sexta-feira, 24 de junho de 2005

A MÚSICA NOS ANOS 40 EM PORTUGAL

A música em Portugal nos anos 40 é um texto escrito por João de Freitas Branco e publicado em volume da Fundação Calouste Gulbenkian, que recolheu todas as intervenções proferidas num colóquio realizado em Abril de 1982, com o título genérico Os anos 40 na arte portuguesa - a cultura nos anos 40. Aí se incluem textos de Joel Serrão, Nuno Portas, Rui Mário Gonçalves, o já referido Freitas Branco, Tomaz Ribas, Luís Francisco Rebello, João Bénard da Costa, David Mourão-Ferreira, Eduardo Lourenço e José Augusto França.

A rádio nos finais dos anos 1930

João de Freitas Branco, no seu texto, dedica alguma atenção à rádio e à sua importância - para além do ensino oficial, das salas de espectáculos e da indústria fonográfica - na formação musical das gerações de meados do século XX. Ele parte de um "comentário à escolha de pessoas em postos cruciais da acção cultural no campo da música" (1982: 62). Embora em muitas das áreas as pessoas nomeadas fossem claramente identificadas com Salazar, na rádio pública muitas delas foram escolhidas apenas pela estrita competência e que, embora dando "garantias de não militância «subversiva" [,] não eram propriamente adeptos da situação política" (idem). O ministro da tutela era Duarte Pacheco, que nunca aderiu ao partido da União Nacional, e morreu ainda jovem, vítima de acidente de viação.

Escrevia Freitas Branco: "O resultado foi uma programação que, desde os concertos da Sinfónica e das suas orquestras-satélites (Genérica, Popular, de Câmara) e as emissões do Quarteto de cordas e do Trio com piano até às transmissões de obras gravadas em disco, não correspondeu às expectativas das mentalidades mais retintamente situacionistas" (idem). Mas, mais tarde, com a direcção de António Ferro, a partir de 1941, manter-se-ia a qualidade de programação: "Suponho ter sido sua [de Ferro] a ideia duns serões de estúdio, é claro que em directo, nos quais os intérpretes, elém de tocar ou cantar as peças programadas, deveriam conversar um pouco uns com os outros. A experiência não resultou, mas os serviços aproveitaram a maré para emissões regulares de música viva, pelos nossos melhores executantes, ou por estrangeiros que por cá se encontravam, em geral refugiados de guerra e de perseguições políticas ou raciais" (Branco, 1982: 63). Sem pertencerem aos quadros da Emissora Nacional, brilharam dois nomes: José Viana da Mota e Guilhermina Suggia. E houve uma boa quantidade de primeiras audições, bastando consultar os volumes do Arquivo musical português, de César Leiria.

Leitura: João de Freitas Branco (1982). "A música em Portugal nos anos 40". Vários, Os anos 40 na arte portuguesa - a cultura nos anos 40. Lisboa: Gulbenkian, pp. 55-75

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