ESCOLA CANADIANA DE COMUNICAÇÃO (I)
Chama-se escola canadiana de comunicação à dos teóricos que destacaram os media como influenciando a sociedade (Harold Innis, Marshall McLuhan, Derrick de Kerckhove). Esta escola tem uma forte componente de determinismo tecnológico, em especial os dois últimos pensadores. O determinismo tecnológico refere-se à ideia que a tecnologia é o agente da mudança social e liga-se ao valor de progresso, considerando a tecnologia como factor independente, com propriedades, curso de desenvolvimento e consequências (Murphy e Potts, 2003: 11-12). Esta perspectiva salienta que uma inovação técnica com sucesso, se implementada a uma escala suficientemente vasta, gera um novo tipo de sociedade.
Innis (1894-1952) trabalhara a partir de realidades tecnológicas e sociais como a electricidade e a recentralização do império económico (da Inglaterra aos Estados Unidos), do poder e do conhecimento a partir da electricidade (que prometera descentralização, liberdade e democracia) [imagem de Innis retirada do sítio Critical Mass]. O autor canadiano, que detecta uma relação metrópole-hinterland, num país, com fileiras produtivas de apoio de outro país ou império, considera que um determinado meio de comunicação (ou transporte) é capaz de gerar uma sociedade diferente, pode servir de motor da própria história.
Innis aplicou factores históricos e geográficos à análise dos transportes, comércio e media, enquanto opunha uma cultura baseada na oralidade a outra assente na electricidade. Para ele, a tradição oral era do domínio do diálogo, dos valores e da especulação filosófica. Ao invés, a cultura da electricidade é a da sensação e da mobilidade. Se a cultura oral significa preservar os elementos de estabilidade, o poder eléctrico e dos media electrónicos traduzem-se em crescimento imperial e tecnologia.
McLuhan, ao descrever as sociedades onde impera a electricidade como sendo abertas e se interligando, olhou a electricidade de modo diverso (optimista) de Innis (pessimista) . Em McLuhan, com a ideia de aldeia global, de acesso livre da informação e da troca livre da informação, anuncia-se a rede (a internet), como exemplo de contra-cultura.
Leituras: Andrew Murphy e John Potts (2003). Culture & technology. Nova Iorque: Palgrave Macmillan
Filipa Subtil (2003). "Uma teoria da globalização avant la lettre. Tecnologias da comunicação, espaço e tempo em Harold Innis". In Hermínio Martins e José Luís Garcia (coords.) Dilemas da civilização tecnológica. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais [trata-se de um magnífico texto, ainda por cima acessível em português]
James W. Carey (1992). Communication as culture. Nova Iorque e Londres: Routledge
Jorge Pedro Sousa (2003). Elementos de teoria e pesquisa da comunicação e dos media. Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa
[continua]
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