OS LEITORES COM ESPAÇO PRÓPRIO
O blogue Terras do Nunca, de João Morgado Fernandes, tem uma rubrica hilariante, chamada Os leitores com espaço próprio. Nestes últimos dias, ele tem andado à procura de leitores de cartas aos directores e descobriu que alguns deles publicam em tudo o que é jornal. Alguns são mesmo "profissionais" dos media, dada a regularidade com que são editados! Mas deixemos funcionar o discurso directo do blogueiro (que me autorizou a reproduzir o seu trabalho, distribuído ao longo dos dias, aqui assinalados):
“As cartas dos leitores são uma das secções mais menosprezadas dos jornais. Em alguns casos, como nos semanários que saem ao sábado, são muito lidas simplesmente porque desmentem as notícias mais interessantes da semana anterior. No resto dos casos, são lidas pelos próprios e pouco mais. Outra das curiosidades é que aquele espaço é uma espécie de Opinião 2, onde escrevem sempre mais ou menos os mesmos. Por exemplo, este fim-de-semana, lá vinha o A. João Soares, de Cascais, num semanário e num diário. Para a semana, quem sabe?, será a vez do Carlos Esperança, de Coimbra. Se calhar, também têm blogues”. (4 de Julho)
II - "O Cibertulia seguiu o rasto a Carlos Esperança. E o A. João Soares (Cascais), por onde andará ele"? (5 de Julho)
III – "O Carlos Esperança (Coimbra) tem hoje uma carta no DN. O Hugo Daniel Oliveira (Lisboa), que já chegou a ter uma coluna no DN (!), tem hoje mais uma (!) carta no Público". (5 de Julho)
IV – "O A. João Soares (Cascais) escreve hoje no Público. Onde escreverá ele amanhã"? (6 de Julho)
V – "E continua. O A. João Soares (de Cascais), hoje, escreve na Capital. E amanhã"? (7 de Julho)
VI – "A. João Soares (Cascais) escreve hoje na secção de cartas do Independente. E amanhã"? (9 de Julho)
VII – "A. João Soares (Cascais) escreve, hoje, no Público, sobre impostos e tabaco, e no Diário de Notícias, sobre a ajuda a África. Este homem é um poço de opiniões". (10 de Julho)
VIII – "O A. João Soares (de Cascais), que no domingo escrevia nas secções de cartas do Público e do Diário de Notícias, escrevera na Capital, no sábado". (11 de Julho)
IX – "O Carlos Esperança (Coimbra), hoje escreve no Diário de Notícias". (11 de Julho)
X – "O C. Medina Ribeiro (Lisboa), publica hoje uma carta no Diário de Notícias. A mesma que publicara sábado na Capital". (11 de Julho)
XI – "Isto hoje está calmo - é só desconhecidos. Sugere-se, porém, ao senhor Esperança (de Coimbra) e ao senhor Soares (de Cascais) que ataquem o Jornal de Notícias. Tem uma página inteira só com cartas de Rio Tinto, Feira e São Mamede de Infesta (!). Um desperdício". (12 de Julho)
Acrescento meu às 17:07 com base na leitura de hoje do blogue Terras do Nunca: XII - "A. João Soares (de Cascais) publica hoje uma carta na Visão e outra no 24 Horas. Outra, não. É a mesma. Curiosamente a mesma que já publicara, esta semana, salvo erro, na Capital.Curioso é o tema: os impostos e os motoristas do ministro da Justiça, um tema que foi manchete no Correio da Manhã e que o próprio jornal desmentiu, de forma oblíqua, no dia seguinte". (14 de Julho)
Observação escrita à mesma hora do acrescento: agradeço os comentários, em especial o de Manuel Pinto, que sabe do que escreve, ele que é o provedor do leitor do Jornal de Notícias.
5 comentários:
Também conheço comentadores de blogues que fazem disso uma (quase) profissão, porque consideram muito mais útil a informação veiculada por estes para formar núcleos de opinião e ... grupos de pressão política e cultural.
Entre esses habitués das páginas dos leitores, a fixação é tão forte que chegam a protestar por a sua colaboração não ser toda publicada; chegam a fazer juízos comparativos entre as suas cartas e as de outros que foram publicadas; e, sobretudo - esta foi-me garantida por um editor com o pelouro das cartas ao director - chegam a fazer constar, no seu círculo de conhecidos, que são colaboradores do jornal X ou Y e a imprimir cartões de visita onde consta esse estatuto. Claro, com tanta dedicação à causa, como não hão-de ficar furiosos quando a sua "coluna" não sai?!
Ora bem....
Declaro-me um “profissional”, não pago, dos media. Efectivamente, envio cartas para o Público que são publicadas com alguma regularidade. Procuro não fazer simples eco banal do que corre no momento mas acrescentar algo que acho que “ainda não vi dito” (desculpem-me a presunção), muitas vezes com base na minha experiência vivida.
Confesso ainda que também tenho um blogue, embora há menos tempo.
Tenho uma actividade profissional bastante absorvente. Essas reflexões, que procuro partilhar, são um simples complemento em que descarrego para uma folha em branco umas ideias que se vão formando.
Entendo que algumas cartas de leitores trazem pontos de vista que não são abordados pelos comentaristas oficiais que, sinceramente, muitas vezes falam todos do mesmo assunto, ao mesmo tempo e de uma forma previsível, cada qual à sua conhecida maneira.
Refiro, só como exemplo, o Finantial Times e o The Economist em que o espaço das cartas dos leitores é muito, muito, interessante.
Compete ao jornal seleccionar com base nos critérios que entender. É natural que quem escreve, goste de ver o seu escrito publicado. Agora, essa das estatísticas é de quem não tem mesmo muito que fazer.
Em resumo: É condenável ou motivo de ironia eu procurar intervir civicamente, apresentar opiniões e assumi-las publicamente?
Carlos J F Sampaio
Esposende
Carlos Sampaio
Já o li e gosto dos seus 'artigos' (quem poderá dizer q ñ são artigos, dado que os publicam?).
A sua atitude e o direito que exerce não me parece condenável nem motivo para ironia ; ele faz eco em mts leitoes dos jornais diários, precisamente pelo motivo que invoca, ou seja, o de permitir uma maior diversidade de análises transdisciplinares, que nunca será demais fomentar - é este o caminho do exercício dos direitos da sociedade civil.
... faz eco em muitos LEITORES, claro, e não leitoes.
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