INDÚSTRIAS CULTURAIS (V)
[continuação de análise das indústrias culturais seguindo de muito perto o texto de Enrique Bustamante e colegas (2002). Comunicación y cultura en la era digital. Industrias, mercados y diversidad en España. Barcelona: Gedisa. Anterior mensagem a 1 de Junho]
Indústria cinematográfica
Sobre a cadeia de valor no cinema, é dada pela progressiva integração vertical entre distribuição e exibição. A propriedade dos circuitos de exibição mais importantes pertence aos distribuidores mais destacados. A repartição estimada de percentagens de entrada entre distribuidor e exibidor dá 55% ao exibidor e 45% ao distribuidor. Destes 45% vão 30% para o produtor, mas de forma progressiva até amortizar os adiantamentos de distribuição. Isto implica que o distribuidor amortiza os seus custos e só depois começa a pagar ao produtor.
Uma nova faceta da indústria é a da digitalização do cinema: ainda que existam numerosas inovações tecnológicas ligadas às telecomunicações e à televisão, o suporte fotoquímico de 35 mm perdura como standard internacional. A sua flexibilidade permitiu a sua integração noutras inovações como a televisão ou o DVD para facilitar o consumo. Claro que a digitalização fomenta uma profunda mudança tecnológica que parte do desaparecimento do 35 mm, modifica as formas de consumo e abre possibilidades de novos modelos de negócio para produtores, distribuidores e exibidores.
A digitalização aparece como novo factor competitivo para os conteúdos em geral e o cinema em particular, e integra as seguintes aplicações tecnológicas: 1) produção digital, 2) cinema electrónico para projecção, 3) descarga de películas pela Internet com standards de compressão de imagens e sons MPEG-4 (não streaming) [imagem retirada do programa de cinema da Câmara Municipal de Oeiras para o presente mês].
Até 2000, não havia películas digitais e apenas se utilizara a tecnologia digital para efeitos especiais. O chamado d-cinema ou e-cinema supõe substituir os projectores de películas fotoquímicas por um tipo de projecção electrónica de alta qualidade que o olho humano não pode distinguir (1280x1028 pixels). A sua vantagem reside em que a distribuição se pode realizar à escala mundial sem necessidade de cópias, para poder levar o sinal para qualquer suporte de telecomunicações (satélite, cabo, Internet) às clássicas salas de cinema.
Claro que, com a digitalização, a cadeia de valor sofrerá profundas alterações, aproximando os produtores-criadores de películas aos potenciais espectadores. No fio desta mudança criam-se novas oportunidades ligadas a novos modelos de negócio, ficando de fora os intermediários. A crescente distribuição digital gerará uma nova cadeia de valor controlada por uma nova distribuição ou bem em portais de acesso ou em redes internacionais de descarga de películas nas salas.
Imprensa diária e periódica – o salto on-line
A imprensa é um produto perecível, de curta vida útil e de conteúdo múltiplo. Ela compõe-se basicamente por dois tipos de conteúdos simbólicos: conteúdos editoriais (com secções, suplementos e revistas); conteúdos publicitários (marcas, produtos, serviços).
As editoras jornalísticas obtêm os seus lucros pela compra de exemplares pelos leitores e pela inserção de publicidade nas páginas dos jornais e revistas por parte dos anunciantes. Os jornais gratuitos alteram este estado de coisas. O segmento de mercado da imprensa diária, sobretudo o de informação geral, tem características próprias (idioma, conhecimento do mercado, contactos políticos para gerar a informação). No mercado de imprensa não diária, há entrada de grupos empresariais de capital estrangeiro, com revistas "femininas" (revistas de coração) e "práticas", com as suas respectivas especializações.
Imprensa on-line: a partir da última década do séc. XX, o campo das indústrias culturais e o sector académico correspondente às ciências da comunicação estão a ser atravessados pela digitalização da produção de bens e serviços de carácter informativo e pelo surgimento de novas redes digitais. A internet está a ter um protagonismo singular em relação à formulação de produtos informativos. Hoje, a maioria das empresas converteram-se em editoras de conteúdos intangíveis que utilizam a Internet para chegar aos leitores tradicionais e para alcançar novos leitores.
Nos anos 1980, as empresas jornalísticas passaram pela fase de informatização do processo produtivo de notícias. Esta informatização povoou as redacções com computadores pessoais e permitiu o acesso a bancos de dados de tipos distintos, introduzindo um tratamento mais flexível no momento de elaborar os materiais jornalísticos. Nessa época, apareceu também o CD-ROM, com vantagens para os serviços de hemeroteca – facilidade de conservação dos conteúdos jornalísticos. Os resultados de uma empresa jornalística que decide lançar uma edição digital e, em geral, de qualquer sítio web, pode vir de: a) venda de conteúdos, b) assinatura da publicação, c) publicidade, d) patrocínio, e) comércio electrónico, f) subvenções.
Paralelamente ao crescimento da presença de publicações on-line, o sector académico tem produzido investigações e teses de mestrado e doutoramento (casos das editoras Celta, de Oeiras, MinervaCoimbra, de Coimbra, e Horizonte, de Lisboa, por exemplo).
[continua]
Sem comentários:
Enviar um comentário