domingo, 10 de julho de 2005

AS ENTREVISTAS COM OS MINISTROS DA CULTURA

Explico melhor: o Público de hoje traz duas importantes entrevistas com dois dos principais responsáveis da cultura (e das indústrias culturais e criativas) do país, a ministra Isabel Pires de Lima e o líder da TVI, José Eduardo Moniz. Dito de outro modo, os elementos que gerem a cultura de elite e a cultura de massa (embora o mundo se não reduza a duas culturas distintas e antagónicas, como C. P. Snow distinguira entre cultura científica e cultura literária).

Do que disse Isabel Pires de Lima retiro algumas frases e ideias. A primeira é sobre a política do ICAM (Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimedia), que a ministra garante ser de continuidade. Ela fala da regulamentação da lei do cinema e do audiovisual, de que haverá uma primeira proposta em finais de Julho, com distinção entre o cinema e o audiovisual. A ministra fala em "Deixar bem claro que o cinema tem que ser encarado numa dimensão de serviço cultural público, que importa cuidar de forma diferente do audiovisual", querendo "aumentar o financiamento disponível e diversificar as fontes de financiamento para garantir, também, que o audiovisual não será alheio ao cinema de produção nacional".

Embora não conheça mais indicações sobre esta regulamentação além da entrevista, parece-me clara a vitória dos defensores da especificidade e excepcionalidade do cinema como arte, uma perspectiva claramente francesa (e do actual governo espanhol) e contra a ideia mais britânica e americana de indústria cultural, agregada numa cadeia de valor em que o audiovisual é motor principal. E isto não me parece continuidade, até se me afigura uma atitude de rompimento com as políticas do audiovisual dos governos do PSD e do ministério de Carrilho, que apostou numa clara linha de envolvimento do cinema no audiovisual e no multimedia (período de José Costa Ramos à frente do ICAM).

Uma segunda linha de intervenção da ministra, e que deve ser de louvar, é a sua política a seguir ao livro (internacionalização da literatura portuguesa, por exemplo): ir às feiras do livro, caso da de Londres, apostar nos incentivos de tradução em Inglaterra ou publicação no Brasil. Diz ela: "em vez de tentarmos exportar o livro português para o Brasil, que chega lá a preços bárbaros, passámos a apoiar a edição de livro português por editoras brasileiras". Claro que esta política vem do ministério anterior, como lembra o jornalista e a ministra aceita, e o que se passa num sentido também é válido no outro. Não seria melhor acertar uma política a nível dos escalões mais elevados dos decisores políticos para que houvesse uma circulação sem os condicionamentos actuais? Em ciências sociais, no jornalismo e nas indústrias culturais, para dar estes exemplos, a edição brasileira é muito maior em títulos; assim, continuamos a perder, se queremos estar actualizados.

Da teoria da entretenização

José Eduardo Moniz não concorda com a etiqueta da entretenização. Acha ele que "quem a propaga muitas vezes são aqueles que têm dificuldade em acompanhar o dinamismo do tempo". Um pouco adiante entende que "Há conteúdos que anteriormente não estavam lá, hoje há porventura informação sobre espectáculos que não existiam no passado, ou espectáculo mais light, isso é verdade, mas na medida em que há também uma importantização de conteúdos que não existia".

A meu ver, há necessidade de esclarecer um ponto. Os "eles" criticados pelo responsável da TVI são quem? Os intelectuais? Os críticos de televisão? São apenas os académicos portugueses? E os que estudam a televisão a nível internacional, quer em termos de programação e informação, andam todos fora do dinamismo do tempo? Não serão já muitos? Mais valia reflectir e aceitar que quem comanda a programação e os informativos são as medições de audiência, úteis para angariar publicidade, a qual alimenta os canais de televisão. Assim, perdia-se nebulosidade e ganhava-se em profundidade e nitidez.

Outra ideia central na entrevista a Moniz é a duração dos noticiários. Ele entende que o aumento da duração se deve a duas razões: mais informação hoje e necessidades financeiras (o custo fixo da informação torna-a mais barata que fazer outros programas, apesar de dizer à frente que a informação não é barata). Mas Moniz está disponível para reduzir a duração dos noticiários.

Observação: registo na entrevista ao director da TVI dois neologismos: entretenização e importantização. Não os conhecia.

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