo de uma gama enorme de profissionais. Podemos calcular, por exemplo, que Senhora do Destino reuniu em seu elenco pelo menos setenta actores e actrizes, boa parte deles artistas de primeira linha, como José Wilker, Glória Menezes, Raul Cortez, Suzana Vieira, Renata Sorrat, Ioná Magalhães e José Mayer – gente que deu o melhor do seu talento e da sua competência, para que ao público fosse oferecida uma emocionante representação de entes humanos em conflito, na recriação de uma realidade próxima dos telespectadores".

Resta-nos acompanhar a trama todos os dias à noite. E talvez a beber uma cerveja sem álcool. Pode ser Super Bock, mas por que não uma Sagres? Sem álcool, pois o novo código de estrada entrou em vigor e podemos querer dar um passeio a seguir à Senhora do Destino. Na realidade, longe vai o tempo em que o vinho dava de comer a um milhão de portugueses, como dizia o slogan há três ou quatro décadas atrás. Agora, a concorrência toma conta das cervejas. É nelas que reside o grande consumo.

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[aproveito a ocasião para enviar uma saudação a Isabel Férin da Cunha, da Universidade de Coimbra, com quem aprendi a olhar a novela brasileira como meio de estudo, e que tenho passado aos meus alunos, com sucesso, diga-se de passagem. Já para Carlos Chaparro, um ribatejano há muito instalado em São Paulo, o abraço pode não ser tão rapidamente lido e aceite - mas lá vai ele]

1 comentário:

Anónimo disse...

Oi Rogerio,
Mesmo com a abordagem academica da novela ainda prefiro o vinho. Aqui HANS CHRISTIAN ANDERSEN virou enredo de escola de samba, estava lindo o trabalho de Rosa Magalhães, que, infelizmente, não agradou ao publico. O site da cartografia é:
http://purl.pt/103/
ana