LEITURAS DE HOJE
1) Público. Título: Media americanos resistem à agressividade dos blogues, p. 43 [página não identificada no topo do jornal]. Do começo do texto extraio: "Os blogues são uma poderosa nova força no panorama político dos Estados Unidos da América, mas não destronaram os media tradicionais em termos de informação e influência. Esta é a principal conclusão de um estudo realizado pelo Pew Internet and American Life Project e pela empresa de consultadoria BuzzsMetrics divulgado anteontem". O texto é de Ellen Wulfhorst, da Reuters. Os jornais (responsáveis, jornalistas) andam mesmo receosos (ou irritados) com os blogues. Será porque é jornalismo digital? Ou porque são mais rápidos e implacáveis na observação dos factos e relações que se estabelecem com outros factos e conseguem informações de agentes mais móveis?
Mas há aqui um erro de análise: a esmagadora maioria dos blogues não são ligados ao jornalismo nem contribuem para uma maior discussão na esfera pública; são diários (de animadores de grupos, adolescentes, gente que quer ter uma pequena tribuna, coleccionadores de temas, mero passatempo) fornecidos, até agora, gratuitamente por empresas que apostam nas tecnologias digitais em busca de novos mercados e nichos de mercado (e são mais bem cotadas na bolsa porque são inovadoras e dinâmicas nos seus processos de trabalho). O jornalismo como o conhecemos existe há mais de dois séculos e passou anteriormente por vários suportes: papel, rádio, televisão. Os blogues ainda não existem como estruturas organizadas e podem ser, no campo do jornalismo, ferramentas complementares (jornalistas que escrevem nos media e também nos blogues).
2) Diário de Notícias. Título: A avalancha do DVD, p. 41. Autor: João Lopes. Escreve o crítico de cinema a propósito do festival de Cannes: "a verdadeira avalancha do DVD, com vendas em crescimento constante, está a transfigurar por completo o mundo dos filmes, desde as estratégias industriais até ao funcionamento dos mercados. Na prática, cada filme tende a render nos circuitos do DVD pelo menos tanto quanto nas salas (muitas vezes, mais)". E acrescenta à frente: "o DVD está a revolucionar os hábitos de consumo e, em paralelo, a reconstruir as memórias cinematográficas de todas as gerações".
Lembro o que Carla Martins e colegas escreveram em A cadeia de valor do audiovisual (2004: 58): "Após a exibição nas salas de cinema, abre-se um horizonte de exploração dos direitos do filme em várias janelas. A designada profit release window representa o ciclo de vida de um filme e traduz o processo cronológico de exploração potencial de receitas nos diversos segmentos". Os autores falam, noutro local do mesmo texto, das várias janelas: televisão, video-on-demand, pay-per-view, DVD. E Carla Martins e colegas (2004: 59) vão mais longe: "A indústria cinematográfica parece estar inclinada para condicionar a aprovação de projectos à previsão do sucesso que a obra poderá ter na comercialização em DVD, o que, em última análise, se repercutirá na predominância dos géneros preferidos por este público, mitigando-se assim a variedade da oferta das produções cinematográficas".
No blogue, já fiz alguma abordagem a esta questão. E ao que João Lopes escreveu quero acrescentar uma outra ideia: festivais como o de Cannes, onde se faz a apresentação de novos filmes, simultaneamente com todo o glamour aliado ao aspecto financeiro (revestido de elementos estéticos: quem ganha, que cotação em termos de audiência, aplausos e críticas), passam a ter outro espaço. É o das antiguidades, ou melhor, de filmes antigos em suporte moderno. Trata-se de mais uma fonte de receita, e que vai trazer, certamente, novos agentes, desde as idosas estrelas aos homens de marketing e às empresas de vídeo. Sem esquecer as grandes produtoras dos filmes actuais em concurso no festival: elas são as detentoras dos catálogos de filmes antigos e querem vender. O cinema em casa triunfa [nota: fui atraído para o texto de João Lopes pelo post quase madrugador de Manuel Pinto no seu Jornalismo e Comunicação].
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